2 de novembro de 2010

A morte pede carona



Já há algum tempo eu venho fazendo uma pesquisa para embasar um post sobre a morte nas HQs, e revirando meu acervo, acabei encontrando a edição nº 132 do Capitão América ainda da Editora Abril (1990) onde consta uma entrevista dada por Marv Wolfman e o Casal Walt e Louise Simonson publicada originalmente na revista Comics Scene nº 9.

Na entrevista feita por Daniel Dickholtz, David McDonnel, Patrick Daniel O’Neill, Drew Bittner e Kim Howard Johnson, o trio fala da repercussão ocorrida com as mortes dos personagens que eles escreviam na época (fim da década de 80 e começo da 90), e é incrível como muito do que eles falam continua atual 20 anos depois, tendo em vista o mercado de HQ atual. Abaixo segue-se alguns fragmentos que retirei da entrevista:

Na vida real heróis morrem o tempo todo, mas nos quadrinhos, isso raramente acontecia – pelo menos até pouco tempo. Claro, nos antigos gibis, heróis, vilões e personagens de apoio frequentemente “pareciam morrer”, mas dificilmente essas mortes eram reais. Um pouco de clonagem, uma dose de remédio ou magia, uma gota de criação imaginativa na continuidade – e tudo estava como antes. Hoje, as coisas mudaram. Realidade é a palavra de ordem, e morte “permanente” impera nas HQs. Personagens não se levantam e saem andando do apocalipse, e há muitas razões para que isso aconteça.

Marv Wolfman falando sobre as mortes que escreveu em Crise nas Infinitas Terras:

"A morte da Fênix fez isso (fala ele se referindo à personagem da Marvel). É só olhar as vendas da revista dos X-Men. Foram aquelas edições (as da morte de Jean Grey) que levaram a equipe pro alto. Pela primeira vez, tinham assassinado um personagem de tal quilate... Foi polêmico. E esse evento é que aprovou a matança em grande escala. Crise (nas Infinitas Terras) não tem toda a influência de que falam por aí".

Mas mesmo que Crise não tenha tido efeito na maré aparentemente crescente de assassinatos de heróis mascarados, com certeza teve sobre seu autor.

"Colocando a morte numa escala tão grande em Crise, só depois eu percebi onde ela causa ou não um bom efeito", observa. "Pelo menos, na minha cabeça, a morte da Supermoça funcionou porque a gente se esforçou pra fazer a história funcionar. Acho que a morte do Flash realmente enriqueceu a saga, mas não sei bem se foi uma boa ideia matá-lo. A história ficou ótima. Contudo, isso não justifica se Barry Allen deveria ir pro Além ou não. Não estou certo a respeito dele; só me sinto seguro quanto à Supermoça."
Já na época, Wolfman parecia incomodado com a banalização da morte nas HQs, e comenta:
Hoje, porém, muitos personagens são mortos nas HQs, e você não tem nem mesmo um sentimento de perda por eles. Com frequencia, vejo que as mortes não são usadas pra fazer uma mudança nas revistas.”

Sobre o mesmo assunto e com mais humor, Walt Simonson, que esteve à frente das mais emblemáticas Sagas do Poderoso Thor brinca:
Há boas e más maneiras de se matar personagens importantes. Assim que suas vendas começarem a cair, mate alguém!”.
Após confessar que estava sendo jocoso, ele continua:
Certamente não é tão simples. É verdade que o público que compra gibis reage bem à morte – comercialmente, pelo menos. Não é uma linha narrativa que se pode usar frequentemente e, em alguns casos, todos sabem muito bem que o cara não vai ficar morto pra sempre. Logo, vão fazer histórias flashback ou criar outro personagem com o mesmo nome, pois a editora tem que proteger a marca registrada. A morte é uma ferramenta dramática e pode levar ao sucesso uma história dramática.”
São monstros sagrados das Histórias em Quadrinhos comentando há mais de 20 anos sobre um assunto que está cada vez mais atual e infelizmente, cada vez mais banal também.
No próximo post eu farei meus comentários sobre o "morre e desmorre" nas HQs, passando por Crise nas Infinitas Terras (cujos efeitos bombásticos já foram desfeitos em sua maioria), a morte do Superman e as recentes ressurreições de Barry Allen e do próprio Capitão América (que morreu não tem nem dois anos).
Até lá!

NAMASTE!

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