Os elementos que fazem de Lethal Weapon diferente das demais séries que proliferaram aos montes desde os anos 80 são vários, e tentarei relatar todos enquanto homenageio e descrevo cada um dos capítulos dessa história dirigida por Richard Donner (o mesmo dos inesquecíveis Superman 1 e 2).
O filme de estréia da série é de 1987 e tanto Mel Gibson quanto Danny Glover, os protagonistas, vinham de uma carreira já bem movimentada, com vários outros filmes de vários outros gêneros no currículo cinematográfico. Gibson já era conhecido por Mad Max, enquanto Glover havia feito A cor Púrpura, um de seus trabalhos de maior expressão até então. Foi com Máquina Mortífera, no entanto, que a popularidade de ambos aumentou, deixando um legado de 4 filmes inesquecíveis para o público.
O enredo é bem enxuto e mostra a história de dois detetives, um famoso por sua ousadia e sangue frio além de uma perigosa tendência suicida e o outro um pacato e tranqüilo policial que está a espera da aposentadoria que se juntam em uma missão para desbaratar uma quadrilha internacional de traficantes de drogas, composta por ex-militares da guerra do Vietnã.
A cena inicial mostra um suposto suicídio de uma garota de programa, que visualmente drogada acaba caindo da sacada para a morte. Depois somos lançados em dois mundos completamente opostos o de Roger Murtaugh, um pai de família dedicado e com uma carreira policial estável e a de Martin Riggs, um cara solitário que mora num trailer à beira-mar. Enquanto Murtaugh conta o os meses para a aposentadoria com o apoio da esposa e dos três filhos, Riggs não consegue esquecer a morte da esposa, o que o leva ao desespero de arrumar todos os dias um motivo para ir para o trabalho sem que tenha que meter uma bala na própria cabeça.
Os destinos de ambos se cruzam quando Riggs é indicado para trabalhar no mesmo distrito que Roger, e em meio a conflitos de relacionamento entre eles começamos a desvendar os dois personagens em diálogos afiados e bem humorados.
O Martin Riggs do primeiro filme é mais sério, e sua principal marca é seu olhar obsessivo de quem não tem nada a perder. Ele guarda uma bala especial no bolso que ele diz estar ali para a ocasião em que ele não terá mais motivos para viver, e todo seu sofrimento fica estampado no rosto na cena em que ele tenta, mas não consegue se suicidar enquanto um programa de Natal do Pernalonga ecoa pelo trailer. Não dá pra negar o talento dramático de Gibson, então com 31 anos na época.
A moça, na verdade, é filha de Michael Hunsaker, o homem que procurou Roger antes dela morrer, e ele buscava por proteção policial, uma vez que, comprometido demais, estava sendo perseguido pelo General Peter McAllister (vivido por Mitch Ryan) e por seu capanga Joshua (Gary Busey), os cabeças da organização de tráfico de drogas.
Depois que a família de Murtaugh é ameaçada, Riggs é dado como morto após um atentado e Rianne (Traci Wolfe), a filha mais velha de Roger é sequestrada, os dois detetives bolam uma emboscada para acabar de vez com o cartel de McAllister, o que acaba não dando muito certo. Riggs e Murtaugh também são aprisionados e são submetidos à tortura física para delatarem o que sabem sobre o envolvimento dos militares com o tráfico.
Quando Riggs se liberta derrotando um homem oriental que lhe aplica choques elétricos, o apelido Máquina Mortífera pela qual é conhecido finalmente lhe faz jus, ele mata todos os capangas que aparecem pela frente, libertando posteriormente Roger e Rienne. McAllister e Joshua fogem no calor do tiroteio, mas o primeiro não vai muito longe quando Roger o encontra num beco e atira na cabeça de seu motorista. O carro desgovernado vai para a estrada, e após colidir com um ônibus ele explode, dando um fim ao General. Após escapar de Riggs, Joshua volta para a casa de Murtaugh, a fim de se vingar de sua família, mas os dois detetives o surpreendem e sem o envolvimento da polícia, Riggs o confronta no mano-a-mano, derrotando-o. Mel Gibson teve que aprender Jiu Jitsu para compor Riggs, e nessa luta em que ele vence Joshua, ele aplica um pouco da modalidade.
Abaixo uma das mais divertidas cenas do filme. Como resolver uma tentativa de suicídio com Martin Riggs:
Na minha opinião esse é o melhor filme da franquia. Nenhum deles tem tanta carga dramática e tantas cenas de ação de tirar o fôlego quanto esse.
Agora que Riggs não tem mais tendências suicidas e que encontrou na casa de Murtaugh e na sua amizade um lar, as feridas estão se fechando, e a dupla de detetives precisa proteger uma testemunha que tem informações sobre o envolvimento de diplomatas sul-africanos com o tráfico de drogas e que usam a imunidade diplomática para cometer os crimes.
O filme tem um clima mais tenso justamente pelas questões étnicas e o Apartheid (que no país sul-africano ainda era algo questionável), e mostra o que aconteceria se um político corrupto utilizasse de sua imunidade diplomática para escapar ileso de seus crimes em outro país, deixando a polícia de mãos atadas.
O clima de tensão cresce quando Riggs se envolve amorosamente com Rika Van Den Haas (Patsy Kensit), a secretária pessoal de Arjen Rudd (Joss Ackland), o diplomata sul-africano, e quando ela é morta por estar envolvida com ele após escapar de uma emboscada ao trailer de Riggs, o ódio volta ao coração do Máquina Mortífera que descobre também que o acidente de carro que matou sua primeira esposa não foi exatamente um acidente.
Enquanto o amarra para se livrar dele jogando-o num rio, Pieter Vorstedt (Derrick O'Connor), o braço direito de Rudd (chamado de “Adolph” por Riggs) conta a Riggs que na noite em que sua esposa morreu, eles estavam atrás do próprio Riggs e que ela fora assassinada por acaso. O que acontece em seguida não dá pra se descrever:
E para o desfecho da história:
O terceiro filme (e que seria o último) da série tem um tom muito mais leve que seu antecessor, embora possua tantas cenas de ação empolgantes quanto os outros, e insere a detetive Lorna Cole, vivida por Rene Russo. Se na película anterior a dupla havia ganho o reforço de Leo Getz (Joe Pesci) como o informante tagarela na mira da máfia sul-africana, agora eles formavam um quarteto, onde sacadas bem humoradas e sarcásticas são um prato cheio para a trama policial.
Dessa vez os detetives tem que descobrir como armas ilegais apreendidas pela Polícia estão voltando para as ruas nas mãos de gangues, e a personagem de Russo é a especialista indicada pela corregedoria para investigar se há ou não um vazamento interno possibilitando que as armas voltem as ruas.
Quando Murtaugh acaba matando sem outra opção o amigo adolescente de seu filho, que estava numa das gangues de rua, ele entra em depressão e cabe ao seu amigo mais próximo tentar resolver a situação. Enquanto isso, Lorna chega ao ex-policial Jack Travis (Stuart Wilson) e descobre que ele é o elo entre a Polícia e as gangues, começando uma caçada ao responsável que durante o filme escapa várias vezes de Riggs e Murtaugh em cenas de arrepiar. Destaque para o envolvimento amoroso entre Riggs e Lorna da metade do filme pra frente.
Quando todos achavam que a série estava sepultada para sempre, em 1998 para a surpresa e alegria dos fãs da série, eis que surge o 4º capítulo da quadrilogia, para encerrar com chave de ouro a história.
Os anos se passaram, e Riggs já não é mais tão vigoroso quanto costumava ser (nem Mel Gibson então com 42 anos, que utiliza dublês em muito mais cenas do que anteriormente), e acaba sofrendo ao encarar adversários muito mais habilidosos.
Dessa vez os dois detetives investigam uma quadrilha que promove a entrada ilegal de chineses nos Estados Unidos, os quais são vendidos como escravos. Por trás desta operação está "tio Benny" (Kim Chan), o chefão de uma grande quadrilha em Chinatown, e os problemas só aumentam quando Murtaugh resolve acolher uma família inteira de chineses em sua própria casa.
Por trás de tudo isso se esconde um homem chamado Wah Sing Fu que está nos Estados Unidos para negociar a libertação de seu irmão, e que se utiliza para isso de dinheiro falsificado por artistas chineses. O homem é vivido por Jet Li, em sua estreia no cinema americano, e as cenas de luta protagonizadas por ele, despontam entre as melhores já realizadas em seus filmes. Destaque para a luta entre Sing Fu e Riggs na casa de Murtaugh e no desfecho do filme:
O tema família sempre presente em todos os outros filmes da série volta ainda mais forte nessa sequência, e o mais interessante é que todo o elenco, o mesmo desde o primeiro filme, realmente forma uma grande família. Ao fim do filme são mostradas fotos de bastidores das gravações de todos os filmes e dizem que Mel Gibson e Danny Glover se tornaram grandes amigos fora das gravações, e que a filmagem do 4º longa metragem teria sido um pedido de Glover a Gibson, que estaria passando por necessidades financeiras.
De qualquer forma a relação entre os dois personagens principais, a questão da idade de ambos, a passagem de tempo que fica explícita com o crescimento dos filhos de Murtaugh, a união de Riggs com Lorna, que está esperando o primeiro filho do casal e até mesmo a aproximação do irritante Leo Getz de todos eles fazem de Máquina Mortífera 4 um filme família, apesar de toda a ação e explosões que dão o toque final a produção. Esse é o grande diferencial da série como um todo, e o motivo pelo qual sou um grande fã de todos os 4 filmes. O roteiro é muito bem escrito, os diálogos são inteligentes e as atuações são fieis aos personagens que não são descaracterizados em nenhum momento. Até dá uma vontade de ver uma sequência, mas se Máquina Mortífera terminou aqui, ficamos satisfeitos por tudo que foi feito graças a direção do competente Richard Donner e de toda a equipe que o acompanhou.
Dublagem
Passei a minha infância toda e boa parte da adolescência só assistindo filmes dublados na TV e da locadora de vídeo, e meio que me acostumei a ter os atores de hollywood com as vozes brasileiras. Alguns personagens são muito marcantes por suas vozes dubladas pelos talentosos atores do Brasil, e com Máquina Mortífera não foi diferente.
Assim como a voz de Bruce Willis, que aqui foi por anos dublado por Newton da Matta (falecido em 2006), as inconfundíveis vozes de Júlio Chaves e de Márcio Simões ficaram eternizadas para sempre como as de Martin Riggs e Roger Murtaugh respectivamente.
Difícil ver o filme sem relacionar os personagens com suas vozes em português, e o bordão “Riggs, seu filho da mãe!” dito repetidadas vezes ao longo dos filmes por Murtaugh, ou por Márcio Simões é inesquecível assim como tantos outros.
O trabalho de dublagem no Brasil é hoje em dia subestimado com a quantidade de seriados e enlatados com som original e legendas, mas sempre foi algo de se admirar. Dou grande valor a esses profissionais cujas vozes constam em nosso imaginário há vários anos e aos que com certeza seguirão o exemplo desses monstros sagrados da comunicação daqui pra frente. Vida longa à dublagem brasileira e aos estúdios que fazem dessa profissão o que ela é hoje em dia: uma referência mundial.
NAMASTE, seus filhos da mãe!
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