13 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2

Nunca antes na história desse país (sim, você já ouviu isso antes) um filme nacional foi tão badalado quanto Tropa de Elite 2, película que está em cartaz em 661 salas de cinema por todo o território brasileiro. Aliás, tudo na produção é astronômico para níveis tupiniquins, o custo do filme chegou a R$ 14,5 milhões (o primeiro Tropa de Elite custou R$ 11 milhões) e estima-se que ele consiga desbancar o público recorde do filme nacional de maior sucesso até então Se eu Fosse Você 2, que levou 6,1 milhões de espectadores às salas de projeção. Dirigido por José Padilha e coproduzido pelo próprio Wagner Moura, o filme tem razões de sobra para ser badalado, afinal é um dos melhores filmes brasileiros que já surgiu nos últimos tempos e quem assistiu pode comprovar isso. Eu já era fã do primeiro e me tornei ainda mais fã depois dessa sequência.

O lançamento de Tropa 2 também marca um combate acirrado contra a pirataria encabeçado não só pelo diretor José Padilha como também por Wagner Moura que vive o protagonista da história. Todas as cópias liberadas para exibição foram disponibilizadas em formato película e não em digital, o que por si só já dificulta a cópia ilegal. Além disso, todas as versões do filme possuem um código de identificação que permite que se rastreie onde e quando a filmagem ilegal (com um celular, câmera digital) ocorreu, afastando de vez as possibilidades de pirataria, mas não a inviabilizando totalmente. Mesmo com todo esse esquema antipirataria, no entanto, duvido que alguém não dê um jeitinho de conseguir uma cópia pirata mais ou menos de qualidade, o que não vai atrapalhar, acredito eu, o rendimento da produção. Infelizmente no Brasil, o povo se acostumou (assim como em outros vícios) a passar na banca da esquina e adquirir um exemplar falsificado de algum filme (seja nacional ou não), e conscientemente ninguém acredita que esteja colaborando com a criminalidade, como alertam aqueles avisos antes dos filmes originais em DVD. Como o próprio Wagner Moura falou na coletiva de imprensa de lançamento do filme “É como o cara que dá uma propina para o policial numa blitz e depois sai dizendo: que cara corrupto!”. Os preços do cinema ainda estão salgados, mas mesmo que de vez em quando, é muito válido sair de casa para conferir uma obra-prima como Tropa 2 invés de adquirir uma cópia de qualidade duvidosa só por ser mais barata.

Quase sem os bordões de fácil assimilação que fizeram sucesso em Tropa 1 e com uma história ainda mais coesa que a do primeiro longa, Tropa de Elite 2 funciona como uma verdadeira crítica à corrupção que acontece nos vários setores do poder brasileiro. Da polícia militar até o alto escalão da política nacional o filme funciona como um verdadeiro tapa na cara do sistema, mas tudo de uma forma bem ficcional, como um aviso tenta nos convencer pouco antes da primeira cena. Apenas tenta.
Durante todo o filme temos a impressão “de já ter visto isso em algum lugar” com relação aos fatos mostrados, e ficção se mistura muito facilmente com a realidade. José Padilha não criou uma história tirada do nada e nem tampouco usou de argumentos puramente ficcionais para compor seu filme. O tempo todo nós somos espetados por fatos reais disfarçados de “faz de conta” e desde a primeira cena (a rebelião em Bangu I) o espectador começa a se antenar sobre o evento do “baseado em fatos reais” estar mais óbvio do que se previa. A corrupção de carcereiros e de policias que fazem vista grossa para a “fuga” de um presidiário de altíssima periculosidade chamado Beirada (na tela interpretado por Seu Jorge) e do desenrolar dos fatos que levam à expulsão do Capitão Nascimento do BOPE é apenas a ponta do fio de um novelo muito maior que vai se desenrolando no decorrer do filme, e para os mais atentos, qualquer semelhança com a fuga de Fernandinho Beira-Mar do
Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), em Belo Horizonte em 1997 nesse caso, não é mera coincidência (mais detalhes aqui e aqui).
Para quem acompanha noticiários independentemente de qual mídia se faz isso (muito do que vemos e lemos diariamente é manipulado) sabe que a Polícia tem sua banda podre, e isso não é só no Rio de Janeiro, onde se concentra a história de Tropa de Elite 2. Embora isso seja algo até de grande notoriedade, ainda é chocante ver como isso ocorre de forma tão descarada e arbitrária mesmo que em uma obra ficcional. Somos levados a acreditar desde pequenos que há o herói e o vilão, mas a realidade nem sempre nos permite distinguir quem é quem. Muitas vezes o que deveria ser o herói age como vilão e para alguns os vilões é que são os verdadeiros heróis (como nas comunidades que são bancadas por traficantes). Se o cara que o resto da sociedade considera bandido é o mesmo que lhe dá comida e segurança então o que ele será para você? Duvido que a resposta seja vilão. Da mesma forma, aquele que deveria lhe dar segurança age de maneira inescrupulosa, visando seu lucro pessoal, e a palavra “herói” está muito longe de servir para descrevê-lo. Essa é a nossa realidade.


No primeiro Tropa de Elite nos vemos torcendo pelo Capitão Nascimento e seu BOPE, que sobe nas comunidades (não se pode mais dizer favela) para fazer “justiça”. Vibramos com os tapas na cara (em sentido amplo) dos estudantes (playboyzinhos maconheiros) que alimentam o tráfico de drogas e com o enquadramento dos próprios donos de bocas de fumo. Nos sentimos de alma lava a cada “cadê o Baiano” e “você é um merda” que o Capitão Nascimento dispara enquanto impõe sua forma de fazer aquilo que considera certo (e nós também), torcemos para que ele consiga treinar seu substituto e abrimos um largo sorriso para o desfecho da história (um tiro de calibre doze na cara do Baiano) por mais violento que ele possa parecer. É intrínseco, quase natural o efeito que Tropa de Elite causa àqueles que há tempos clamam por justiça num país onde a Lei só funciona para poucos, mas na sua sequencia, descobrimos juntos com o agora Coronel Nascimento, que os inimigos são outros e que os traficantes são apenas marionetes controladas por mãos muito maiores, numa escala muito mais alta de poder, e o efeito no espectador é o mesmo que Nascimento sente em cena: vazio. A solução está muito mais longe de ser encontrada, e tapas, sacos e cabos de vassoura já não são mais suficientes.
Ainda não li nenhuma crítica ao filme, não sei qual a opinião das pessoas sobre o que viram na tela exceto os tradicionais “muito louco esse filme!”, “da hora!”. Eu vi um filme muito mais maduro que o primeiro, muito mais mordaz e ousado em pleno período eleitoral (e vem o segundo turno), e minha opinião sobre ele é muito particular. Me senti perdido enquanto assistia não sabendo exatamente o que pensar, e acho que a intenção de Padilha era mesmo essa, colocar seu espectador para pensar nesses temas para a qual ninguém dá a mínima cotidianamente. Percebi o crescente que o filme permite desde a rebelião em Bangu I até o desfecho da história, e terminei com uma sensação de saciedade por ver na tela o que eu sempre pensei mais nunca consegui exteriorizar. O cenário brasileiro é mais podre que se pensa, há um motivo para que existam ainda, em pleno século XXI as favelas (FAVELAS, mesmo), há um motivo para que nenhum governo seja A ou B NÃO apresente projetos para melhorar a situação das comunidades e o tráfico de drogas em suas campanhas políticas medíocres. Há um motivo para que o governo NÃO tome ações cabíveis para que o tráfico seja combatido ferrenhamente e que não se deixe acontecer no Brasil o que se tornou a Colômbia, que hoje é um país sustentado pelo tráfico. Não é só no Rio de Janeiro que isso acontece. Na minha rua, na sua rua nesse momento pode haver uma boca de fumo sustentada por um sistema falido e quase ninguém se dá conta. Os que se dão ao luxo de questionar o porquê disso, tentam recorrer ao único meio de “justiça” que lhes é permitido por lei, mas enquanto não há tiros sendo disparados ou exposição demasiada de armas de fogo a resposta é sempre a mesma: “Desculpe, não podemos fazer nada”.


Aguardo ansiosamente para que algum defensor dos direitos humanos comece a questionar a “história fictícia” de Tropa de Elite 2 chamando-a de fascista e mentirosa, porque é sempre bom ouvir o outro lado da história e saber o que ele tem a dizer. Patrocinado pela Globo Filmes, Tropa 2 certamente será chamado de “eleitoreiro”, “marketing político” e certamente desagradará alguns ditos cultos de esquerda, mesmo que a visão política exibida no filme não favoreça em nenhum momento (a meu ver) partido A ou partido B. A questão da segurança pública devia sim estar sendo discutida amplamente por partidos A e B em plena campanha presidencial, mas o que vemos, como comentei no post Política para quem precisa de Política, é um festival de ataques baixos à moral alheia e como pano de fundo o mar de rosas que está o Brasil há oito anos ou promessas sem sentido, sem bases sólidas. Eu não usaria muito bem o termo “rosas” para adjetivar o mar em que estamos mergulhados.


Pode parecer exagero, mas Tropa de Elite 2 me serviu como um alerta de que o mundo em que estou vivendo é mais caótico do que eu supunha, e me deixou ainda mais alquebrado com relação a meus sonhos, hoje utópicos, de ver um Brasil sem corrupção, ou pelo menos onde ela é combatida. Mensalões, dinheiro na cueca, assaltos na Casa Civil já não fazem mais o povo reagir, tudo está muito bem oculto por trás de um “país onde o povo pode comprar mais” ou por benefícios dados de graça. Não há porque questionar um governo que te dá o pão e o circo, mesmo que ele seja conivente com a corrupção que acontece a olhos vistos, então a solução é fechar os olhos ou internalizar aquilo, jogando a culpa no partido de oposição. Os meios de comunicação que trazem esses escândalos à tona são de direita e apoiam um partido declaradamente? Sim. Mas se não há corrupção ou se ela existe e não é combatida, por que então sempre alguém renega o cargo ou é expulso do mesmo quando o lixo vem à tona? Bom seria se num país onde o pão e circo já calam a maior parte dos beneficiados a comunicação também se calasse, o que garantiria um controle 100% funcional do sistema conseguido com o silêncio ditatorial, aí sim nós estaríamos vivendo no País das Maravilhas. Quem sabe isso não ocorra nos próximos quatro (oito, doze, para sempre) anos. Dia 31 saberemos. Como bem disse José Padilha no dia do lançamento do filme “infelizmente o Brasil vai continuar o mesmo depois do filme” e eu concordo plenamente. Interpretação é para poucos, e nós não temos um Capitão Nascimento de verdade com colhões para jogar a verdade na cara do povo e dizer que vale a pena ser incorruptível.

Produção e Atuações

Pra quem curte cinema iraniano (indies e descoladinhos) uma má notícia: Tropa de Elite 2 tem uma produção caprichada, digna de cinema hollywoodiano o que garante ainda mais veracidade e dinamismo nas cenas de ação. Por alguns instantes esquecemos que o filme é uma produção brasileira (daquelas que vivemos colocando defeitos por não se parecerem com as americanas) e mergulhamos fundo nas perseguições de carro, nos efeitos muito bem executados de tiros acertando o alvo e da sonoplastia de freadas e disparos de metralhadora. Claro que não é o fato de Tropa de Elite ter uma produção bem próxima dos filmes estrangeiros a razão de seu sucesso, isso só vem a colaborar com o roteiro muito bem executado. O sucesso se deve ao fato, justamente do tema do filme ser bem brasileiro e a identificação que isso causa ao público, mas a execução caprichada fruto dos muitos milhões de Reais investidos torna o filme muito mais digno de elogios.

Sobre as atuações é obrigatório citar o quão talentoso é o baiano Wagner Moura e como o cara manda bem em todas as facetas do Capitão (eterno) Nascimento. Cada cena é um show de interpretação, ele vai do drama ao inconformismo sem que a gente perceba que se trata de algo ficcional e o faz com extrema competência. Confesso que eu tremi na cadeira quando ele manda que o Mathias (André Ramiro) baixe o tom para falar com ele numa determinada cena de conflito entre os personagens de ambos. Me senti acuado como se fosse eu à receber a bronca tal grande é o poder que Moura passa em seu Capitão Nascimento. Nota 10 para o ator e vida longa a sua carreira de produtor.
Outro ator que destaco é o até então desconhecido (para mim) Irandhir Santos que interpreta o Defensor dos Direitos Humanos Fraga, que na história vive o novo marido de Rosane (Maria Ribeiro), a ex-esposa de Nascimento no primeiro filme. Fraga é uma espécie de opositor às ações policiais do próprio Nascimento, e vem inclusive à público execrar as atitudes do BOPE. Fraga é o chamado “comunistinha de faculdade” e aparece sempre à frente das ações do BOPE se dizendo contra o assassinato de traficantes e pregando que todos eles tem salvação, desde que o sistema carcerário permita que essas "vítimas da sociedade" possam se regenerar. Pura utopia. Como o próprio Nascimento alega no filme, “a opinião pública gosta de bandido morto”. Irandhir é um excelente ator pernambucano de 32 anos vindo do teatro, e deixou claro todo seu talento em cenas em que ele apresenta argumentos de o porque a forma como o BOPE age na maioria das vezes é uma forma fascista. Ele passa verdade em seu papel, e sua atuação é tão digna quanto a de Wagner Moura.

Embora sejam dois personagens detestáveis dignos de ódio, tanto o Capitão Fábio (vivido por Milhem Cortaz), quanto o deputado e apresentador de TV Fortunato vivido por André Matos funcionam como o alívio cômico da trama, garantindo boas risadas com suas aparições grotescas na tela. Fábio continua o mesmo corrupto de sempre (como o era em Tropa 1), se aproveitando o quanto pode das facilidades de sua profissão e são proferidos por ele a maioria dos jargões de fácil assimilação da vez. “Vai dar merda” colou que nem chiclete. No caso de André Matos, seu personagem representa os diversos apresentadores de TV que esbravejam contra o crime sem botar medo em ninguém, e ele é ligado às milícias, que são as grandes beneficiadas pelas ações de limpeza do BOPE nas comunidades. É um elemento novo à trama, e é inserido como um certo apresentador manauára que "fabricava" seus próprios mortos para promover em seu programa de TV (mais detalhes aqui).

No mais, André Ramiro volta a encarnar o sucessor de Nascimento no BOPE André Mathias ainda sem demonstrar uma atuação muito inspirada. Maria Ribeiro apresenta competência interpretando Rosane a grande mediadora entre Nascimento e seu filho, o agora adolescente Rafael (Pedro Van Held), que cresce sem ter muito a atenção do pai. No elenco também constam Emílio Orciollo Neto (como Valmir)e Tainá Müller (como Clara).

Tropa de Elite 2 fala de corrupção, fala de moral e acima de tudo tenta nos mostra que uma pessoa incorruptível deveria ser o alicerce de uma sociedade justa. O Capitão Nascimento não se deixa corromper e devíamos seguir seu exemplo fincando bem os pés no chão e não deixando que ninguém se aproveite de nossas fraquezas. Tropa de Elite 2 é um filme que faz pensar acima de entreter pura e simplesmente, e é um exemplo do que o cinema nacional é capaz de produzir desde que se tenha esmero e competência.


Nota: 10







NAMASTE!

12 de outubro de 2010

Top 10 - Saudades da Infância


Hoje é dia das Crianças e eu não poderia deixar de lembrar, mesmo que brevemente, das 10 coisas que mais marcaram a minha infância e que hoje me tornam um adulto saudoso daqueles tempos áureos.
Vamos à lista!

10 - Os Desenhos animados

Quando eu era criança eu não tinha liberdade para ver TV o quanto eu queria ou na hora que eu queria, por isso via poucos desenhos. Os que mais me recordo são os de ação, o que diz muito sobre o que sou hoje. Meus preferidos eram He-Man, Thundercats e Superamigos, todos que envolvem super-heróis, mas me lembro também que adorava Duck Tales - Os Caçadores de aventura protagonizado pelo Tio Patinhas, Caverna do Dragão e She-Ra (sempre quis ver a calcinha dela e nunca consegui, embora ela vivesse lutando e montando em seu cavalo com uma saia mínima!). Alguns outros desenhos tenho vagas lembranças como Pole Position (com corrida de carros), Muppet Babies e Nossa Turma (que não lembro do desenho mas cujo tema de abertura é inesquecível). Rever alguns vídeos no Youtube ou mesmo alguma referência escrita me causa uma pontada de nostalgia e aquela vontade de reviver o passado onde os desenhos eram muito mais legais que os atuais.

Já na metade dos anos 90 os desenhos dos quais me recordo com mais carinho são Super Mario Bros. (e eu ainda nem tinha video game), As Tartarugas Ninja, Tiny Toon, Capitão Planeta e claro, a primeira série animada dos X-Men, do qual sou fã até hoje. Tempos bons!




___________________________________

9 - As séries

Os desenhos fazem parte da minha infância assim como as séries que eu assistia. Passava tanta coisa interessante naquela época como Esquadrão Classe A, A Supermáquina (que já comentei em outro Top 10), Punky, a Levada da Breca (tanto a série em live-action quanto o desenho), Super Vicky e as séries do Incrível Hulk (com Lou Ferrigno no papel do Verdão) e a tosquíssima série do Homem Aranha. Gostaria muito de ter tempo livre hoje para parar e ver nem que fosse um episódio de cada um desses enlatados e matar as saudades.
Não seria justo eu comentar das séries sem mencionar aquilo que pra mim até hoje tem um significado muito grande como os super-sentais, ou séries em live-action japonesas. Jaspion, Changeman e Jiraya fazem parte da minha infância mais do que qualquer outro programa de TV, e não é raro eu me ver com a maior vontade de ver as aventuras do Fantástico Jaspion ou do Esquadrão Relâmpago. Nada que se fez depois disso em relação a séries japonesas teve tanta importância para mim, e vejo os vídeos hoje na maior empolgação, como se fossem episódios novos.








Na boa, sempre que vejo essas duas aberturas meus olhos se enchem de lágrimas. Essas séries eram muito boas!
__________________________________


8 – Brincadeiras

Muito do que eu assistia na TV influenciava nos “roteiros” das minhas brincadeiras. Eu nunca tive aquele amigo de bairro que toda criança tem para chamar para brincar, e minhas brincadeiras ou eram solitárias ou eram com minha irmã mais nova, quando ela não estava brincando de boneca.
Minha maior diversão era espalhar meus bonecos e carrinhos em cima da cama da minha mãe e inventar milhões de aventuras para eles, sempre regados a muita ação e aventura. Conseguia passar horas seguidas inventando as falas e criando os efeitos sonoros das porradas, freadas de carros, tiros e o que mais a história exigisse e era uma verdadeira farra. Poucas coisas me davam mais prazer do que aquelas brincadeiras intermináveis. Como sempre gostei de criar histórias, isso acabou influenciando mais tarde meu gosto por escrever.
Quando a gente é criança, o que mais temos é tempo, por isso dava para curtir o maior número possível de brincadeiras. Adorava jogar aqueles jogos de tabuleiro que vinham como brindes ao se juntar embalagens de chocolate (vídeo game era uma realidade muito distante), mas não recusava brincar no quintal inventando histórias onde eu sempre era o herói e meus “amigos imaginários” eram os inimigos. Na falta de ter com quem brincar, eu brincava sozinho tranquilamente, sem medo de ser feliz, e passava longas horas brigando contra o nada, aplicando socos, chutes, disparos lasers e golpes de espadas. Era uma comédia. Lembro da minha mãe me tirando sarro por me ver lutando contra ninguém no quintal sempre depois de ver os episódios de Jaspion e Changeman na TV.

_________________________________

7 - O gosto da infância

Não sei se acontece com mais alguém, mas certos produtos que temos hoje em dia parecem não ter mais o mesmo gosto de antigamente. Sempre que lançavam algum produto novo a gente tinha em casa para experimentar e Nescau, Neston, Toddy e o Guaraná Antarctica do século XXI não se parecem com os mesmos do século passado. Faz um tempo que não como Neston, mas a última vez que comi ele não se parecia em nada com o Neston de antigamente, assim como o Nescau, que hoje é muito mais sem gosto do que o de antes. Nem mesmo o Guaraná se parece mais com o que a gente tomava nos domingos de almoço em família. Pode ser apenas uma lembrança de paladar que não condiz com a realidade, mas que tenho essa impressão eu tenho!


___________________________________


6 - A família

Assim como o livro da Maria José Dupré, aqui em casa nós éramos seis, e restaram quatro, mas não é algo que possamos lamentar. As vezes olho para meu passado e me vejo com saudades do tempo em que a casa era cheia e que tomávamos o café da manhã todos sentados juntos à mesa, o que devia ser uma tradição em qualquer família. Mais do que tomar café juntos, o almoço de domingo era uma tradição e as vezes sinto falta de um pouco mais de união. Ter pai, mãe e irmãos devia ser algo eterno em nossas vidas, algo que nunca devia ser desfeito, mas a vida toma outros rumos na maioria dos casos, e nem sempre aquela regra que parece inquebrável permanece intacta. Bons tempos de Campeonato de Futebol Italiano e das partidas de sinuca aos sábados na TV ou das lutas de Boxe durante a semana ou mesmo do programa Silvio Santos nas noites de domingo. Bons tempos.

__________________________________

5 – A escola

Muita gente não vê a hora de sair da escola e se livrar de todas as lembranças ruins que esse grande período de nossas vidas as vezes podem trazer, mas eu me lembro com saudades hoje da escola onde estudei até meus 14 anos, na 8ª série. Claro que houve muita coisa ruim como as primeiras desilusões amorosas, as brigas com os colegas (aqueles que nunca vão com a nossa cara), das humilhações na prática de esportes (sim, eu era do time dos losers em esportes) e das notas baixas, mas a parte boa compensa tudo. Quando entrei na escola, pela primeira vez pude conviver com outras pessoas que não fossem meus familiares, e longe da proteção de casa eu tive que aprender por mim mesmo o que o relacionamento com essas outras pessoas podia acarretar. Enfim surgiram as primeiras amizades, os primeiros amores e as primeiras decepções, mas como tudo na vida, claro que isso contribuiu para a minha formação. Se eu não era nenhum gênio na escola e muito menos o garoto mais popular da escola (uma espécie de Peter Parker dos anos 90), eu vivi momentos intensos dos quais eu gosto de me recordar e dos quais eu sinto uma certa nostalgia. Não é raro eu me sentir com vontade de voltar a viver naquela época, embora goste da minha cabeça de hoje. Talvez essa vontade de fazer diferente no passado seja inerente ao ser humano, embora até mesmo os erros nos ensinem coisas importantes no presente. Sou muito grato às professoras que me ensinaram as lições que sigo até hoje e gostaria de retribuir um dia.


__________________________________

4 – As histórias de antigamente

Quando a gente cresce a gente não vê mais o mundo como quando éramos crianças e isso é uma pena, em alguns casos. A inocência com que interpretamos o mundo e com que interpretamos simples histórias é algo sublime, mas que dura pouco.
Aprendi a ler por volta dos meus seis anos com o auxílio da minha mãe e dos meus irmãos (eu não fiz a pré-escola), e foi com os gibis (Histórias em Quadrinhos, para quem não sabe) que comecei a ter a mente aberta para o mundo da leitura. Em casa tinha de tudo um pouco, Turma da Mônica, gibis da Disney e dos Super-Heróis e conforme ia me aperfeiçoando na leitura mais ia devorando um a um deles. Depois que já estava fera, os livros começaram a me interessar também, mesmo não contendo tantas figuras quanto os gibis, e os da série Vaga-Lume da Editora Ática eram meus prediletos. Depois vieram o Pequeno Príncipe (de Saint Exupery), O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (de Jorge Amado) e os mais clássicos como Iracema (de José de Alencar). Nenhum desses livros faria o mesmo sentido hoje que me faziam antigamente, e essa magia que temos quando somos crianças é que desperta a saudade daquele tempo.
As vezes dou risada de mim mesmo quando pego algum daqueles gibis de antigamente e me recordo de como eu lia ou entendia algumas palavras ou frases. Quando eu não entendia o significado ou a simples pronuncia, tentava mil formas de flexioná-las, uma mais absurda que a outra. Era divertido.

__________________________________

3 - Momentos


Tenho medo de um dia me esquecer completamente das coisas boas da infância, mais ou menos como o Peter Pan adulto do filme Hook - A volta do Capitão Gancho que não se lembra do tempo que era o menino que não queria crescer e de sua vida na Terra do Nunca. Sinto que a cada ano que passa, cada vez menos lembranças sobrevivem em minha mente daquele tempo de alegria plena.
Se puxar da memória ainda posso me recordar de todo o medo que me dominava de ser largado sozinho pela primeira vez na escola e de tudo que meu corpo sentia naquele fatídico dia. Me lembro da alegria que senti quando vi minha mãe na porta da escola na hora da saída e de como aqueles temores de enfrentar a escola foram se dissipando conforme os meses avançavam.
Me lembro da primeira vez que sai com meu pai e meu irmão no dia em que ele foi tirar o RG, do dia em que ganhei o boneco do BA do Esquadrão Classe A da minha madrinha, do primeiro dente que caiu da minha boca, do medo que eu sentia de sair no quintal de casa à noite e olhar em direção ao portão (sempre eu via uma presença sombria lá), do dia em que eu cai desse mesmo portão e torci o braço esquerdo, das tardes frias em que andava de triciclo Bandeirantes pelo quintal, do medo que eu sentia em subir a escada para olhar o teto de casa, da minha Primeira Comunhão e do momento em que falei um palavrão bem depois de me confessar para o padre um dia antes da Primeira Comunhão e da morte do Mufasa no Rei Leão na primeira vez que fui ao cinema. Como posso esquecer também das tardes depois da escola (ou quando não tinha aula) no fliperama jogando Mortal Kombat e Street Fighter? E como esquecer das conversas animadas com os amigos sobre quadrinhos, filmes e jogos? Coisas tão banais para qualquer outra pessoa, mas que para mim são parte de meu passado e que são importantes assim como todos os outros momentos que vivi. Saudades.

__________________________________

2 – Liberdade

Poucas coisas me dão mais saudades da infância do que toda a liberdade que eu tinha quando era pequeno. Não há nada como poder usar todo o tempo que se tem apenas para inventar novas brincadeiras ou ver TV. O tempo parecia passar muito mais devagar naquela época, num mesmo dia eu conseguia brincar de carrinho, lutar sozinho no quintal e ainda ver minhas séries super-sentai, isso tudo muito antes de começar as novelas, programas que eu assistia com minha mãe por muito tempo. Hoje em dia, as horas parecem passar de duas em duas, em especial nos dias de folga, e mal acordamos e a noite parece já começar a cair lá fora.
Não ter tantas responsabilidades ou tantos problemas para se pensar também é algo do qual sinto falta, mas quanto mais a vida vai passando, mais dessas preocupações veem à tona, nos fazendo afundar num mundo de preocupações e responsabilidades sem fim. Nada é mais belo que a liberdade da infância e o quanto é divertido só ter em mente aquilo que nos satisfaça.

__________________________________

1 – Planos para o futuro

"Sei lá...tem dias que a gente olha pra si.
e se pergunta se é mesmo isso aí.
que a gente achou que ia ser
quando a gente crescer
e nossa história de repente ficou
alguma coisa que alguem inventou
a gente não se reconhece ali
no oposto de um déjà vu
Sei lá tem tanta coisa que a gente não diz
e se pergunta se anda feliz
com o rumo que a vida tomou,
no trabalho e no amor
se a gente é dono do próprio nariz
ou espelho é que se transformou
a gente não se reconhece ali
no oposto de um vis a vis"

A música “Já é” do Lulu Santos diz muito do que as vezes eu penso sobre a minha vida. Quando a gente é criança temos o que os adultos dizem “uma vida toda pela frente” e as possibilidades de rumos são tantas que não há como não ficar tranquilo. É como se não tivessemos a menor chance de ser infelizes com a variação enorme de caminhos que podemos tomar, mas conforme o tempo vai passando e a tomada de decisões se faz necessária, começamos a perceber que a trilha escolhida nem sempre é a mais fácil e nem tampouco é a mais certa. É aí que começamos a “cair na real” e ver que a variação de possibilidades que tínhamos antigamente já não é mais tão grande assim, se resumindo em “ou isso ou aquilo”.
Onde me vejo hoje com certeza não é o lugar que eu me imaginava há uns 15 anos, mas se ainda não vivo a vida dos sonhos da criança que um dia eu fui é porque não mes esforcei o bastante, o que me dá esperanças que um dia eu venha a satisfazer meus desejos infantis.

Hoje sou um adulto, mas não deixo morrer a criança que existe em mim. Os caminhos que escolhi para minha vida quer queira ou não ainda me exigem muito da minha criatividade infantil e isso sem mencionar o meu eterno gosto por jogos, quadrinhos (que nem são mais infantis) e desenhos animados.


Siga o exemplo de Peter Pan e não deixe a criança que há em você morrer. Ela é importante para a sua própria humanidade.


Feliz dia das crianças para todos!



NAMASTE!

10 de outubro de 2010

Superman & Batman - Apocalypse

Esse post pode conter SPOILERS casuais!


Houve um período da minha vida que decidi parar de colecionar quadrinhos, em meados de 2000 a 2002. Esse período marcou justamente a transição da publicação das HQs da Marvel e da DC — que até então era da Editora Abril — para a Panini. Eu havia parado de colecionar em especial pelo preço das revistas que passaram a ser bem salgados, e outra porque já não tinha mais tanto espaço para armazená-las em casa.

Por volta de 2002, comecei a me interessar novamente pelas HQs após dois anos longe desse universo, e passei a comprar a revista Wizard (hoje Wizzmania) para me interar das novidades (sites de notícias “HQzísticas” ainda não eram populares). Umas das sagas que me interessou e muito foi “Apocalypse” (que no Brasil foi lançada como a "Supergirl de Krypton" nas edições 1,2,3 e 4 da revista Superman e Batman pela Panini), onde o Superman e o Batman se uniam em volta de um mistério que trazia uma possível kryptoniana em rota de colisão com Gotham City. O roteiro era assinado pelo controverso Jeph Loeb e os desenhos ficavam a cargo de Michael Turner (artista falecido em 2008), que fez sua fama rabiscando para a Image Comics. Eu estava de volta às HQs recentemente, o formato americano mensal era novidade (antes eram publicadas apenas minisséries no formato) e pra mim tudo era lindo e belo. Eu até que curtia os desenhos irregulares do Turner na época, achava a Supergirl que ele desenhava uma fofura e hoje me atrevo a dizer que o roteiro do Loeb chega a ser simpático, embora não seja nenhuma maravilha e tenha mais furos que um queijo suíço.



Superman/Batman – Apocalypse é mais uma animação da DC que tira um arco completo das HQs e transforma em desenho animado, e é muito bem executada, como todas até hoje. Vai ser muito difícil você me ver criticar a parte técnica das animações da DC por aqui, porque nesse quesito eles não erram. O que me deixa curioso é, se eles tem os recursos em mãos, porque não ousam em projetos mais emblemáticos como um Entre a Foice e o Martelo (HQ do Superman escrita por Mark Millar), Contrato de Judas (história dos Novos Titãs escrita por Marv Wolfman) ou mesmo Crise de Identidade (de Brad Meltzer)? Os roteiros de Jeph Loeb são pra lá de rasos (não que eu queira profundidade em desenhos animados), mas podíamos ver um longa metragem animado de qualidade ao invés de ter sempre que engolir o mais do mesmo junto com porradaria desenfreada.


Vamos ao review.

“Apocalypse” é a animação mais fiel que já vi de uma história em quadrinhos, embora isso só valha até certo ponto. Bem próximo da metade do filme toda a HQ aparece em cena com levíssimas alterações para tornar o roteiro mais compreensivo. No início, uma locução de TV nos informa o que aconteceu anteriormente ligando inteiramente o começo da história com o fim de Inimigos Públicos (outra animação do qual não fiz review mas que vi), onde o Batman, a bordo de um robô gigante (?) destrói um meteoro de Kryptonita, impedindo o fim do mundo. Depois disso, as pedras verdes se espalham aos milhares pela Terra e o Homem de Aço é obrigado a se confinar na Fortaleza da Solidão a fim de que não seja exposto à radiação mortal do metal alienígena.


Logo em seguida, uma nave despenca dos céus em direção à Gotham e cai no rio onde o Batman recolhe alguns fragmentos de Kryptonita. A partir de então somos apresentados a uma belíssima menina loira (nua) que começa a andar a esmo pela cidade falando um idioma estranho e entrando em conflito com alguns moradores, aparentando ter superpoderes muito similares aos do Superman.


Na cronologia oficial da DC, atualmente, aquela Supergirl que morreu em Crise das Infinitas Terras jamais existiu, por isso Jeph Loeb teve passe livre para recontar uma nova origem para a heroína, mesmo reaproveitando muitos conceitos já usados, como a menina ser filha de Zor-El, irmão de Jor-El, o pai do Superman e dela ter sobrevivido à destruição de Krypton por ter sido enviada antes do planeta explodir. Na época eu não entendia nada do assunto, mas imaginava que toda a história antiga havia mesmo sido limada com o fim da Crise.

Após adormecê-la e examiná-la em sua batcaverna, Batman chega à conclusão de que a menina é alienígena e que possui os mesmos padrões que o Superman, embora metabolize as propriedades do sol (o que dá seus poderes) de forma mais intensa que o próprio.


Pense na história de um homem que passou a vida toda acreditando que é o único sobrevivente de um planeta extinto que de repente encontra outra pessoa da sua raça caída do céu. Não é difícil imaginar a afeição instantânea que o Superman assume pela prima, e conforme o tempo passa, embora a desconfiança do Batman sobre a verdadeira origem da menina aumente, o Superman está cada vez mais paterno com a moça, e eles começam a entrar em conflito.

Na HQ a desconfiança sobre a veracidade da história de Kara é constante, mas na animação isso nem é percebido, exceto pelas atitudes do Batman que não acredita de imediato que ela seja uma Kryptoniana legítima. A atitude de “paizão” do Superman começa a deixá-lo descuidado, e aliado a Mulher Maravilha, o Batman prepara uma emboscada para convencer Clark a deixar a amazona treinar a inexperiente menina no uso de seus poderes. Embora consternado, ele é obrigado a aceitar, e Kara passa uma temporada na Ilha Paraíso (nome sugestivo para um lugar onde só podem morar mulheres!).


De fácil digestão, a história corre bem animada e carismática até esse ponto, é quando a veia “massa véio” de Loeb começa a falar mais alto. Enquanto as visões da vidente Precursora (uma das moradoras da Ilha) dizem que um futuro estarrecedor ameaça a vida da jovem Kara Zor-El, e a Trindade discute o que deve ser feito da menina, um tubo de explosão vindo de Apokolips se abre diante dos três e traz ninguém menos que o próprio Apocalypse, a criatura alienígena (Kryptoniana!) que matou o Superman

Tudo parece sob controle, “ah, é só O Apocalypse” quando, de repente, surge de dentro do mesmo tubo de explosão um verdadeiro exército de Apocalypses, o que faria tremer qualquer herói juvenil, mas não a Trindade e o exército das amazonas. O que se segue é uma sequência de absurdos que me deixaram sentindo vergonha alheia.


Quando surgiu nos quadrinhos, o Apocalypse era capaz de trucidar a Liga da Justiça inteira (tudo bem que não eram os membros mais poderosos) sozinho e isso sem nem rasgar a roupa. Ele não só espancou o Superman até a morte como se manteve vivo e ainda detonou com Apokolips e o próprio Darkseid. Depois de tudo isso, o personagem começou a se tornar cada vez mais fraco, e em todas as suas aparições ele era derrotado com extrema facilidade. Em Crise Final ele chega a ser derrotado pelo Superman da Terra 1 com UM soco.

Os Apocalypses que são trazidos à Terra são cópias mal feitas do original (claro), mas mesmo assim são derrotados com tanta facilidade que chega a causar vergonha. O Batman derrota alguns deles aplicando chutes (!!!) e depois os que restam são pulverizados por uma hiper visão de calor disparada pelo Superman (cujo resultado ficou bem fraco na animação). Quando li “um exército de Apocalypses” lá na extinta Wizard que citei no começo do post, eu imaginei algo muito mais grandioso.

O resultado é que o exército de monstros só serve para distrair a trindade enquanto o próprio Darkseid surge de dentro de outro tubo de explosão e rapta Kara, matando a Precursora no caminho. O senhor de Apokolips leva a garota para seu mundo de olho em seu enorme potencial e a hipnotiza na intenção de torná-la capitã de sua guarda de honra, um bando de mulheres perigosíssimas chamadas de Fúrias que são treinadas pela Vovó Bondade.


A fim de salvar a prima dos braços pérfidos de Darkseid, o Superman e os amigos Batman e Mulher Maravilha vão atrás de alguém que possui um meio rápido de viajar até Apokolips, e se encontram com Barda, a antiga capitã das tropas de Darkseid, que hoje vive num bairro pacato de alguma cidade americana (não especificada). 

Barda, à princípio tenta dissuadi-los de viajar até o Planeta Inferno, mas cabeçudos, os três não mudam de ideia, e Barda decide não só ajudá-los a chegar em Apokolips como também ir junto, e para isso, além da caixa materna que é um dispositivo que entre outras coisas abre tubos de explosão (portais entre os mundos), a guerreira disponibiliza alguns apetrechos do marido Sr. Milagre, outro ilustre ex-habitante de Apokolips. 

É interessante notar que exceto para os fãs, mesmo os que tenham informações rasas dos personagens, não há qualquer explicação sobre de quem são os apetrechos que Barda deixa disponível à Trindade, o que considero um furo no roteiro. O Sr. Milagre merecia ao menos uma citação que fosse.

Chegando em Apokolips, enquanto o Batman (com os aparatos voadores do Sr. Milagre) enfrenta cães gigantes e parademônios (os soldados de Darkseid), a Mulher Maravilha e Barda enfrentam as Fúrias, sobra para o Homem de Aço resgatar a inocente prima, que agora está sob o domínio de Darkseid. 

Sem perder tempo o Mestre do Mal volta a menina contra o Superman e decidido a não reagir, ele toma uma tremenda surra da loirinha. Na HQ ele usa o anel de Kryptonita que ele deu ao Batman para situações de emergência para vencer a prima (!!) mas na animação isso nem é citado.


Ele acaba com a menina na porrada mesmo, a Mulher Maravilha junto com Barda derrota as Fúrias subjugando também a Vovó Bondade, e o Batman dá uma cartada final invadindo o depósito de armamentos de Darkseid, reprogramando os chamados “esporos do inferno” e ameaçando explodir o planeta todo se o vilão não entregar Kara ao Superman. 

No final, como na HQ, o Batman é surrado por Darkseid e ele admite que entre os membros da Trindade, o morcego é o único capaz de jogar sujo.

Na HQ, depois que eles retornam à Terra fica bem claro que Darkseid não deixará barato aquela derrota e volta para o planeta a fim de executar o Superman. Quando ele lança um de seus feixes ômega em direção ao kryptoniano, sua prima assume a frente e é fulminada pela descarga fatal do vilão. O Superman se enfurece, e numa batalha épica (mas nem tanto) chuta quase que literalmente o traseiro cinzento de Darkseid até o espaço, fazendo-o posteriormente se perder num cemitério de entidades celestiais (A Muralha da Fonte). Quando o Superman volta à Terra ele revela que na verdade a Supergirl não está morta e que ela foi transportada pouco antes de ser fulminada e blábláblá. Final pra lá de decepcionante.

Na animação, Darkseid realmente vem atrás do Superman, mas em nenhum momento a Supergirl é fulminada. Ela e o Superman são atingidos dúzias de vezes pelos feixes ômega (aparentemente Darkseid esqueceu de carregar as baterias!) e nada acontece a eles (!) fora o atordoamento típico. Ainda mais ridículo que isso, Kara chega a enfrentar Darkseid sozinha (com direito a golpes de Street Fighter que deixariam Chun Li com inveja) e espanca o Senhor de Apokolips. Depois, ela é derrotada. O Superman espanca Darkseid. Depois o Darkseid vence o Superman. Aí a Supergirl espanca o Darkseid... E assim sucessivamente num baita espetáculo “massa veístico”. 

É a luta mais exagerada que já vi em uma animação da DC. Não há emoção, só um monte de cenas de ação estúpidas e inimagináveis nas HQs. Por um momento me senti vendo Akira (que é um clássico) ou aqueles desenhos japoneses super apelativos, o que estragou e muito o resultado final do filme.

Um breve comentário sobre os poderes de Darkseid: é certo que o vilão pode usar suas rajadas como bem entender, e os nomes também variam entre Sanção Ômega, feixes Ômega e Efeito Ômega. De qualquer forma, não faria sentido ele usar seus poderes com intensidade baixa sendo que ele estava ali para acabar com o Superman. Pelo menos na HQ isso não acontece, e o Superman é salvo de ser pulverizado duas vezes, uma por Kara e outro pelos braceletes da Mulher Maravilha.

Como disse anteriormente e repito agora Superman/Batman - Apocalypse (ainda não sei por quê o nome!) não chega a ser uma animação ruim, mas por se tratar de uma história de Jeph Loeb começa bem, mas tem um fim muito aquém do esperado. De qualquer forma vale por algumas lutas como as de Diana e as Fúrias (outra vez com direito a golpes de WWE!) e o enredo leve que nos faz ter uma certa afeição pela SuperGirl.

Superman/Batman – Apocalypse foi lançado recentemente e pode-se encontrar versões em DVD e em Blu-Ray.

Nota: 7

Dublagem
Já elogiei aqui a competente dublagem brasileira nas animações estrangeiras, e certos filmes são quase que impossíveis de se assistir com suas vozes originais, é o caso de Toy Story, Monstros S/A e Procurando Nemo. Já nos desenhos animados a história se repete e quase toda a equipe que dubla Liga da Justiça e Liga da Justiça sem Limites retorna em Superman/Batman Apocalypse, dando um show de interpretação. Se o longa não chega a ser nenhuma perfeição, o mesmo não pode ser dito dos dubladores.

O carismático Guilherme Briggs volta a emprestar sua voz ao Homem de Aço como aconteceu nos desenhos da Liga e também no longa animado A Morte do Superman, e apesar do Azulão não dar chance para o dublador exercitar sua veia cômica (o que é uma marca nos personagens que dubla), seu trabalho continua impecável, assim como esteve em A Múmia (dublando Brendan Fraser, minha dublagem preferida), em Toy Story (Buzz Lightyear) e em Lost (dublando o Sawyer).

Por trás do Batman está a inconfundível voz de Marcio Seixas que dubla o personagem desde a primeira animação criada para o Batman nos anos 90 após os filmes de Tim Burton (Batman e Batman o Retorno) e do qual sou um grande fã. Quem não se lembra do tenente Frank Dreblin da série Corra que a Polícia vem aí na voz de Seixas? É de rachar de rir.

Completando a Trindade, Priscila Amorim volta a dublar a Mulher Maravilha o que já se tornou uma constante. É difícil imaginar outra voz feminina para Diana que não seja a dela. Seu tom firme mas não menos sexy casa perfeitamente com a bravura da Amazona e a meu ver, só Priscila poderia dublar a personagem.

Para dublar a Supergirl a escolhida foi Fernanda Fernandes, voz pelo qual sou apaixonado desde que ela dublou a Vampira dos X-Men ainda na primeira versão do desenho animado. De lá pra cá, Fernanda dublou praticamente todas as aparições da mutante em todas as mídias, incluindo a versão cinematográfica. O jeitinho angelical da prima do Superman também combinou com a voz levemente rouca de Fernanda. Nota 10!

Para completar minha homenagem aos dubladores do filme, não poderia deixar de citar Carlos Seidl, a voz do eterno Seu Madruga que ficou encarregado de dublar a “bondosa” Vovó Bondade, o braço direito do vilão Darkseid. Seidl é conhecidíssimo no ramo e duvido que tenha alguém que costuma ver filmes, seriados e desenhos que nunca tenha ouvido sua voz. Só pra citar rapidamente alguns dos personagens que ele já dublou vai desde o C3PO da trilogia clássica de Star Wars, passando por Lionel Luthor (pai do Lex) em Smallville até o palhaço Krusty dos Simpsons.

Graças a esses profissionais, vale a pena de vez em quando deixar de ver a versão original de alguns filmes e descansar os olhos das legendas por um tempo. Viva os atores e dubladores brasileiros!



NAMASTE!

5 de outubro de 2010

Top Blog Últimos dias de votação!


Vamos lá, pessoal! Dia 10 acaba o prazo para votação!

Votem no Blog do Rodman para a categoria Blog Pessoal. É rápido e fácil, você só precisa clicar no link de votação no canto superior direito da tela (do próprio Blog) e votar. Logo que a mensagem de conclusão surgir, você deve confirmar seu voto em outro link que será enviado a seu e-mail de cadastro. Ah, e você não paga nada por isso!



Prometo um CD do Tiririca pra cada um que votar no meu Blog!

NAMASTE!

3 de outubro de 2010

Urna e penico


É isso aí. Se o Brasil é o país do Pão e Circo, por que não colocar um palhaço na câmara dos deputados?
"Pior do que está não fica". Será mesmo, abestado?
NAMASTE!

14 de setembro de 2010

Política para quem precisa de Política

Dou aula de informática numa escola da Zona Oeste (há quem diga que não é Zona Oeste, mas tabém não é interior) e dia desses um aluno que estava ali apenas para imprimir um trabalho me perguntou se eu sabia o que era política do pão e circo. Isso não tem nada a ver com informática, claro, se fosse uma pergunta sobre Excel, Access ou PowerPoint eu até teria uma resposta na ponta da língua, mas não era o caso. Admiti minha ignorância sobre o termo e respondi que não sabia do que se tratava. Adquirindo um pouco de vergonha na cara mais tarde, fui até site de buscas (popularmente conhecido como Google mesmo) e inseri as palavras chaves. Eis o que descobri:

Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o Imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política "panem et circenses" (não, não é um dos encantamentos do Harry Potter!), a política do pão e circo. Este método consistia em todos os dias dar ao público lutas de gladiadores nos estádios (como o Coliseu) e durante esses eventos eram distribuídos alimentos ao povo. O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo que a população se distraía e se alimentava, também esquecia os problemas e não pensava em se rebelar. Foram feitas tantas festas para manter a população entretida, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano (mais ou menos como o calendário baiano!), e isso claro, fez com que todos se regozijassem.
Pare um instante e leia de novo o trecho acima. Qualquer um com um pouco mais de argúcia irá perceber que há nessa história algo muito semelhante à realidade brasileira. Há exatos 8 anos o Brasil superficialmente vem vivendo uma reconfortante onda de calmaria. O desemprego caiu, a inflação se mantem controlada e o povo está feliz com os avanços, mesmo que pequenos, que vem conseguindo. Antes disso, só se tinha notícias de inflação nos picos, aumento de gasolina, do pão, da carne e até mesmo dos produtos primários que compõem a cesta básica. Era privatização pra lá, aumento de pedágios em rodovias para cá e sob as asas tucanas o Brasil parecia chafurdar-se em uma areia movediça cada vez mais funda. E então surgiu a estrela no horizonte, a estrela branca sobre o fundo vermelho, e todos se regozijaram.
Volte ao trecho da história dois parágrafos acima. Será que estou procurando cabelo em ovo ou realmente estamos vivendo há 8 anos numa política de pão e circo tupiniquim? Se trocarmos o pão pelo "Bolsa Família" e o Circo por Futebol, voilá! Temos exatamente a mesma coisa em terras brasilis. Não é que estamos vivendo numa onda de calmaria onde todos estão felizes e contentes, é que o pão que está sendo entregue de graça faz com que essa onda pareça melhor. Já foi pior? Com certeza, mas acho que passou o tempo de maquiarmos os problemas em vez de resolvê-los, passou o tempo de dar pão e circo para que a população distraída não veja que elas não saíram da areia movediça, apenas pararam de chafurdar nela.

Quantos problemas sociais graves ainda temos no Brasil sem que em nenhuma propaganda política se quer cheguem a ser mencionados? Assisto quase que diariamente o horário eleitoral obrigatório e observo em especial o programa de governo dos presidenciáveis. Nenhum deles até hoje mencionou o problema do tráfico de drogas nas favelas e nos bairros carentes, ou se quer citou os problemas que ainda existem no Nordeste do país, como falta de água, saneamento básico e energia elétrica, algo que num mundo como o atual, é item indispensável. O que vejo são apenas promessas de eleição muito superficiais ou apontamentos de problemas sem que se tenha uma solução no mínimo viável para eles. A população mais atenta está cansada de saber que existem problemas (quando não estão ocupadas no circo da Copa, do Campeonato Brasileiro, nas Olimpíadas...), mas o que sinto falta é de um programa político convincente, com propostas realistas que me tirem de casa no dia 3 de Outubro com a sensação de que estarei depositando na urna a certeza de um futuro melhor. Devo admitir que ainda não tenho um candidato escolhido, mas não porque estou em cima do muro, e sim porque nenhum deles se quer conseguiu me convencer de que irá enfrentar os problemas brasileiros com garra e verdade. Lulismo exacerbado e quebras de sigilos fiscais não me interessam, nem tampouco o comunismo de beira de estrada. Eu quero que apareça um candidato que mostre soluções para problemas que ninguém mais pensa e que resolva de uma vez cada um deles. Alguém que não só mantenha o que já está funcionando como também melhore o que precisa de reparos, e olhe que tem muita coisa!


11 Milhões de famílias brasileiras atualmente são beneficiadas pelo programa do governo "Bolsa Família". Traduzindo isso para o eleitorado teríamos quase que a mesma faixa de votos garantidos para o partido do governo, o que por si só significa que a população está satisfeita com o que tem atualmente. O pão que lhes é dado alimenta e o circo no palanque também não compromete, o que garante pelo menos para mais 4 anos o poder daqueles que o assumiram na intenção de favorecer os mais desfavorecidos, mas que não deixam os interesses próprios ajudarem mais. De fome o povo pelo menos não pode mais reclamar, mas já na educação o buraco é mais embaixo.

Enquanto os presidenciáveis (os da elite e também os do povo) arrotam no horário eleitoral sobre ETECs, FATECs e todo tipo de promessas a longo prazo a respeito de educação, esse mesmo índice vai descendo areia movediça abaixo. O Brasil ocupa a vergonhosa 88ª posição no ranking de desenvolvimento educacional, perdendo posições para países muito mais pobres da vizinhança latina como o Paraguai, Equador e a Bolívia. Em São Paulo temos uma boa distribuição de material escolar, o kit escolar inclui ótimas apostilas, livros e até mesmo o material mais básico como lápis, caneta e caderno, só quem em algumas escolas o kit chega com atraso o que prejudica o trabalho do já desmotivado professor de escola pública e aumenta o desinteresse do aluno. Num país em que tão poucas pessoas leem livros e jornais, onde a cultura não é incentivada e nem praticada e que o ensino anda tão combalido, não é difícil imaginar porque o pão e circo por aqui funciona tão bem. Tenho exemplos claros onde trabalho. Já me deparei com dezenas de alunos que em um exercício de aula confessaram que jamais haviam lido um livro na vida e que não sentem o menor interesse pela leitura, e imagino como esse tipo de situação deve se repetir por todo o Brasil. Hoje, em São Paulo, o governo distribui livros na rede pública, os alunos recebem livros de autores prestigiados como Clarice Lispector e Fernando Pessoa, mas não me surpreenderia se me dissessem o destino que tais obras recebem após a entrega. A realidade é triste, o governo faz pouco e o povo não se interessa nem por esse pouco e o resultado nas urnas em Outubro é previsível. Sobre educação, além do mais do mesmo sobre as Escolas Técnicas (que são sim um bom começo, mas não são a solução do problema) só se houve falar da inacreditável aprovação automática adotada nas escolas de São Paulo. Acabar com isso seria uma ótima medida para formar alunos mais capacitados e críticos, mas será um trabalho árduo para recuperar todos que já foram "beneficiados" por essa aprovação. Só resta rezar para que o próximo governante pense no 88º lugar no índice educacional e tome providências para melhorar essa realidade.

Não faço demagogia e nem sei fazer. Escrevo o que eu sinto, falo sobre o que me incomoda e torço para que o futuro decidido no próximo dia 3 seja o melhor para o país. Não interessa ser o Brasil que atinge altos índices de desenvolvimento econômico se os índices educacionais são os piores possíveis. Pessoas que não adquirem cultura que não buscam se informar sobre política (que eu concordo ser chata) não evoluem e nem tampouco tem o direito de cobrar o que quer que seja mais tarde. Esporte é bom, torcer é bacana, mas a Seleção de Futebol não vai mudar a realidade do povo nas favelas e das crianças seduzidas pelo tráfico. Nem o Corinthians nem o São Paulo irão colocar um prato de comida na sua mesa e nem o Palmeiras irá pagar a sua conta de luz. Eu gosto de futebol, torço em casa pelo meu time, mas sei que isso não passa de uma diversão passageira. O "circo" tupiniquim não deve nos cegar das realidades que nos assolam, não pode nos ensurdecer dos tiros de fuzil disparados na calada na noite e nem das pessoas que não tem nem energia elétrica em suas casas quanto mais um abajur para iluminar seus medos noturnos. Se o mundo não acabar em 2012, a Copa no Brasil em 2014 não será a salvação da lavoura e nem tampouco as Olimpíadas de 2016. Acorde e não deixe que os políticos (sejam eles os amigos da elite ou os companheiros de corruptos) enganem vocês com essa história de que sediar a Copa e as Olimpíadas será o orgulho do povo brasileiro. Orgulho será quando o Brasil deixar de ser um país de miseráveis e de analfabetos (funcionais ou intelectuais) mas por méritos próprios e não por vaidade desse ou daquele partido. O resto é "panem et circenses".


NAMASTE!

9 de setembro de 2010

Review: REC² - Possuídos

Minha vida social anda mais lenta do que o Windows 98, por isso só agora encontrei algo que valesse a pena compartilhar no meu já tão combalido Blog.
Em plena Segunda-Feira, véspera de feriado decidi encarar uma fila considerável no cinema para conferir a mais nova película de terror em cartaz, a tão aguardada sequencia do excelente REC, filme espanhol lançado em 2007.

Filme de terror só tem graça de se ver se for bem acompanhado, por isso levei minha namorada para pular na poltrona comigo com os sustos que eu esperava tomar durante a sessão. Estou esperando pelos sustos até agora.

Pra quem ainda não sabe, o primeiro filme conta a história de uma equipe de TV que acompanhando um dia ao lado do Corpo de Bombeiros da cidade acaba sendo levada até um prédio onde um estranho pedido de socorro é emitido. Enquanto atende a emergência, a equipe de TV se vê presa dentro do prédio junto aos Bombeiros sem entender exatamente que tipo de emergência ocorre por ali. Daí pra frente uma sequencia de fatos bizarros se sucedem levando os personagens e os espectadores a crerem que aquele pacato prédio está infestado de zumbis mortos-vivos.

De original (mas nem tanto assim) o filme trás principalmente a tomada em primeira pessoa. A câmera funciona como nossos olhos e isso faz com que os sustos tenham mais propriedade sempre que um zumbizão surge do nada diante da lente. Devo admitir que fui surpreendido várias vezes na sala de casa e que o suspense pela espera do que vai entrar por aqueles corredores escuros do prédio espanhol todas as vezes que a câmera se vira foi pra lá de interessante. Algo assim só tinha visto em A Bruxa de Blair, que também é um ótimo filme, mesmo que tenha um final em aberto que até hoje me intriga, e exatamente por isso criei uma expectativa alta para REC 2.

A história do segundo filme se passa 15 minutos após o fim do primeiro - é a sequencia mais imediata que já vi para um filme!- e as cenas iniciais só fazem sentido para quem assistiu ao primeiro filme. Quem estava na sala de projeção caído de paraquedas sem ter visto REC 1 provavelmente não entendeu nada, mas o desenrolar do enredo se torna até simplista demais posteriormente o que acaba descartando a necessidade de ter visto o anterior.

Nessa sequencia, de imediato, não vemos nenhum dos personagens já conhecidos na primeira parte da história e são inseridos novos elementos como um fiscal sanitário (que mais tarde descobrimos se tratar de um padre), três soldados de uma espécie de SWAT latina e o pai da pequena Jennifer (a menina que estava com amidalite), que nos é apresentada em REC 1. As câmeras que funcionam como nossos olhos agora, estão fixadas nos capacetes dos soldados que filmam tudo logo que entram no prédio a fim de descobrir porque perdeu-se o contato com os sobreviventes há quinze minutos (lembrando que no filme anterior já havia entrado no prédio um agente de saúde e que dizia-se que o isolamento do local havia sido pela desconfiança de uma contaminação que ocorria ali).

Não se passam nem 20 minutos de projeção e o mundo dos soldados vem abaixo quando eles descobrem que há naquele prédio muito mais do que contaram a eles antes de entrarem. Um deles é atacado e mordido por um "morto-vivo" e seguem-se cenas pra lá de entediantes com uma carga dramática bem falsa a nível novela mexicana por parte dos soldados canastrões. Os companheiros do infectado se desesperam e cobram o falso agente sanitário que enfim revela (de forma rápida e sem graça) qual é sua verdadeira missão ali: achar uma amostra de sangue original da primeira pessoa infectada para se criar um antivirus antes que ele (o vírus) saia daquele prédio.

Não há chance para que nos apeguemos a nenhum dos personagens principais, diferente do que acontece com a repórter vivida pela atriz Manuela Velasco em REC 1. O padre se mostra sensato em só sair dali com uma amostra de sangue do qual ele se incumbiu de apanhar, mas sua missão não o torna o mais simpático dos personagens. Na verdade em certo ponto a gente até torce para alguém matá-lo logo, já que sua presença ali é o que impede que os demais saiam do prédio cheio de zumbis possuídos. Os três soldados tampouco mostram qualquer carisma, o que igualmente nos faz desejar que alguém alivie logo seu sofrimento. Em certo momento eu mesmo proferi: "Esse filme não vai durar muito, eles vão morrer logo.", mas ele durou um pouco mais do que eu imaginei.

Pra resolver essa falta de personagens carismáticos, eis que surgem os elementos que nunca faltam em um filme de terror: adolescentes. Repentinamente começamos a ver um outro lado da história, o de fora para dentro, e três jovens curiosos entram no prédio por um local nada peculiar: o escoamento de esgoto. Munidos de uma câmera (REC ² não nos deixa de fora da ação nunca) eles adentram o prédio sem a menor noção do que se passa ali e são jogados imediatamente no fogo cruzado entre um bombeiro e os zumbis. Quando eles percebem no que se meteram já é tarde demais e eles assim como os demais "visitantes" começam a lutar por sobrevivência, tentando impedir que dentes infectados se cravem em seus pescoços.

As reviravoltas no roteiro são pequenas, mas a missão do filme que é causar medo não se cumpre mais como seu antecessor. Em nenhum momento me assustei com os possuídos e as únicas cenas impactantes do qual me lembro são os infanticídios cometidos pelo padre (amém!) no decorrer da fita. Algumas cenas são bem previsíveis até, os sustos quase podem ser antecipados um ou dois minutos antes e nem mesmo o efeito "câmera na mão" parece mais tão inovador. O filme se desenrola quase como um grande mais do mesmo, e fora a cena final, quase todo o resto já parece que foi visto anteriormente. Não chega a se tornar enfadonho, mas também não nos apresenta grandes novidades, exceto talvez, a morte de uma das antigas moradoras (a mãe da Jennifer, agora zumbi) com fogos de artifício e a própria origem dos zumbis, que na verdade não são zumbis, nem mortos-vivos. As pessoas "desestabilizadas emocionalmente e fora de si" (para não ofender) são na verdade possuídos, como o subtítulo do filme entrega. Por outro lado essa premissa é intrigante já que os criadores do filme, Jaume Balagueró (que também assina a direção) e Paco Plaza tentam nos passar de que não há infecção virótica. Se aquelas pessoas não estão infectadas por um vírus propriamente dito e sim "endemoniadas", como o padre diz precisar de uma amostra de sangue para criar um... antídoto? Eu diria que isso é um furo de roteiro.
De impressionante tanto nesse filme quanto em seu precursor eu acho a maquiagem da "menina" Medeiros, a primeira hospedeira do "vírus". Procurei por notícias de bastidores para saber se ela é gerada por computador, se é alguma animação ou se ela (ou ele, sei lá!) é mesmo daquela forma tão... magra! De repente pode ser também um efeito visual muito bem feito, mas se for o caso, acho que REC ² - Possuídos deve ser indicado e vencer o Oscar de melhor maquiagem ou o de efeitos visuais.
Fico no aguardo dos filmes que virão na sequencia (REC 3 - Genesis e REC 4 - Apocalipse), mesmo que esse já não tenha me empolgado tanto assim e espero que os roteiristas caprichem dessa vez para que a série REC não se perca pelo caminho como tantas outras séries de filme de terror que não nos mostram mais nada de novo. O cinema como um todo carece de novas ideias, remakes e requentamento de conceitos antigos já não nos satisfazem mais.
Nota: 7

Confiram o trailler de REC 2 - Possuídos.



NAMASTE!

22 de agosto de 2010

Os Mercenários do Stallone

Eu não fui criado apreciando belas obras cinematográficas como os filmes do Almodóvar, não sou fanático pelo Bertolucci, não me ligo em filmes franceses (até hoje só vi Amelie Poulain) e nunca na vida assisti a um filme iraniano. Cresci vendo filmes de ação e fui doutrinado na escola da voadora e dos dois pés no peito. Sim, estou falando de como passei minha doce e saudosa infância e de como o cinema de ação (sobretudo o Brucutu) marcou minha vida.

Já comentei aqui sobre minha expectativa para ver aquele que eu esperava ser o melhor filme de ação do ano, Os Mercenários de Sylvester Stallone, e como a maioria da galera que eu conheço (os machões principalmente) estava empolgada com a ideia da reunião dos maiores ícones do cinema porradaria num mesmo filme. As expectativas estavam lá em cima, uma vez que algo desse gênero jamais havia acontecido, e seria uma espécie de celebração pelos anos dourados (fim dos anos 80 e início dos 90), onde os maiores nomes do cinema ainda eram Schwarzenegger, Stallone e Van Damme. Da expectativa para a realidade há uma grande diferença, mas há compensações.

O cinema não estava tão cheio, e na sala havia um público variado de jovens (provavelmente assim como eu, fã dos brucutus), senhores e até mesmo meninas (uns 3% que não devem curtir muito Vampiros Cintilantes e 97% que deveriam estar ali só acompanhando os namorados). Havia uma certa empolgação na fila antes da entrada, porém ela era discreta. Não era nada como se vê em grandes produções que saem em cartaz, mas também não era aquele clima “não estou esperando nada desse filme”. Acho que todo mundo ali aguardava para ver um grande filme.


Os Mercenários não é brilhante e tampouco inteligente. Tem um roteiro fechado de fácil digestão. Fácil até demais, tanto que dá a sensação de já se ter visto aquilo pelo menos umas 10 vezes antes. Ditadorzinho de um país de Terceiro Mundo subdesenvolvido (lembram que metade das filmagens aconteceram no Brasil??) trata a população como lixo e se beneficia disso. Mocinha é seqüestrada fazendo o mocinho ir resgatá-la nem que pra isso ele tenha que botar o país inteiro abaixo. Tiroteio, o vilão morre. Fim. Já viu isso em algum lugar? Eu já.
As atuações chegam a ser torturantes às vezes, pra não dizer sofríveis, salvo Jason Statham, que é o segundo nome mais importante do filme e o grande parceiro do personagem de Stallone, Mickey Rourke (que já tinha dado show em Homem de Ferro 2), Terry Crews e Erick Roberts, que outra vez é vilão. Statham, apesar de porradeiro, se sai melhor que os colegas no quesito interpretação, mas sozinho não salva o filme. Stallone até tenta fazer algumas caras e bocas, tenta fazer algumas expressões faciais e até tenta emocionar (indo quase às lágrimas numa determinada cena com Rourke), mas ainda assim é algo longe do que ele consegue em Rocky, no auge de sua carreira. Não sei se por causa do seu personagem ser meio ogro (bem, todos ali são, mas nesse caso mais ogro), Dolph Lundgren por vezes parece meio retardado (ou drogado) em cena e sua interpretação se assemelha muito ao que ele conseguiu em Soldado Universal, ao lado de Jean Claude Van Damme. Ao menos lá, ele estava interpretando uma espécie de morto-vivo sem emoções...
Jet Li, que embora tenha participado de grandes produções como Herói e A Múmia 3 – A Tumba do Imperador Dragão, ainda tem dificuldades de interpretação, seja por seu inglês com sotaque ou pelo talento reduzido. Em Cão de Briga, que é um filme de mais tensão emocional do que seus outros filmes, por exemplo, ele se saiu bem melhor.
Randy Couture que é um lutador de MMA além de ator (?) não compromete no papel, até por ser um dos de menor destaque no quesito interpretação (ele quase não fala no filme). Terry “Pai do Chris” Crews, no entanto, junto com Statham é um dos que fazem a diferença em cena e mesmo não sendo tão engraçado como estamos acostumados (Todo Mundo Odeia o Chris, As Branquelas...) rouba a cena em alguns momentos-chave da película. Mickey Rourke que interpreta um ex-mercenário que busca a redenção pelos seus atos parece ser o único realmente gabaritado para o papel, e faz o que já havia conseguido fazer no filme O Lutador, emocionar.
Gisele Itié, mais uma brasileira (meio mexicana) a entrar no mercado internacional aparece o filme todo e é a motivação para que as ações heróicas do filme aconteçam. Seu inglês parece meio decorado demais o tempo todo, mas ela não atua mal fazendo seu papel de donzela em perigo. Na história ela é filha do ditador que se alia ao personagem de Erick Roberts, e é seqüestrada para delatar o real motivo da breve excursão dos Mercenários em seu país.
É natural se exigir sempre boas atuações num filme que você está pagando para ver, mas falar de interpretações num filme que foi vendido para ser nitroglicerina pura é sacanagem!

Por alguns momentos, confortável lá em minha poltrona, degustando a minha pipoquinha, pensei estar vendo um filme do Michael Bay de tantas explosões que haviam por segundo de fita. Sério! É inacreditável o quanto eles explodem de coisas durante o filme todo. Deu até para imaginar os brasileiros aplaudindo em volta do set a cada detonação! “Viva!” “Manda ver, Stallone!” “Explode tudo!”
OK, não dava para esperar um filme cabeça com essa quantidade de atores porradeiros envolvidos, mas isso torna Os Mercenários um filme ruim? De jeito nenhum. Eu gostei muito do filme. Desliguei meu cérebro durante duas horas e vibrei a cada combate e a cada perseguição. Curti muito o encontro dos três pesos pesados na tão comentada cena que aparece nos traillers, onde Stallone e Schwarzenegger são convocados por Bruce Willis (o agente Church da CIA) para a missão de ir lá no país de Terceiro Mundo e eliminar o ex-agente da CIA que comandava o cartel de drogas.

O diálogo entre eles é breve, porém inesquecível. Rola até uma zoação sobre os quilos a mais do Governador da Califórnia e sobre a inteligência do personagem de Stallone. “Você devia ler mais!”. A cena não deve durar mais do que 5 minutos, mas é com certeza uma das mais memoráveis. A intimação que Church faz no final para o personagem de Stallone também é de arrepiar, e deixa o público imaginando uma sequencia em que ambos se confrontam. Seria foda demais!

Já vi muito filme de ação, mas o grau de violência de os Mercenários atinge os picos mais altos com certeza. É importante notar a quantidade de soldados buchas (aqueles que só aparecem para morrer) que se proliferam do nada enquanto os protagonistas se deleitam esfaqueando, atirando e socando. Statham é o especialista em facas, Jet Li o cara do kung fu (embora ele utilize pouco no filme), Couture a força bruta (seus golpes de MMA são excelentes) e Crews o detonador. Sobraria para Stallone a parte do cérebro da equipe, mas não vamos exagerar!
Podemos acusar Stallone de tudo, menos de ter uma sensibilidade ótima para o que o público quer ver. As cenas de ação são de tirar o fôlego, as lutas são grosseiras e espetaculares, e não deixa nada a desejar a quem está ali justamente para isso: ver muito sangue e dilacerações. Esse papel o filme cumpriu e bem.
Nota: 8

Seja lá qual for o sucesso do boicote que alguns brasileiros chegaram a veicular na Internet que seria feito ao filme por aqui, ou qual seja o resultado das bilheterias em todo o mundo, a sequencia para esse filme é quase uma certeza e esperamos uma dose maior ainda de testosterona caso os nomes sugeridos desde o primeiro sejam inseridos num novo projeto. Ver Van Damme, Steven Seagal (embora eu não goste dele), Chucky Norris (se ele estiver vivo até lá) ou talvez Wesley Snipes, Vin Diesel e The Rock junto com a galera do primeiro filme ia ser algo sobrenatural. Quem sabe os egos se acalmem até lá e esses atores (a maioria em péssima fase) percebam que eles estarão fazendo história e proporcionando um espetáculo para um público, que embora cada vez menor, ainda se mantém fiel aos bons e velhos filmes de ação estilo anos 80.

Que venha Os Mercenários 2, e que o Brasil aprenda que a imagem que temos lá fora é a imagem que nós mesmo construímos aqui, a de um país em que tudo é liberado, onde só se pensa em Carnaval e em futebol e que o povo morre de fome enquanto assiste a Copa do Mundo e seus milhões gastos a toa. Se podemos adorar esses pernas de pau que se vendem para entregar um campeonato de futebol, porque não adorar Stallone e sua trupe? Mercenário por mercenário ainda prefiro ir ao cinema e me divertir nem que seja por duas horas.

Nota: O filme é do caramba, mas no Metrô na viagem de volta já tinha me esquecido da maioria das cenas.

Nota 2: No trailler antes do filme foi exibido Tropa de Elite 2, filme nacional que mostra a realidade da violência no Rio de Janeiro, algo pelo qual a maioria dos governantes fecha os olhos, preferindo o Carnaval e o futebol. Essa é nossa realidade.
NAMASTE!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...