Vampiros sempre inspiraram
curiosidade e fascínio, e isso desde que as primeiras obras de Bram Stoker
(considerado por muitos o “pai” dos vampiros na literatura) publicadas no
Século XIX começaram a ser adaptadas já no Século seguinte. O filme “Drácula de
Bram Stoker” de 1992, estrelado por Gary Oldman e Wynona Ryder, foi o primeiro
talvez, a trazer à tona o gênero “vampiro” para a Cultura Pop moderna e retirar
os sedutores dentuços do ostracismo, o que durou aí por volta de uma década.
Nos anos 2000, seja pela conjunção
dos astros, solstício de verão, Era de Aquário ou pelo simples fato de que histórias
de vampiros atraíam as pessoas (em especial mulheres), ocorreu um boom na
literatura fantástica norte-americana, e várias escritoras começaram a lançar
obras sobre o tema, incluindo aí Charlaine Harris com sua série The Southern
Vampire Mysteries (2001), livros que contavam a saga da jovem garçonete Sookie
Stackhouse que inspiraram a série da HBO True Blood, e claro, Stephenie Meyer
com Twilight (2005), obra que inspirou a série de filmes da Saga Crepúsculo. Longe
da literatura, mas ainda assim inserido na cultura pop, o filme Underworld – Anjos
da Noite foi lançado mundialmente em 2003, e também aproveitou desse filão
vampiresco, incorporando a (na época) inédita guerra entre os dentuços
branquelos e sua nêmese peluda, os lycans (ou lobisomens, para os menos
cultos).
Enquanto Anne Rice, provavelmente
a escritora mais famosa e mais prestigiada da literatura americana sobre
vampiros, lançava seus livros com certa periodicidade (entre eles Entrevista
com o Vampiro de 1976 e A História dos Ladrões de Corpos de 1992), outra
escritora menos famosa e menos prestigiada surgiu no cenário literário e lançou
seu livro chamado The Vampire Diaries: O Despertar, em 1991. Lisa Jane Smith
(ou simplesmente L.J Smith) começou a escrever a história da jovem Elena
Gilbert e seu triângulo amoroso com os irmãos vampiros Damon e Stefan Salvatore
lá no início dos anos 90, tendo terminado a primeira série em 1998. Curiosamente,
os livros só chegaram ao Brasil mais de dez anos depois, com o sucesso do
lançamento da série de televisão The Vampire Diaries, estrelada por Ian
Somerhalder, Nina Dobrev e Paul Wesley, e desde então a história que se passa
na cidade fictícia de Mystic Falls (nos livros Fell’s Church) tem atraído uma
legião crescente de fãs, sobretudo mulheres.
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Mas Rodman, porque diabos você
resolveu assistir essa série?
Boa pergunta, caro padawan.
Quando assisti o primeiro Anjos
da Noite me vi interessado por aquilo que eu considerava algo inédito, a briga
histórica entre duas das criaturas sobrenaturais fantásticas mais fascinantes
que existiam: Vampiros e Lobisomens. Depois disso, começou a ficar cada vez
mais comum ver essa “briga” entre as duas raças na mídia, incluindo aí nas
insossas intervenções artísticas de Stephenie Meyer em seus livros e depois no
cinema. Antes disso, o tema vampiro só havia me interessado em Entrevista com o
Vampiro (o filme de 1994) e com o surgimento de Blade (1998), personagem da
Marvel criado por Marv Wolfman e adaptado para o cinema na pele de Wesley
Snipes. Esse lance de vampirinhos apaixonados realmente me broxavam, até eu perceber
que isso era recorrente desde Drácula de Bram Stoker. Eu já tinha achado
Crepúsculo e todas suas variantes um saco, filme insosso sem atrativos e cansativo,
resolvi dar uma chance para True Blood (que resenhei aqui e aqui), série que
começou bacana, mas que depois virou um samba do afrodescendente desprovido de
faculdades mentais e tinha combinado comigo mesmo passar bem longe de qualquer
coisa que tratasse de vampiros e que não tivesse um caçador arrancando suas
cabeças envolvido.
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Motivos para ver a série? Que tal esses? |
Então resolvi dar uma chance para
The Vampire Diaries. Afinal, não se pode falar mal de algo sem conhecer do que
se está falando.
A série criada por Kevin Williamson
e Julie Plec conta a história de Elena Gilbert (Nina Dobrev), uma jovem de 17
anos órfã que perdeu os pais num fatídico acidente automobilístico
em que ela sobreviveu milagrosamente. Sob a responsabilidade da jovem tia Jenna
(Sara Canning), Elena e seu irmão mais novo Jeremy (Steven R. McQueen) procuram restabelecer suas vidas após o trauma da perda dos pais, e para isso contam
com o apoio dos amigos de escola.
Enquanto a garota é confortada pelas amigas
Bonnie (Katerina Graham), Caroline (Candice Accola) e pelo ex-namorado e amigo
Matt (Zach Roerig), eis que ela se sente atraída por um misterioso jovem recém-surgido
na escola (e não, não estou falando de Edward Cullen!!) chamado Stefan
Salvatore (Paul Wesley). Embora acreditemos nisso até metade da primeira
temporada, o encontro de Elena e Stefan não é NADA casual, e enquanto os dois
começam a se envolver amorosamente, a garota descobre que Stefan já a havia
conhecido bem antes da escola, e que ele (SPOILER) havia sido o responsável por
tirá-la do carro no acidente que matou seus pais.
Mais tarde, Elena se vê envolvida
na misteriosa história da família Salvatore e ela conhece o enigmático Damon
(Ian Somerhalder), o irmão mais velho de Stefan que retornou a Mystic Falls
depois de um longo afastamento para atazanar a vida do caçula. Cheio de
sarcasmo e cinismo, Damon volta acompanhado de uma onda de mortes que começa a
assolar a cidade, o que passa a preocupar Stefan, que diferente do irmão, não
mata vítimas inocentes para saciar sua sede por sangue.
OH, MY FUCKIN' GOD! Eles são
vampiros, Rodman??
Claro, Mané! Achou que bonitos,
sarados, perfeitos e usando gola em V desse jeito eles seriam o quê? Elfos da
floresta??
Enquanto descobre os segredos
assustadores dos irmãos Salvatore, Elena se vê envolvida em uma rede de
intrigas e mentiras que a faz pensar em “onde fui amarrar meu jegue?”. Apaixonada
por Stefan e sentindo coceirinhas por Damon, a menina chega a terrível
constatação de que seu grande amor é uma criatura da noite que se alimenta de
sangue para sobreviver, e apesar disso, decide aceitar sua real natureza,
confiando que ele não vai rasgar sua jugular durante a noite na cama. Assim como
nos livros, o roteiro da série deixa bem clara a questão maniqueísta de bem e mal,
pelo menos nos primeiros episódios.
Stefan é o irmão vampiro bonzinho que
voltou para Bon Temps Mystic Falls para viver em paz enquanto persegue o
amor que nunca mais encontrou desde que sua amada Katherine (que é a cara de
Elena!) morreu em um incêndio um século antes. Ele se alimenta de coelhinhos da
floresta (como ele é fofo, né?), respeita a vida humana e aceita sua própria
humanidade, traço que ele luta para não perder, apesar de ser um morto-vivo. Já
Damon é o vampiro clássico, que gosta de se esbaldar na luxúria, não está nem
aí para os humanos (e quem pode condená-lo por isso?) e que simplesmente
apertou o foda-se para o mundo, afinal ele é lindo, tesão, bonito e gostosão e
ainda é praticamente imortal. O conflito entre bem e mal é bem construído no
início da primeira temporada, mas como nem tudo é preto e branco, é bacana
perceber que os irmãos Salvatore mantêm características contraditórias em suas
personalidades, fazendo o espectador perceber que Damon não é afinal tão filho
da puta assim e nem que Stefan é praticamente um Dalai Lama de bondade. Obviamente,
o fã-clube de Damon é muito maior entre as espectadoras. Por que será, hein??
(Já discuti esse conflito ideológico aqui certa vez).
Se a série se desdobrasse inteira
somente nesse triângulo amoroso, eu já a teria abandonado logo nos primeiros
episódios, mas a história por trás do passado de Mystic Falls, a relação dos
Salvatore com os fundadores da cidade (as famílias Fell, Gilbert, Forbes e
Lockwood) é bem atraente e todo o misticismo ao redor de alguns personagens,
como a magia de Bonnie, que é herdeira das bruxas de Salem, me interessou a
continuar acompanhando. Em nenhum momento me senti agredido pelo roteiro ou
percebi que os roteiristas estavam de brincation with me, tipo falando que
vampiros não andam no sol porque eles brilham feito umas fadas loucas ou que
eles procriam (!!). Muito da mística criada por Stoker e mantido por Anne Rice
encontram espaço em The Vampire Diaries (sem toda aquela homossexualidade
característica dos textos da autora americana, claro), e desta forma, vampiros
continuam morrendo com estacas de madeira, continuam não podendo andar nas ruas
durante o dia e ainda fingem serem pessoas normais para comer o cu do
coveiro emboscá-las à noite.
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Tyler Lockwood e Caroline Forbes |
Diferente das demais séries
longas (que em geral possuem de 20 a 23 episódios por temporada), todos os
episódios de TVD parecem ser relevantes para a trama principal e não sofrem
daquela enrolação ao estilo Supernatural, em que somente os dois primeiros
episódios e os dois últimos realmente mudam alguma coisa na trama. Ou seja:
perder um episódio significa ficar também perdido no decorrer da história.
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Dobrev, Wesley, McQueen, Graham, Somerhalder e Accola |
Além do enredo amarradinho cheio
de mistérios e reviravoltas, a série conta também com um bom elenco jovem. Quase
nenhum dos atores decepciona em suas atuações (além de serem TODOS, sem exceção,
bonitos), o que é com certeza uma das minhas maiores críticas aos filmes da
Saga Crepúsculo, por exemplo, com os bonecos de cera Kristen Stewart e Robert
Pattinson nos papeis principais. Graças à interpretação dos atores, nós
conseguimos nos importar com os personagens, mesmo os coadjuvantes.
Apesar de
seu ar meio sonso, Nina Dobrev convence com sua romântica Elena, e ela é tão
graciosa que entendemos perfeitamente porque Stefan, Damon e Matt morrem de
amores por ela. Em contraposição a sua bondosa e certinha Elena, é notável perceber o quanto ela consegue parecer mais audaciosa na pele
de Katherine, o grande amor do passado dos irmãos Salvatore, que aparece em
flashbacks do século XIX e que ressurge vivíssima da Silva no fim da temporada. Embora se trate de uma mesma atriz interpretando duas personagens, é
explícito quando estamos vendo uma e a outra, graças ao talento de Nina Dobrev.
Em alguns momentos, aliás, até dá pra esquecer que é a mesma atriz
interpretando. Isso sem falar que Nina é uma graça, um verdadeiro pitéu!
Ian Somerhalder (e as mina pira)
é sem dúvida o grande nome da série. Seu personagem é insuportavelmente
carismático, e mesmo quando Damon age como um completo psicopata nós
conseguimos dar risada de seu sarcasmo, sua marca registrada na série (sua “zoeiragem”
com Crepúsculo e as referências ao mundo pop são hilárias!). Pra quem se
lembrava do ator apenas como o nervosinho Boone de LOST, que só servia para
tirar a meio-irmã Shannon de enrascadas, além de ser usado pela ilha como um
sacrifício, é interessante notar o quanto ele evoluiu como profissional para o
personagem principal de TVD. Vale lembrar que LOST teve seu último episódio
lançado em 2010, e Somerhalder já vivia Damon Salvatore quando voltou a
aparecer por lá como o Boone nos flashsideways que mostravam o “futuro” dos
sobreviventes do voo 815 da Oceanic Airlines.
Dos três atores principais, Paul
Wesley é com certeza o menos talentoso, o que não necessariamente prejudica a história, já que seu personagem Stefan é mesmo mais
introspectivo. O “mocinho” nunca rende tantas possibilidades de interpretação
quanto o vilão, e apesar daquela primeira impressão de que ele é um mau ator, o
cara consegue convencer em cenas mais dramáticas do meio da primeira temporada
para frente. Resisto em aceitar esse lance de que sempre “há luz na escuridão e
trevas na luminosidade”, portanto tenho mais facilidade em torcer para Stefan
do que para Damon em relação ao coração da heroína Elena, o que indica que o
ator afinal, tem sim algum carisma.
Independente de quem vai ficar com Mary
Elena, do 5º episódio em diante já é bem fácil torcer pelo elenco todo, e
aquele efeito The Walking Dead começa a nos tomar como espectador, rezando para
que aquele personagem específico não morra. E apesar de ser uma série de certo
modo leve e para toda a família (já que não mostra nudez ou cenas de sexo, pelo
menos não mais que a novela das 9!!), morre bastante gente no decorrer dos 22
episódios, embora o sangue não jorre de maneira agressiva como acontece, por
exemplo, em True Blood, onde o termo “família” não se aplica bem ao público do
seriado.
Os 22 episódios fluem de maneira
bem impactantes dentro do contexto da série, e cada capítulo ocorre sem grandes
enrolações. Temos a clara noção de que estão nos querendo contar uma boa
história ali, e não apenas ganhar números no ibope para o canal CW que
transmite The Vampire Diaries. No decorrer da série diversos outros personagens
são inseridos acrescentando mais vigor à história, como o professor de nome
estranho Alaric Saltzman (Matthew Davis) que surge com a missão de caçar o
vampiro que raptou sua esposa Isobel (Mia Kirshner), que mais tarde é revelada
como (SPOILER) a verdadeira mãe de Elena, a vampira Annabelle (Malese Jow) que se envolve
amorosamente com Jeremy após usá-lo para encontrar um meio de reviver sua mãe
Pearl (Kelly Hu, a Lady Letal de X-Men 2), presa nos escombros abaixo da igreja
após o incêndio que “vitimou” também Katherine, e o primeiro interesse
romântico de Jeremy, a irmã de Matt e viciada em drogas Vicki Donovan (Kayla
Ewell), que acaba tendo que ser sacrificada por Stefan após ser transformada em
vampira por Damon e ameaçar matar Elena.
Ufa!
The Vampire Diaries possui
diversos atrativos narrativos (mais para meninas, claro) e é uma boa série para
se acompanhar periodicamente, essa aliás, uma especialidade do canal Warner. Comecei
a acompanhar cheio de preconceitos do tipo “que série de menininha!”, “vampirinhos
boiolas!”, mas acabei convencido pelo bom andamento dos episódios muito bem
escritos e dirigidos. Assim como Arrow, Supernatural e porque não dizê-lo
Smallville (todas da Warner, aliás) The Vampire Diaries é concebida para
agradar mais o público feminino, mas não ofende o público masculino por conta
disso. É ótima para acompanhar com a namorada e depois ver seus argumentos
sobre a perfeição de Damon Salvatore caírem todos por terra quando você tentar
convencê-la do contrário. Sinceramente, já vi muita série pior por aí e não me
arrependi de ter começado a assistir a saga dos vampiros bonitões de Mystic Falls.
NOTA: 8
Ps. A magia é usada como muleta
para tudo que é inexplicável na série e às vezes nossa inteligência é insultada
com a facilidade com que Bonnie enfeitiça certos artefatos e convenientemente os
fazem funcionar com sua magia. Nível Doutor Estranho, essa bruxinha!
Ps. 2 – bacana criarem outra
fraqueza para os vampiros como a planta verbena, mas ao que me consta, essa
porra nasce em Mystic Falls mais do que cai kryptonita em Metrópolis! Todo mundo
tem um pouquinho em casa.
NAMASTE!