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24 de março de 2015

Do Fundo do Baú - Superman segundo Alan Moore


Em 1985 a DC estava prestes a colocar em prática o primeiro dos vários reboots pela qual a editora tentaria submeter sua cronologia nos anos seguintes, e estava se desenhando pelas mãos de Marv Wolfman e George Pérez a primeira CRISE NAS INFINITAS TERRAS. Era certo que depois desse reboot toda a linha editorial da DC passaria por modificações (algumas bem profundas) e todos os personagens seriam reformulados com o fim do conceito de terras paralelas, inclusive o Superman.

Com a certeza de que aquela cronologia da ERA DE PRATA seria descontinuada, ficou à cargo de ninguém menos que Alan Moore e o desenhista veterano Curt Swan criarem aquela que seria conhecida como a última história do Superman pré-crise, nascendo assim “O que aconteceu ao Homem de Aço?”.



Com um roteiro linear e de fácil entendimento, Alan Moore presta diversas homenagens não só ao próprio Homem de Aço e seu universo, como também para os artistas que passaram pelo título todos aqueles anos, desde 1938. Já na primeira história George Pérez trabalha como arte-finalista de Curt Swan, que desenhava o personagem desde a década de 50, e que foi convidado a participar desse projeto justamente por sua longeva carreira à frente de um dos principais títulos da editora. O traço característico de Swan marcou seu lugar na história do Superman, e ao lado de John Byrne, Jerry Ordway, o próprio George Pérez e mais tarde Dan Jurgens, remonta como um dos mais lembrados pelos fãs do Azulão.



No enredo, Alan Moore define de forma bem clara o destino de todos os personagens envolvidos na mitologia do Superman, e diferente do que estamos acostumados nas HQs, cria um embate final entre ele e todos seus principais adversários, incluindo aí o Metallo, o Bizarro, Lex Luthor, Brainiac e até o temível (só que não!) Mxyzptlk.



Por se tratar de um capítulo final da saga do herói, O que aconteceu ao Homem de Aço? por vezes soa melancólico e até triste, e vários personagens que aprendemos a gostar e até admirar com o passar do tempo perecem numa batalha final (que o Superman simplesmente não consegue evitar) entre ele e um Lex Luthor cuja mente está sendo controlada por Brainiac. 



Como não podia deixar de ser, a luta decisiva entre o Homem de Aço e seus maiores inimigos ocorre na porta da Fortaleza da Solidão, aumentando o tom dramático da história e lhe conferindo um caráter sombrio, bem a cara do escritor inglês.


Lana Lang e Jimmy Olsen vão pra vala...

Apesar de seu clímax ser mesmo o desenrolar surpreendente da trama (Mxyzptlk, quem diria, hein???), em que o Superman se sacrifica em nome daquilo que sempre acreditou, O que aconteceu ao Homem de Aço?  é lenta e cansativa, proporcionando mais bocejos ao longo da leitura do que reflexões sobre esse sacrifício. 


Tá... Mas matar o Krypto é SACANAGEM!!

É estranho notar também a inabilidade do Homem de Aço em lidar com a invasão à Fortaleza da Solidão, enquanto seus amigos Jimmy Olsen e Lana Lang, que adquirem superpoderes, precisam fazer as vezes de heróis para tentar salvar a própria pele.



Embora o clima lento da história seja uma característica bem forte ao longo das páginas (e também uma marca da época em que a história foi publicada originalmente), a homenagem prestada aos anos de publicação do Superman são ainda a força motriz por traz de O que aconteceu ao Homem de Aço?, e somente por isso, somado a arte de Curt Swan é que a HQ vale a pena, dando inclusive o título do encadernado que a Panini publicou há algum tempo.



Uma coisa a gente pode ter certeza: Alan Moore sabe escrever uma história comovente, porque não é fácil segurar as lágrimas quando o Krypto morre ou quando o Superman se sacrifica!!


Alan Moore é provavelmente um dos únicos escritores que conseguiu criar algo de relevante com o Monstro do Pântano, personagem criado em 1971 por Len Wein (que criou também o Wolverine da Marvel) e Berni Wrightson.

Me lembro de ter visto a propaganda desse encontro entre o Homem de Aço e o Monstro do Pântano no miolo de uma das minhas antigas HQs do Capitão América da Editora Abril e sempre me perguntar o que teria acontecido ao herói para ele ter ficado com aquela cara de zumbi. A resposta só vim a saber muitos e muitos anos depois.



No enredo, após entrar em contato com um meteorito que continha uma espécie de fungo alienígena em sua superfície, enquanto fazia uma reportagem como Clark Kent, o Homem de Aço percebe que começa a perder o controle sobre seus poderes, que por vezes são até anulados enquanto seu corpo adoece gradativamente. É interessante notar que quanto mais “humano” ele vai se tornando em decorrência da ação dessa bactéria com a qual ele foi contaminado, mais ele vai aprendendo sobre reações comuns, como ter o dedo cortado por uma folha de papel, por exemplo, o que nunca antes havia lhe acontecido, já que ele era invulnerável devido a ação do sol amarelo da Terra em seu corpo.



Com medo do que pode acontecer caso a infecção que o abate avance, Clark resolve se afastar o mais longe que puder de Metrópolis, começando uma peregrinação de carro, já que seus poderes agora instáveis não permitem que ele voe. No meio do caminho um forte delírio febril o toma, e o Homem de Aço sofre um acidente de carro, que o faz cruzar o caminho do estranho Monstro do Pântano, que o reconhece quando vê seu uniforme sob as roupas rasgadas.



Quando desperta, tomado por delírios causados pela bactéria alien, o Superman entra em conflito com o Monstro, que logo detecta que há algo de errado com o herói. 



Não antes de arrancar pedaços do Monstro e atear fogo em metade da floresta onde reside a criatura verde (foda-se a natureza!), o Superman acaba voltando a si com a ajuda essencial do Monstro, que o vê partir sem nem dizer um “obrigado”. Que belo filho da puta esse Superman, hein! Só faltou ele quebrar o pescoço do Monstro do Pântano!



A Linha da Selva é desenhada por Rick Veitch (que eu nunca ouvi falar!), cujos desenhos irregulares meio que dão sono, e a capa da edição também é dele, embora com uma pintura mais realista e um traço mais dinâmico. 


Vale apenas para ver como o Superman reage quando é apenas um ser humano lidando com suas fraquezas e limitações, de resto, bem aquém do nome de Alan Moore.


Eu já tinha visto o episódio de Liga da Justiça (a animação) que adaptava essa história, e sempre tive muita curiosidade em ler o material original, até porque sempre ouvira falar muito bem dele.



Lançada em Janeiro de 1985 após os eventos de Crise nas Infinitas Terras, Para o Homem que tem tudo... conta um enredo curioso em que a Mulher Maravilha e a Dupla Dinâmica Batman e Robin decidem ir até a Fortaleza da Solidão para presentearem o Homem de Aço por seu aniversário. No maior clima Superamigos, cheios de piadinhas e insinuações do Robin (Jason Todd recém “contratado” na época) com relação a voluptuosidade da Mulher maravilha, os três acabam encontrando um Superman catatônico com uma estranha planta de aspecto alienígena presa ao peito.


O Robin empolgadinho com a Mulher Maravilha

O mistério sobre o que é aquela planta e quem a enviou ao Homem de Aço logo é solucionado quando o remetente do “mimo” aparece em pessoa na Fortaleza, alegando que o Superman está muito além da ajuda dos três, e que aquela planta realiza o maior sonho daquele que a toca, fazendo com que essa pessoa NÃO QUEIRA sair daquela fantasia. Assim, querendo que o gigante Mongul traga a consciência de seu amigo de volta, a Mulher maravilha decide enfrentar a criatura amarela na porrada, enquanto a dupla dinâmica procura livrar o Superman da “planta do sonho” chamada de Clemência Negra.



Esta história é GENIAL em sua simplicidade, pois coloca o Homem de Aço em uma situação (até então) inusitada. Preso ao mundo que ele foi obrigado a deixar para trás quando era bebê, ele se vê feliz, casado e com um filho que desesperadamente precisa salvar, enquanto Krypton ameaça explodir. Nessa realidade seu pai Jor-El está vivo e o herói entra em conflito ao ter que decidir em continuar eternamente aquele sonho ou voltar para a realidade, onde Diana, Bruce e Jason lutam para trazê-lo de volta.



Para o Homem que tem tudo... é desenhada por Dave Gibbons, o parceiro de Alan Moore em Watchmen. Embora Gibbons seja excelente para retratar figuras humanas comuns, ele comete alguns erros de anatomia bem grotescos como no quadril da Mulher maravilha, que as vezes parece mais aquelas tias gordas, e na proporção de tamanho de Mongul com relação aos demais personagens. 



Gosto dos desenhos de Gibbons, mas essas deslizadas meio que tiraram o brilho da história. 


A Mulher Maravilha cadeiruda do Gibbons

O encadernado Superman - O que aconteceu ao Homem de Aço reúne as edições originais Action Comics 583, DC Comics Presents 85, Superman 423 e Superman Annual 11. 




Formato 17 x 26 cm
Capa Dura
Lombada Quadrada
Papel Couché, 132 Páginas
R$ 19,90

Ainda pode ser encontrado no site da Panini e na maioria das livrarias do Brasil. Vale a pena pra você, que como eu, nunca tinha lido o material na época de seu lançamento, e também para os fãs de longa data que nunca colocaram a mão nesse material nesse formato de luxo com um acabamento caprichado. 

NOTA: 8

Pra quem ficou interessado e não leu a HQ e nem viu o episódio de Liga da Justiça sem Limites de Para o Homem que tem tudo..., abaixo, um resumão:



NAMASTE!

12 de março de 2015

Do Fundo do Baú: Demolidor, o Homem Sem Medo


Demolidor: O Homem sem Medo foi uma minissérie escrita por Frank Miller e desenhada por John Romita Jr. originalmente em 1993, e publicada aqui no Brasil alguns anos depois pela Editora Abril e mais recentemente republicada pela Panini

Qual a importância dessa história para que ela mereça um post, Rodman?

A resposta é bem simples, caro padawan: Frank Miller.

Quase que 80% do material que li do Demolidor a minha vida toda foi escrita ou desenhada por esse cara, e poucos escritores conseguiram entender o Demônio Audacioso em seu cerne tão bem quanto Miller. Sempre considerado um personagem menor da Marvel, de segundo e até mesmo de TERCEIRO escalão, o Demolidor estava prestes a ter sua revista mensal cancelada quando o, na época, jovem Frank Miller assumiu o título. Seus desenhos ainda eram bem orgânicos na hoje longínqua década de 70, mas possuíam uma fluidez que faziam seus personagens saltarem dos quadrinhos, como se estivessem vivos. Sua narrativa sempre cinematográfica tornou as histórias do herói cego não só um sucesso de vendas, como também um sucesso de crítica. Já que a Marvel se vangloriava de ter heróis mais próximos da realidade, com problemas de grana, relacionamento e de trabalho, com o Demolidor de Miller, eles tinham agora o seu herói mais realista de todos, aquele que convivia bem de perto com o que de pior a humanidade podia produzir.

Os desenhos de FRANK MILLER
Drogas, corrupção e violência eram temas que Miller trazia para o cotidiano das histórias do Demolidor com maestria, e lendo cada página é como se estivéssemos mergulhando de cabeça no submundo do crime do bairro da Cozinha do Inferno, residência fixa do Demônio. Em 1993, Miller estava retornando para a Marvel após um longo afastamento em que ele estivera produzindo outras obras de arte para a DC (Cavaleiro das Trevas, alguém já ouviu falar?), e após pavimentar todo o caminho que seria seguido por outras gerações de artistas para com o Batman, ele sabia que ainda podia contribuir com seu personagem preferido da Marvel, e assim o fez, voltando para reescrever a ORIGEM do Demolidor.

Os traços de Bill Everett, na primeira HQ do Demolidor

A primeira vez que tive contato com a origem do Demolidor, aquela clássica, escrita por Stan Lee e desenhada por Bill Everett de 1964, foi na revista Superaventuras Marvel nº 100 da Editora Abril (1990). Até então, eu só via o personagem fazendo algumas aparições especiais nas aventuras do Homem Aranha, mas depois daquele primeiro contato com seu passado trágico, senti que começava a gostar genuinamente do personagem. 


De forma até bem didática, como costuma fazer, Stan Lee nos explica tudo que precisamos saber naquela primeira edição, e a passagem de tempo que mostra Matt Murdock desde a infância até sua vida adulta, não nos deixa qualquer dúvida de como tudo aconteceu desde que Matt servia de saco de pancada pros moleques folgados da escola até sua vida adulta como vigilante mascarado. Miller, em O Homem Sem Medo, no entanto, mostra de forma mais minuciosa aquilo que não sabíamos, abrindo novos precedentes para a vida do Demolidor, algo que ele fez muito bem com o Batman em Ano Um.


O primeiro capítulo é inteiro dedicado a nos mostrar a infância humilde de Matt e seu pai na Cozinha do Inferno. O quão duro o velho JackBatalhadorMurdock tem que dar para cuidar do seu filho sozinho (já que Maggie, a mãe freira do menino, os abandonou quando ele ainda era muito novo), e de como o pequeno Matt enfrenta seus próprios problemas em meio a uma vizinhança violenta e intransigente. Alvo fácil dos valentões da escola por ser pequeno e mirrado, Matt cresce com um sentimento de impunidade muito grande dentro de si, o que o faz escolher a carreira de advogado ainda na infância, quando leva uma surra do pai por ter agredido um menino na escola. Sabendo o quão difícil é sua vida de boxeador, Murdock faz com que Matt jure que por mais que as coisas sejam difíceis, ele jamais vai largar os estudos, algo que o menino leva como ensinamento pra vida toda. 


Embora frágil, Matt mostra que ganha uma coragem fora do comum quando quer, o que o faz esconder o cassetete de um policial no velho ginásio onde o pai treina. Essa mesma coragem se mostra no pior momento de sua vida, quando ele salva um homem cego de ser atropelado por um caminhão carregado de produtos químicos, sendo ele mesmo atingido pelos resíduos caídos da caçamba. Cego e nas trevas, Matt descobre que seus demais sentidos se tornaram aguçados além do comum, e que mesmo na escuridão, de alguma forma, ele consegue distinguir formas, cheiros e vibrações. Aquilo lhe dá o alento necessário para continuar pegando firme nos livros, algo que seu pai fazia questão, sem nunca deixar seu treinamento físico de lado. Por vários anos, Matt treina seu corpo tanto quanto sua mente, se destacando entre os demais valentões da sua idade.


Na história original escrita por Stan Lee, embora a passagem de tempo seja muito bem mostrada, dá-nos a impressão que Matt leva anos para vingar a morte do pai pelas mãos dos capangas do Manipulador, o gângster que faz com que Jack Murdock trabalhe para ele como uma espécie de “mensageiro” para os caloteiros. Embora saiba que está entrando em um mundo de onde não se pode sair sem o custo de sua própria alma, Jack decide fazer o que for preciso para poder pagar os estudos de Matt, bem como manter sua vida minimamente confortável. Enquanto o chefão do crime compra lutas para que o Batalhador as vença com facilidade, o tornando uma sensação nas casas de aposta, Jack só descobre que estava sendo manipulado tarde demais. Quando ele decide que não vai entregar a última luta, melando assim com os planos do Manipulador de fazer uma fortuna em cima do combate, Murdock é eliminado à sangue frio, deixando Matt órfão. Na história original, Matt só vinga a morte do pai depois que já se tornou o Demolidor, mas em O Homem Sem Medo, ele o faz antes disso.


Acrescentado nas histórias do Demolidor ainda na época de Frank Miller à frente do título, o misterioso Stick aqui aparece com certo destaque, aceitando o desafio de treinar o promissor Matt Murdock, que corria para treinar no ginásio todas as vezes que apanhava na escola. Quando o menino fica cego após o acidente e observando as habilidades especiais que crescem com ele, Stick decide treinar o garoto, a fim de mantê-lo puro e limpo de qualquer influência maligna, e até certo ponto ele consegue seu intento, embora castigue bastante o menino com seus ensinamentos brutais.


Quando em sua sede de vingança, Matt caça um por um dos homens envolvidos no assassinato de seu pai, e acaba empurrando pela janela uma prostituta, causando sua morte, cheio de culpa, Matt procura auxílio de seu sensei, o que não encontra, ao passo que o velho mestre percebe que ele acabou se corrompendo, e que mais tarde a influência da intrépida Elektra Natchios pode piorar ainda mais o comportamento do rapaz.


Essa passagem de tempo entre a infância de Matt, a adolescência e sua vida na universidade fica meio confusa  às vezes pela narrativa de Miller, e é estranho imaginar que ele ainda era um moleque quando acabou com todos os capangas do Manipulador usando apenas uma máscara de esqui para ocultar sua identidade e as técnicas ensinadas por Stick. Nada de uniforme ainda, nada de Demolidor.

Elektra.

Ah, Elektra!


A ninja assassina grega é uma criação de Frank Miller para as histórias do Demolidor, e a primeira vez que a vi, foi também na já citada Superaventuras Marvel nº 100. Nessa edição, através de flashbacks Matt se recorda de como conheceu a moça ainda na época de faculdade, como ambos se apaixonaram e como outra tragédia os acabou separando. Em O Homem sem Medo, conhecemos uma Elektra mais atrevida e mortal, longe da menina doce da história original que só se torna fria e calculista APÓS a morte de seu pai. O primeiro encontro entre ela e Matt já é bem explosivo, quando então ela o faz seguir pela noite, espalha suas roupas pela neve e engana seus sentidos, fazendo-o cair nas mãos de alguns policiais que passavam por ali, simulando algo como um estupro.

Uau! Bem diferente da história original em que Matt tem no máximo que enganar o segurança da menina para ficar a sós com ela.

A despedida de Matt e Elektra na história original

A relação deles, sempre baseada em adrenalina e perigo de morte faz com que Stick o avise de que a menina não é flor que se cheire, e que ele já percebeu algo de maligno em sua alma. Desacreditando o velho sensei, Matt continua envolvido com Elektra até que o pai dela é assassinado, o que causa a partida dela e a ruptura do caso amoroso de ambos. Não há qualquer destaque na morte do Diplomata Natchios nessa história, nem mesmo a tentativa de Matt de impedir o sequestro do homem, como foi mostrado na história original.


Elektra nos é mostrada apenas como alguém que gosta do perigo e que ainda nas horas vagas testa seu instinto assassino, entediada pela vida de riquinha filhinha de papai, o que não faz muito sentido e foge bastante da origem da personagem escrita pelo próprio Frank Miller. Bem, pelo menos ele não esperou ninguém criar um retcon com sua personagem, ele mesmo foi lá e fez!


Na quarta edição da minissérie, Matt já é um experiente advogado trabalhando em Boston, e quando ele retorna para a Cozinha do Inferno ele reencontra o velho amigo da faculdade Foggy Nelson que lhe pede ajuda com um caso de direito. Enquanto a criminalidade aumenta no bairro nova-iorquino, novas lideranças começam a se formar no submundo à custa de sangue inocente, e é quando Matt conhece a pequena Mickey, uma garota que se torna uma espécie de aprendiz dele no velho ginásio onde seu pai lutava boxe. Enquanto ajuda Foggy com o tal caso, e pronto pra voltar para seu trabalho em Boston, Matt descobre que Mickey está prestes a se tornar mais uma vítima inocente da crescente onda de sequestros e assassinatos por causa de drogas no bairro, e decide que a vida da garota com a qual ele se afeiçoou é mais importante que seu trabalho como advogado.


A caçada de Matt pela cidade em busca de Mickey e seus sequestradores é cinematográfica, e faz com que torcemos por ele cada segundo da ação. Apesar de seus sentidos ampliados, Matt ainda é mortal, então batidas de carro, balas e socos podem feri-lo, o que o torna mais humano que a maioria dos personagens que vemos nas HQs. Até alcançar o capanga Larks, Matt sofre o diabo nas mãos dos demais homens de Wilson Fisk, aquele que aos poucos foi se tornando o Rei do Crime com seus golpes. Disposto a salvar Mickey de qualquer forma, ele repete várias vezes que não quer matar Larks, o que acaba acontecendo quando o sujeito atira contra ele e Matt rebate a bala com o cassetete que roubou do policial ainda na infância. Oculto atrás de um traje preto, Matt percebe que aquele será seu destino, buscando a justiça como o advogado cego da Cozinha do Inferno durante o dia, e à noite caçando os criminosos mais perigosos que nem o sistema consegue punir. 


A justiça é cega, mas ela possui todos os demais sentidos ampliados.

Esse mergulho no universo do Demolidor é mostrado de forma muito talentosa por Frank Miller, que parece realmente se sentir “em casa” escrevendo o personagem. Gangsteres, assassinatos, drogas, submundo... Somos colocados cara a cara com esse mundo que em geral rejeitamos e nos enojamos, mas é exatamente isso que Miller faz quando coloca um personagem como Matt Murdock em meio a esse mar de podridão, ele nos dá esperança. Apesar disso, diferente do que estamos acostumados a ver nas páginas das histórias do Demolidor, o Demônio Audacioso de Miller mete a mão na lama para fazer sua justiça, e perdi as contas de quantos bandidos Matt matou ou simplesmente “deixou para morrer”, principalmente na sequencia em que ele vai atrás da garota Mickey. 


O background que Miller cria na vida de Matt ANTES dele assumir a alcunha de Demolidor (apelido que os moleques da escola o batizaram para o caçoarem devido a fantasia que seu pai usava nos ringues) é, no entanto, fantástico, e embora ele não se preocupe muito em explicar com detalhes os poderes de Matt (quase nada é falado sobre os sentidos dele), como eles funcionam e as mudanças sensoriais que eles causaram depois que ele se tornou um cego, a parte exterior da cidade onde ele vive e como o personagem pensa é muito bem explicada, algo que como disse antes, nos faz torcer desesperadamente por ele ao longo de todas as edições da série.

Como assim vou terminar a resenha sem falar absolutamente nada dos desenhos?


Não é segredo que sou fã declarado de John Romita Jr. (até elenquei ele como um dos melhores desenhistas do Homem Aranha aqui), e embora atualmente ele seja bem criticado pelos fãs de quadrinhos que veem seu traço “quadrado” demais e porque não dizê-lo até desleixado, na década de 90 ele ainda estava ON FIRE. Seu traço conseguiu traduzir toda a violência visual do texto de Frank Miller, e algumas cenas de luta me fizeram recordar de trabalhos que ele mesmo fez com outros escritores mais tarde como o Mark Millar em Kick Ass. Existem semelhanças entre os traços dos dois artistas, e tanto Miller quanto Romita Jr. têm a mesma predileção pelas linhas mais retas, o que não tira de forma nenhuma os méritos da obra. Profundidade, cenários, expressões, objetos... Enfim, Romitinha acerta em todos os fundamentos, dando SIM a cara de cinema às páginas que o texto de Miller exige. Se hoje o desenhista faz suas mulheres com umas caras de traveco fodas, ele acertou na Elektra na época, fazendo-a sensual e por vezes muito charmosa, o que esperamos ver quando olhamos para uma gata de maiozinho. A diferença entre o Matt criança e sua versão adulta também fica bem evidente nos traços do cara, o que nos faz pensar que essa dupla (Miller/Romita Jr.) deveria ter produzido mais material juntos, já que combinam muito bem. Quem sabe ainda dê tempo?


Se você garimpar ainda é possível encontrar a edição encadernada com as cinco edições de Demolidor: O Homem Sem Medo por aí. Pra quem está ansioso pela estreia de Marvel’s Daredevil da Netflix vale a pena, já que aparentemente, muita coisa desse material vai ser usado na série.

NAMASTE!

3 de novembro de 2013

A despedida de Brian Michael Bendis dos Vingadores


No ano de 2005 chegou ao Brasil a saga intitulada “A queda” (Disassembled) na revista própria dos Vingadores (Poderosos Vingadores) lançada pela Panini, que já na época publicava a maioria dos títulos de Marvel e DC em terras tapuias. A imagem de chamada, desenhada por David Finch, mostrava um Capitão América cabisbaixo, desmotivado e sem vontade de cantar uma bela canção sobre os destroços dos equipamentos de seus companheiros, indicando uma baita de uma derrota da superequipe para um inimigo até então desconhecido. O arco escrito por Brian Michael Bendis era a grande estreia no título dos Vingadores do escritor careca, que já fazia sucesso nas páginas de Homem Aranha Ultimate e do Demolidor do universo Marvel 616, e seu texto prometia abalar para sempre a maior equipe de super-heróis da Terra.


Naquele tempo eu não lia nada do universo Ultimate e a publicação do Demolidor no Brasil era tão zoneada (ora em revista própria, ora em algum mix xexelento) que eu também não acompanhava as aventuras do herói cego da Cozinha do Inferno, logo, não fazia ideia quem era Brian Michael Bendis, exceto que o cara era um monstro para escrever, já que comandava diversos títulos ao mesmo tempo para a Casa das Ideias.


O texto cheio de referência a sagas e fatos mais antigos e recheado de piadinhas infames me acertou em cheio, e não demorei a virar um fã incondicional do cara logo nas primeiras cinco edições. Como já comentei várias vezes em posts mais antigos, os Vingadores sempre foram minha equipe de super-heróis preferida (muito antes do filme, caso alguém esteja me tachando de fã modinha), e em tantos anos de leitura de HQs, eu nunca os tinha visto apanhar tanto como acontece em A Queda. Apesar do sucesso que fez, a saga fora moldada premeditadamente para ACABAR com os Vingadores clássicos, e dar o sinal verde para que Bendis reestruturasse a equipe como bem quisesse. E isso incluía incorporar membros que NUNCA ANTES haviam sequer sido cotados para integrar o grupo. Assim nasceram os NOVOS VINGADORES.



Bendis estreou em grande estilo nos Vingadores, trazendo demônios antigos do grupo à tona (como o alcoolismo de Tony Stark, a violência doméstica de Hank Pym com relação à esposa Vespa e claro, os bebês desaparecidos da Feiticeira Escarlate), e apesar de ter escrito uma saga completamente comercial que tinha um fundamento pré-estabelecido desde o início, o desenvolveu com muito afinco e competência, o que faz com que A Queda seja, a meu ver, uma das histórias mais lembradas da época moderna.


Depois que a equipe original foi desmantelada (após as mortes do Homem Formiga, Gavião Arqueiro e Visão), um novo evento semelhante ao que uniu os Vingadores originais (Homem de Ferro, Homem Formiga, Thor, Vespa e Hulk) acabou juntando uma nova equipe de heróis Vingadores, após a falha de segurança da Balsa, a maior prisão de supercriminosos do universo Marvel. Presentes no local o rádio e a televisão, o Demolidor, Luke Cage, Jessica Drew (a Mulher Aranha) e mais tarde o Capitão América, Homem Aranha e Homem de Ferro foram obrigados a se unir para tentar impedir que os supervilões que eles haviam trancafiado ali ao longo dos anos fugissem, e assim surgiu a ideia de que eles fossem os Novos Vingadores



Embora falido após a destruição da mansão, Tony Stark gastou seus últimos recursos para financiar uma torre que abrigasse seus companheiros, e a primeira missão dos heróis foi caçar todos os vilões cuja fuga eles não haviam conseguido impedir.

Embora menos heroicas que suas sagas anteriores, as histórias dos Vingadores jamais foram tão divertidas, e a interação dos personagens que raramente haviam trabalhado juntos antes disso criou situações hilárias, sem falar nos diálogos infames que Bendis tão bem sabe escrever. Toda edição tinha uma sacada de fazer mijar de rir por parte do Homem Aranha, e era difícil não se envolver com aquele universo e com aquela nova formação como acabou acontecendo por todos os longos anos que se seguiram até hoje. Bendis acabou se tornando meu escritor preferido dos Vingadores.


Nas edições seguintes novos membros acabaram se juntando ao grupo, como foi o caso do Wolverine (que já era previsto desde o começo), do Sentinela, um personagem completamente novo que fora inserido no Universo Marvel como um herói antigo que havia sido “esquecido” por todos e que estivera todos aqueles anos aprisionado na Balsa, e o Ronin, um misterioso ninja cuja identidade apenas o Demolidor e o Capitão América conheciam. A dinâmica do grupo era o grande atrativo das histórias, e mesmo quando a pancadaria não rolava solta, era possível ficar ali lendo e curtindo apenas os heróis sentados jogando conversa fora. Muita gente reclama dessas características de Brian Michael Bendis, mas me vi folheando edições de mais de vinte páginas que SÓ CONTINHAM diálogos, e estava pouco me importando. Bendis é um dos únicos que consegue fazer isso sem que o leitor fique entediado, e essas características aliadas a um bom desenho, como quando Mike Deodato Jr., Frank Cho, Jim Cheung ou Steven McNiven comandavam os desenhos, criavam edições memoráveis, das quais tenho muito orgulho de ter na minha (imensa) coleção.  


A edição nacional de nº116 de Os Vingadores (publicada já há algum tempo nos EUA) marca a despedida de Bendis do título dos Maiores Heróis da Terra, e à partir da próxima publicação, o careca passa a batuta para Jonathan Hickman, escritor que já esteve à frente de títulos como Quarteto Fantástico



Em duas histórias com cara mesmo de fim de saga, Bendis amarra quase todas as pontas soltas lá atrás em A Queda, e depois de anos tocando quase que sozinho a “vida” dos Vingadores ele se despede de seus “filhos” presenteando os leitores com o final de seus arcos de uma forma bem divertida. Na primeira, Bendis põe fim ao imbróglio criado ao redor do mundo místico da Marvel, e após um confronto bizarro entre o Doutor Estranho e Daniel Drumm, irmão de Jericho Drumm, o Irmão Vodú, que o obriga a encarar AO MESMO TEMPO todos os Vingadores (nota para os desenhos FODÁSTICOS do brazuca Mike Deodato), Bendis restabelece o papel de Mago Supremo a Stephen Strange, título que estava passando de mão em mão desde que Strange havia abdicado dele.

Daniel Drumm

Na segunda história, Bendis marca um ponto final na saga em que os Vingadores se miniaturizam com as partículas Pym para atender um chamado no Microverso (ou universo interno), trazendo de volta a intrépida Janet Van Dyne, a Vespa, que havia sido dada como morta durante a Invasão Skrull


A Vespa está de volta

Além de trazer de volta uma das mais queridas personagens que já encabeçaram as fileiras concorridas dos Vingadores, a edição marca também a volta de Magnum (O Wonder Man! BWAHAHA-HAHA) à equipe, após seu surto neurótico em que ele culpava os amigos por todas as desgraças que haviam acometido a comunidade heroica nos últimos tempos (Dinastia M, Invasão Skrull, Reinado Sombrio, O Cerco, etc, etc.). Ao final da edição, com desenhos de todos os colaboradores principais que o ajudaram a fazer de Vingadores a minha revista de banca preferida, Bendis se despede do título e assina um texto emocionado contando o que foi para ele ter feito parte daquela grande história desde então. Detalhe para o que ele escreve sobre Mike Deodato:


“O artista que fez mais edições comigo ao longo dos anos, incluindo todas as edições do sucesso que foi a série Vingadores Sombrios? Mike Deodato Jr. um dos melhores colaboradores da indústria inteira.”


Confesso que fiquei orgulhoso por Mike Deodato Jr., e em uma troca de tweets rápida com o ilustrador, ele me falou que ficou lisonjeado pelas palavras de Bendis, o que diga-se de passagem, não foi nenhuma mentira. 



Os títulos desenhados por Deodato eram com segurança os melhores, e o cara só evoluiu em sua passagem pelo título. Nessa última edição o cara desenhou verdadeiras pinturas que eu adoraria ter na parede em formato de pôster.


Foi bacana acompanhar o trabalho quase que completo de Bendis à frente dos Vingadores (devem ter me faltado umas 4 ou 5 edições no máximo para completar minha coleção) em todos esses anos nessa indústria vital, e fica aquela pontada de saudade, embora saibamos que nos quadrinhos, assim como a morte, as despedidas não costumam ser definitivas. 

Quem sabe daqui a algum tempo o careca não volte a nos abrilhantar com seus textos cheios de humor e sacadas inteligentes nos Vingadores, ou quem sabe eu não o acompanhe agora em X-Men e passe a ser fã dos mutantes assim como já o sou dos Vingadores?


Hã... Pensando bem... Não. Onde é que vou guardar mais duzentas e tantas edições de HQs em meu quarto!


Adios, arrevederci, sayonará, goodbye, hasta la vista au revoir, Bendis. 

NAMASTE!

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