26 de maio de 2010

LOST: The End


Terminei de ver o último episódio de LOST às 3 horas da madrugada de segunda para terça. A imagem final congelou e eu me mantive ali ainda uns cinco minutos olhando para a tela do computador, tentando digerir tudo que havia me atingido nas últimas duas horas. Foram 3 anos em que virei fã incondicional, fiel seguidor fanático, e após aqueles 5 minutos depois do término do último episódio, enfim a ficha caiu: semana que vem não terá mais nenhum capítulo!

LOST acabou deixando ainda uma infinidade de perguntas sem respostas, mas a forma comovente como os personagens se despediram de seus espectadores nos deixa uma única verdade: A trama era apenas um pano de fundo e as respostas não são tão importantes. Será?

Se hoje alguém que nunca viu a série me perguntasse “sobre o que fala essa tal de LOST?” eu responderia de bate-pronto: Sobre pessoas encontrando seu caminho.

Foi sobre isso que LOST sempre tratou, e eu me lembrei que muito antes de querer saber o que raios a Iniciativa Dharma fazia com ursos polares na ilha, o que mais me atraía na série sempre fora o relacionamento entre os personagens, a forma como cada um conduzia sua vida e os erros que cada um cometia ou havia cometido até chegar à ilha. Com o passar do tempo a série começou a jogar vários elementos interessantes sobre ciência, experiências secretas, viagens no tempo e afins, e como um bom apreciador de ficção que sou comecei a querer respostas para aqueles mistérios que a cada fim de temporada surgiam aos montes, levando a imaginação e os “achismos” ao nível mais elevado. Fui um dos muitos seguidores da série que ficou sim decepcionado com o final que não explicou tudo que queríamos saber, mas fiquei feliz com o fim de cada personagem em particular, o que rendeu uma despedida bem emocionante.

Fé e Ciência

O que realmente é a ilha?

Em “Ab Aeterno” o episódio que explica a imortalidade de Richard, a ilha é citada como o inferno onde cada pessoa chega para expiar os próprios pecados. Por um bom tempo cheguei a considerar essa teoria, o que seria uma forma razoável de explicar certas coisas que aconteciam aos sobreviventes do vôo 815 da Oceanic, como o julgamento feito pela Black Smoke antes de matar as vítimas, entre outros. Até então não sabíamos a ligação entre o Sem-Nome com a fumaça, e também não sabíamos o que exatamente eram ele e Jacob. Semideuses numa disputa de vida e morte? Dois homens dotados de poderes místicos e com muito tempo livre para usar pessoas em seu jogo? Quem sabe um pouco dos dois. O fato é que tudo levava a crer que haveria uma explicação plausível para cada um desses fenômenos sobrenaturais que presenciamos junto com “nossos heróis” (como diria o Bial), mas alguns deles passaram totalmente batido, e nos fizeram acreditar no fim, que isso não era tão importante.

O que é possível presumir, é que a ilha era sim um lugar místico que atraía o interesse de pesquisadores e curiosos devido suas atividades anormais. Quando se descobriu o potencial eletromagnético do lugar(gerada imagino eu, pela gruta da luz) a cobiça sobre o pedaço de terra aumentou e os problemas de Jacob também, uma vez que quanto mais pessoas chegavam à ilha, mais vítimas seu irmão Sem-Nome podia fazer. A Iniciativa Dharma descobriu bem depois dos Outros (os liderados por Charles Widmore) o que as propriedades físicas da ilha eram capazes de fazer, mas seus membros não sobreviveram o bastante para desfrutar dela. Essa é a parte científica da coisa.

A parte espiritual da coisa é que a ilha era dotada de uma fonte de energia que em comunhão com certos visitantes causava até mesmo a cura (Locke e Rose que o digam), e todos os desafios de sobrevivência nela implícitos (além dos joguinhos do desocupado do Jacob) levavam os sobreviventes a um forçado auto-conhecimento, fato que levou muitos losties a se sentirem renovados como pessoas (Locke de novo e James são casos bem específicos) e os conduziram a novos rumos, como bem acreditava o próprio Jacob. Para ele, todo ser humano era capaz de evoluir e crescer como pessoa, e pudemos ver vários casos de redenção durante as seis temporadas.

De acordo com o próprio Damon Lindelof, o criador, roteirista e produtor-executivo de LOST “não é possível fazer um final que agrade a todos. E essa também não é a intenção”. Em entrevist a a Vanity Fair, Lindelof afirma ainda sobre a mitologia Lost “ela é 10 ou 15 por cento da série, e que o principal são os personagens”. De acordo com ele, "os personagens sabem quais são seus problemas, e que a ilha é uma oportunidade que todo ser humano procura de mudar algo em si mesmo", o que coincide com o que eu disse mais a cima, mas deixa muito vaga a essência da série ou a sua premissa que sempre fora algo científico.

OK, se devemos deixar de lado toda aquela busca pela verdade e a solução dos mistérios, o que resta a nós fãs órfãos dessa série que nos prendeu por tanto tempo agora que ela acabou? “Arrume uma vida”, diria Willian Shatner aos fãs de Jornada nas Estrelas quando perguntado sobre o fim da série, curto e grosso. Sim, e se mesmo assim, alguns de nós ainda quisermos respostas? E se não for o bastante aquilo que nos foi dado no último episódio de LOST?
Fé e ciência foram dois elementos que sempre conduziram LOST. A fé de que havia algo sobrenatural na ilha de Locke e a certeza cética de Jack de que não havia, e que sua queda ali não havia passado de um acidente, sempre nos levaram a imaginar em quem deveríamos acreditar. Quando a fé acabou levando Locke à ruína e deu um novo sentido a Jack (e também um novo rumo ao personagem) começamos a entender qual era o significado desses dois elementos aparecerem tanto em conflito desde os primórdios da série e porque alguns personagens eram movidos por ela.

Como bem disse Carol Almeida no portal Terra em seu artigo sobre LOST quem venceu com Lost foram os autores e produtores J. J. Abrams, Damon Lindelof, Carlton Cuse e todos aqueles que se dedicaram todos esses anos a manter jovens ansiosos com um roteiro que partia de lugar algum para lugar nenhum. E eles foram simplesmente geniais nessa missão, porque souberam usar suas próprias armadilhas narrativas para capturar corações e mentes de expectadores* (com x mesmo) que, assim como Locke no começo e Jack no final, acreditavam que havia um motivo.” Segundo ela, esse motivo só existia na nossa cabeça, e ele não foi importante no fim de tudo, quando a única coisa que nos foi dada exceto o destino dos personagens, foi a verdade de que estávamos nos preocupando a troco de nada. E ela prossegue “Não, não há motivos. A ilha foi tão somente uma memória dos expectadores. Memória daquilo que vivemos durante tanto tempo por pura projeção. Fomos nós, os fãs, que queríamos achar a saída, que acreditávamos na equação física de Daniel Faraday para explicar o que raios é a verdade e onde ela está”. Quem mandou termos fé?
O final de LOST foi sim comovente. Uma forma bem digna de nos despedirmos desses personagens tão queridos que nos levaram a várias reflexões e aprendizado, mas ele teria sido muito melhor, se uns dois episódios antes tivessem ao menos esclarecido as principais dúvidas, aquelas que povoaram nossa mente sedenta por tanto tempo. Sinto que se morrer agora, não vou descansar em paz de tanta coisa que ainda está vagando na cachola. Ô Damon Lindelof! Ô Carlton Cuse! Dá essa colher de chá aí, vai! Conta pelo menos quem era aquele dentro da cabana do Jacob! Hehehehe!


* Carol Almeida se refere a “expectadores” com x posto que estamos falando daqueles que por tanto tempo esperaram uma resposta. Ex... de não é mais.



Abaixo um Stand-Up de Bruno Motta sobre como o público médio encara LOST:




NAMASTE!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...