5 de outubro de 2011

Rock in Rio: Eu não fui, mas eu vi!

A 4ª versão do maior festival de música do Brasil começou desacreditado e ridicularizado, anunciando atrações um tanto quanto fora de contexto (pra grande maioria que ouve “rock” no nome) e que não demoraram a desanimar os já tão esquecidos fãs do verdadeiro rock arte, rock moleque, rock de várzea. Artistas como Katy Perry, Rihanna, Cláudia Leite (tira o pé do chããão) e Ivete Sangalo pareciam destoar e muito do clima rock n’ roll que todos esperavam, porém, vale lembrar que nas edições anteriores essa mesma mistura de gêneros já era comum, e não há como esquecer que caras como Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Erasmo Carlos já subiram ao palco no mesmo dia que ícones da pauleira como AC/DC e o Ozzy Osbourne!

Sabe-se lá Deus que desejo insano é esse do organizador do espetáculo Roberto Medina tem em querer criar essa miscigenação musical em todas as versões do Rock in Rio, mas é certo que o público dessas atrações não é o mesmo, e o que costuma acontecer não é bem o clima paz e amor que, imagino eu, Medina deseja apregoar. Cláudia Leite e a banda emo/hardcore/heavy-metal Glória que o digam!

Apesar desses equívocos de “escalação” artística, que pelo menos desta vez foi bem solucionado separando os dias das atrações (imagina a merda que daria termos Metallica e Katy Perry na mesma noite!), o Rock in Rio, que voltou ao Rio de Janeiro depois de uma longa temporada longe de seu país de origem, teve bons momentos para o público rock n’ roll.



Não. Eu não fui a nenhum dos shows, caro padawan, se é o que está pensando. O meu Rock in Rio foi mais para Rock in home, o que não quer dizer necessariamente que eu não possa dar minha opinião de merda acerca do evento.

Obviamente descarto aqui comentários sobre os shows pops, em primeiro lugar porque não vi nenhum deles, e em segundo porque... Porque... Não vi nenhum deles! Isso basta.


Aliás, sobre Katy Perry não há nada a ser dito e sim mostrado:





Após uma primeira noite mais pop, apesar das apresentações dos veteranos dos Paralamas do Sucesso e Titãs, a galera começou a sentir um maior peso nas atrações internacionais no segundo dia com a presença de Snow Patrol (que convenhamos, né... Nhé!!) e do Stone Sour (banda paralela do vocal do Slipknot Corey Taylor), apesar dos nomes quase desconhecidos do grande público.


O show do Capital Inicial com certeza foi um dos mais surpreendentes e elogiados da noite. Dinho Ouro Preto, o vocalista da banda que vinha de uma longa recuperação após um acidente em 2009 em que caiu do palco durante um show, mostrou não só que estava totalmente recuperado, mas também que estava à todo vapor, empolgando pra valer os espectadores. O coro de mais de 100 mil pessoas entoando os versos de “Primeiros Erros” com as mãos pra cima com certeza já entrou para a história.



Coube aos californianos do Red Hot Chili Peppers a missão de encerrar a segunda noite do evento, botando pra quebrar com seus grandes hits e elevando a temperatura do público que em pelo menos 90% (e falo isso no olhômetro puro) estava ali principalmente para ver os caras. Com seu bigodinho estilo Capitão Fábio de Tropa de Elite, Anthony Kiedis liderou o Red Hot como de costume, afinado nos vocais, ensaiando uma dancinha durante uma música ou outra e dividindo as atenções do público com o baixista porra-louca Flea.


O show dos caras teve espaço para homenagens ao filho da atriz Cissa Guimarães, fã declarado da banda e falecido após um atropelamento, contou com algumas escorregadas do vocalista que errou o tempo ao entrar no refrão de uma música e apresentou ao público brasileiro o novo guitarrista após a saída de John Frusciante. O ex-guitarrista, por sua vez, faz falta não só nos solos, mas também no backing vocal, onde dava maior emoção às músicas “Under the Bridge” e “Californication”, por exemplo. Josh Klinghoffer, o substituto de Frusciante, não se arrisca nos vocais e não demonstrou grande personalidade na execução das canções. Apesar disso, a performance dos caras chegou ao seu ápice com a execução de “Give it Away”, hit de 1991 e que consta como música indispensável no setlist da banda desde então, e encerrou muito bem a primeira noite de rock.




Somente na terceira noite do evento é que o público pôde vestir suas camisetas pretas, balançar a cabeleira ensebada e ensaiar air guitar com os shows pela primeira vez. Fora do palco principal a galera do rock de verdade se acabou durante as apresentações do Matanza e do Sepultura, que conseguiram lotar o espaço menor reservado às atrações de, digamos, menor expressão. Sim, porque grande expressão é NXZero, né Roberto Medina!


A decepção do dia, no entanto, ficou por conta do vocalista do Angra Edu Falaschi que num dia pouco inspirado, acabou destoando e muito ao dividir os vocais com a diva Tarja Turunen, ex-cantora do Nightwish. Nunca fui lá um grande fã de Falaschi, que recebeu a ingrata missão de substituir o fodástico André Matos na banda de metal brasileira, e ao lado de Tarja ele provou que não está nem nunca esteve à altura de substituir o cantor de voz fina que dava a cara e a personalidade do Angra.

Se faltou empolgação nos shows dos desconhecidos do Coheed and Cambria (aquele do cabelo de samambaia) e do Glória , o mesmo não pode ser dito da trinca formada por Motörhead, Slipknot e Metallica, que juntos fizeram deste o melhor dia do Rock in Rio.



O lendário vocalista do Motörhead, Lemmy Kilmister de 66 anos provou que idade não é empecilho para fazer uma boa apresentação (viu, senhor Axl Rose??) e a banda pavimentou a estrada que seria usada e abusada na sequencia da noite por Slipknot e Metallica.

Slipknot, aliás, fez uma exibição assustadora e memorável no Palco Mundo do Rock in Rio. A banda de Iowa já havia estado presente na versão portuguesa do festival no Rock in Rio Lisboa de 2004, e como de costume levantou o público, que vibrou com as músicas eletrizantes dos caras.




Com um setlist recheado de porradas como “Spit it out”, “Psychosocial”, “Before I forget” e “Duality”, o show de horror comandado por Corey Taylor marcou positivamente o festival, dando um significado maior ao termo “rock” de seu título.

Em meu Rock in Home, varando a madrugada do dia 26 (e tendo que acordar às 6 horas pro trabalho! SIC!), curti feito um louco o show. Com os efeitos pirotécnicos, as máscaras de terror, o som pesado, e a perícia vocal de Taylor, dá pra dar nota 10 fácil para a apresentação do Slipknot.


O dia não podia ser fechado em melhor estilo e os caras do Metallica vieram com tudo como a banda mais esperada do fim de semana. Com um playlist muito variado e sem qualquer espaço para as já costumeiras baladas, James Hetfield e companhia mostraram porque ainda hoje são considerados o grande nome do cenário do rock, levando o público ao delírio com sons como “One”, “Seek and destroy” e “Master of Puppets”.
PUTA QUE O PARIU!

Foi o que eu expressei quando o arranjo de “Master of Puppets” começou a ser ensaiado, e não há como dizer que os caras envelheceram e que perderam o jeito de fazer boa música (Ok, St. Anger não vai desaparecer por causa dessa apresentação, mas a gente finge que esqueceu). Qualquer outra banda deveria se preocupar em tocar após a apresentação apoteótica do Slipknot (banda preferida de 11 entre 10 adolescentes ditos rebeldes e que não ouvem Restart ou funk), mas a longa carreira do Metallica e a competência de seus integrantes garantiram um espetáculo igualmente interessante. Pra ser sincero, o Slipknot ainda precisa comer muito feijão com arroz na estrada para chegar ao cume onde o Metallica descansa feliz.




O festival teve uma pausa de alguns dias (afinal é Rock in Rio e não Carnaval na Bahia, apesar das presenças de Ivete e Claudia Leite), e no fim de semana seguinte foi a vez de Janelle Monaé (quem??) Jamiroquai, a tresloucada Kesha e do lendário Stevie Wonder se apresentarem. Ivete trouxe um pouco do axé para a pegada maluca do Rock in Rio e Lenny Kravitz e Jota Quest ensaiaram algo parecido com rock antes do sábado chegar.


No sábado, o rock nacional mostrou ao que veio, e o Frejat com seus hits de carreira solo e dos tempos do Barão Vermelho (bons tempos, aliás) mais o Skank, azeitaram a salada para a apresentação do Maroon Five e do Coldplay, que fez a melhor e mais bem produzida apresentação do dia. Segundo uma pesquisa do Portal Terra com os leitores que assistiram ao show, a banda fez a melhor apresentação do festival.
Eu assisti boa parte da exibição competente de Chris Martin e seus companheiros, e realmente fiquei impressionado com a energia que o cara passa no palco, além da disposição para correr por todo o palco e de cantar enquanto toca piano. Minhas músicas preferidas dos caras “Clock” e “Yellow” fizeram parte do setlist, mas foi com “Viva la vita” que os caras levaram a plateia ao êxtase. Decididamente foi uma bela apresentação dos ingleses.





No último dia do festival, mais nomes brasileiros encararam o Palco Mundo e foi a vez do Detonautas e da baiana Pitty tocarem para o povo amontoado, que mais uma vez lotou as paragens da Cidade do Rock. Tico Santa Cruz sempre foi um vocalista de mediano pra fraco, mas é sua atitude “marrenta” que mais conta em suas exibições. Nada além disso.

Pitty, por sua vez, esbanjou charme com as pernocas de fora e as tatuagens (muitas tatuagens) visíveis, e mostrou poder vocal, além de fazer a plateia cantar com ela os versos de suas já conhecidas músicas. Eu particularmente gosto muito do som dessa baiana porreta, sua banda está entre as minhas preferidas do cenário nacional, mas há de se convir que em alguns momentos o som de sua voz foi abafado pelo metal das guitarras e da bateria. Nada que tenha estragado o show, no entanto.

Comprovando que as mulheres também podem comandar boas bandas de rock, em seguida subiu ao palco a belíssima Amy Lee e seu Evanescence, que tocou seus já conhecidíssimos hits intercalados com as músicas novas do álbum que leva o mesmo nome da banda. Ainda um tanto quanto rechonchuda, a moça demonstrou muita simpatia com o público, que devolveu o carinho cantando com vontade as músicas que marcaram a banda ao longo de quase dez anos de estrada. Não dá pra negar, no entanto, que Amy Lee alterna bons momentos de potência vocal com desafinadas homéricas, que a gente só costuma relevar porque a moça, afinal, é uma graça, e também porque o som que a banda faz é bom.



O System of a Down chegou ao palco mundo quase de madrugada, mas eletrizou a cidade do rock com um som tradicionalmente pesado que arrebatou os fãs que estavam ali pra ver os caras. Vestido como quem vai à missa de domingo, Serj, o vocalista do SOAD, provou que não é preciso fazer malabarismos, pular ou correr no palco para agitar a plateia. Apenas com sua voz poderosa ele levou a galera para o bate-cabeça e assim o fez durante quase toda a apresentação em que ele foi muito bem ancorado pelo maluco Daron Malakian (guitarra), Shavo Odadjian (baixo) e de John Dolmayan (bateria).

Houve uma época em que eu, assim como todo adolescente, estava numa fase meio hardcore, por isso as músicas nervosas do SOAD me serviram muito bem para descontar essa raiva interna sem propósito. O álbum Toxicity consta na minha lista como um dos melhores de todos os tempos, e não dá pra dizer que não vibrei madrugada adentro ouvindo “Shop Suey”, “Aerials” e a própria “Toxicity” durante o show da banda no Rock in Rio.







OK, OK. O System of a Down só serviu para esquentar o caldeirão e deixar a galera em polvorosa para o final apoteótico que o Gun N’ Roses iria conceder ao Rock in Rio, certo?

ERRADO!!

Foi mais de uma hora de espera para que o gorducho Axl Rose com seu bigode de Leôncio pusesse as patas no palco encharcado do show, e devo admitir que me diverti mais com a enxurrada de piadas que isso gerou na galera ansiosa do Twitter que também aguardava pelo show, do que com a apresentação em si. A chuva impiedosa que caía no Rio de Janeiro servia como desculpa para o atraso da banda (uma das marcas registradas de Rose e sua trupe), mas não o justificava. A espera pelo aguardado retorno do Guns “Frankeinsten” N’ Roses acabou frustrando muita gente, e confirmou o que outro tanto de pessoas já sabia, mas que demorava para admitir: Axl Rose não tem mais pique para segurar um show ao vivo de mais de duas horas.

Welcome to the jungle - Rock in Rio 1991






Welcome to the jungle - Rock in Rio 2001




Welcome to the jungle - Rock in Rio 2011




Único “sobrevivente” da formação original da banda que reinou praticamente sozinha no começo dos anos 90, Axl, além de estar fora de forma (há muito tempo, diga-se de passagem) não possui mais a potencialidade vocálica que o transformara em um ícone da música na mesma década. Digam o que quiser, mas o Guns foi uma das bandas mais fodas de todos os tempos, e eu poderia citar aqui pelo menos uns 20 hits que estouram cabeças até hoje se executados. Com tanto sucesso e com pouca habilidade para lidar com o mesmo, Axl se afundou na própria arrogância, além de possibilitar um sem número de exageros físicos e psicológicos que resultaram no que sobrou dele atualmente.


Em meio a uma brincadeira ou outra sobre o peso do cara, no fundo eu estava é torcendo para que o cara voltasse com tudo nesse show, e que me fizesse lembrar dos bons tempos de outrora em que o lazarento corria pelo palco sem perder o fôlego enquanto desafiava os agudos da guitarra do Slash com a própria voz. Não chegou nem perto disso.
A esperança acabou quando de uma vez só ele gastou todo o fôlego (e as cordas vocais que lhe restaram) com “Welcome to the jungle”, a primeira música das antigas que ele cantou no show (antes disso houve “Chinese Democracy”, já da fase decadente), e depois disso foi ladeira abaixo. Houve uma tentativa de recuperação em “Sweet Child O’ mine”, um esboço de reação em “Mr. Browstone” e uma total decepção em “You Could be mine”. Depois dessa eu fui dormir, porque afinal meu sono era mais importante.
Não dá pra dizer que os acompanhantes de Axl são ruins. Os caras até que se esforçam para substituir os antigos parceiros do loiro de bandana, mas fica sempre aquele gosto amargo de “podia ser melhor”, “o cara não é o Slash”, “que falta faz o Steven Adler”. Como disseram alguns, o GNR hoje é uma banda cover do GNR da década de 90, só que com um vocalista muito menos talentoso. O que é uma pena.


Extravagâncias à parte, o Rock in Rio conseguiu aquilo que se propôs a oferecer: Entretenimento. Salvo a falta de cuidado com a organização, a falta de respeito com o público que enfrentou bravamente filas quilométricas para comer, beber ou ir ao banheiro e que aceitou com até certa diplomacia as atrações “nada a ver” do evento, quem foi aos shows deve ter hoje muita história para contar, afinal, um show de rock é sempre um show de rock, mesmo que quem esteja tocando no palco seja a Cláudia Leite!

Faltou o Chiclete com Banana e o Asa de Águia, né, poxa vida!

Quem sabe em 2013?


NAMASTE!

22 de setembro de 2011

A morte pede carona - PARTE 2

Como mostrado no post anterior sobre mortes nos quadrinhos, já no final da década de 80, mesmo entre autores consagrados como Walt Simonson e Marv Wolfman não era nenhuma novidade que jogar personagens importantes para a terra dos pés-juntos conseguia movimentar as vendas das HQs, e hoje, muitos anos depois, isso se tornou algo comum aos editores e artistas, o que vem saturando o mercado com o morre e “desmorre” dos ícones das revistas de linha.
Qual será o destino das HQs se o tema morte continuar banalizado como está atualmente? 

AS MORTES NA DÉCADA DE 80
Após o impacto causado pela morte do Flash/Barry Allen e da SuperGirl em Crise nas Infinitas Terras, considerado este um dos primeiros mega-eventos desse tipo nas revistas em quadrinhos, as duas principais editoras, Marvel e DC, começaram a apostar alto no homicídio de seus personagens principais, aquecendo as vendas de certo modo e procurando revitalizar as histórias com heróis que viessem a substituir os falecidos posteriormente. 
Ainda nos anos 80, podemos citar a saga Morte em família, escrita por Jim Starlin e desenhada por Jim Aparo, como uma das que embarcou na onda das mortes banais.
No roteiro, o intempestivo Robin/Jason Todd (o segundo a usar a cuequinha verde) é afastado de suas funções “heroizísticas” pelo Batman, que começa a perceber certo comportamento auto-destrutivo no garoto.
Desafiando as ordens de seu mestre e colocando-se em risco desnecessariamente durante as missões da dupla dinâmica, Jason resolve sair da asa do morcego e passa a seguir uma pista do paradeiro da sua verdadeira mãe no Oriente Médio, o que o leva diretamente para um plano maligno do Coringa.

Na época a DC deixou seus telefones à disposição dos leitores que optaram pela morte do Robin boladinho, e então, seguindo o desejo dos fãs, Jim Starlin escreveu uma história bem aquém de suas capacidades (comparando, por exemplo, a Morte do Capitão Marvel, escrita anos antes pelo mesmo autor na Marvel), que só serviu única e exclusivamente para matar o sidekick do Batman de forma bem violenta, como já mostrei aqui no post sobre as maiores surras das HQs.
Ei, a morte do Robin funcionou para alavancar as vendas na Distinta Concorrente, por que não matamos mais heróis famosos aqui também na Casa das Ideias?”, pensou Jim Shooter, que na época era o manda-chuva da Marvel.
Sobre seu comando, Chris Claremont e John Byrne já haviam matado a Fênix Negra numa das decisões editorias mais polêmicas da história dos quadrinhos (Byrne nunca concordou com a morte de Jean Grey) e foi a ideia de Shooter que praticamente deu o pontapé inicial nas mortes desenfreadas dos quadrinhos.
Se levarmos em consideração o número de mortes de heróis para cada editora e sua importância dentro de seu universo, temos praticamente um empate técnico.
Analisemos:
No início da década de 80 a Marvel matou dois importantes personagens em uma só tacada.
Em 1980 foi a Fênix Jean Grey quem cantou pra subir no desfecho da Saga da Fênix Negra. Até então, nunca uma das protagonistas de uma HQ havia sido morta definitivamente (na época parecia definitivo!) e seu fim fora um marco nos quadrinhos.

Dois anos depois, foi a vez do Capitão Mar-Vell, que morreu vítima de câncer numa das mais emblemáticas graphic novels de todos os tempos, assinada, como eu já havia observado, por Jim Starlin, o pai praticamente de todas as sagas cósmicas da Casa das Ideias. 
Pela DC, as mortes significativas só vieram a acontecer mais perto do fim da década de 80, e nem bem a Crise nas Infinitas Terras se findou levando o Flash e a Supergirl para o lado do mistério, veio a decisão de se matar o Robin, que embora não fosse o original Dick Grayson, ainda assim era um personagem importante para as histórias do qual participava. 


Todas as HQs aqui citadas, independentemente de sua qualidade, surgiram em momentos chaves para ambas as editoras, e fizeram sucesso dentro do público que esperavam atingir. Seja pelo desejo do mórbido, ou pela simples curiosidade, a morte atrai as pessoas, e nas HQs, onde personagens tão fantásticos com poderes inimagináveis também podem se deparar com esse mal irremediável, não é diferente.
A fórmula havia sido experimentada várias vezes e aprovada. Matar personagens rendia boas histórias, mas acima disso atraía público. Um monstro havia sido criado.
A MORTE DO SUPER-HOMEM


Falem o que quiser dessa história.
Mal contata. Forçada. Massa véio. Estúpida. Caça-Niquel.
A verdade é apenas uma:
A morte do Super-Homem foi um dos mais bem sucedidos e polêmicos acontecimentos das HQs dos últimos 20 anos, e eu, todo esse tempo depois, devo confessar que caí direitinho nos planos dos grandões da DC que autorizaram a criação dessa história. Eu me senti tocado pelo enredo e embarquei na onda que tomou o Brasil e o mundo.
Acham que eu estou brincando? 

Se você não era vivo na época, jovem padawan, saiba que A Morte do Super-Homem não foi um evento que só atingiu nerds esculhambados que curtem HQ. A notícia apareceu nos meios de comunicação como se tivesse acontecido de verdade, como se uma figura célebre e mundialmente conhecida tivesse mesmo morrido, e eu me lembro do grau de importância que até o Fantástico da Rede Globo deu ao acontecimento.

Você saía nas ruas e a primeira coisa que você via nas bancas eram cartazes com o logo ensanguentado do personagem (um dos símbolos mais impactantes que já vi na vida) e a HQ pendurada à venda. Na escola só se falava dessa porra, e embora eu tenha tido a oportunidade de pegar a dita cuja em mãos e sofrido com suas páginas (eu tinha uns 11 anos na época e o Super-Homem era o representante máximo do herói, um cara que, na teoria, não podia morrer), demorei longos anos para ter meu próprio exemplar.
O começo dos anos 90 não foram gentis para o velho Homem de Aço. Personagens cada vez mais violentos e obscuros estavam ganhando cada vez mais espaço no universo das HQs. Caras como Wolverine, Justiceiro e Guy Gardner ganhavam cada vez mais público devido seu modus operandi abrutalhado, e os leitores começavam a não querer mais saber dos velhos escoteiros que salvavam gatinhos em perigo de cima da árvore. A década mais massa véio de todas estava começando, e o Super-Homem já não era mais um personagem querido. Ele estava datado, e a menos que a DC concordasse em parar de publicar suas histórias por causa das baixas vendas, algo precisava ser feito.
Foi aí que um verdadeiro time de grandes roteiristas e artistas foi escalado para construir aquela que seria uma das histórias mais lembradas do Homem de Aço em muitos anos, e a estratégia deu tão certo que os spin-offs da morte se espalharam por praticamente todas as revistas da DC da época, conseguindo erguer o título que há anos vinha cambaleante e moribundo próximo de seu fim. 

Depois da morte veio Funeral para um amigo, Super-Homem além da Morte e O Retorno do Super-Homem, e as vendas permaneceram aquecidas por mais alguns anos, provando acima de tudo que poucos elementos são mais rentáveis no mundo das HQs do que a morte, motivo pelo qual certo argumento se tornou tão popular de lá pra cá.
HERÓI BOM É HERÓI MORTO
A morte do Super-Homem foi um marco tão profundo e algo que funcionou tão bem para revitalização de uma franquia, que a partir de então, virou praticamente regra assassinar alguém nas HQs. Depois do Super-Homem, o Lanterna Verde (Hal Jordan) morreu, a Mulher Maravilha bateu as botas, o Arqueiro Verde cantou pra subir e até o Lex Luthor foi dado como morto. Pela Marvel, a Elektra abotoou o paletó de madeira (umas cinco vezes pelo menos), o Ciclope apitou na curva, o Magneto comeu capim pela raiz (umas dez vezes também), o Colossus entregou a rapadura e até o Homem Aranha passou uma temporada no túmulo, embora não tivesse morto definitivamente. Kraven o caçador não era competente o suficiente.
Eu citei apenas alguns personagens que passaram pela experiência do além-túmulo, mas a lista é muito mais extensa e alguns nomes dessa lista até mesmo se repetem tal é o grau da banalidade que o assunto morte atingiu na época moderna.
O fato é que, diferente de alguns personagens que permaneceram mortos por muito tempo após fazerem parte de histórias brilhantes que povoam a memória dos fãs até hoje, como Gwen Stacy e o já citado Capitão Mar-Vell, a maioria dos personagens que batem as botas hoje o fazem para voltar daqui a dois meses no máximo, e isso causa um ciclo vicioso do qual ninguém mais espera nada, soltando aquela máxima: “Ah, morreu? Tudo bem. Daqui a dois meses ele volta”. Na Marvel e na DC os túmulos não são invioláveis, e volta e meia temos algum profanador, trazendo um coitado de volta pra Terra depois de uma temporada no descanso “eterno”.
Pra encurtar o assunto, é importante citar algumas mortes desnecessárias que houve nas HQs e as formas ainda mais desnecessárias que elas foram desfeitas.
Jason Todd morreu após ser espancado pelo Coringa e ter sido apanhado em uma explosão, certo? O personagem ficou por anos longe das histórias de seu mentor Batman literalmente morto e enterrado, mas eis que num dia de diarreia cerebral, o escritor Judd Winick fora induzido a trazer o personagem de volta durante os eventos da Crise Infinita (não confundir com Crise nas Infinitas Terras, Crise de Identidade ou Crise Final).
A desculpa?
Oras, o SuperBoy-prime andou dando umas porradas na realidade e isso criou uma onda de merda choque que perturbou o continuum-espaço-tempo e... Ah, vai pro inferno com essa lenga-lenga!


O fato é que queriam trazer o segundo menino-prodígio de volta do inferno para causar mais estragos na já abalada psiquê do Homem Morcego, e como não queriam apelar para clones, irmãos gêmeos malvados ou qualquer outra dessas já manjadas safadezas de roteiro, inventaram a “brilhante” solução das porradas na realidade.

Na mesma época, na Marvel, resolveram trazer de volta um dos defuntos mais respeitados de todos os tempos, o Bucky, parceiro mirim do Capitão América. Este, ao lado do Tio Ben e de Gwen Stacy figurava como um dos mortos sagrados das HQs, aquele que poucos roteiristas ousavam mexer, em memória do bom andamento das histórias.

Eis que num dia mais inspiradodo que o de Judd Winick, Ed Brubaker resolveu criar uma história em que Bucky, assim como seu parceiro bandeiroso, jamais havia morrido em missão após a explosão do avião do Barão Zemo.
Congelado no Ártico ele foi encontrado por militares renegados soviéticos que o transformaram num Soldado Invernal, e assim foi criado um roteiro muito melhor elaborado e até coerente se pensarmos que o Capitão América permanecera vivo da mesma forma.

Brubaker fez um excelente trabalho com o Bucky e a forma como ele foi trazido de volta à vida foi uma das mais competentes que já li até hoje, apesar de todo o visual anos 90 do personagem, com direito a braço mecânico, cabelo comprido e muitos trabucões nas mãos!!
O arco todo desde o ressurgimento do Bucky, o mistério em torno da verdadeira identidade do personagem (que havia perdido sua memória) e o envolvimento de personagens quase esquecidos do universo do Capitão América como Jack Monroe, o Nômade, por exemplo, foi muito bem desenvolvido, o que a meu ver, transformou as histórias do Bandeiroso, que na época estavam sendo publicadas por aqui no mix dos Novos Vingadores, em uma das mais aguardadas mensalmente.
Pena que, pelo visto, mesmo depois de todo esse elaborado plano para trazer o personagem de
volta, ele vai voltar pra vala na Saga Fear Itself da Marvel que está rolando na gringa.
Sem falar que tudo estava perfeitamente bem nas histórias do Capitão América, até o retorno farofa do velho Steve Rogers, com o papinho de que ele não havia morrido e sim estava perdido no tempo e no espaço. EEEEE, Joe Quesada

Na época eu não acompanhava quadrinhos regularmente nas bancas, adquirindo mais exemplares em sebos, mas fiquei curioso em saber como é que trariam Jean Grey do túmulo após o fantástico desfecho da Fênix Negra.
Como?
Ora, dizendo que aquela Jean Grey que morrera, na verdade era um clone, óbvio!

John Byrne, o mesmo que não concordara com a morte da personagem durante a gestão de Jim Shooter na Marvel trouxera a personagem de volta anos depois para compor a equipe X-Factor, que continha a formação original da equipe de mutantes mais famosa dos quadrinhos (Ciclope, Fera, Anjo, Homem de Gelo e Jean Grey).
A desculpa da vez era que a entidade Fênix havia clonado o corpo hospedeiro da Garota Marvel durante a queda do ônibus espacial que trouxera os X-Men de volta pra Terra após uma rápida “excursão” pelo o espaço (local onde Jean fora “infectada” pela Fênix), e que o corpo da garota permanecera no fundo do mar em uma câmara, em animação suspensa desde então.
Genial, não?
Em uma tacada só, livraram Jean de toda a culpa de ter destruído um planeta inteiro em seus tempos de Fênix Negra (que na verdade não era ela...) e trouxeram a personagem de volta para o convívio de seu namorado caolho como se nada tivesse acontecido. Pelo menos para ela, né, porque durante “sua morte” o Ciclope até casou com outra, mas isso é outra história.
O que aconteceu então? Anos mais tarde, como toda boa fênix, Jean morreu de novo pelas mãos de um Magneto que na verdade não era O Magneto, e esperamos ansiosos até que ela dê as caras mais uma vez, como já é de praxe no Universo Marvel. 

Ainda no mundo mutante da Marvel, é muito comum as mortes passageiras dos membros de sua várias equipes (X-Men, X-Factor, X-Force, Novos Mutantes...) e praticamente todos os membros (talvez com exceção do baixinho canadense que é praticamente imortal hoje em dia) já morreram ou foram dados como mortos durante um tempo.
Põe na lista: Ciclope, Banshee, Noturno (esse morreu recentemente), Colossus, Psyloque, Cifra, Warlock, Magia (a irmã do Colossus), Kitty Pryde (bem, ela estava presa numa bala metálica, mas acho que conta), Magneto com a confusa história do tal Xorn, o Magneto de mentirinha que acabou sendo decaptado por Wolverine, e até mesmo o Profº Xavier.
Todo esse pessoal já passou para o outro lado, e isso nem é mais garantia de que ficaremos sem ver esses personagens por muito tempo, pois as sagas Caça-Niquel estão aí a todo o momento para ressuscitar personagens sem precisar se preocupar com grandes explicações.

Um exemplo clássico desse tipo de Saga foi A Noite mais Densa da DC, que só serviu para trazer o Caçador de Marte, o Nuclear original, o Aquaman e mais um monte de bucha da morte sem precisar se esforçar muito para ser coerente. Sem falar que essa história serviu como demarcação de território para que o Flash/Barry Allen voltasse de vez do túmulo, apagando completamente a existência do melhor Flash de todos os tempos, o Wally West



O que? Você não sabia que o Barry Allen voltou da morte após a espetacular conclusão de Crise nas Infinitas Terras??


Pois é. Mas quem se importa com o que você acha, não é mesmo, fã?
Segundo Geoff Johns (o todo poderoso da DC) explicou no fim do arco de a Noite mais Densa, todos os personagens trazidos de volta a vida após a destruição de Nekron, retornaram porque a “luz branca” assim o quis. Ponto. É isso. Mais limpo que a mágica do Joe Quesada!


Pensando bem, até as porradas na realidade são mais tragáveis. Pelo menos eram mais originais!
Fazendo um paralelo com o futebol brasileiro, essa decisão me pareceu com aquela tal Copa João Havelange que substituiu o Campeonato Brasileiro por apenas um ano para trazer de volta o Fluminense e mais alguns times do limbo da Terceira Divisão, de onde muito provavelmente, por mérito próprio eles jamais sairiam. Em matéria de safadeza Joe Quesada e Dan Didio não estão sozinhos no mundo. O Brasil também é páreo duro nesse quesito!
Quer fiquem os fãs putos da vida com essas decisões editoriais claramente mercenárias ou não, a verdade é que enquanto houver um público (burro) que compra essa ideia, os manda-chuva das editoras não pararão com esse morre e “desmorre” de personagens, isso é fato. Enquanto esperamos histórias de qualidade e que nossa inteligência não seja insultada a cada nova saga que surge no mercado “HQzístico”, os caras que mandam nessa porra toda estão mais a fim de contar dinheiro, e isso está cada vez mais óbvio. Por sorte, mesmo com a qualidade das histórias decaindo a olhos vistos diariamente, ainda tem um ou outro título que se salva, e para certos “momentos marcantes” das histórias em quadrinhos é melhor fechar os olhos, ou deixar que algum reboot, pacto com o Mephisto ou porradas na realidade dêem cabo.
Em vez de nos preocupar, que tal lançarmos um bolão nerd de apostas pra ver quem é o próximo a se levantar do túmulo?
Comecem as apostas!!

NAMASTE!

18 de setembro de 2011

O lado Negro venceu?

No meio em que vivo, seja no trabalho, com o pessoal da faculdade ou entre todos meus amigos, sou conhecido como alguém pessimista, o tipo de cara que não vê as coisas boas sem antes numerar em ordem crescente as chances de algo dar errado e ainda explicar detalhadamente cada uma das razões de porquê aquilo pode não dar certo.
Particularmente eu não encaro isso como um defeito. Eu sigo o sábio provérbio javanês que diz "Se você já esperar o pior em uma situação e o pior não acontecer, você já estará no lucro". Na verdade essa frase nem é um provérbio e eu nem sei o que é javanês, mas esse pensamento é o que me move, e sinceramente eu não gosto de ser otimista em nenhuma situação. Ser otimista me faz parecer fraco, e não há nada que irrite mais um taurino do que fazê-lo se sentir fraco.
O que me levou a escrever esse post, no entanto, foi a necessidade de desabafar um pouco sobre as razões pelo qual meu pessimismo com relação ao futuro da sociedade e do mundo anda em alerta máximo ultimamente.
Acordei pela manhã com uma vontade louca de assistir aos dois Tropa de Elite outra vez e assim o fiz, começando as manhãs costumeiramente tediosas de um domingo mergulhando no mundo violento narrado brilhantemente pelo José Padilha.
Dificilmente eu faria uma crítica tão boa quanto ou melhor da que fiz sobre o 2º filme aqui, portanto, nem tentarei.

A questão é que, ver Tropa de Elite, mesmo sabendo que o filme é uma obra ficcional, me leva a pensar em quão fundo o mundo está atolado na merda, e o pior é que a realidade não está tão longe do que vemos na tela. Basta dar uma boa olhada melhor na sua vizinhança, conversar com algumas pessoas e você também será capaz de ver que o mundo não é tão cor de rosa quanto muitos insistem em dizer que é.
A inversão dos valores de antigamente (moral, ética e essas coisas obsoletas) é o que mais me incomoda hoje em dia. O que antes era claramente diferente como preto e branco, hoje está cinza, e muitas pessoas, estas suscetíveis a se deixarem enganar, não sabem mais a diferença entre o bem e o mal. Assim como no filme Tropa 2 em que as famílias das comunidades são levadas a verem os milicianos como os "heróis" do pedaço, não é raro ver algo parecido acontecer em nossas vizinhanças. Por falta da milícias, os "bons samaritanos" da vez são aqueles indivíduos que se escondem por trás dos ditos comandos e que manipulam muitas famílias oferecendo aquilo que a própria Polícia, já bem defasada, não pode mais fazer, que é oferecer proteção ou um serviço rápido eficaz de segurança.


Sem opção, você também se aliaria ao crime por pura conveniência?

Eu fui educado em meio a quadrinhos, e embora isso possa me levar a ser visto como um nerd alienado, eu digo que foram esses mesmos quadrinhos que me mantiveram no foco sobre bem e mal, mesmo que esses dois conceitos se misturem nessa sociedade estranha em que vivemos atualmente. A meu ver, caras que usam armas ilegais, drogas, que estupram, matam, roubam, corrompem ou que guardam dinheiro na cueca saindo rindo impunentemente diante das câmeras continuam sendo bandidos, e nada me fará mudar de ideia quanto a isso. Noto que para muitas pessoas, e digo pessoas próximas a mim, esse conceito de "bandido" é relativo, dependendo de o quanto esse mesmo "bandido" pode lhe ser útil, e isso é inadmissível.

A corrupção política já tantas vezes comentada por mim aqui (aqui, aqui e aqui também), nem merece mais um post, visto que já desgastei todas as minhas opiniões acerca do assunto, mas é outro ponto que me incomoda muito, é só ver o quanto a impunidade ainda rola solta quando o assunto é absolver políticos desonestos e o quanto os parceiros de Congresso (visando igualmente a conveniência já citada) são coniventes com a maracutáia (Sim, estou falando de Jaqueline Roriz !). E sabe o que é mais triste?? Esses mesmos políticos estarão de volta nas próximas eleições e serão eleitos outra vez por aquelas mesmas pessoas que são adeptos da conveniência.
Esse é nosso Brasil!

Ando repetindo cada vez mais a máxima de que "perdi a fé na humanidade" e essa (des)crença tem aumentado a cada dia. Ler jornais, assistir ao telejornal, acessar a Internet e dar aula para adolescentes só tem aumentado essa minha descrença na raça humana, e dizem que a esperança é algo perigoso de se perder.
Sabe aquela propaganda da Coca Cola de que os bons são maioria??



Discordo veementemente.

Coca Cola e seus comerciais otimistas e seus protagonistas sorridentes e felizes!
Bah!

Se os bons são maioria, então eu tenho convivido com os maus, e esses bons andam muito bem escondidos!

NAMASTE!

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