Já comentei aqui sobre minha expectativa para ver aquele que eu esperava ser o melhor filme de ação do ano, Os Mercenários de Sylvester Stallone, e como a maioria da galera que eu conheço (os machões principalmente) estava empolgada com a ideia da reunião dos maiores ícones do cinema porradaria num mesmo filme. As expectativas estavam lá em cima, uma vez que algo desse gênero jamais havia acontecido, e seria uma espécie de celebração pelos anos dourados (fim dos anos 80 e início dos 90), onde os maiores nomes do cinema ainda eram Schwarzenegger, Stallone e Van Damme. Da expectativa para a realidade há uma grande diferença, mas há compensações.
O cinema não estava tão cheio, e na sala havia um público variado de jovens (provavelmente assim como eu, fã dos brucutus), senhores e até mesmo meninas (uns 3% que não devem curtir muito Vampiros Cintilantes e 97% que deveriam estar ali só acompanhando os namorados). Havia uma certa empolgação na fila antes da entrada, porém ela era discreta. Não era nada como se vê em grandes produções que saem em cartaz, mas também não era aquele clima “não estou esperando nada desse filme”. Acho que todo mundo ali aguardava para ver um grande filme.
Os Mercenários não é brilhante e tampouco inteligente. Tem um roteiro fechado de fácil digestão. Fácil até demais, tanto que dá a sensação de já se ter visto aquilo pelo menos umas 10 vezes antes. Ditadorzinho de um país de Terceiro Mundo subdesenvolvido (lembram que metade das filmagens aconteceram no Brasil??) trata a população como lixo e se beneficia disso. Mocinha é seqüestrada fazendo o mocinho ir resgatá-la nem que pra isso ele tenha que botar o país inteiro abaixo. Tiroteio, o vilão morre. Fim. Já viu isso em algum lugar? Eu já.
As atuações chegam a ser torturantes às vezes, pra não dizer sofríveis, salvo Jason Statham, que é o segundo nome mais importante do filme e o grande parceiro do personagem de Stallone, Mickey Rourke (que já tinha dado show em Homem de Ferro 2), Terry Crews e Erick Roberts, que outra vez é vilão. Statham, apesar de porradeiro, se sai melhor que os colegas no quesito interpretação, mas sozinho não salva o filme. Stallone até tenta fazer algumas caras e bocas, tenta fazer algumas expressões faciais e até tenta emocionar (indo quase às lágrimas numa determinada cena com Rourke), mas ainda assim é algo longe do que ele consegue em Rocky, no auge de sua carreira. Não sei se por causa do seu personagem ser meio ogro (bem, todos ali são, mas nesse caso mais ogro), Dolph Lundgren por vezes parece meio retardado (ou drogado) em cena e sua interpretação se assemelha muito ao que ele conseguiu em Soldado Universal, ao lado de Jean Claude Van Damme. Ao menos lá, ele estava interpretando uma espécie de morto-vivo sem emoções...
Jet Li, que embora tenha participado de grandes produções como Herói e A Múmia 3 – A Tumba do Imperador Dragão, ainda tem dificuldades de interpretação, seja por seu inglês com sotaque ou pelo talento reduzido. Em Cão de Briga, que é um filme de mais tensão emocional do que seus outros filmes, por exemplo, ele se saiu bem melhor.
Randy Couture que é um lutador de MMA além de ator (?) não compromete no papel, até por ser um dos de menor destaque no quesito interpretação (ele quase não fala no filme). Terry “Pai do Chris” Crews, no entanto, junto com Statham é um dos que fazem a diferença em cena e mesmo não sendo tão engraçado como estamos acostumados (Todo Mundo Odeia o Chris, As Branquelas...) rouba a cena em alguns momentos-chave da película. Mickey Rourke que interpreta um ex-mercenário que busca a redenção pelos seus atos parece ser o único realmente gabaritado para o papel, e faz o que já havia conseguido fazer no filme O Lutador, emocionar.
Gisele Itié, mais uma brasileira (meio mexicana) a entrar no mercado internacional aparece o filme todo e é a motivação para que as ações heróicas do filme aconteçam. Seu inglês parece meio decorado demais o tempo todo, mas ela não atua mal fazendo seu papel de donzela em perigo. Na história ela é filha do ditador que se alia ao personagem de Erick Roberts, e é seqüestrada para delatar o real motivo da breve excursão dos Mercenários em seu país.
É natural se exigir sempre boas atuações num filme que você está pagando para ver, mas falar de interpretações num filme que foi vendido para ser nitroglicerina pura é sacanagem!
Por alguns momentos, confortável lá em minha poltrona, degustando a minha pipoquinha, pensei estar vendo um filme do Michael Bay de tantas explosões que haviam por segundo de fita. Sério! É inacreditável o quanto eles explodem de coisas durante o filme todo. Deu até para imaginar os brasileiros aplaudindo em volta do set a cada detonação! “Viva!” “Manda ver, Stallone!” “Explode tudo!”
OK, não dava para esperar um filme cabeça com essa quantidade de atores porradeiros envolvidos, mas isso torna Os Mercenários um filme ruim? De jeito nenhum. Eu gostei muito do filme. Desliguei meu cérebro durante duas horas e vibrei a cada combate e a cada perseguição. Curti muito o encontro dos três pesos pesados na tão comentada cena que aparece nos traillers, onde Stallone e Schwarzenegger são convocados por Bruce Willis (o agente Church da CIA) para a missão de ir lá no país de Terceiro Mundo e eliminar o ex-agente da CIA que comandava o cartel de drogas.
O diálogo entre eles é breve, porém inesquecível. Rola até uma zoação sobre os quilos a mais do Governador da Califórnia e sobre a inteligência do personagem de Stallone. “Você devia ler mais!”. A cena não deve durar mais do que 5 minutos, mas é com certeza uma das mais memoráveis. A intimação que Church faz no final para o personagem de Stallone também é de arrepiar, e deixa o público imaginando uma sequencia em que ambos se confrontam. Seria foda demais!
Podemos acusar Stallone de tudo, menos de ter uma sensibilidade ótima para o que o público quer ver. As cenas de ação são de tirar o fôlego, as lutas são grosseiras e espetaculares, e não deixa nada a desejar a quem está ali justamente para isso: ver muito sangue e dilacerações. Esse papel o filme cumpriu e bem.
Seja lá qual for o sucesso do boicote que alguns brasileiros chegaram a veicular na Internet que seria feito ao filme por aqui, ou qual seja o resultado das bilheterias em todo o mundo, a sequencia para esse filme é quase uma certeza e esperamos uma dose maior ainda de testosterona caso os nomes sugeridos desde o primeiro sejam inseridos num novo projeto. Ver Van Damme, Steven Seagal (embora eu não goste dele), Chucky Norris (se ele estiver vivo até lá) ou talvez Wesley Snipes, Vin Diesel e The Rock junto com a galera do primeiro filme ia ser algo sobrenatural. Quem sabe os egos se acalmem até lá e esses atores (a maioria em péssima fase) percebam que eles estarão fazendo história e proporcionando um espetáculo para um público, que embora cada vez menor, ainda se mantém fiel aos bons e velhos filmes de ação estilo anos 80.
Que venha Os Mercenários 2, e que o Brasil aprenda que a imagem que temos lá fora é a imagem que nós mesmo construímos aqui, a de um país em que tudo é liberado, onde só se pensa em Carnaval e em futebol e que o povo morre de fome enquanto assiste a Copa do Mundo e seus milhões gastos a toa. Se podemos adorar esses pernas de pau que se vendem para entregar um campeonato de futebol, porque não adorar Stallone e sua trupe? Mercenário por mercenário ainda prefiro ir ao cinema e me divertir nem que seja por duas horas.
Nota: O filme é do caramba, mas no Metrô na viagem de volta já tinha me esquecido da maioria das cenas.
Nota 2: No trailler antes do filme foi exibido Tropa de Elite 2, filme nacional que mostra a realidade da violência no Rio de Janeiro, algo pelo qual a maioria dos governantes fecha os olhos, preferindo o Carnaval e o futebol. Essa é nossa realidade.
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