7 de março de 2017

EU VI: LOGAN

Esse post possui SPOILERS!!


Se esse fosse meu último post aqui para o Blog do Rodman, o conteúdo desse texto faria TODO O SENTIDO já que estou me propondo a escrever sobre uma história de redenção que começou lá no agora longínquo ano de 2009. Assim como muitos de vocês (devo imaginar), eu fui um dos fãs de X-Men que se decepcionou imensamente com o primeiro filme solo do Wolverine. Por razões que já escrevi num dos primeiros posts aqui do Blog (e por isso eu falo que faria todo o sentido que esse fosse o ÚLTIMO texto do site) e que não vou repetir, X-Men Origens: Wolverine é um filme terrível, e é impossível assisti-lo sem sentir um ódio retumbante ou pelo menos um que de vergonha alheia. Já no texto sobre The Wolverine, o segundo filme solo do carcaju canadense, eu já havia mencionado que um possível “Wolverine 3” seria o último de Hugh Jackman interpretando o herói, e de forma bem prepotente eu vou me auto-referenciar:

“Quem sabe eles não acertem no terceiro filme (se houver um), o que promete ser o último de Hugh Jackman na pele do Wolverine, agora que o ator já anuncia sua provável aposentadoria do herói.”

Eu assisti Logan e posso afirmar com toda certeza que sim... Eles acertaram!


Muito do sucesso de Logan se deve ao raro carisma do ator australiano Hugh Jackman, o cara que personificou o Wolverine nos cinemas desde que a gente se conhece por gente. Porra! Faz as contas aí, meu chapa! O primeiro filme dos X-Men estreou em Julho de 2000, naquela época a gente ainda comprava quadrinhos em formatinho pela Editora Abril e muitos de nós ainda frequentávamos a escola. Eu cheguei a escrever um roteiro para o primeiro filme, antes dele ser lançado, para um concurso da Editora Abril. Esse roteiro jamais foi enviado e o filme estreou com um sucesso estrondoso, dando início a nova era dos filmes de super-heróis no cinema, que continuou com Homem Aranha e toda a bagaceira que veio depois.


Hugh Jackman viveu o mesmo personagem por 8 FILMES antes de Logan, protagonizou cenas icônicas como a invasão de William Stryker a Mansão X em X-Men 2, a morte da Fênix em X-Men 3 e até mesmo a homenagem a HQ Arma X em X-Men: Apocalypse, mas os erros da Fox, estúdio que mantem os direitos sobre toda a franquia X no cinema, acabaram fazendo com que a importância do ator frente ao personagem fosse minimizada, por melhores que fossem suas intenções. Em 17 anos, todos que acompanharam suas entrevistas puderam perceber o amor que o ator tinha pelo personagem, e como ele se esforçava para interpretá-lo da maneira mais fiel possível, de forma que agradasse a gregos e troianos. Graças a intromissões executivas e um mal gosto ABSURDO, Jackman acabou sendo submetido a roteiros que beiravam o ridículo (eu escreveria um script infinitamente melhor que X-Men Origens!!) e por muito tempo nós mesmos duvidamos que AINDA poderia sair algo de bom referente a Wolverine nos cinemas.


É difícil acreditar que o mesmo James Mangold que dirigiu The Wolverine estava à frente de Logan, mas seja por um rompante criativo próprio ou pela força do roteiro colaborativo escrito com Michael Green (que pasmem! É um dos roteiristas de Lanterna Verde!!) e Scott Frank (que também escreveu The Wolverine), o filme, que de início foi alardeado como uma adaptação de Old Man Logan, HQ escrita por Mark Millar, tem uma história MUITO BOA, que não só faz uma homenagem ao que deu certo na franquia X dos cinemas, como também a fonte de inspiração dos filmes, no caso as HQs, que são citadas o tempo todo na história.


O filme se passa no longínquo ano de 2029 e nos mostra um Logan mais velho e debilitado que procura viver tranquilamente como um simples motorista de limousine, enquanto é assombrado pelo seu passado sanguinário. Gastando o que ganha com os fortes remédios que mantem os poderes psíquicos de seu antigo mentor Charles Xavier (Patrick Stewart) estáveis, depois de uma crise que ajudou a exterminar seus companheiros X-Men, Logan recebe a ajuda do mutante farejador Caliban (Stephen Merchant) para cuidar de Xavier, o mantendo oculto do mundo dentro de um local à prova de rajadas mentais.


A vida tranquila de Logan tem fim quando ele é interceptado por uma mulher mexicana de nome Gabriela (Elizabeth Rodriguez) que diz precisar da ajuda do Wolverine. Atendo-se a seu trabalho, ele procura esquecer aquele contato, mas um homem chamado Donald Pearce (Boyd Holbrook) o aborda falando sobre aquela mulher e sobre uma criança que ela tem sob sua guarda, o que deixa Logan intrigado. 


Para piorar a situação, o debilitado Xavier começa a falar sobre uma nova mutante que está para surgir (o que não acontece, segundo a história, há muitos anos) e que o velho Logan terá grande parte nisso.


Quando menos espera, Logan se vê totalmente envolvido entre Gabriela, Laura (Dafne Keen), a menina de 11 anos que parece ocultar um terrível segredo, e os homens de Donald Pearce. Quando a mulher é eliminada pelos auto-intitulados Carniceiros, Laura acaba fugindo para o esconderijo de Logan, onde ela conhece Xavier e Caliban. Quando Pearce encontra seu rastro, um combate é inevitável e a menina demonstra ser MUITO MAIS do que apenas uma criança calada e frágil.


Enquanto foge dos Carniceiros, através de gravações feitas por Gabriela, Logan descobre que Laura fez parte de um experimento que procurava criar mutantes em cativeiro para que eles fossem usados como armas militares. O cabeça dessa operação era o geneticista Zander Rice (Richard E. Grant) que mantinha várias crianças mutantes, além de Laura, sob os cuidados da mexicana, que num certo dia decidiu se rebelar libertando todas elas. As crianças acabaram se refugiando num local chamado “Eden”, fazendo total alusão a uma história em quadrinhos dos X-Men que Gabriela lia para Laura enquanto ela cuidava da menina como sua filha. Longe de seu refúgio e incapaz de voltar a sua velha vida agora que eles estavam sendo perseguidos pelos Carniceiros a mando de Rice, Logan só tinha um objetivo: Encontrar o Eden e manter Laura segura com os amigos.


Toda essa fase de Arma X, a criação do Deadpool, da X-23, o envolvimento do Sr. Sinistro (cuja ponta ao final de X-Men Apocalypse foi TOTALMENTE IGNORADA em Logan) aconteceu num período em que eu me afastei das HQs. A transição da Editora Abril para a Panini no Brasil encareceu fodidamente as HQs na época e eu só retornei quando todas essas sagas já haviam se concretizado. Quando voltei a ler X-Men (lá por volta de 2002, 2003...) a X-23 já estava consolidada no universo Marvel e eu sabia pouco sobre ela. A personagem surgiu na animação X-Men Evolution, desenho que substituiu de forma competente a clássica animação dos anos 90 em nossos corações. 


Tudo que você precisa saber em Logan, no entanto, é que a menina é uma espécie de clone do Wolverine alterado geneticamente, e que ela passou pelo mesmo procedimento de inserção de adamantium em seus ossos, já que ela também possuía um fator de cura acelerado.


A relação de Laura com Logan no filme evolui de forma muito pontual, o que denota um cuidado muito grande com o roteiro. Em diversos filmes dos X-Men vimos simplesmente personagens com grande potencial serem jogados na tela sem qualquer contexto ou explicação, e a gente não conseguia se importar com eles. Alguém se lembra da Jubileu em X-Men Apocalypse? Ou da Psylocke duas vezes subaproveitada em X-Men 3 e em Apocalypse? Mangold teve o cuidado de introduzir a X-23 no filme de uma forma que logo de cara o espectador se importasse com ela


Em pouco tempo de tela a garota está retalhando bandidos e fazendo suas cabeças rolarem pelo chão, e mesmo assim, a gente se importa com ela, se preocupa com seu bem estar. A relutância de Logan em aceitar que a menina faz parte dele, é totalmente condizente com tudo que vimos do personagem até então. Ele é um cara amargurado, profundamente ferido pela vida (o que é irônico, já que seu principal poder é um fator de CURA) e que viu todas as pessoas que ama morrerem, é natural que ele não queira ter o “peso” da responsabilidade de ter uma “filha” sob sua tutela, uma vez que seu maior desejo naquele ponto da vida é morrer, o que comprova pela bala de adamantium que ele guarda consigo para dar cabo da própria vida. 



O adamantium atado a seus ossos o está matando aos poucos. Seu fator de cura já não consegue regenerá-lo com a mesma eficiência de antes, mas Laura lhe traz um novo sentido a vida, e ele decide lutar por ela tão logo os últimos resquícios de sua antiga vida se vão com Xavier e Caliban.


Logan é repleto de momentos engraçados, em especial causados pela relação complicada entre ele e Laura. O próprio Xavier pergunta a Logan se ela não o faz lembrar de alguém, e o Wolverine se enxerga na menina, começando a entender que ela é seu legado. Calada desde o início do filme, é deliciosamente surpreendente quando a garota manda um “de nada” com sotaque espanhol (lembrando que ela foi cuidada por uma mexicana) em resposta a um agradecimento de Logan, e os diálogos dos dois a seguir são muito engraçados, construindo a relação entre eles. Silenciosamente, após as brigas e desentendimentos entre pai e filha, ambos começam a nutrir um respeito forte um pelo outro, o que vai desencadear no momento mais tocante do filme que é o acontecimento final, após a batalha entre Logan e seu outro clone (também vivido por Hugh Jackman), o X-24.


VIOLÊNCIA!!

Eu me lembro que uma das minhas principais críticas as participações do Wolverine nos filmes dos X-Men é que ele não parecia que matava ninguém. Tal qual nos desenhos, que suas garras só serviam para cortar robôs, o Wolverine do cinema era um manezão que só choramingava e que se preocupava demais com os outros. Sangue? As garras dele jamais tiravam sangue, pareciam feitas de borracha!

Em 2016, Deadpool estreou nos cinemas com a censura 18 anos, e o filme foi um sucesso, exagerando não só na violência gráfica como também em toda sorte de piadas com cu e rola. De repente a Fox decidiu perder o pudor, e deu liberdade para que o último filme do Wolverine com Hugh Jackman no papel principal fosse regado na mais doce e pura VIOLÊNCIA. E James Mangold decidiu mandar ver!


Foram 17 anos esperando que o Wolverine estripasse alguém, e em Logan tivemos nosso desejo atendido. As mortes causadas pelo personagem chegam a ser lindas, e não falta nada: Tem sangue, membros decepados, cabeças rolando, sangue, sangue...

Porra, Fox! Custava ter feito isso antes?


Seja como for, Logan é uma excelente despedida de Hugh Jackman do papel que o alçou ao estrelato hollywoodiano. O filme tem pouquíssimos defeitos técnicos e possui uma história muito madura e pé no chão, o que não cria a necessidade de efeitos especiais exagerados que acabam nos fazendo perder o interesse pelo enredo. Tanto os coadjuvantes como os antagonistas são interessantes, e criamos ao longo do filme toda uma relação de ódio e amor com eles, ao mesmo tempo em que torcemos para que Logan e Laura continuem retalhando geral nessa porra se mantenham a salvo.


Depois de dois filmes solo ruins, uma melancólica “quase” despedida em X-Men 3 e o desastre que foi X-Men Apocalypse, era difícil acreditar que a Fox ainda podia render algo minimamente razoável para o carcaju, mas graças a Odin isso não aconteceu, e Logan foi um presente de despedida digno tanto para Jackman quanto para os fãs. Por mim, a Fox já podia aposentar a franquia X depois desse filme, mas nós sabemos que essa baladeira vai continuar sendo esticada ad aeternum com um novo ator vivendo o Wolverine e com novos filmes ruins dos X-Men.

Nota: 9

P.S.: Hugh Jackman é com certeza o ator mais carismático de Hollywood. Todas as suas visitas ao Brasil são sempre regadas a elogios rasgados de jornalistas e entrevistadores, e o cara demonstra que gosta do que faz, além de gostar de ser cordial e educado com todos. Pena que a idade chegou e que seu vigor físico (que ainda é invejável, para um cara de 48 anos) já não permite que ele continue pagando de fodão sem camisa nas telas.

P.S.2: Sempre fui apático aos filmes dos X-Men no quesito emoção, mas o final com a X-23 e a decisão da batalha entre Logan e seu clone me fez chorar no cinema. Ou isso ou caiu um cisco bem grande nos meus olhos na hora... Não sei ainda!

P.S.3: A trilha sonora assinada por Marco Beltrami é muito boa, embora ela meio que passe despercebida na hora do filme, mas o tema "Hurt" de Johnny Cash, que foi utilizado no primeiro trailer do filme causa um desgraçamento mental muito grande e casa PERFEITAMENTE com toda a história do filme. Pra mim já é o tema definitivo de Logan. 

P.S.4: Fala a verdade! Você também achou por um momento que quem mataria o Xavier naquela cena seria o Dentes de Sabre!! 

Leia também a crítica a X-MEN ORIGENS: WOLVERINE


e WOLVERINE: IMORTAL


NAMASTE!

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