22 de abril de 2021

Soul entre os Dois Irmãos de Mulan - Oscar 2021


No Combo Breaker dessa semana o Blog do Rodman vai fazer um jabá DE GRAÇA para o Disney Plus e falar de três filmes do catálogo da plataforma que vão disputar o Oscar 2021.

Sigam-me os bons!

MULAN



Há algum tempo os estúdios Disney vêm tentando adaptar suas animações clássicas para novos públicos, mas a cada novo lançamento, fica bem claro que é uma tarefa difícil agradar tanto aos fãs dos desenhos antigos quanto os novos. Com a estreia de Mulan em setembro (2020), não foi diferente, e o filme dirigido pela neozelandesa Niki Caro sofreu críticas duras até mesmo antes de seu filme dar as caras no serviço de streaming da Disney.



Em geral, o público que estava acostumado com a animação de 1998 torceu logo o nariz para as modificações anunciadas para o live-action e muita gente nem quis conferir o resultado. Entre as grandes alterações, constam a ausência do carismático Mushu  que no desenho funcionava como a voz da consciência da protagonista — e a adaptação do personagem Li Shang, o oficial comandante que acaba se apaixonando por Mulan enquanto ela ainda está disfarçada como um soldado do exército chinês. 

Mushu e Li Shang
Mushu e Li Shang


No filme, os roteiristas optaram por dividi-lo em dois personagens distintos, um o Comandante Tung (Donnie Yen) que adota uma postura mais paternal com Mulan e outro, Honghui (Yoson An), que assim como ela, é um jovem recém-alistado no exército e por quem a garota acaba desenvolvendo certo afeto. Vale lembrar, que no desenho, Li Shang sempre foi visto como um símbolo bissexual forte, uma vez que ele já gostava de Ping (o nome que Mulan adota para ingressar como um homem no exército) muito antes de saber que ele na verdade era ela. Nem é preciso dizer o quanto essa decisão desagradou os fãs do original.



Apesar de todas as críticas quanto às mudanças — que não se limitam apenas a Mushu e Li Shang — o longa-metragem, que foi uma grande aposta da Disney para abraçar ainda mais o público asiático, funciona muito bem como um produto independente, se o desassociarmos da animação. A produção de figurinos, cenários e ambientação é impecável, além do que o trabalho de fotografia da diretora australiana Mandy Walker é bastante impactante em várias cenas, causando a imersão necessária para a história.



O elenco de Mulan também não decepciona, começando pela protagonista vivida por Liu Yifei que garante ótimas cenas de ação e transparece a bravura da sua guerreira chinesa. Yifei é mais comumente vista em produções asiáticas e chegou a fazer participações também na série Once Upon a Time. Em Mulan, a atriz de 33 anos não compromete em seu papel principal, mas fica bem óbvio que ela não convenceria ninguém se fazendo passar por um homem. Enquanto na animação a personagem passa por toda uma masculinização — sacrificando inclusive os cabelos longos —  para poder substituir o pai na guerra, visualmente quase nada é alterado entre a Hua Mulan do filme e sua personificação masculina Hua Jun. Mesmo assim, isso não compromete a atuação de Yifei, que consegue fazer com que nos importemos com sua heroína ao longo de sua jornada, como diria a Lumena!



O elenco estelar de Mulan ainda traz o já veterano Jet Li na pele do Imperador chinês — e confesso que demorei para o reconhecer embaixo da indumentária pomposa —, o já comentado Donnie Yen como o Comandante das tropas chinesas, a atriz Gong Li como a bruxa Xian Lang — personagem que não existe na animação de 1998, mas que casou bem com o clima mais místico do live-action — e Jason Scott Lee que vive o antagonista principal do filme Bori Khan, substituindo o guerreiro huno do desenho Shan-Yu — apesar dos dois serem semelhantes em aparência. 



Assim como a animação noventista, o longa Mulan é baseado livremente na história folclórica chinesa “A Balada de Mulan” e no original, a guerra da China não é contra os hunos — como vimos no desenho — e sim contra os invasores Rouran, cujo líder tribal é representado no filme pelo personagem de Scott Lee. A motivação de Khan em querer acabar com a dinastia chinesa no filme de Niki Caro também é bem mais plausível, já que ele faz tudo a seu alcance para vingar a morte do pai nas mãos do imperador e também para manter a terra e a cultura do seu povo, oprimido pelos chineses. Se a gente pensar bem… ele não está tão errado assim!

Quem não é velho como eu nem deve saber, mas Jason Scott Lee estrelou a primeira cinebiografia de Bruce Lee nos anos 90 (Dragão – A História de Bruce Lee, de 1993), e eu também demorei um pouco para reconhecê-lo no filme, agora no alto dos seus 54 anos. Estamos ficando velhos, Magneto!   



Vale a pena assistir, Rodman?

Se você não é extremamente apegado à animação e quer ver um filme bacana com muita aventura e ação, além de curtir cenários maravilhosos da cultura chinesa, vale sim, jovem padawan! Mulan não é nem de longe tocante como o desenho — principalmente se compararmos o final apoteótico de uma China agradecida reverenciando a Mulan no final da animação —, mas traz bons questionamentos sobre a posição feminina numa cultura tão machista, embora esse tema esteja diluidíssimo em meio a efeitos visuais e cenas de pancadaria. A Mulan do filme não ser apenas uma mulher muito bem treinada que se equipare a homens em combate também diminui bastante a personagem e o apoio na muleta do domínio do “Chi” que ela possui desde criança a torna só alguém muito privilegiada que não se esforçou para ter suas habilidades. É como se a Mulan do live-action gritasse para o espectador:

“Se eu tenho o domínio do Chi e as outras pessoas não, É PORQUE EU MERECIIII! ”



Em tempos, ignorado completamente pelo Golden Globes, Mulan concorre a duas categorias no Oscar, o de Melhores Efeitos Visuais e o de Melhor Figurino, que tem tudo para levar para casa. Vamos ver se depois de tanta crítica, algum prêmio o filme leva!

Nota: 8


SOUL



Para mim, assim como para outros adoradores de animações, o selo “Pixar” vem acompanhado de uma expectativa imensa que só pode ser compensada com um balde de lágrimas que carregamos ao final da sessão de cinema. Pelo menos ao meu ver, tem sido assim desde Toy Story — menos o 4! —, passando por Wall-E, Ratatouille e chegando nos mais modernos como Divertida Mente e Viva – A vida é uma festa. A gente meio que se acostumou a esperar sempre o máximo de emoção num desenho animado do estúdio e não tinha como ser diferente com Soul, o que deixou um pouco daquele gosto amargo na boca.

Você quer dizer com isso que Soul é ruim, Rodman?

Não, nem de longe, caro padawan! A minha decepção com Soul tem mais a ver com a minha expectativa que estava no pico antes de eu começar a assistir do que propriamente com o desenvolvimento da história e dos personagens em si. Mas tentarei explicar.

Para começar, é bom lembrar que Pete Docter, o diretor do filme, não é nenhum iniciante e que tem no currículo além de Monstros S.A., os magníficos Up – Altas Aventuras e Divertida Mente, tendo ele ganhado o Oscar de Melhor Animação pelos dois últimos. Além da direção, Docter participou do roteiro de incontáveis outros sucessos da Pixar, o que o gabaritava imensamente para ser o grande cara por trás de Soul.



Soul é uma imersão psicológica bastante contundente não só ao nosso lado espiritual — e à primeira vista é muito fácil relacionar certos elementos narrativos com uma ou outra religião —, mas principalmente a nossos medos mais “modernos”. Apesar de ser uma animação que esteja ali para agradar também as crianças, a mensagem principal é sim para nós os adultos e quando mergulhamos na história, a mensagem nos pega de maneira firme. 

No enredo, o personagem Joe Gardner (dublado por Jamie Foxx) é um professor de música frustrado que ainda busca um lugar entre os grandes musicistas de jazz da cidade, embora esconda um passado de rejeições que faz com que até sua mãe duvide de suas capacidades instrumentistas, embora ele as tenha. A realidade se mostra bem irônica, no entanto, quando sua grande chance de mostrar seu talento na banda da cultuada “jazzista” Dorothea Williams (Angela Bassett) acaba sendo frustrada por um acidente que encerra sua participação no “show da vida”. E não… isso não é spoiler. Tem até no trailer!



Sem conseguir mostrar do que é capaz para Williams na Terra, Joe embarca numa jornada desesperada para tentar voltar para seu corpo, mostrando a todos do lado de lá do desconhecido que ele não está pronto para morrer e que a sua missão ainda não terminou. Auxiliado pelos mentores espirituais denominados “Zé” — um deles dublado pela brasileira Alice Braga — e tendo que servir ele próprio como conselheiro da alma impetuosa 22 (dublada por Tina Fey), Joe acaba descobrindo que sua jornada nunca foi se tornar um músico prestigiado e sim aproveitar melhor as pequenas coisas da vida, sendo esse seu propósito específico.



E nesse ponto o filme me atingiu fulminantemente!

Não só pela pandemia, mas por diversos outros motivos, eu me tornei uma pessoa reclusa que simplesmente não vê mais significado na vida e que não acredita mais em “propósito” (falei um pouco disso aqui recentemente). Nesse quesito, Soul é brilhante, já que mostra ao espectador tanto na figura do Joe — o sujeito inconformado com a própria vida, aquele que acha que precisa de um sentido para viver — quanto na 22, que é uma alma que simplesmente se recusa a nascer em um corpo na Terra, não vendo nem sentido ou qualquer motivação para estar entre os mortais. Enquanto a convivência entre eles os ensina novas perspectivas — e também a nós que estamos assistindo sua aventura — o filme leva os personagens a diversos cenários oníricos e subconscientes, lidando muito bem com assuntos como depressão e ansiedade, dois males que nos acompanham diariamente nessa corrida constante da vida adulta para ser alguém.



Mas afinal… nós temos mesmo que encontrar nosso propósito ou basta vivermos um dia de cada vez, fazendo o máximo pelo nosso próprio bem-estar e daqueles a nosso redor?

Soul nos leva a essa reflexão e cada um acaba tendo sua própria resposta ao final do filme, enquanto os créditos sobem e as lágrimas escorrem dos olhos.



Apesar de toda essa carga emocional, ainda não considero Soul um dos melhores trabalhos de Pete Docter, mas talvez ele ganhe maior espaço em meu coração ao longo dos anos.

Soul disputa o prêmio de Melhor Animação no Oscar 2021 e já garantiu a Docter o Globo de Ouro na mesma categoria e também em Melhor Trilha Sonora. Para mim, apesar do filme deixar um pouco o tema música em segundo plano, eu acho que a trilha tinha obrigação de ser mais inspirada e impactante, algo como o excelente “Whiplash” — só pra ficar no tema jazz — que gruda suas músicas na mente mesmo horas e horas após a exibição. Mas quem sou eu para criticar os véi que premiam as categorias do Golden Globes, não é mesmo?

Nota: 8,5


DOIS IRMÃOS



Eu preciso admitir aqui que não tinha a menor vontade de assistir Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (no original “Onward”) e que tinha agido SIM com preconceito quanto à temática da animação, bem como o visual dos personagens.

Aiiiiin, Rodman! Seu elfofóbico!

Me desculpem os elfos azuis que estiverem lendo esse post, mas eu tinha ligado o meu completo foda-se para a animação, até o momento em que começaram a chover críticas quanto a Soul ter vencido o Globo de Ouro de Melhor Animação no lugar de Onward. Naquele momento, eu que ainda não tinha visto Soul, percebi que para fazer um post mais abalizado de indicações ao Oscar, eu precisava assistir aos dois e tirar minhas próprias conclusões. E a verdade é uma só: ambos os filmes não se comparam.

Antes que facas e foices comecem a ser arremessadas, vale lembrar que as duas produções levam o selo Disney / Pixar, o que faz com que qualquer que seja o resultado de uma “briga” entre elas, o Mickey vai contar dinheiro do mesmo jeito! Em favor de Dois Irmãos, a pegada “Disney” na animação é mais notória, já que a aventura do subtítulo deixa bem clara que a história é sim mais leve e bem mais focada no público infantil do que Soul, por exemplo. É meio que querer comparar Shazam! da Warner, que tem uma cara mais infantiloide e bobalhona com a obra-prima da sétima arte que é Zack Snyder’s Justice League, o filme mais adulto de todos os tempos — e nem ouse discutir, padawan! Eu envelheci mais 15 anos só em assistir as quatro horas daquela porra!

Apesar de não serem histórias para um mesmo público, é inevitável não compararmos os dois filmes, já que ambos disputam o mesmo prêmio de Melhor Animação, e nesse quesito é bom referenciar aqui, me fazendo queimar bastante a língua e engolir a minha elfofobia a seco, que Dois Irmãos é sim mais divertido que Soul.

O que? Calúnia! Difamação, Rodman!

Onward é escrito e dirigido por Dan Scanlon, que diferente de Pete Docter, não tem um currículo tão impressionante, estando à frente anteriormente apenas do fraquinho Universidade Monstros, o prequel de Monstros S.A. Apesar da pouca experiência na direção, Scanlon entrega um filme bem redondo e de fácil digestão para o público, em especial por fazer com que nos importemos logo de cara com o personagem loser da vez dublado pela eterna viúva do “Senhor Stark” Tom Holland



Num mundo mágico onde os seres que o habitam — além de elfos tem trolls, unicórnios, fadas e centauros — simplesmente deixaram de usar a magia pela conveniência das modernidades tecnológicas, no dia do seu aniversário de 16 anos, Ian Lightfoot (Holland) recebe da mãe Laurel (Julia Louis-Dreyfus) um presente que guardou por anos, dado pelo pai já falecido do garoto elfo. Segundo a carta deixada por ele, o artefato vai permitir que o antigo patriarca da família retorne para conviver com os filhos durante um dia através de magia. O presente em si é um cajado e as instruções deixadas pelo pai exigem que um dos meninos — Ian e seu irmão mais velho Barley, dublado por Chris Pratt — utilize a magia adormecida para trazê-lo dos mortos, o que obviamente dá errado num primeiro momento.



Tendo destruído no processo de ressuscitação a gema mística que seria usada como intermédio entre os mundos — e tendo trazido apenas a metade da cintura para baixo do pai de volta — todo o plot dos dois irmãos se desenvolve pela busca de uma outra “gema fênix” para trazer o restante do pai, o que faz com que eles partam numa jornada ensandecida pelo mundo místico que agora não é mais como antigamente.



Cheio de referências a jogos de tabuleiro de RPG, com uma trilha sonora recheada de Rock N’ Roll com orquestras e um humor muito característico, Dois Irmãos é com segurança a animação mais divertida que assisti nos últimos tempos e também um dos últimos filmes que consegui assistir de uma tacada só, sem nem me levantar para fazer qualquer outra coisa. A aventura dos irmãos Lightfoot é mesmo digna de ser acompanhada na íntegra e não causa nenhum sentimento de estranheza pela ambientação pouco comum daquele mundo fantástico representado na tela. A forma criativa como os roteiristas representam alguns seres místicos já tão inerentes no nosso imaginário popular é muito boa, e mesmo não estando nos melhores dias da minha vida, confesso que abri um sorriso com a gangue das fadas motociclistas. Outro ponto de risos contidos foi a performance a laUm Morto Muito Louco” do patriarca dos Lightfoot, com suas dancinhas e seu gingado um tanto quanto etílico. Hilário!  



Claro que por se tratar de uma história sobre paternidade, a emoção é garantida no desfecho do filme e toda a nossa apreensão pela conclusão ou não da jornada dos personagens é compensada brilhantemente com um final bastante tocante entre os irmãos e seu pai. A Pixar já tinha me feito chorar com um robô apaixonado em Wall-E, já tinha me arrancado lágrimas da interação de uma criança com seus brinquedos e tinha feito eu me importar com um rato cozinheiro… mas fazer eu me debulhar em lágrimas por causa de uma van É SACANAGEM! O sacrifício da Guinevere ao som de “Rise to Valhalla” é um dos momentos mais épicos do filme. Chorei e não foi pouco!



Vale lembrar aqui que muito da minha emoção com o filme se deu também porque eu perdi o meu grande amigo canino no começo desse dia e ainda estava bastante fragilizado emocionalmente. A recuperação tem sido lenta e gradativa.

Hoje eu endosso o coro dos fãs que disseram que Dois Irmãos foi bastante injustiçado em não receber o mesmo tratamento midiático que Soul recebeu e assino embaixo. A pandemia e o não-lançamento do longa nos cinemas também prejudicou bastante a divulgação da animação e muito disso se refletiu no resultado do Globo de Ouro, que premiou Soul no lugar de Onward e de Os Croods 2: Uma Nova Era, da DreamWorks. Na categoria Melhor Animação do Oscar 2021, Onward vai enfrentar novamente Soul, além das animações A Caminho da Lua (Netflix), a irlandesa WolfWalkers (Cartoon Saloon) e Shaun, o Carneiro: O Filme (Netflix). As apostas estão altas, mas acho difícil que Pete Docter não leve mais essa estatueta para casa.

Nota: 9

Mulan, Soul e Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica estão disponíveis no catálogo da Disney Plus e podem ser vistos por lá exclusivamente até a premiação máxima do cinema estado-unidense mundial.

O Blog do Rodman vai acompanhar a cerimônia do Oscar dia 25 e em breve falaremos dos grandes vencedores da noite direto do tapete vermelho…

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Mentira, claro! Estarei de pijama em frente à TV assistindo a transmissão. Ainda estamos numa pandemia e eu não fui vacinado, porra!


NAMASTE!    

19 de abril de 2021

Para Peter

Será que os cães vão para o Paraíso?

Hoje eu perdi o meu melhor amigo e não há nada que eu escreva aqui que vá confortar meu coração. Ele vinha há alguns anos lutando contra um câncer que o estava debilitando bastante, comprometendo ainda mais a sua já cansada forma física. O Peter tinha 15 anos, estava na família há bastante tempo e é difícil descrever a falta que já está me fazendo.

Eu o adotei quando ele tinha alguns meses de vida. Uma colega de trabalho tinha dito que ele e seus irmãozinhos estavam sendo doados por vizinhos, o que me fez pensar em ter uma companhia canina. Nós já tínhamos tido alguns cães em nossa casa durante a minha infância, mas na época, acabei não tendo muita ligação emocional com eles. O Peter foi o meu primeiro cachorro de certa maneira. Por alguma razão, eu sempre quis ter um animalzinho em casa — além dos infinitos gatos de minha mãe que iam e vinham — e minha conexão com aquele vira-lata de pelo branco foi imediata.

Não tem jeito. Por mais que a gente queira se preparar para o momento da despedida, nada é capaz de nos acalentar quando a hora da separação chega. Eu estou escrevendo esse texto poucas horas depois de dar o último adeus ao meu amigo, por isso, espero que quem esteja lendo isso me perdoe pelas incoerências e erros gramaticais.

Por conta da doença, nos últimos meses o Peter vinha sofrendo algumas convulsões que paralisavam suas patas traseiras e o deixava ofegante. Nada era mais doloroso do que vê-lo sofrer sem poder fazer nada. Eu costumava ficar com ele quando essas convulsões aconteciam, não porque eu achava que o pudesse ajudar, mas para confortá-lo, fazê-lo se sentir seguro, talvez feliz por ter companhia na hora da dor. Eu não sei. Queria ter podido fazer mais.

Eu tenho muita dificuldade para lidar com a morte e sempre tentei adiar o máximo possível falar disso no âmbito familiar. Eu chorava só de pensar em ter que me despedir do meu amigo e agora que o momento chegou, eu mal consigo acreditar que não vou mais vê-lo, que ele não vai mais estar na sua casinha, que ele não vai mais andar até mim quando me ver chegar da rua. Os anos o deixaram mais lento, mais frágil, mas sempre era bom ser recepcionado com aquele balançar de cauda, aquele olhar de felicidade ao me ver. Cara! Não deve ter nada no mundo que se compare a isso!

Eu tenho diversas boas memórias do Peter nesses 15 anos e uma delas é vê-lo jovem e saudável correndo atrás de uma bola brincando comigo e com meu sobrinho Michael no quintal de casa. O “Pete” — Píti —, como a gente o chamava, era aquele filhote do tipo “elétrico” que não conseguia parar quieto no lugar, sempre brincalhão e alegre. Pulava nas nossas pernas dando aquele “coice” com as patas traseiras e quando agarrava alguma coisa com os dentes afiados, não queria mais largar. Eu demorei a perceber que os anos tinham passado e não saberia dizer quando foi que ele parou de ser tão agitado, assumindo então sua velhice.

Uma das minhas melhores memórias com o Peter foi na época no fim do meu primeiro grande relacionamento amoroso, que na época, me deixou muito mal. Eu não era de demonstrações públicas de sofrimento, por isso, me escondi numa das duas casas do quintal da minha mãe e me sentei lá para chorar as dores do amor perdido. Como eu disse antes, o Peter sempre foi um bicho muito animado e bagunceiro, ele jamais chegaria perto de mim sem pular em cima ou latir primeiro, mas naquele dia, como que respeitando a minha tristeza — e eu estava em lágrimas por causa do fim do namoro — o Peter chegou próximo de mim, me viu ali sentado e simplesmente se deitou ao meu lado, calmamente, silenciosamente, como ele nunca tinha feito. Aquela foi a maior demonstração de amizade que eu havia recebido na vida e depois daquilo, passei a entender que os cães eram com segurança as criaturas mais amáveis da face da Terra. Eu amava o Peter.



Depois que eu comecei a trabalhar diariamente com raríssimos intervalos de férias, feriados e fins de semana, eu meio que parei de acompanhar a evolução daquele meu cachorro antes feliz e saudável para o velhinho doente, mas todas as vezes que eu chegava em frente ao portão, ainda era muito bom ver aqueles olhos brilhando em minha direção, dele sobressaltando de onde quer que estivesse para me recepcionar com alegria. Não importava o quão ruim tinha sido o meu dia, tudo passava quando eu acariciava aqueles pelos brancos e fazia um cafuné na cabeça daquele vira-lata. Por anos, o Peter era a única constante em minha vida. Mesmo triste, cabisbaixo, infeliz, zangado ou simplesmente de saco cheio da vida, aquele cachorro ainda me tirava um sorriso e me fazia falar com aquela “vozinha” que todo mundo faz quando se dirige ao seu pet.

Eu me acostumei durante os últimos meses a ir para a sala assistir algum filme ou série e preparar algum sanduíche ou algo rápido antes para comer na cozinha — rotina quase certa durante a pandemia —, e essa era a hora que ele sempre aparecia na porta, como quem dissesse “ei, amigão, tem algo aí pra mim? ”. Era eu acender a luz para ele colocar a cabeça na porta e eu o dar algum mimo, em especial aqueles biscoitos para cães que ele adorava. Mesmo já não tão ágil e nem com tanta firmeza no maxilar, ele pegava o biscoito com o máximo de delicadeza e saía para mastigar, já se preparando para vir buscar outro. Parece uma coisa simples, mas até disso eu venho sentindo saudades. É uma dor que parece que não vai embora nunca. O último pacote de biscoitos ficou no armário, ainda pela metade.

Essa noite eu fui dormir querendo sonhar com o Peter, para poder me despedir melhor dele, para lhe dar o abraço que eu não dei e tudo que espero para os próximos dias é que eu sinta a presença do meu tão querido amigo nem que seja só para me dar um “oi”. Eu tenho estado muito isolado, solitário nesses meses de pandemia e eu sentia que o Peter era minha última conexão com o mundo. Enquanto as lágrimas rolam em meu rosto nesse momento, rogo para que, se é que esse lugar existe, o meu cachorro tenha um lugar especial no Paraíso, e que ele seja bem tratado lá, correndo feliz entre as nuvens e pulando nas pessoas com sua energia inesgotável.



Descanse em paz, amigão. Espero te ver novamente um dia!

NAMASTE!      

9 de março de 2021

Visão por Tom King

Tom King consegue mostrar com os 12 volumes de "Visão" a profundidade e a complexidade de um personagem que sempre esteve ali, perdido nas fileiras imensas dos Vingadores, mas que nunca recebeu uma história épica, grandiosa, só dele.

Pronto. Agora ele já tem.

Texto reflexivo, diálogos poderosos e uma arte leve que complementa o que as palavras às vezes não dizem.

Nota 10!

Visão está à venda nas principais livrarias virtuais dividido em dois volumes. O primeiro, Visão: Pouco Pior que um Homem e o segundo Visão: Eu também serei salvo pelo amor.

Eu fui até o balcão do Boteco do Infinito Podcast bater um papo com o Antonio Pereira sobre essa HQ e também sobre o “Dia das Bruxas” de Bill Mantlo, ainda no hype de WandaVision. Clica aí no banner e vai ouvir, jovem padawan!


NAMASTE!

10 Melhores momentos de WandaVision



Antes de começar meu texto propriamente dito, quero deixar aqui uma salva de palmas para a Marvel Studios pela ousadia de parir esse projeto chamado WandaVision!




Tendo homenageado a empresa devidamente, é hora de relembrar um pouco dos 10 momentos mais marcantes dessa série do Disney + que já entrou para a história da TV e dos serviços de streaming

Sigam-me os bons!

Homenagens e referências



Criada inicialmente para parecer uma sitcom americana, WandaVision nos apresenta um primeiro episódio carismático que remete aos anos 50, prestando homenagens a seriados como “I Love Lucy”, que entre outras coisas, mostrava o cotidiano de um casal suburbano. O mistério sobre o que está acontecendo e porque Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e o Visão (Paul Bettany) estão dentro de uma sitcom permanece até o fim de “Gravado ao vivo com plateia”, quando então nos é mostrado que existe vida fora da exibição em preto e branco.



Os episódios a seguir, mostram saltos temporais específicos e a cada nova atração, o casal aparece referenciando uma década diferente, dos anos 60 (em episódio inspirado em “A Feiticeira”), aos anos 2000 (com referência a “Modern Family”). Os diversos penteados, as vestimentas e toda a ambientação da sempre pacata cidadezinha de Westview são pontos muito importantes dentro de WandaVision, uma vez que além de situar o espectador em suas diferentes épocas, servem também para dar o tom de cada episódio, da comédia pastelão dos áureos anos 50, passando pelo caos dos anos 80 e acabando mais deprimente e dramática nos anos 2000.



Tenho dificuldade para escolher em qual dos visuais que a Elizabeth Olsen usou durante os 9 episódios ela ficou mais charmosa — já que essa mulher é maravilhosa de qualquer jeito — mas se fosse elencar meu top 5, a versão gravidinha anos 70 seria um forte candidato ao pódio!



Darcy e Woo em ação



A Dra. Darcy Lewis (Kat Dennings) foi uma das únicas coisas realmente engraçadas em Thor: Mundo Sombrio (2013) e trazê-la de volta em WandaVision foi um grande acerto da produção, já que ela serviu como a ponte entre o mundo criado por Wanda e a nossa "realidade". Contatada pela E.S.PA.D.A (Equipe de Supervisão, Pesquisa, Avaliação e Defesa Armada), a astrofísica mostra logo de cara todo seu talento em detectar anomalias — algo que ela já fazia como a anteriormente estagiária de Jane Foster em Thor 1 — e não demora a sacar o que realmente está acontecendo dentro do — batizado por ela — “Hex”. 



Em parceria com o gentil agente do FBI Jimmy Woo (Randall Park) que nos foi apresentado em Homem Formiga e a Vespa (2018), Darcy é com certeza um dos grandes destaques da série, dando o tom de comédia certo nos momentos necessários. Esperamos vê-la novamente no futuro da Marvel, quem sabe agora num cargo mais importante dentro da S.W.O.R.D?


Monica Rambeau ganha poderes



Eu já declarei aqui todo o meu amor pela personagem Monica Rambeau e falei como a heroína acabou sendo injustiçada nos quadrinhos pela Marvel após os anos 90, por isso, esse momento é meu!



Interpretada em sua infância pela fofíssima Akira Akbar em Capitã Marvel (2019), a Monica já havia ganhado nossos corações em tela e despertado aquele desejo de vê-la em uma possível continuação, quem sabe em Capitã Marvel 2. Na época, ninguém imaginava que a Marvel a traria de volta já adulta antes do cinema, e em WandaVision, ela fez sua estreia interpretada agora por Teyonah Parris. E foi em grande estilo!



O episódio 4 “Interrompemos este programa” é o primeiro que nos mostra realmente o que está acontecendo fora da realidade da Wanda e tudo acontece quando Monica é atirada através das paredes do Hex, quando demonstra lá dentro ter ciência de que algo está errado. A série então mostra toda a trajetória da capitã Monica Rambeau desde seu retorno do “blip” — o estalar de dedos de Tony Stark em Vingadores – Ultimato — até ela se aventurar pelo campo vibracional criado pela Wanda ao redor de Westview. Uma vez dentro do Hex, Monica acaba “entrando para o elenco” da sitcom como a personagem Geraldine e faz descobertas importantes que são usadas mais tarde por Darcy e o General Hayward (Josh Stamberg), o diretor interino da E.S.P.A.D.A.



Tendo atravessado o campo vibracional do Hex mais vezes do que qualquer um — já que depois de ser jogada de lá, ela decide retornar depois —, Monica apresenta uma anomalia em seu DNA, o que é detectado por Darcy. A capitã faz relação com o câncer que vitimou a sua mãe Maria (Lashana Lynch) durante os cinco anos que durou o “blip”. Para sorte dela, Rambeau acaba desenvolvendo habilidades especiais que a tornam capaz de suportar a pressão causada pelo agora reforçado campo de Wanda e até consegue peitar a protagonista.



O momento em que Monica desafia seus próprios limites ouvindo as vozes de sua mãe e da Carol Danvers em sua mente é uma das grandes cenas da personagem na série. Chega a dar aquele quentinho no coração só em saber que agora, mais do que nunca, a Capitã Marvel DE VERDADE existe no MCU.

Como deixar de lado a referência ao uniforme branco e preto usado por ela nos quadrinhos ou o codinome “Fóton” na foto de sua mãe na parede da S.W.O.R.D? Já queremos Monica de volta pra ONTEM em Capitã Marvel 2 e na série Invasão Secreta!  


O aparecimento do "Fietro"



Fora trailers e algumas notícias esporádicas sobre roteiro, eu procuro me manter afastado de histórias de bastidores de produções que pretendo assistir futuramente para evitar spoilers. Eu não fazia ideia que Evan Peters estava no elenco de WandaVision e vê-lo aparecer à porta do casal título em Westview foi um dos grandes momentos “que porra está acontecendo aqui? ” em minha cabeça.

Era muito natural que acabassem usando o ator Aaron Taylor-Johnson no casting, uma vez que ele era o Pietro Maximoff — até então — oficial do MCU. Trazer o Pietro do universo dos X-Men da finada FOX no lugar de Taylor-Johnson, no entanto, foi uma sacada genial, mesmo que ele não estivesse ali exatamente para conectar os universos cinematográficos, como quase todo mundo especulou no lançamento do episódio.



Eu sempre tive o meu pé atrás quanto a overpowerização da supervelocidade do Mercúrio usada em X-Men – Dias de um Futuro Esquecido e em suas sequências, uma vez que ele não é tão rápido nas HQs — mimimi de véio chato —, mas é inegável que o “Peter” de Evan Peters é imensamente mais carismático que o de Taylor-Johnson, apresentado em Vingadores – A Era de Ultron. As cenas da interação do “tio Pietro” com os gêmeos de Wanda talvez não fossem tão engraçadas se ali em seu lugar tivesse o Mercúrio mais ranzinza de A Era de Ultron, por isso, valeu e muito essa participação especial.

Quem diria que o tal marido “Ralph” que tanto Agatha citava nos primeiros episódios era o tempo todo o fake Pietro!


Wanda dá à luz aos gêmeos



Agora em cores” é um dos episódios mais engraçados da fase sitcom de WandaVision e também um dos que melhor afloram a veia cômica de Elizabeth Olsen, Paul Bettany e Teyonah Parris. Toda a situação em torno da gravidez de Wanda, o desespero do Visão em ver que a barriga da esposa cresce cada vez mais em questão de horas e o corre-corre para garantir um parto saudável me tiraram risadas genuínas ao longo do capítulo.



As expressões de Olsen, seus trejeitos e entrega artística às cenas de humor fazem a grande diferença desse terceiro episódio. O momento de “escada” de Teyonah em que Geraldine conta sobre seu novo trabalho enquanto Wanda tenta afugentar a pintura de uma cegonha que ganhou vida na sala é hilária, assim como os efeitos drásticos nos móveis da casa quando os poderes de Wanda escapam de seu controle com as dores do parto.



Wanda fazendo a respiração “cachorrinho” é um dos pontos altos do episódio e a surpresa em seu rosto ao perceber que ela deu à luz a gêmeos, causa aquele “ohhhh” nos espectadores. Como leitor velho de HQs, jamais achei que um dia ia ver em tela o nascimento dos filhos imaginários da Feiticeira Escarlate com o Visão... Ainda mais “Agora em Cores”! (Hein? Hein?)

Ver os moleques crescidos e usando trajes que remetem à sua personalidade heroica dos gibis também foi massa demais.



O surgimento do Visão... Branco!



A fase das HQs em que o Visão é desmantelado por um grupo governamental que começa a enxergá-lo como uma ameaça após o sintozóide ter tentado dominar os computadores mundiais é com certeza um dos grandes momentos do personagem, criado por Roy Thomas em 1968. John Byrne, no final dos anos 80 era o grande cara das HQs, escrevendo e desenhando quase tudo que se podia imaginar tanto para a Marvel quanto para a Divina Concorrente. Foi ele quem criou o arco “Busca pelo Visão” que retirou completamente os traços mais emotivos do personagem — os mesmos que fizeram a Wanda se apaixonar e casar com ele — o dando uma aparência pálida e mais robótica.



A vinda do Visão Branco no MCU já era comentada desde a época de Vingadores – Guerra Infinita, quando um cadáver acinzentado do Visão é deixado aos pés do vilão Thanos, que consegue na testa do sintozóide a última gema do infinito que faltava em sua coleção. Muito se especulou que ele acabaria voltando no futuro sem seus traços de personalidade mais comuns, e até que faria sentido, já que aquilo que lhe dava vida era a joia da mente. A própria Shuri, a irmã do Pantera Negra, havia dito que era possível SIM remover a joia sem matá-lo e se tivesse mais tempo, a garota teria separado o Visão do poderoso artefato. Quem poderia saber que tipo de personalidade ele iria adquirir depois disso?

Nos instantes finais de “Nos capítulos anteriores...”, o episódio 8 da série, o general Hayward enfim consegue reativar o Visão, cujo corpo ele recuperou após os eventos de Guerra Infinita, e ele é… Branco!

Explosões cerebrais, urros, gritos de “eu te amo John Byrne” foram ouvidos numa certa casa em São Paulo. Não vou dizer em qual foi!


É tudo culpa da Agatha



Nas HQs, Agatha Harkness é uma bruxa muito antiga que aceita ser a tutora de Wanda Maximoff quando enfim a menina decide abraçar as tradições ciganas de seu povo em Wundagore e aprender a feitiçaria, a magia de camponês. Wanda é uma mutante cujo dom a permite alterar as probabilidades a seu bel prazer, mas sua alcunha “feiticeira” não é por acaso. É a Agatha quem ensina os principais truques e feitiços à moça, algo que mais tarde, a torna a vingadora mais poderosa — e perigosa — de todas.



Na série, Agatha se infiltra no Hex como Agnes para entender melhor quem é a Wanda e como pode existir um ser tão poderoso capaz de manipular a realidade a seu redor. A personagem vivida por Kathryn Hahn dá as caras em praticamente todos os episódios, agindo sempre como a vizinha enxerida que aparece em todos os momentos de necessidade, como que prevendo o que está acontecendo dentro da casa de Wanda e Visão.

O final de “Derrubando a quarta parede” é catártico, já que nos mostra que, afinal, a vizinha safada e Zé-Povinho é na verdade Agatha Harkness, uma bruxa ambiciosa que esteve por trás de todos os eventos que desestabilizaram a família Maximoff, e que estava ali o tempo todo para vigiar Wanda. Agatha All Along!



O momento flashback de “Nos capítulos anteriores...” que mostra Agatha absorvendo a magia de todo seu Coven na Salem de 1693 começa a nos preparar para o que vem pela frente e o tamanho da encrenca que espera nossa mocinha Wanda.

Em tempo, Kathryn Hahn é com certeza uma das principais novidades de WandaVision e entrega ótimos momentos de atuação com Elizabeth Olsen, seja no drama ou na comédia. Esperamos também vê-la mais vezes no futuro do MCU.

 

Wanda constrói o Hex



Chegamos ao pódio dos grandes momentos de WandaVision e não há como não citar uma das cenas mais emblemáticas da série, que é quando Wanda em todo seu sofrimento, usa a Magia do Caos para criar o seu próprio universo particular.

“Nos capítulos anteriores...” nos faz voltar no tempo para entendermos o que, afinal, motivou Wanda a criar o Hex, sequestrando mais de 3 mil pessoas que moravam naquela cidade e as usando como fantoches de sua narrativa. Enquanto Agatha a força a reviver suas tragédias, nós mergulhamos de cabeça no mundo de Wanda, assistindo de camarote tudo que foi tirado dela desde a infância humilde em Sokovia, passando pelo afloramento de seus dons místicos — potencializados pela joia da mente — e chegando até seu envolvimento com o Visão. 

Wanda ficou órfã num atentado terrorista, perdeu o irmão gêmeo durante a batalha contra Ultron e foi obrigada a ver seu amado Visão morrer DUAS vezes diante de seus olhos na Guerra Infinita. Não é como se justificássemos o sequestro de milhares de pessoas inocentes, mas a gente consegue entender o desespero que a levou a criar todo um mundo de fantasia a partir do terreno em que ela e o Visão pretendiam levar uma vida tranquila em Westview — provavelmente após a viagem que eles fazem juntos para a Europa, no começo de Vingadores 3 — e ainda trazer seu marido de volta à vida. Wanda perdeu tudo e ela tem os poderes para mudar isso.



O que você faria em seu lugar?

Eu não sofri perdas como as de Wanda na série, mas se eu pudesse alterar a realidade a meu redor para tornar minha vida um pouco mais aceitável — e porque não dizer, fugir da realidade? —, é bem certo que eu também ia criar o meu próprio mundinho e nunca mais ia querer sair lá de dentro.

  

Wanda reencontra o Visão



O episódio 8 de WandaVision me fez chorar em várias oportunidades e não foi pouco.

Um dos momentos mais tocantes desse capítulo, é quando Wanda invade a sede da S.W.O.R.D a fim de recuperar o corpo do Visão e acaba o encontrando inteiramente desmontado sobre uma mesa. É claro que nem preciso dizer que o pequeno Rodman de 10 anos gritou aprisionado  dentro do meu atual corpo velho e putrefato com a referência icônica dos quadrinhos, mas a cena vai muito além disso. Elizabeth Olsen entrega uma interpretação comovente quando sua personagem se depara com os restos do sintozóide e percebe que não sobrou nada do Visão que ela amava naquele corpo destruído. A frase “Eu não consigo sentir você” é de partir o coração. Chorei e não foi pouco.

A cena de Wanda na SWORD remete a um momento semelhante ocorrido em "A Busca pelo Visão" de John Byrne


Elizabeth Olsen mostra toda a sua versatilidade como atriz ao longo dos 9 episódios. Ela vai do tom cômico — que prova dominar bem — ao drama com o mesmo talento e não seria de se espantar se ela levasse um Emmy em 2021 por sua atuação primorosa. Depois de WandaVision, é certeza que sua personagem vai se tornar o ponto central do MCU, além do que o status de atriz de Olsen vai receber uma elevação muito merecida por sinal. 

 

Wanda se torna a Feiticeira Escarlate



Nunca houve em minha cabeça uma dissociação dos nomes “Wanda Maximoff” e “Feiticeira Escarlate” por conta da minha relação com os quadrinhos dos Vingadores, mas no MCU, a personagem de Elizabeth Olsen ainda não tinha sido chamada por sua alcunha heroica e havia uma razão para isso.

A batalha entre Wanda e Agatha de “O Grande Final” serve para mostrar ao espectador que a personagem título sempre esteve predestinada a ocupar o posto avançado da Feiticeira Escarlate, que segundo Harkness, é alguém de extremo poder natural destinado a destruir o mundo. Disposta a absorver para si toda a Magia do Caos controlada por Wanda, Agatha leva a moça a seu limite durante o combate e é quando a verdadeira personalidade de Maximoff assume o controle, transformando-a na lendária Feiticeira Escarlate!



Explosões cerebrais, urros, gritos de “eu te amo John Byrne” foram ouvidos numa certa casa em São Paulo outra vez nessa hora... Eu sei, eu tava lá!

É de aplaudir de pé todo o esmero que a Marvel teve em escrever a saga dessa personagem que já era tão querida nas HQs agora também nas telas. WandaVision não é apenas um “TV Show” raso de entretenimento barato, mas sim um produto raro que soube lidar com temas como depressão, luto e fuga da realidade com uma sensibilidade muito apurada, isso envolto em um enlatado americano fabricado para ser sim, “apenas” entretenimento.

O que será do Visão Branco? O que aconteceu com Agatha? Como será o desenvolvimento da capitã Monica Rambeau? O que Wanda está buscando na cena pós-crédito do último episódio? Como o Doutor Estranho vai se envolver nessa história toda?

Não sabemos e isso é ótimo, já que nos mantem com esperanças de vivermos um novo dia e aguardar os próximos capítulos dessa maravilha que é o MCU. Bora curtir então o luto pelo fim da série.


“E o que é o luto senão o amor que perdura? ”

(VISÃO)


P.S. – Eu fui até o balcão do Boteco do Infinito Podcast bater um papo com o Antonio Pereira sobre as HQs “Visão” de Tom King e “Dia das Bruxas” de Bill Mantlo, ainda no hype da série. No final do programa, falamos de WandaVision (com spoilers) até o episódio 7, depois especulamos como seria o final da série... erramos TODAS as teorias, mas ainda assim vale ouvir o episódio que está massa demais. Clica aí no banner e vai ouvir, jovem padawan!



P.S. 2 – O Blog do Rodman também é um universo particular criado por mim e aqui eu vivo numa bolha perdida na internet, como se milhões de pessoas estivessem lendo meus posts e rindo das minhas piadas ruins ad eternum, quando na realidade estou falando sozinho... É pena que não posso controlar essas pessoas de verdade...

HA HA HA HA HA!



NAMASTE!

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