4 de maio de 2011

Review: Thor


Fazia muito tempo que eu não conferia um filme no dia de sua estreia, mas a minha ansiedade nerd em ver Thor falou mais alto e isso fez com que, combinando com uma amiga anteriormente, eu assistisse a estreia na melhor sala de cinema de São Paulo (a sala Cinemark Bradesco Prime do Shopping Cidade Jardim) com direito a sessão 3D.


Como já havia adiantado antes, Thor para mim era o filme de super-heróis (e olhe que esse ano tem bastante deles prontos a pipocar nas telonas) mais esperado do ano, até porque de todos os que tive a chance de ver o trailer, foi o que mais me empolgou. Capitão América me passou a ideia de um filme “aventuresco” de Sessão da Tarde e Lanterna Verde me deu a péssima sensação de que será metido a engraçadão, deixando meio de lado a mitologia do personagem. Mas isso, claro, são apenas conjeturas. Só depois de vistos é que poderei falar com maior propriedade deles. Sobre Thor, o que você tem a me falar, Rodman, pergunta você, jovem padawan. Segue o review.



Juro que durante os primeiros 15, talvez 20 minutos da película eu achei que toda aquela expectativa de meses criada em volta do filme iria por água abaixo e comecei a achar que o 3D seria a única novidade em Thor, dirigido por Kenneth Branagh. É incrível a profundidade que qualquer cena ganha com o recurso 3D, que (res)surgiu para dar uma sobrevida ao cinema, uma vez que a pirataria vinha arrancando cruelmente os espectadores da sala de cinema (não consigo entender quem prefere ver filme pirata de péssima qualidade em casa na TV de 29 polegadas em vez de ver no cinema). Tudo ganha uma grandiosidade absurda na tela até mesmo as cenas mais, digamos assim, cotidianas, mas só quando eu parei de me deslumbrar com o efeito é que comecei a perceber as virtudes do filme.


A qualidade massiva que é aplicada ao filme devido o efeito 3D me fez perceber em muitos casos que o CGI ainda não é perfeito, mesmo depois que James Cameron provou com seu Avatar, que podemos sim acreditar que um personagem criado por computação gráfica possa parecer real. Talvez isso tenha sido o fator que mais me incomodou nos primeiros minutos de filme. O começo da história nos transporta para Asgard, o mundo dos deuses da mitologia nórdica e é impossível tentar representar algo tão infinitamente grandioso sem a ajuda dos efeitos especiais. Vemos uma guerra entre gigantes do gelo e os deuses em plena Midgard (Terra) e a batalha épica entre as duas raças, embora breve, mostra que a extensão do CGI ainda limita algumas cenas de ação para quem tem um olho mais apurado para esse tipo de coisa. Como designer gráfico, felizmente (às vezes infelizmente), aprendi a ver os defeitos das cenas antes de me empolgar com os acertos e isso explica a má impressão que o filme me causou de início.


Gostei do chamariz que o filme apresentou antes de nos levar para Asgard e isso ajuda a instigar o público a querer saber mais. À princípio não vemos Thor (Chris Hemsworth), seu pai Odin (Anthony Hopkins) ou qualquer outro asgardiano, e sim a mortal Jane Foster ( vivida pela oscarizada Natalie Portman) e sua equipe de astrônomos Darcy (Kat Dennings) e o Professor Andrews (Stellan Skarsgard), que investigam os céus em busca de fenômenos que fogem aos padrões comuns da ciência. Um passeio de carro em direção aquilo que se assemelha a um imenso tornado culmina com uma pancada, e um homem é atropelado pela equipe, dando o mote para as especulações. Os leigos, claro, não devem imaginar do que se trata, mas aqueles que estão ali para ver a história do Thor já sabem do quem se trata o infeliz atropelado.
A primeira cena já causa os mimimis inicias por parte dos nerds, já que é óbvio que essa versão da Jane Foster não é uma simples enfermeira, como ela o é nas HQs. Afinal, o que estaria fazendo uma enfermeira correndo atrás de tornados? Aiii, nem está igual à HQ. Odeio esse filme, mimimizam os fanáticos. É muito mais verossímil essa característica de Jane Foster pelo fato de que Thor é um cara que tecnicamente veio do espaço (se considerarmos Asgard outro mundo). Se ela fosse uma simples enfermeira, seu personagem teria muito menos serventia na trama e seria necessário o acesso imediato do Doutor Donald Blake, que nas HQs é o corpo mortal digno de deter o poder de Thor e interesse romântico da moçoila. Sendo ela uma cientista que estuda fenômenos astronômicos, fica mais crível que ela consiga entender que um deus caiu na Terra.


Antes que eu viaje muito e deixe os leitores loucos com minhas explicações HQzísticas, devo enfatizar que Kenneth Branagh consegue desenrolar toda essa transição do mundo dos deuses para o "mundo real" com maestria, uma vez que ele só tinha duas horas de filme para fazer isso. A trama fica corrida? Fica, mas não haveria outra forma de mostrar ao público médio o que é Asgard, quem é Odin, quem é Thor e porque ele é jogado na Terra sem um pouco de aceleração de frames.
Depois da rápida apresentação de Jane e seus amigos, vemos Asgard e a guerra antiga entre dois dos mundos (na mitologia nórdica há oito mundos além da Terra) Jotunheim e Asgard pela conquista dos mortais, e a guerra termina com a vitória de Odin e seus comandados, o que cria uma espécie de trégua forçada entre ele e o líder dos gigantes de gelo, Laufey (Colm Feore). Mais tarde vemos Thor e seu irmão Loki ainda crianças apresentando ambições ao futuro trono de Asgard e numa passagem de tempo rápida já somos apresentados a Chris Hemsworth na pele do deus do trovão, sendo agraciado com o título de príncipe e, portanto, o sucessor legítimo de Odin.

Uma invasão de gigantes do gelo ao reino no momento da celebração de Thor ocorre, colocando em xeque a segurança criada pelo pacto entre Odin e Laufey, e é necessário que o Destruidor, uma máquina movida por magia asgardiana, cesse a invasão. A partir de então, a discórdia é inserida no coração da família Odinson, Thor vê a necessidade de uma retaliação pelo ataque, surgem dúvidas de como os gigantes passaram pelo guardião de Bifrost (a ponte do Arco-Íris que é uma espécie de passagem entre os mundos), guardada por Heimdall (Idris Elba) e Odin prefere manter-se cauteloso.


Quando Loki (Tom Hiddleston) usa de seu poder de persuasão sobre o irmão, que por si só já possui um espírito inquieto (saca o filhinho de papai que tem tudo e acha que é o rei do mundo? Então), Thor rapidamente decide ir contra as ordens do pai de atacar Jotunheim, e junto dos três guerreiros Fandral (Josh Dallas), Hogun (Tadanobu Asano) e Volstagg (Ray Stevenson, o Justiceiro do 2º filme irreconhecível por baixo da maquiagem), mais a guerreira Sif (a belíssima Jaimie Alexander) ele parte para confrontar os gigantes do gelo pela invasão ao reino de Asgard e pela tentativa de reaver a caixa do Inverno Eterno, artefato esse que havia sido tomado dos gigantes numa antiga guerra.



Assim como um pittboy que vai para a balada, que arruma encrenca e que precisa ligar para o papai ao final da noite para tirá-lo do enrosco, Thor acaba vendo que seu ato inconsequente estava além de suas capacidades e não só expõe os amigos ao risco de morte como também ameaça acabar com a paz selada entre seu pai e os bonecos de Olinda congelados. Avisado por Heimdall, o guardião que não é o Google, mas tudo vê, Odin acaba sendo obrigado a resgatar o filho inconsequente, os três guerreiros, Lady Sif e Loki de uma briga que eles não poderiam vencer (não disse que era como um pittboy e seu pai rico?), e chegando em Asgard, após uma briga ferrenha entre pai e filho, o senhor de Asgard decide banir Thor da cidade reluzente, retirando todos seus poderes, tornando-o indigno de seu martelo Mjolnir e lançando-o na Terra, sobre os protestos (falsos) de Loki e da sua mãe Frigga (Rene Russo), no caso dela, protestos verdadeiros.


A batalha entre Thor e seus amigos contra os picolés superdesenvolvidos é grandiosa e nos dá a primeira mostra de que o CG pode sim (e deve) ser usado com extrema perícia. A luta é muito movimentada e temos uma boa dose de ação para esquentar o clima e fazer-nos mexer inquietos na poltrona. Pela primeira vez temos a sensação de que há algum peso em Mjolnir, já que na cena inicial (a que Thor está prestes a ser coroado príncipe) seu martelo mais parece o do Chapolin de tão leve. A primeira grande metade do combate coloca o herói nórdico e seus amigos em larga vantagem contra os gigantes do gelo, e nos deleitamos com belíssimos efeitos especiais enquanto Thor usa e abusa de seu vasto poder. Ele arremessa o Mjolnir, ele bate o martelo no chão provocando ondas de choque, gira a arma com a alça provocando furacões (achei esse efeito bem meia boca pelo fato de que não parece que o ator está girando o martelo e sim que ele está girando sozinho em sua mão) e até mesmo voa em alta velocidade tal qual um Superman.

Pronto. Suficiente para causar orgasmos nerds. Em pouco tempo a plateia é recompensada por ótimas cenas de ação ao estilo Senhor dos Anéis, além de conhecer do que o deus do trovão é capaz. Nota 8 para essa cena pela criatividade do combate. Ainda sou meio chato com o CG e não o acho perfeito.


Por ser um deus arrogante, mesquinho e inconsequente, Thor é castigado por seu pai a viver como um mortal em Midgard, dessa forma, com todas as fraquezas e limitações de um ser humano, ele é obrigado a conviver com algo que ele desconhece: a falta de poder e a humildade. É quando o destino o coloca no caminho de Jane Foster, após sair de um vórtice transtemporal que o conduziu de Asgard até ali, e que ela acredita ser, até então, apenas um fenômeno inusitado.


Vale lembrar que nas HQs, Thor não é jogado em sua forma física diretamente na Terra. Seu poder é trancafiado no poderoso Mjolnir e só quem for digno de receber tal poder pode erguê-lo e assumir a forma de Thor, o que acontece com o frágil e coxo Doutor Donald Blake. No filme, o doutor é citado apenas como um ex-namorado de Jane, mas não chega a aparecer ou conter o poder de Thor. Também acho essa alternativa mais viável. Essa história de um ser frágil conter o poder de um deus é muito anos 60. Sem falar que já temos o Capitão Marvel (o Shazam da DC) com esse mesmo mote. Ter um cara que caiu na Terra banido de seu mundo e que terá que reaprender a conquistar o direito de ter seus poderes é muito mais crível, na minha opinião. Ponto para a adaptação de Branagh.
Em vez de criticar as escolhas dos diretores pelas adaptações aprendi a entendê-las antes de tudo como algo funcional para a história, e com Thor, as liberdades artísticas do diretor são em certo ponto, necessárias para que a trama seja plausível.
Thor não é um filme que chega a surpreender, até porque eu já conhecia a história antes mesmo dela ser transposta para as telonas. O mais interessante é assistir a forma como cada evento é colocado e as soluções que a produção encontra para o desenrolar da trama, sem grandes pontas soltas e nem nada que exija muito da sua massa encefálica (não que seja um filme descerebrado). As interpretações estão dignas de elogio, apesar de se tratar de um filme Blockbuster. Natalie Portman faz seu papel e pronto. A Nina de Cisne Negro não está presente, e Natalie interpreta uma Jane Foster fiel ao que ela se propõe ser, nem a mocinha em perigo e nem a heroína corajosa, mas sim uma personagem possível de existir no mundo real e que faz com que o herói tenha um sentido em sua jornada.

Anthony Hopkins está perfeito como Odin. Seu tom de voz vai do sereno ao grave em instantes, e podemos sentir toda a imperiosidade de um deus quando ele atinge tal evolução. O personagem de fato, nos passa uma sensação de fragilidade em alguns momentos apesar da coragem de banir seu próprio primogênito em detrimento de suas ações, mas a cena em que ele “desmaia” o que anuncia que ele caiu no Sono de Odin mais me pareceu que ele sofria de narcolepsia! Pelo que conheço da história, o Sono de Odin era algo voluntário que o soberano usava para repor suas energias, e não um chilique sem aviso que o derruba enquanto ele bate um papo com o filho bastardo.


Chris Hemsworth está muito bem no papel de Thor. Fisicamente ele se parece com um deus nórdico (os descritos nos livros e o próprio deus do trovão da Marvel), tem a altura e o tipo físico exato, e, além disso, é bom ator, convencendo tanto em cenas de ação quanto em cenas de alta dramaticidade, quando, por exemplo, ele percebe que não é mais digno de empunhar Mjolnir e caí numa espécie de derrota pessoal (mais ou menos como uma broxada na Hora H). Certos personagens de quadrinhos quando são transportados para o cinema, em especial aqueles que levam o título do filme, precisam ser uma massa de músculos, mas que consigam desempenhar um bom papel dramático. Se havia alguém que duvidava que isso existisse até então, Hemsworth está aí para provar o contrário.


Se eu fosse apontar um elo fraco no filme eu diria Tom Hiddleston, mas acho que não estaria sendo justo com o ator, uma vez que foi o seu Loki que não me agradou e não sua atuação em si. Me acostumei a ver um Loki nas HQs que usa seu poder de persuasão para causar situações que o beneficiem. Até aí o Loki de Hiddleston faz isso, só que nas HQs, o deus da trapaça é um personagem que causa a nossa ira, alguém desprezível que percebemos estar fazendo aquilo acima de tudo para satisfazer o próprio ego. O Loki de Hiddleston mais parece o irmão caçula invejoso que quer o lugar do irmão mais velho e fica de birrinha por conta disso. Todas essas características estão incutidas no personagem Loki, claro, mas me incomodou a forma como isso foi transposto. Havia maldade por parte do traiçoeiro, mas quando este fala para o Thor que “só queria ser como ele” me pareceu demasiadamente forçado. Achei que a maré viraria quando ele sugere que Laufey (seu verdadeiro pai, para quem não sabe e não se importa com SPOILER) mate Odin a fim de que ele fique com o trono de Asgard, uma vez que o verdadeiro herdeiro está exilado, mas a cena do combate final entre os meio-irmãos põe tudo a perder. Como apresentação do personagem, no entanto, é válido, mas em um futuro desenrolar da história gostaria de ver Loki agindo mais na maldade mesmo, em vez de estar fazendo tudo por invejinha como um colega de firma que quer te derrubar para ficar no seu lugar.


Vale ressaltar que as participações de Idris Elba, Josh Dallas, Tadanobu Asano , Ray Stevenson e Jaimie Alexander são figurativas no quesito enredo, uma vez que eles desempenham um papel pequeno. Todos têm, no entanto, uma cena marcante, e boa parte do humor incutido no filme aparece quando eles estão presentes. Na própria HQ, o grandalhão Volstagg (Stevenson) é o alívio cômico, e não são raros os momentos em que seus próprios colegas Fandral e Hogun o auxiliam nessa tarefa. Lady Sif apenas deixa no ar, no filme, certo interesse romântico pelo deus do trovão, o que é bem claro nas HQs (ela é a esposa de Thor), enquanto é de Heimdall a melhor cena de humor no filme, quando ele convoca os três guerreiros e Sif diante do portal da Bifrost para indagar-lhes se eles estariam dispostos a resgatar Thor de seu exílio. A essa altura, o guardião que tudo vê já desconfia das reais intenções de Loki, que obviamente, ascendeu ao trono com o Sono de Odin, e com apenas um único sim do quarteto ele dá a reunião como encerrada, enviando-os sem autorização para a Terra, atrás de Thor. Contando assim não tem graça nenhuma, mas a cena é hilária e nos faz lembrar que o bom e velho Heimdall bem que podia dar uma dessas de vez em quando nas HQs.


Enganado pelo meio irmão, exilado de seu mundo e privado de seus poderes pelo próprio pai, Thor acaba aprendendo que seu poder não lhe dá o direito de ser melhor que os demais e nem tampouco passar por cima de regras (algo que o Homem Aranha já sabia), e a humildade é algo que ele adquire no convívio com Jane e seus amigos Darcy e Andrews (uma surpresa grande envolve o personagem, mas falar disso é sacanagem). Assim, Loki não satisfeito apenas com o trono de Asgard, envia a máquina de destruição criada por seu pai para a Terra, a fim de que ele elimine o meio-irmão, e o embate entre os aliados de Thor e o Destruidor se torna a cena mais empolgante do filme em especial com seu desfecho arrebatador em que o poderoso Mjolnir retorna a responder seus chamados e lhe devolve os poderes.


Toda a trama do filme é bem amarrada e tudo acaba funcionando bem, em especial a ligação da SHIELD com a aparição desses novos elementos (quem não lembra da cena pós-créditos de Homem de Ferro 2?), a citação de Bruce Banner por Andrews e a rápida, porém reveladora aparição de Clint Barton (Jeremy Renner) o Gavião Arqueiro em meio à captura de Thor. Os planos da Marvel para seus personagens são grandiosos, e eu como um fã alucinado por quadrinhos tenho delirado com toda essa movimentação entre os filmes que culminarão no esperado lançamento dos Vingadores.
Thor é um filme muito bom para ser assistido sem preocupação, seja você um entendedor de quadrinhos ou não. Ver ao lado de um leigo no assunto pode ser um bom termômetro para avaliar o quão o personagem envolve as pessoas que não sabem nada do assunto, e talvez eu volte ao cinema para conferir isso, já que minha amiga já estava bem antenada sobre mitologia nórdica e também sobre quadrinhos. Assista ao filme sem medo. Efeitos especiais ou interpretações não serão um problema para você. Curta ao máximo.

NOTA: 8


Destaque também para a trilha sonora da película que conta com uma das faixas do novo CD (aguardado) do Foo Fighters Wasting Light e a música é Walk, que toca quando Thor conversa num bar com o Profº Andrews e depois dos créditos.
Falando em créditos, nem pense em levantar seu traseiro gordo da poltrona antes dele terminar. Como já virou tradição nos filmes da Marvel, tem cena pós-crédito.

NAMASTE!

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