16 de setembro de 2019

Do Fundo do Baú - Watchmen o filme


O polêmico Watchmen de Zack Snyder está completando 10 anos. Amado por uns e odiado por todos os outros, o filme tenta fazer uma adaptação da aclamada graphic novel da DC escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons , mas acaba criando uma outra coisa. 

Em 2009, antes da criação do Blog do Rodman, eu escrevi essa resenha sobre o filme no calor do momento, e nunca cheguei a publicar até agora. O Do Fundo do Baú de hoje apresenta o texto sobre Watchmen que jamais havia sido apresentado em público. 


10 anos atrás...


Devo admitir que desde pequeno, quando via as propagandas de Watchmen nas capas das revistas da DC que eu comprava em sebos de revistas usadas, não apresentava qualquer interesse pela HQ. Claro que eu nem imaginava quem era Alan Moore ou que aquela era uma das obras mais importantes dos quadrinhos de todos os tempos, e talvez por isso eu não me apetecesse em tê-la em minha coleção.

Me lembro da imagem clássica do Comediante mirando um rifle de uma janela dentro de um quarto escuro e um jornal sobre uma mesa com a frase “Who Watches de Watchmen”. Eu olhava para aquilo e não dava a mínima.

Alguns anos mais tarde a Editora Abril relançou a obra com as capas originais em 12 volumes, veio até encarte especial dentro da revista do Homem Aranha com o comercial e novamente não dei a mínima. Felizmente hoje posso dizer como estava errado em não ter ligado para a história simplesmente por ela destacar personagens das quais eu nunca havia ouvido falar. Acho que a classificação “adulto” nas capas me assustava! Hehehe!

Somente alguns anos mais tarde, já crescido, eu finalmente decidi dar uma chance para aquela HQ tão cultuada, e resolvi descobrir porque a história possuía fãs tão fervorosos que teciam milhões de comentários na Internet, seguindo o conselho de um amigo que já tinha lido e havia gostado.


O Filme 

Vi trailers e mais trailers do filme, li todo tipo de comentário acerca da adaptação de Zack Snyder e quase já podia dizer que havia formado minha “própria” opinião... Baseando-me no que outros haviam dito. Outra vez estava enganado. Apenas hoje (6/03/2009) ao sair do cinema, após encarar a primeira sessão, eu pude pela primeira vez tirar minhas próprias conclusões. Vamos a elas.

HQ X Adaptação

OK. O velho Moore tinha razão. É impossível adaptar Watchmen sem que (muitos) detalhes se percam no caminho ou sejam simplesmente cortados no processo para tornar o filme mais “plausível”, ou mais curto mesmo. O enredo de Watchmen chega a ser complexo algumas vezes, tive que voltar e reler quadros quando tive a HQ em mãos, e mudar uma coisa ou outra para adaptar a história o mais fielmente possível não deve ser tarefa fácil. O que pode ser tirado? O que tem que ser adicionado? Deve ser um desafio pegar uma obra em mãos e destrinchá-la sem medo de ser feliz (e arriscando ganhar a fúria de fãs alucinados nas costas), mas Snyder teve colhões e fez. Ficou bom? Foi satisfatório? É aí que começam as controvérsias.

Nem imagino como seja o filme visto por alguém que simplesmente não conhece a história e que não sabe o que foi cortado ou o que foi adicionado ao filme, mas para alguém que conhece, os dez minutos do filme impressionam com a riqueza dos detalhes com que algumas passagens que são apenas citadas na HQ são apresentadas. A trilha sonora colabora bastante, criando um clima nostálgico às cenas. A invasão ao apartamento do Comediante não existe na HQ, mas faz com que “entendamos” como aconteceu e o que rolou lá dentro pouco antes dele ser arremessado pela janela. Fatos na TV mostram a situação atual do país, a Guerra Fria e tals, e então os elementos que conhecemos enfim aparecem e Eddie Blake cai de encontro com a calçada. Tal qual as cenas de luta em 300, onde ossos são partidos e sangue voa de encontro a câmera em velocidade reduzida, Watchmen também apresenta lutas bastante violentas, o que impressiona em certos momentos. A surra em Blake é um desses vários casos que acontecem no decorrer do filme.

Nada em Watchmen é irrelevante, mas Snyder optou por cortar aquilo que não faria tanta falta para quem não conhece a história, mas que deixa chateado quem sabe que existe e que não aparece no filme. Os comentários jocosos do dono da banca de jornal e o fiel leitor de Contos do Cargueiro Negro fazem falta, assim como o assassinato de Hollis Mason e a própria sequência do Cargueiro que é vista na HQ como parte do enredo, ou uma história dentro de outra história. Isso quer dizer que é uma boa adaptação? Não exatamente. O final é muito corrido e perde muito quando se altera o modo como Ozymandias decide fazer o que faz, tornando-o quase banal a olhos mais atentos. Apesar de tudo, as alterações tornam a adaptação mais crível para o cinema, embora perca muito na emoção.

Sim, o filme não emociona em nenhuma cena. Desde Homem Aranha (e lá se vão quase 7 anos!) dificilmente eu deixei de me emocionar em alguma cena de qualquer um dos filmes de adaptações de quadrinhos (exceto Quarteto Fantástico e Motoqueiro Fantasma). Uma cena de maior carga emocional uma hora ou outra surge na tela (até em Hulk do Leterrier isso aconteceu), mas não há nada emocionante em Watchmen, exceto talvez a sequência inicial em que aparecem os Minutemen em ação (ou saindo de ação!). Há certa frieza nas interpretações e na montagem de algumas cenas, e isso torna o filme tão gelado quanto o humor do Ozymandias.

Interpretações 

Jeffrey Dean Morgan

Enquanto alguns atores mostram ao que vieram logo de início, como é o caso de Jeffrey Dean Morgan (Comediante) na cena em que é atacado no próprio apartamento, outros parecem que nunca entraram em cena, como o insípido Matthew Goode (Ozymandias) que não parece se esforçar para sequer passar qualquer emoção

Matthew Goode

Dá a impressão que ele levou a sério demais a descrição do personagem e confundiu inteligência e superioridade atlética com falta de expressão e inaptidão artística! Nem com toda habilidade do mundo ele derrotaria o Comediante numa luta justa com aquele físico, digamos, esbelto em excesso. Goode parece mesmo ser o elo mais fraco entre as interpretações, e ganha o troféuRicardo Macchi” por seu papel, se aproximando de Brandon Routh em Superman Returns.

Malin Akerman

Outra que não se esforça muito no papel é Malin Akerman, que interpreta uma Espectral bem burocrática. Ela é linda, charmosa, combina estonteantemente bem na telona, mas sua Espectral passa a ideia em alguns momentos de que está ali apenas para ser a “gostosa” da equipe de machões. Realmente não há grandes momentos em que ela possa usar seu talento interpretativo, mas a Silk - Spectre da HQ é muito mais ousada do que a interpretada por Akerman. A cena em que ela retorna à Terra com o Dr. Manhattan e vê o cenário de guerra em que se tornou Nova York prova o quanto ela deixa a desejar.

Billy Crudup como Dr. Manhattan

Enquanto a Espectral dos quadrinhos se acaba de chorar pedindo desesperadamente para que Jon a tire dali, a do filme mal consegue passar que está sentindo uma coceira incômoda no dedão do pé. É só ter por base que não deve ser fácil ver a cidade onde você mora toda destruída, corpos pelo chão (embora isso não apareça na tela, diferente dos quadros desenhados por Gibbons) e não dizer pelo menos um “Oh, my God!”. Interpretações a la novela da Record são profundamente irritantes, mas daí de quem é mesmo a culpa? Da novata Malin Akerman ou da falta de uma direção mais firme? 

O mesmo acontece com Matthew Goode que nem se quer levanta uma sobrancelha quando o Dr. Manhattan surge em tamanho gigante para apanhá-lo já na sequência final. Já que era pra apresentar tamanha mediocridade em cena, o Snyder bem que podia ter dado uma fala pra sua Bubastis digital. Ela interpretou a cena de morte melhor do que Goode! Hehehe! 



Jackie Earle Haley

Por outro lado, a melhor interpretação do filme fica mesmo para Jackie Earle Haley, que praticamente incorpora Walter Kovacs, o Rorschach. Na estatura certa, com uma tremenda cara de maníaco, tal qual o personagem demonstra, Earle Haley mostra quem é o melhor baixinho invocado das HQs transportado para as telas já que Hugh Jackman está longe de ter o tamanho do Wolverine!

Tanto em cenas de ação quanto em cenas densas como na sessão de análise dentro do presídio, ou quando alguns presidiários o tentam emboscar no interior de sua cela, Kovacs realmente transparece na pele do ator, e os quadros da revista surgem em nossa mente, tais quais são apresentados na tela. Toda a sequência da invasão do presídio é digna de elogios, apesar das lutas em câmera lenta quando o Coruja e a Espectral entram em ação para resgatar Rorschach. Tudo isso é esquecido quando Kovacs mostra ao bandido “Figura” quem realmente está preso com quem, matando seus asseclas e logo depois dando uma lição no anãozinho. “Não sou eu que estou preso aqui com vocês. Vocês é que estão presos comigo.” O Jeph Loeb deve ter adorado essa! 



Patrick Wilson

Patrick Wilson também não compromete no papel do engraçado e inseguro Dan Dreiberg, e dá um ar mais “Batman” nas lutas corporais do Coruja. Enquanto na HQ ele é um cara fora de forma que mantém o desejo por aventuras, na telona ele não convence que esteve fora de ação por tanto tempo, e pelo contrário, demonstra um preparo físico invejável tanto na luta no beco quanto dentro do presídio. Claro que tudo isso colabora positivamente ao filme, dando um apelo mais ativo do que acontece na HQ, e assim como a excelente interpretação de Wilson não atrapalha em nenhum momento o ritmo da história. 


Trepando ao som de "Aleluia"!

Entre interpretações medianas (para não dizer horríveis), ritmo acelerado ao extremo, cortes importantes na trama original, falta de emoção (por que não tocou “You’re my trill” de Billie Holiday na cena em que o Coruja e a Espectral transam dentro do Arqui??), alterações no roteiro e um final manipulado para parecer “mais legal” a quem não é fã, Watchmen é sim um bom filme, daqueles que vale a pena comprar o DVD (cheio de extras) e guardar, nem que seja para resmungar todas as vezes em que o Ozymandias aparece. Assim como duas outras adaptações de Alan Moore (V de Vingança e Constantine) Watchmen pode ser visto por qualquer um que aprecie um bom filme de ação e aventura com cérebro, e não causa uma fúria descompensada (pelo menos não total) nos fãs mais fervorosos. Moore tinha razão, não dava para adaptar fielmente, mas Zack Snyder pelo menos se esforçou, e o cara merece os créditos por isso, conseguindo fazer um filme OK e uma adaptação nota 7.


NAMASTE!

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