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21 de dezembro de 2020

A melhor série animada dos X-Men

A série animada dos X-Men (X-Men: The Animated Series) estreou no ano de 1992 nos Estados Unidos e foi concluída 5 temporadas depois em 1997. Transmitida pelo canal Fox Kids e tendo sido desenvolvida pela Saban — a mesma produtora que deu vida aos Power Ranges —, a animação foi um marco importante também no Brasil, uma vez que serviu como porta de entrada para muita gente que nunca tinha ouvido falar dos mutantes da Marvel, ou para aqueles que, como eu, tinham poucas referências nos quadrinhos.

Aqui onde a Terra é plana e onde quem toma vacina vira jacaré, o desenho foi transmitido pela Globo na TV Colosso por volta de 1994 e se tornou febre muito rapidamente entre a molecada. Eu já lia gibis há algum tempo quando X-Men estreou na TV, mas confesso que não tinha base quase nenhuma sobre os mutantes criados em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby. Dos personagens que protagonizavam o desenho, eu já tinha visto o Ciclope e o Wolverine*, mas muito por alto numa das capas das primeiras Guerras Secretas, e o restante eu desconhecia completamente. 



Me lembro que na época, eu só tinha uma revista dos X-Men em casa, que meu irmão tinha trazido num dia qualquer — eu comecei a colecionar quadrinhos por causa dele! —, e mesmo assim, ela não era uma das minhas preferidas, já que mostrava o final de um arco que eu não entendia nada e apresentava personagens das quais eu tinha pouco interesse. A edição em questão era a de nº 24 da Editora Abril mostrando o julgamento do Magneto, mas eu ignorava completamente tudo que estava acontecendo ali dentro. Eu era muito fã do Homem Aranha e além disso, eu lia bastante coisa do Capitão América, do Hulk ou do Superman pela DC.



Por causa do desenho, de repente, todo mundo virou fã dos X-Men, até mesmo quem nunca tinha lido um gibi de super-herói na vida! A molecada ficava repetindo os bordões dos personagens na escola e todo mundo pirava com o jeito "violentão" do Wolverine, o que ajudou a popularizar o personagem por aqui também. Como ninguém conhecia porra nenhuma dos mutantes, tudo que mostravam no desenho se tornava automaticamente verdade e eu passei muito tempo achando que o Morfo era mesmo um personagem regular do grupo ou que o Dia de Um Futuro Esquecido tinha a participação do Bishop!



Eu não sei se foi por influência de alguém que comentou nas aulas ou se eu acabei assistindo por conta própria numa manhã qualquer, mas me lembro bem que a primeira vez que percebi que estava assistindo alguma coisa relativa a personagens de quadrinhos — lembrando que eu não conhecia muita coisa de X-Men — foi ao bater o olho na máscara do Wolverine dentro de uma maleta enquanto o episódio 6 da primeira temporada rolava ("Vingança Gelada"). Eu não tinha visto a abertura do desenho e peguei o trem literalmente andando, mas a partir dali, bateu um sinal em minha cabeça de que aquilo era muito bom e eu comecei a acompanhar a série.



É bom lembrar que nos anos 90 qualquer coisa baseada em quadrinhos em outras mídias era algo muito raro de acontecer, o que ajudou a consolidar o sucesso dos X-Men entre os brasileiros. Até então, a gente vivia das reprises que passavam na Sessão da Tarde de Batman (de 1989), o terrível Superman IV - Em Busca da Paz e de outros dois ou três filmes da DC. Da Marvel a gente tinha a série antiga do Hulk — aquela do Lou Ferrigno — e os filmes medonhos do Capitão América que passavam no SBT, mas desenho que rivalizasse com a animação do Batman não havia. 

Como a atualização dos episódios demorava para acontecer, a primeira e a segunda temporada de X-Men foram incansavelmente reprisadas nas manhãs da TV Colosso, a ponto de eu ter as falas do Wolverine praticamente decoradas na memória. Eu lembro que eu tinha aula de Educação Física duas vezes na semana na escola de manhã e nesses dois dias eu tinha que correr para casa para não perder os episódios. 

Outra curiosidade de que me lembro acerca do desenho, é que certa vez a minha mãe falou que era para eu parar de assistir porque "era violento demais". Ela tinha escutado alguns diálogos enquanto varria o quintal e não tinha curtido muito. Não sei bem o que ela ouviu que não gostou, mas o episódio era "A Bela e a Fera" (o episódio 10 da 2ª temporada, "Beauty & Beast"), onde o Wolverine entrava disfarçado no covil dos Amigos da Humanidade e confrontava Graydon Creed, o filho de Victor Creed, o Dentes-de-Sabre.    



Esse episódio era um dos que eu menos gostava na época — talvez porque não tinha tanta ação —, mas reassistindo, percebi que ele é um dos melhores na abordagem de temas como preconceito racial, intolerância ao que é diferente e aceitação. Nele, uma garota cega chamada Carly busca um tratamento experimental criado pelo doutor Hank McCoy para voltar a enxergar, e os dois acabam se apaixonando, mesmo sem ela nunca ter visto a real aparência de Hank, em sua versão azul peluda. Enquanto os Amigos da Humanidade — que é um tipo de grupo radical como os supremacistas brancos, só que contra os mutantes em vez de negros e judeus — tocam o terror buscando mais aliados para sua causa racista, os caras colocam em risco a vida da própria Carly, que precisa ser defendida por Wolverine e o Fera. 



Ainda no mesmo episódio, o pai de Carly é um véio reaça preconceituoso radical que não aceita que sua filha seja tratada por um "anormal mutante" e Hank acaba entrando em conflito consigo mesmo por ter a aparência de um gigante peludo que assusta as pessoas ditas "comuns". Eu não entendia na época que um simples desenho animado podia falar de questões tão importantes de maneira metafórica, mas vendo com os olhos de hoje, é possível traçar diversos paralelos com a realidade que enfrentamos atualmente, em que os mesmos caras que assistiam esse desenho na TV durante a infância e que se diziam fãs dos X-men, criam canais de Youtube ou contas em redes sociais para destilar seu ódio a tudo que é "diferente" ou "foge dos padrões sociais mais aceitos". A galera não aprendeu nada.    

Depois de reprisar muito os episódios — algo que era comum na época quando algum desenho ou série live-action fazia sucesso — eu lembro que assisti muito pouco da terceira temporada na TV Colosso e confesso que nem faço ideia se a quarta e a quinta chegaram a ser transmitidas no programa infantil. O sucesso de X-Men logo começou a dividir espaço com a chegada dos Power Rangers na grade de programação nessa mesma época — ambos sendo televisionados próximo ao horário do almoço — e só muito tempo depois é que a série animada do Homem Aranha chegou para suprir a falta que fazia os mutantes quando o desenho acabou.



Não tem como dizer que X-Men não foi um boom na vida das crianças e adolescentes da época e que serviu para fazer muita gente mergulhar de cabeça no mundo das drogas dos quadrinhos, que na época, estavam produzindo os quinhentos mil títulos dos mutantes e abarrotando os cofres da Marvel. Depois do desenho, eu comecei a correr atrás dos gibis dos X-Men publicados no Brasil pela Editora Abril e comecei a percorrer sebos da cidade para recuperar o tempo perdido. Logo vieram as edições com os roteiros de Chris Claremont e os desenhos do Jim Lee — que fizeram a febre X-Men aumentar em todo o mundo — e além da edição em formatinho e do formato americano lançado mensalmente, ainda tinham os especiais, naquelas versões mais "gordinhas" com 100 páginas. Era muito gibi pra pouco dinheiro, mas a gente tentava colecionar tudo e ler o que os amigos emprestavam. 

Adaptações levadas a sério

Um dos principais atrativos da série animada dos X-Men era a preocupação dos roteiristas em adaptar as várias sagas que os Filhos do Átomo tinham nos gibis para a TV, e até hoje, muitas das melhores transposições de mídias já feitas dos mutantes da Marvel constam nos episódios das cinco temporadas do desenho.



Como eu disse antes, meus conhecimentos de X-Men eram parcos naquele período e muitas das grandes e mais famosas sagas dos mutantes eu vi primeiro no desenho para só muito mais tarde poder ler nos gibis. Eu nunca tinha visto "A Saga da Fênix" escrita por Chris Claremont e desenhada por Dave Cockrum e John Byrne, e os episódios de 3 a 7 da terceira temporada resumem de maneira muito competente o que acontece nos gibis, com uma ou outra alteração para deixar tudo mais "clean" para as crianças entenderem. 



As participações especiais de personagens do mundo dos X-Men também eram muito comuns no desenho e caras como Cable, Bishop, Maverick, Sauron e Sr. Sinistro eu vi pela primeira vez na TV.



Outra coisa bacana que acontecia no desenho e que fazia o meu lado nerd vibrar eram as simples menções ou aparições-relâmpagos de personagens mais conhecidos dos quadrinhos como o Homem Aranha, o Doutor Estranho e o Thor. Nesse quesito, a Saga da Fênix e a Fênix Negra é um desbunde, já que mostra quase todos eles de relance enquanto Jean Grey dominada pelo espírito Ragatanga pela Fênix começa a usar seus poderes. 



Cara! Não havia replay, não tinha como congelar a imagem para ver com mais detalhes depois como os serviços de streaming permitem atualmente e eu lembro que eu só dava aquele salto no sofá enquanto a voz na minha mente gritava "OLHA LÁ O HOMEM ARANHA, CARA!" por um frame que não durava nem dois segundos.



Eu tinha uma lembrança muito vaga de ter visto o desenho do "Homem Aranha e seus Incríveis Amigos" na TV preto e branco de casa, por isso, ver o meu personagem favorito, mesmo que por um microssegundo na tela, era algo que me empolgava bastante!

Algo muito semelhante acontece no episódio "Mojovisão" (o 11º da segunda temporada) em que durante a introdução do Longshot aparece a Psylocke num frame de milésimos de segundo sei lá porque! A ninja da adaga psíquica era figura importantíssima nas HQs na época e não tê-la regularmente no desenho era algo que muita gente questionava. Além desse frame de segundos, ela volta a aparecer só na quarta temporada, num dos episódios da saga "Acima do Bem e do Mal", e mesmo assim é sem qualquer destaque, apenas como mais uma participação especial. 



Quem prestou a atenção também deve ter visto o Deadpool de relance em uma das transformações do Morfo na segunda temporada (episódio 3, "O que for preciso") ou como uma memória residual do Wolverine, que estava sendo atacado psiquicamente pelo "Lado Sombrio" do Professor Xavier na terceira temporada (episódio 4, "A Saga da Fênix - Parte 2")



A fidelidade aos quadrinhos, as participações especiais e o ritmo intenso dos episódios, que apesar de não mostrar tanta violência quanto gostaríamos, fizeram de X-Men: The Animated Series um dos produtos mais felizes dos mutantes em outra mídia, e lembro com saudades dessa época. 



Até hoje o episódio "Uma História da Vampira" ("A Rogue's Tale", o 9º da segunda temporada) é o meu preferido de todos das cinco temporadas, em grande parte porque adaptava uma das minhas histórias preferidas entre X-Men e Vingadores — publicada nos EUA em Avengers Annual #10 escrita por Chris Claremont e desenhada por Michael Golden, mostrando a origem da Vampira — e por causa da aparição da Miss Marvel — que na dublagem chega a ser chamada de "Dona" Marvel —, que eu conhecia das histórias dos Vingadores. Sempre que reprisava, eu dava um jeito de ver e é bom até hoje.  

Problemas na animação

Como qualquer produto de época, é bom lembrar que a qualidade técnica de X-Men: The Animated Series dos anos 90 não deve ser questionada atualmente como se o desenho tivesse que ser perfeito em comparação aos padrões absurdos disponíveis hoje em dia. X-Men Evolution e Wolverine e os X-men, por exemplo, são muito superiores tecnicamente ao clássico desenho noventista, o que nem de longe desmerece o sucesso que a animação fez, trazendo aos espectadores tudo que foi comentado no tópico acima. 



O próprio Evolution tem sim seu charme, apesar de ignorar quase que completamente tudo que acontecia nos quadrinhos — criando um universo próprio para o desenho — e um pouco da fidelidade aos gibis tentou ser reproduzida em Wolverine e os X-Men, embora de maneira mais desastrada por tentar pegar o hype criado pelos filmes da Fox e colocar o Logan como o líder dos mutantes.

X-Men: The Animated Series apresentava problemas de colorização, animação e até de continuísmo que não eram percebidos facilmente pelo olhar de uma criança, mas que atualmente, com mais experiência, chegam a gritar aos olhos. Eu revi boa parte dos episódios antes de escrever esse post e coisas bobas como jaquetas e luvas que somem de uma cena para outra chegam a ser um exercício muito bom de observação. Cansei de contar quantas vezes as "costeletas" da máscara do Wolverine apareciam amarelas em vez de pretas, ou quantas vezes as luvas do Ciclope eram colorizadas com o tom de sua pele, mesmo quando ele estava com o uniforme completo. 

Outra coisa que saltava aos ouvidos, eram as traduções dos nomes de alguns personagens na versão dublada pelo — finado — estúdio Herbert Richards, que ora seguia a tradução literal e outras preferia manter como o original, em inglês. Ao longo das três primeiras temporadas vi o Justiceiro (Punisher) ser chamado de "o Assassino" — o personagem é mostrado na caixa de um jogo de videogame na primeira temporada —, o Mercúrio (Quicksilver) ser chamado de "Raio de Prata" e ao mesmo tempo — e no mesmo episódio — o Havok (que no Brasil é conhecido como Destrutor) e a Wolfsbane (a Lupina) do X-Factor não terem seus nomes traduzidos como nos quadrinhos, sendo chamados por seus títulos em inglês . 



Era muito comum também, às vezes, o adamantium ser chamado de "diamantino" ou "adamantino" na dublagem e dava a impressão que os dubladores não conversavam entre si ou com seu diretor de dublagem para definir como diabos se pronunciava certos nomes. Até o Ciclope eu ouvi ser chamado de "Cyclops", como a versão em inglês e essas nuances aconteciam muitas vezes durante o mesmo episódio, o que, é claro, não diminuía em nada a qualidade dos capítulos. 

Dublagem

Outra característica muito marcante da animação dos X-Men dos anos 90 foi sua dublagem, que sem querer, acabou imortalizando certas vozes a seus respectivos personagens. Todos os grandes dubladores brasileiros que escreveram sua história nos anos 80 — e até antes disso! — fizeram parte do elenco do desenho, e alguns foram tão icônicos, que posteriormente acabaram repetindo seus papeis nos filmes dos mutantes, a partir dos anos 2000. 



Como na época não tínhamos acesso à versão original dos episódios, a dublagem era nosso principal meio de ligação com os personagens e a mudança de algumas vozes de uma temporada para outra, às vezes, causava certo desconforto. Da primeira temporada para a segunda, por exemplo, as vozes do Ciclope e da Vampira foram alteradas e enquanto o dublador Dário de Castro assumia a voz do líder da equipe no lugar de Nilton Valério — ator falecido em 2007 que dublou o personagem na primeira temporada —, tivemos a Fernanda Baronne Fernandes substituindo a Taciana Fonseca como a Vampira. Fonseca, inclusive, se aposentou da dublagem pouco depois do sucesso dos X-Men e não a ouvimos mais por aí desde então.



Fernanda Baronne acabou conquistando seu lugar como a Vampira e hoje em dia a sua voz é a que mais ocupa o imaginário popular, já que ela também dublou a atriz Anna Paquin nos filmes dos X-Men e voltou à personagem na dublagem de X-Men Evolution. Parte da minha paixão pela personagem naquela época se dava por conta da voz rouca  e sensual da Fernanda, e eu comentei um pouco disso num post sobre meus dubladores favoritos



Feras da dublagem obrigatoriamente também fizeram participações no desenho dos X-Men e uma delas foi o mestre Orlando Drummond, que deu voz — entre outros personagens como o Black Tom Cassidy — ao Dentes-de-Sabre / Victor Creed. Além de apresentar o desenho como narrador — chamando o grupo de "xismen" até boa parte da terceira temporada, jeito aliás, que todo mundo no Brasil se referia aos heróis antes do desenho! — o icônico Márcio Seixas — antes do dossiê polêmico! — também deu voz aos personagens Anfíbio da Terra Selvagem e ao Eric, o Vermelho (ou Escarlate) da Guarda Imperial Shi'ar.       



O José Santa Cruz foi o Magneto tanto nas primeiras temporadas da animação quanto por trás do ator Ian McKellen nos filmes dos X-Men, e o saudoso Darcy Pedrosa — falecido em 1999 e que no Brasil ficou muito conhecido por dublar tanto o Coringa de Jack Nicholson no filme dos anos 80 quanto o da animação do Batman — foi a primeira voz do Gladiador da Guarda Imperial Shi'ar, quando ele chega à Terra para confrontar os X-Men e acaba jogando o Fanático** longe com uma facilidade impressionante no início da Saga da Fênix.



Três vozes além de Fernanda Baronne e José Santa Cruz foram mantidas nos filmes dos X-Men, para alegria dos fãs da animação. Isaac Schneider foi a voz do Professor Xavier em ambas as produções, Sylvia Salustti dublou tanto a Jean Grey do desenho quanto a atriz Famke Janssen no live-action e o icônico Isaac Bardavid foi a voz mais marcante do Wolverine nas animações, tendo a oportunidade de dublar também Hugh Jackman em todas as suas aparições como Logan nos filmes da Fox



Na terceira temporada, a partir do episódio 11, Bardavid é substituído pelo igualmente fantástico Francisco José, que por aqui, também foi a voz do Panthro de Thundercats — a primeira série animada — e do Lex Luthor em Liga da Justiça Sem Limites



O Gambit ficou bastante marcado pela voz de Eduardo Dascar, que de vez em quando tinha que arriscar alguns termos em francês ditos pelo personagem, e a jovem Jubileu tinha a mesma voz da Arlequina da animação do Batman, com a dubladora Iara Riça desempenhando um trabalho excelente com a caçula da equipe. Riça ainda voltou ao universo dos X-Men em X-Men Evolution, só que desta vez ela dava a voz da Jean Grey adolescente. 



Completando o time do elenco principal, Leonel Abrantes — ator que faleceu em fevereiro de 2020 — deu voz ao Fera / Hank McCoy até o episódio 10 da terceira temporada — e também ao ator Kelsey Grammer em X-Men - The Last Stand —, quando foi substituído por Jorge Vasconcellos a partir de então. A Tempestade / Ororo foi dublada — até onde eu me lembro — pela mesma dubladora até o fim da série, a incrível Jane Kelly, que também voltou à personagem na trilogia dos X-Men dos cinemas, dando voz a atriz Halle Berry. Kelly nos deixou em 2011 aos 62 anos. 



Essa fidelidade de vozes transportadas dos desenhos para o cinema foi um ponto muito importante na dublagem brasileira quando os primeiros filmes da Marvel começaram a surgir, e os fãs tiveram a chance de ser agraciados por algo que, assim como o próprio desenho, fez parte da nossa infância. As vozes dos dubladores da animação estavam em nossa mente há muito tempo e até mesmo quando a Fox começou a ferrar com tudo na telona, ainda assim valia a pena ver os filmes por conta deles. 

Além de matar as saudades dessa animação que foi a base de muita gente para o universo dos X-Men nos anos 90, esse post também é uma homenagem aos grandes dubladores que fizeram parte desse sucesso. É bem certo que sem eles, o desenho jamais teria tido o mesmo encanto que teve e se mantido em nossas memórias por tanto tempo.

A primeira temporada da série animada está no catálogo do serviço de streaming Disney + e para quem nunca viu, vale a pena a conferida. Apesar dos defeitos, X-Men mantém uma aura muito boa de uma época em que os mutantes da Marvel eram os personagens mais importantes dos quadrinhos.

P.S. -  *Vale lembrar que na edição nacional de Guerras Secretas lançada no Brasil pela Editora Abril, alguns personagens foram limados tanto da capa quanto de seu conteúdo por, na época, ainda não terem sido apresentados nas histórias mensais, o que causaria confusão nos leitores. A Vampira foi uma dessas personagens que foram tiradas da capa, e por isso, eu não a conhecia nem de vista quando o desenho dos X-Men foi lançado. Na capa, ainda aparecem a Tempestade — com seu visual moicano, portanto irreconhecível para mim — e o Noturno, que não é um personagem regular do desenho, só aparecendo pela primeira vez na terceira temporada. 

A capa brasileira de Guerras Secretas eliminou alguns personagens mutantes como a Vampira, o Noturno e a Tempestade


P.S. 2 - **Nunca houve um consenso quanto aos nomes originais dos personagens em inglês e suas traduções para o português no Brasil, o que tornou confuso o entendimento de alguns diálogos ao longo dos mais de 70 episódios da série dos X-Men. Muitos dos nomes nacionais dos personagens Marvel e DC nos quadrinhos surgiram nas redações das editoras Ebal e Abril nas republicações brasileiras, portanto, o estúdio Herbert Richers não parecia ter a obrigação de seguir o que era usado nos gibis em português. Mesmo assim, às vezes, os nomes coincidiam, como foi o caso do Juggernaut, que na dublagem da primeira temporada foi chamado de "Fanático" como era nos gibis da Abril. A partir da segunda temporada, seu nome em inglês volta a ser usado e é difícil saber o que realmente determinava algumas alterações, enquanto outras eram ignoradas. 

Que bom que pelo menos ele não foi chamado de "O Jaganata", não é mesmo?

Jaganata, forma como o nome do personagem Juggernaut foi traduzido pela editora Bloch no Brasil

P.S. 3 - E fã que era fã de verdade tinha que ter o álbum de figurinhas do desenho! O meu está incompleto até hoje, mas gastei uns bons trocados colecionando figurinhas da primeira temporada! 


 
NAMASTE!

23 de novembro de 2020

Os Novos Mutantes - O Review

Embora parecesse fadado ao esquecimento após tantos adiamentos, Os Novos Mutantes acabou sendo lançado em meio à pandemia de Covid-19 e não recebeu nem de perto a mesma atenção que os demais filmes dos X-Men sempre tiveram nos cinemas. Com mais de 50% das salas de exibição ainda fechadas nos Estados Unidos por conta da pandemia, não parecia mesmo ser o destino da produção dirigida por Josh Boone ganhar a luz dos holofotes, e assim, sua divulgação acabou sendo bastante pífia, bem como a recepção que o filme teve. 

No Brasil, país com uma média de mortes por Coronavírus ainda elevada, a estreia de Os Novos Mutantes rendeu R$ 1 milhão em seu fim de semana de estreia e foi o filme mais visto nos cinemas do período. Globalmente, o filme já arrecadou cerca de US$ 30 milhões, valor bem abaixo de seu orçamento (US$ 80 milhões), mas algo a se pensar, já que embora estejamos enfrentando uma das piores pandemias mundiais, ainda tem gente saindo de casa para ir ao cinema. 


Em janeiro, eu me propus a falar um pouco sobre a expectativa para o lançamento da produção, que à época, iria estrear em abril — e teria acontecido, se não fosse a pandemia —, e no texto eu falei um pouco sobre as polêmicas envolvendo o filme e o que se esperava dele. Agora, após ter assistido, vou colocar aqui alguns pontos que considero positivos e negativos. Sigam-me os bons!


PONTOS POSITIVOS

O diretor Josh Boone (de A Culpa é das Estrelas) não pode ser culpabilizado por todos os perrengues que a produção de Os Novos Mutantes enfrentou para poder ser lançada — dentre os quais refilmagens e a compra da FOX pela Disney no meio do caminho —, por isso, ele fez até que um trabalho bem competente dentro daquilo que ele tinha de material para usar. O filme conta com um elenco jovem bastante promissor — destaque para Anya Taylor-Joy, protagonista de O Gâmbito da Rainha, série de sucesso na Netflix — e a direção de cenas não compromete o desenrolar da trama, que é até bem simples. 


Josh Boone trampando
Josh Boone dirigindo Anya Taylor-Joy e Charlie Heaton

O filme não tem grandes reviravoltas de roteiro ou cenas muito impactantes de ação, mas quando bota os personagens para se mexerem, mostra que dá para fazer bem mais do que a mesmice de cenas repetidas à exaustão na franquia X-Men de Simon Kinberg (e eu falei um pouco disse no post sobre X-Men - A Fênix Negra). 


Dando aquela espiadinha

O clima de terror imposto aos protagonistas pela vigilância incessante da Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga) em sua sala de controle do hospital — que faria o Boninho do BBB ficar com inveja — e também por aparições inexplicáveis que começam a aterrorizar os adolescentes após a chegada de Dani Moonstar (Blu Hunt) ao local, cria ótimas sequências de susto e perseguição, o que diferencia o filme dos demais X-Men em sua essência. 

Dra. Reyes na sala de vigilância do BBB
A sala de vigilância de Boninho Reyes

Embora os demais personagens não saibam à princípio quando ela se junta ao grupo após um acidente que matou toda sua família, a jovem descendente da tribo Cheyenne possui o dom de trazer à realidade o maior medo das pessoas e isso causa um surto de visões e tortura psíquica à Illyanna (a já citada Anya Taylor-Joy), Rahne Sinclair (Maisie Williams), Roberto da Costa (Henry Zaga) e Sam (Charlie Heaton). 

Illyanna e Soraia Queimada
Illyanna assombrada pelos Homens Sorridentes e Soraia Queimada, a namorada de Beto

Todos estão ali internados por terem causado incidentes mortais à pessoas próximas deles com seus recém-descobertos poderes mutantes e a Dra. Reyes os está tratando para num futuro próximo indicá-los para aquele que ela chama de "meu Superior". 

Momento da ioga

As sequências de terror em que cada um dos cinco é atormentado por seu pior pesadelo são as mais bem elaboradas do filme todo, e embora o trauma dos jovens infratores não tenha chance de ser retratado com um aprofundamento mais digno — afinal, todos eles mataram pessoas com seus poderes! — Josh Boone consegue conduzir bem os momentos de tensão, tirando boas interpretações do elenco. 

Illyanna e os dedinhos
A pequena Illyanna e seu Lockheed

O destaque fica para as criaturas sem olhos — ou Homens Sorridentes — que tentaram raptar Illyanna quando ela ainda era criança e que a fez "inventar" o limbo para onde ela escapou com seu bichinho Lockheed

Homem Sorridente

A cena de ação em que os mutantes precisam enfrentar o Urso Místico trazido à vida pelo medo primal de Dani também é bastante empolgante, até porque põe os jovens mutantes para usarem seus poderes em grau máximo, mesmo que os efeitos visuais para demonstrá-los não sejam lá tão bons assim. 

Urso Místico

Os dons de Illyanna e Beto são aqueles que melhor são retratados no filme e se mostram bastante fieis aos quadrinhos. Nas histórias, ela é capaz de se teleportar — passando sempre pelo limbo que é infestado de criaturas demoníacas enquanto vai de um ponto a outro — além de materializar uma espada espiritual. 

Já o personagem brasileiro Mancha Solar é capaz de absorver energia solar e obter superforça. No filme, Beto segue as características com que o Mancha Solar é mais conhecido atualmente, o de incendiar o próprio corpo e queimar alvos, mas em sua criação, nos anos 80, o mutante se energizava mais para ganhar força bruta. 

Beto Mancha Solar éééé do Brasil!
Beto em sua forma de Mancha Solar, mais próxima das HQs

Essa forma física toda preta com que ele era retratado nessa época chega a aparecer no filme, tornando o seu visual bastante parecido às HQs. 

PONTOS NEGATIVOS

Como foi dito, a personalidade dos cinco mutantes é apenas pincelada razoavelmente nas duas horas de filme e não dá tempo de nos afeiçoarmos a eles enquanto entramos de cabeça na história já bem movimentada desde o início. Sabemos que Illyanna matou vários homens que a tentavam capturar, que Sam acabou provocando um desabamento numa mina que matou seu próprio pai, que Beto "assou" a namorada sem querer quando manifestou seus poderes e que Rahne matou o padre que a espancava por considerá-la uma bruxa, mas esses traumas são citados apenas superficialmente, sem o aprofundamento que nos faria nos importar mais com eles. Há poucos flashbacks para mostrar o que houve em seu passado e na maior parte do tempo, só sabemos o que eles contam uns para os outros.

Sam Guthrie (Charlie Heaton)

A personalidade dos Novos Mutantes também não está muito bem delineada no filme e além de diferirem do que eles são nos gibis, nem no filme parece muito claro qual é a de cada um deles. A Rahne, que nos quadrinhos é extremamente tímida e medrosa, no filme apresenta uma postura mais conciliadora e embora seja um tanto insegura quanto à sua sexualidade, não tem medo de demonstrar seus sentimentos para Dani. As duas têm um relacionamento amoroso no filme, mas nas HQs, Rahne era apaixonadinha pelo Sam e vivia em conflito por não se achar atraente o suficiente como a namorada dele na época, a cantora de rock Lila Cheney

Rahne e Dani o casal

Maisie Williams, aliás, era fisicamente muito parecida com a Rahne das HQs na época das gravações do filme e teria sido interessante vê-la toda complexada com sua aparência física de uma menina que se transforma num lobo peludo, sempre se achando em desvantagem quanto às demais garotas da equipe. 

Lupina loba toda e meio-loba
Rahne em sua forma Lupina total e meia-loba

Na origem escrita por Chris Claremont, Rahne é a mais nova do grupo e seu complexo com sua aparência causa diversos conflitos de identidade que seriam interessantes de serem citados no filme. Em vez disso, optaram por uma abordagem mais de tortura religiosa à jovem Sinclair, bem como sua repressão sexual.  

Rahne nos quadrinhos
A Rahne dos quadrinhos

A homossexualidade de Rahne no filme é bem escancarada logo de início — já a botam para assistir um filme em que duas meninas se beijam logo de cara — e é nítido que a garota se encanta pela Dani assim que a garota Cheyenne chega ao "orfanato". 

Um filme que trata — ou que pelo menos deveria tratar — de aceitação e normatização do que é diferente, precisa mesmo de elementos que nos lembrem que, embora os mutantes não existam de verdade, há paralelos em nosso mundo real a essa aceitação do outro, colocando assim essa nova característica na personagem Lupina que não existe nas HQs. Eu só não sei dizer se isso foi bem feito. A mim me parece mais algo que foi forçado no roteiro e que não faz muito diferença à história. 

Voltando a falar de poderes, os que menos chamam a atenção são os do Sam Guthrie, que nos gibis é capaz de decolar feito um míssil ficando invulnerável enquanto está se projetando, mas que no filme não chega a ser tão bem representado pelos efeitos fracos usados para nos mostrar o que ele é capaz de fazer. 

Na luta contra o urso gigante, por exemplo, era esperado que ele usasse todo seu potencial "balístico" para tentar nocautear a fera, mas ele é o que menos causa danos no bicho. O fato dele também viver todo arrebentado no filme, mostra que ele não sabe pousar após decolar — assim como nos gibis —, mas em seu modo Míssil ele devia ser indestrutível, o que o tornaria um grande trunfo da equipe. Nos gibis, Sam chegava a nocautear os robôs Sentinelas sozinho, uma pena que não teremos chance de ver isso nas telas. 

Míssil indo pra cima dos Sentinelas

Quem prestou bem a atenção na história, deve ter percebido que a Dra. Reyes era a vilã do filme e que ela respondia a uma tal "Corporação Essex" que fazia testes com crianças mutantes num lugar ainda pior que o hospital onde os Novos Mutantes estavam. Pra quem não lembra, a Corporação Essex apareceu em X-Men - Apocalypse ao final do filme — recolhendo dados genéticos do Wolverine após sua fuga da Arma X — e ela também é citada em Deadpool 2. Outra referência à Essex nos é mostrada no futuro do filme Logan, onde o hospital onde os amigos da X-23 — e ela mesma — tem seus poderes desenvolvidos e são testados para se tornar armas vivas. Pelo que dá para entender, aliás, Laura foi criada com o material genético do Wolverine que foi colhido em Apocalypse e em Logan, o Professor Xavier (Patrick Stewart) conta ao Carcaju que Laura é sua filha por conta dessa ligação genética. 

A Dra. Reyes e o símbolo da Essex

A conexão entre Essex — que nas HQs é o nome do Sr. Sinistro, um vilão obcecado pela genética mutante —, Os Novos Mutantes e os demais filmes dos X-Men se perde completamente na história, já que, como sabemos, os jovens filhos do átomo não terão continuidade nos cinemas e nem tampouco serão reaproveitados pela Marvel, agora que fazem parte do catálogo do estúdio e da Disney. A referência a Essex no filme se torna apenas mais uma, vazia e sem sentido, assim como a cadeira de rodas em que Beto passeia pelo hospital — fazendo referência ao Professor X — e a menção aos próprios X-Men pelos alunos.       

Dentro de uma análise mais fria e mesmo levando em consideração os pontos negativos aqui levantados, Os Novos Mutantes não chega a ser um péssimo filme e pode ser equiparado muito bem aos dois últimos X-Men — desconsiderando Logan nessa equação, que é um ótimo filme — que são de medianos para ruins. As cenas de ação dirigidas por Boone são bem mais inspiradas do que as que Bryan Singer e Simon Kinberg dirigiram em Apocalypse e em Fênix Negra respectivamente, e a interação entre os jovens personagens de New Mutants também é bem mais interessante do que acontece nos filmes de Singer e Kinberg. 

Durante as duas horas de filme, é perceptível que aquele enredo tem um potencial incrível e que a história individual de cada um dos protagonistas daria sozinha um episódio muito bom numa série talvez. O próprio filme com seu final em aberto, no entanto, nos faz desanimar quanto a isso, querendo que tudo acabe por ali mesmo e que ninguém mais fale sobre esse assunto. Como mencionado, uma série de pegada mais teen focada nos heróis adolescentes seria uma forma de aproveitar esse potencial que parece desperdiçado pela produção picotada da FOX, mas após tantos entreveros, duvido muito que algo assim aconteça.  

NOTA: 10, adorei!

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É zoeira, porra! Adorei coisa nenhuma! É uma notinha 6 e olhe lá! 

P.S. - Os Novos Mutantes tiveram fases muito boas nas HQs e o clima adolescente e a interação entre seus protagonistas sempre foi o charme das histórias. Uma das minhas personagens preferidas entre os cinco principais sempre foi a Illyanna e aqueles seus poderes místicos fodões. 

Confesso que meus olhos brilharam em vê-la materializando sua espada espiritual no filme, assim como ela se teleportando e fatiando os "homens sorridentes". Quando pensei que o Lockheed seria tratado apenas como um bichinho de pelúcia que a garota usava quando estava com medo de seus raptores, meio que fiquei broxado, mas ver o dragãozinho voando e cuspindo fogo num CGI até bem decente chegou a quase ressuscitar dentro de mim o jovem Rodman que lia os gibis dos Novos Mutantes na adolescência. 

Uma pena que não foi possível retratar o limbo para onde Illy se teleporta com grandes detalhes. Seria bacana ver o Sym ou o Belasco de fundo, nem que só de passagem.  

NAMASTE! 

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