3 de novembro de 2013

A despedida de Brian Michael Bendis dos Vingadores


No ano de 2005 chegou ao Brasil a saga intitulada “A queda” (Disassembled) na revista própria dos Vingadores (Poderosos Vingadores) lançada pela Panini, que já na época publicava a maioria dos títulos de Marvel e DC em terras tapuias. A imagem de chamada, desenhada por David Finch, mostrava um Capitão América cabisbaixo, desmotivado e sem vontade de cantar uma bela canção sobre os destroços dos equipamentos de seus companheiros, indicando uma baita de uma derrota da superequipe para um inimigo até então desconhecido. O arco escrito por Brian Michael Bendis era a grande estreia no título dos Vingadores do escritor careca, que já fazia sucesso nas páginas de Homem Aranha Ultimate e do Demolidor do universo Marvel 616, e seu texto prometia abalar para sempre a maior equipe de super-heróis da Terra.


Naquele tempo eu não lia nada do universo Ultimate e a publicação do Demolidor no Brasil era tão zoneada (ora em revista própria, ora em algum mix xexelento) que eu também não acompanhava as aventuras do herói cego da Cozinha do Inferno, logo, não fazia ideia quem era Brian Michael Bendis, exceto que o cara era um monstro para escrever, já que comandava diversos títulos ao mesmo tempo para a Casa das Ideias.


O texto cheio de referência a sagas e fatos mais antigos e recheado de piadinhas infames me acertou em cheio, e não demorei a virar um fã incondicional do cara logo nas primeiras cinco edições. Como já comentei várias vezes em posts mais antigos, os Vingadores sempre foram minha equipe de super-heróis preferida (muito antes do filme, caso alguém esteja me tachando de fã modinha), e em tantos anos de leitura de HQs, eu nunca os tinha visto apanhar tanto como acontece em A Queda. Apesar do sucesso que fez, a saga fora moldada premeditadamente para ACABAR com os Vingadores clássicos, e dar o sinal verde para que Bendis reestruturasse a equipe como bem quisesse. E isso incluía incorporar membros que NUNCA ANTES haviam sequer sido cotados para integrar o grupo. Assim nasceram os NOVOS VINGADORES.



Bendis estreou em grande estilo nos Vingadores, trazendo demônios antigos do grupo à tona (como o alcoolismo de Tony Stark, a violência doméstica de Hank Pym com relação à esposa Vespa e claro, os bebês desaparecidos da Feiticeira Escarlate), e apesar de ter escrito uma saga completamente comercial que tinha um fundamento pré-estabelecido desde o início, o desenvolveu com muito afinco e competência, o que faz com que A Queda seja, a meu ver, uma das histórias mais lembradas da época moderna.


Depois que a equipe original foi desmantelada (após as mortes do Homem Formiga, Gavião Arqueiro e Visão), um novo evento semelhante ao que uniu os Vingadores originais (Homem de Ferro, Homem Formiga, Thor, Vespa e Hulk) acabou juntando uma nova equipe de heróis Vingadores, após a falha de segurança da Balsa, a maior prisão de supercriminosos do universo Marvel. Presentes no local o rádio e a televisão, o Demolidor, Luke Cage, Jessica Drew (a Mulher Aranha) e mais tarde o Capitão América, Homem Aranha e Homem de Ferro foram obrigados a se unir para tentar impedir que os supervilões que eles haviam trancafiado ali ao longo dos anos fugissem, e assim surgiu a ideia de que eles fossem os Novos Vingadores



Embora falido após a destruição da mansão, Tony Stark gastou seus últimos recursos para financiar uma torre que abrigasse seus companheiros, e a primeira missão dos heróis foi caçar todos os vilões cuja fuga eles não haviam conseguido impedir.

Embora menos heroicas que suas sagas anteriores, as histórias dos Vingadores jamais foram tão divertidas, e a interação dos personagens que raramente haviam trabalhado juntos antes disso criou situações hilárias, sem falar nos diálogos infames que Bendis tão bem sabe escrever. Toda edição tinha uma sacada de fazer mijar de rir por parte do Homem Aranha, e era difícil não se envolver com aquele universo e com aquela nova formação como acabou acontecendo por todos os longos anos que se seguiram até hoje. Bendis acabou se tornando meu escritor preferido dos Vingadores.


Nas edições seguintes novos membros acabaram se juntando ao grupo, como foi o caso do Wolverine (que já era previsto desde o começo), do Sentinela, um personagem completamente novo que fora inserido no Universo Marvel como um herói antigo que havia sido “esquecido” por todos e que estivera todos aqueles anos aprisionado na Balsa, e o Ronin, um misterioso ninja cuja identidade apenas o Demolidor e o Capitão América conheciam. A dinâmica do grupo era o grande atrativo das histórias, e mesmo quando a pancadaria não rolava solta, era possível ficar ali lendo e curtindo apenas os heróis sentados jogando conversa fora. Muita gente reclama dessas características de Brian Michael Bendis, mas me vi folheando edições de mais de vinte páginas que SÓ CONTINHAM diálogos, e estava pouco me importando. Bendis é um dos únicos que consegue fazer isso sem que o leitor fique entediado, e essas características aliadas a um bom desenho, como quando Mike Deodato Jr., Frank Cho, Jim Cheung ou Steven McNiven comandavam os desenhos, criavam edições memoráveis, das quais tenho muito orgulho de ter na minha (imensa) coleção.  


A edição nacional de nº116 de Os Vingadores (publicada já há algum tempo nos EUA) marca a despedida de Bendis do título dos Maiores Heróis da Terra, e à partir da próxima publicação, o careca passa a batuta para Jonathan Hickman, escritor que já esteve à frente de títulos como Quarteto Fantástico



Em duas histórias com cara mesmo de fim de saga, Bendis amarra quase todas as pontas soltas lá atrás em A Queda, e depois de anos tocando quase que sozinho a “vida” dos Vingadores ele se despede de seus “filhos” presenteando os leitores com o final de seus arcos de uma forma bem divertida. Na primeira, Bendis põe fim ao imbróglio criado ao redor do mundo místico da Marvel, e após um confronto bizarro entre o Doutor Estranho e Daniel Drumm, irmão de Jericho Drumm, o Irmão Vodú, que o obriga a encarar AO MESMO TEMPO todos os Vingadores (nota para os desenhos FODÁSTICOS do brazuca Mike Deodato), Bendis restabelece o papel de Mago Supremo a Stephen Strange, título que estava passando de mão em mão desde que Strange havia abdicado dele.

Daniel Drumm

Na segunda história, Bendis marca um ponto final na saga em que os Vingadores se miniaturizam com as partículas Pym para atender um chamado no Microverso (ou universo interno), trazendo de volta a intrépida Janet Van Dyne, a Vespa, que havia sido dada como morta durante a Invasão Skrull


A Vespa está de volta

Além de trazer de volta uma das mais queridas personagens que já encabeçaram as fileiras concorridas dos Vingadores, a edição marca também a volta de Magnum (O Wonder Man! BWAHAHA-HAHA) à equipe, após seu surto neurótico em que ele culpava os amigos por todas as desgraças que haviam acometido a comunidade heroica nos últimos tempos (Dinastia M, Invasão Skrull, Reinado Sombrio, O Cerco, etc, etc.). Ao final da edição, com desenhos de todos os colaboradores principais que o ajudaram a fazer de Vingadores a minha revista de banca preferida, Bendis se despede do título e assina um texto emocionado contando o que foi para ele ter feito parte daquela grande história desde então. Detalhe para o que ele escreve sobre Mike Deodato:


“O artista que fez mais edições comigo ao longo dos anos, incluindo todas as edições do sucesso que foi a série Vingadores Sombrios? Mike Deodato Jr. um dos melhores colaboradores da indústria inteira.”


Confesso que fiquei orgulhoso por Mike Deodato Jr., e em uma troca de tweets rápida com o ilustrador, ele me falou que ficou lisonjeado pelas palavras de Bendis, o que diga-se de passagem, não foi nenhuma mentira. 



Os títulos desenhados por Deodato eram com segurança os melhores, e o cara só evoluiu em sua passagem pelo título. Nessa última edição o cara desenhou verdadeiras pinturas que eu adoraria ter na parede em formato de pôster.


Foi bacana acompanhar o trabalho quase que completo de Bendis à frente dos Vingadores (devem ter me faltado umas 4 ou 5 edições no máximo para completar minha coleção) em todos esses anos nessa indústria vital, e fica aquela pontada de saudade, embora saibamos que nos quadrinhos, assim como a morte, as despedidas não costumam ser definitivas. 

Quem sabe daqui a algum tempo o careca não volte a nos abrilhantar com seus textos cheios de humor e sacadas inteligentes nos Vingadores, ou quem sabe eu não o acompanhe agora em X-Men e passe a ser fã dos mutantes assim como já o sou dos Vingadores?


Hã... Pensando bem... Não. Onde é que vou guardar mais duzentas e tantas edições de HQs em meu quarto!


Adios, arrevederci, sayonará, goodbye, hasta la vista au revoir, Bendis. 

NAMASTE!

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