Terminei de ler recentemente os dois primeiros arcos escritos por Ed Brubaker para os Vingadores Secretos, publicados no Brasil pela Panini na revista Capitão América e os Vingadores Secretos, e devo comentar que vale muito a pena à leitura.
O ponto de fuga é imediatamente após os eventos de O Cerco (comentado aqui), que definiu um novo status quo para os heróis da Marvel. Com o fim do Reinado Sombrio de Norman Osborn, Steve Rogers, o recém-ressuscitado Capitão América é nomeado pelo Barack como o novo pica das galáxias comandante das forças especiais (tanto a SHIELD quanto os Vingadores) americanas e o cara decide aceitar o cargo sem pestanejar, abandonando o pijama bandeiroso (que ficou mesmo com o Bucky) e se tornando um agente secreto.
Eu gostei muito dessa ideia de transformar Steve Rogers em uma espécie de Jack Bauer com superpoderes, e diferente do que sempre acontece após a morte/ressurreição de um personagem, achei muito interessante a forma como o herói foi reinserido em seu universo, deixando-o fora dos holofotes principais e fazendo-o trabalhar nas sombras.
Eu gostei muito dessa ideia de transformar Steve Rogers em uma espécie de Jack Bauer com superpoderes, e diferente do que sempre acontece após a morte/ressurreição de um personagem, achei muito interessante a forma como o herói foi reinserido em seu universo, deixando-o fora dos holofotes principais e fazendo-o trabalhar nas sombras.
Os Vingadores Secretos agem como uma equipe que lida com perigos secretos antes que eles se tornem ameaças em nível mundial, e essas informações são conseguidas pelo intermédio de pessoas que trabalham como espiões dentro de grandes multinacionais em troca de segurança. Mais ou menos como acontece no serviço de proteção a testemunha. Desta forma não temos nada de “Avante Vingadores” no meio da rua ou grandes aparições públicas. A equipe age nas sombras, como se não existisse, e trabalha de forma cirúrgica (nem sempre dentro dos rigores da lei), resolvendo o caso e se mandando em seguida sem deixar pistas.
Na primeira edição já vemos a Viúva Negra e a Valquíria (aquela de Asgard que andava sumida) trabalhando disfarçadas de acompanhantes de um poderoso magnata da Roxxon, empresa que na Marvel está sempre metida em alguma maracutaia de grande escala. A ideia por trás do disfarce é encontrar o que eles achavam ser a verdadeira Coroa da Serpente, artefato místico que já andou nas mãos de muita gente perigosa ao longo dos anos. Com a intervenção do próprio Rogers e com o resgate de Sharon Carter, a Agente 13 da SHIELD, a Viúva e a Valquíria obtém êxito e os Vingadores levam a Coroa para o QG. Uma vez sob a análise de Hank McCoy, o Fera, que agora também faz um bico de vingador (se o Wolverine pode por que ele também não poderia?), eles descobrem que aquela não é A Coroa da Serpente e sim UMA Coroa da Serpente, que parece estar ligada à original.
Com a ajuda do Fera e do Máquina de Combate, após o trabalho de infiltração do Cavaleiro da Lua e do novo Homem Formiga ao banco de dados da empresa, Rogers descobre que a Roxxon adquiriu os direitos de exploração mineral em Marte (como o Ajax deixou uma porra dessas, Batman?!) e que vários funcionários simplesmente sumiram da folha de pagamento da empresa de uma hora para outra. Se mostrando um estrategista muito acima da média, o ex-Capitão América pede que seu agente mais poderoso mostre serviço, e então ele envia o Nova para uma inspeção em Marte.
Enquanto um grupo conhecido como Conselho das Sombras parece espreitar os Vingadores em busca da Coroa da Serpente roubada da Roxxon, Rogers percebe que o tiro saiu pela culatra, e eles são obrigados a resgatar o Nova, cujo sinal foi perdido há algum tempo em Marte.
Uma vez no planeta vermelho, os heróis descobrem que há mais do que a simples exploração mineral em jogo, e através de uma criatura chamada Arconte, que se diz uma espécie de guardião da verdadeira Coroa da Serpente (que estava em Marte dentro de um templo), os Vingadores descobrem que o Nova foi dominado pelo poder da Coroa, e que está trabalhando agora com o Conselho das Sombras na tentativa de abrir uma espécie de portal que irá liberar uma criatura maligna capaz de aniquilar o mundo.
O arco é contado em quatro partes, dá uma caída vertiginosa de qualidade na terceira parte, mas consegue se recuperar na quarta, mostrando que Steve Rogers é mais fodão do que todos já supunham. Ele não só adquire os poderes do Nova com a ajuda da Mente Global (uma espécie de consciência cósmica no interior do capacete do herói), como também derrota o próprio Nova, livrando-o da influência da Coroa da Serpente.
Ao destruir os planos do Conselho das Sombras em Marte e deixar a Coroa sob os cuidados do Arconte, os Vingadores retornam para a Terra, onde descobrem que Sharon Carter fora atacada na nave da equipe e que a outra Coroa da Serpente fora roubada dela.
Seu atacante? Ninguém menos do que Nick Fury!
Impressionante como essa Sharon Carter só sabe fazer cagada!
Como apresentação do novo status da equipe e para mostrar seus personagens e sua interação entre si, eu acho que esse arco valeu a pena, mas na minha opinião, Brubaker deu uma ligeira viajada durante a história, provavelmente na tentativa de inserir um personagem como o Nova no grupo. O cara é uma espécie de Lanterna Verde da Marvel, como ele se encaixaria em uma equipe que é tida como secreta e cujo trabalho é o de espionagem acima de tudo? O papo de ir pra Marte e de conceder temporariamente os poderes de Nova a Steve Rogers, algo dito como quase impossível para um humano sem treinamento e em tão pouco tempo, foi um tanto forçado, mas de resto eu curti.
O segundo arco chamado Olhos do Dragão, igualmente desenhado por Mike Deodato me agradou bem mais do que o primeiro em matéria de ação e de estratégia de equipe. O roteiro também é muito melhor elaborado, e envolve o Mestre do Kung Fu Shang Chi e o renascimento de seu malévolo pai, agora chamado Zheng Zu.
Pra quem é das antigas, como eu, deve se lembrar de um arco antigo de histórias publicadas nas revistas do Capitão América ainda pela Editora Abril em que o pai do Shang Chi aparecia na tentativa de envolver o filho em um ritual satânico. O herói chinês é obrigado a destruir seu pai para manter-se vivo, e nesse confronto o grupo de ninjas liderados por ele também é extinto, ficando desaparecido por muito tempo.
Logo no começo do novo arco escrito por Brubaker (que assim como Brian Bendis também adora resgatar elementos antigos da cronologia Marvel) vemos Shang Chi ser atacado por uma horda de ninjas (a ordem celestial de Hai-Dai), os mesmos que antigamente eram liderados por seu pai, o que o leva a crer que o velho retornou do mundo dos mortos.
Em suas investigações jackbauerianas, Steve Rogers descobre uma ligação entre o suposto Nick Fury que roubou a Coroa da Serpente da Sharon Carter (que na verdade é um modelo de vida artificial que acha que é Nick Fury), o Conselho das Sombras e o pai de Shang Chi, e ele decide com sua equipe ir em busca do herói chinês de modo a protegê-lo.
Na dança das cadeiras, entra em cena John Steele, personagem que num retcon criado recentemente foi colocado como um antigo parceiro de guerra do Capitão América e que como o próprio, possui dons especiais que o enquadram na categoria de supersoldado (mais um!!). Segundo a nova cronologia, Steele é um combatente desde os tempos da Guerra Civil americana, e seus dons físicos (super-força, resistência e vigor) foram usados como base posterior para a criação do soro do supersoldado e também para os experimentos que permitiram tornar a pele de Luke Cage invulnerável.
Steele, assim como o falso Nick Fury trabalham para Thorndrake, o líder do Conselho das Sombras, e juntos ambicionam tornar o mundo melhor, remodelando-o à sua maneira. Com o intuito de pegar uma fatia considerável no crescente mercado Oriental, Thorndrake decide ressuscitar o perigoso Zheng Zu e dar-lhe plenos poderes num ritual que envolve o sacrifício necessário de seu filho de sangue: Shang Chi.
Brubaker recria um momento marcante da história do personagem Shang Chi que é sua rixa com o próprio pai, e dá um tom muito extasiante ao arco envolvendo os Vingadores Secretos bem como o ressurgimento do tal John Steele. Para incorporar a receita, Brubaker também insere outro personagem que teria alguma relação com Rogers e Steele no passado, o fantasmagórico Príncipe dos Órfãos, que ajuda o mestre do Kung Fu, a pedido de Rogers, a se safar da ordem Hai-dai (os ninjas de Zheng Zu). Achei o personagem e sua inserção na história um tanto quanto gratuitas, pessoalmente acho que caberia ali um envolvimento maior do próprio Cavaleiro da Lua no enredo, que acabou ficando meio avulso na história, exceto por uma infiltração que ele faz como um soldado do Conselho das Sombras. O Príncipe dos Órfãos é um personagem relativamente novo que já teve algumas aparições nas histórias do Punho de Ferro.
Os desenhos do brazuca Mike Deodato estão impressionantes (ainda mais no segundo arco). O estilo cheio de sombras e com uma pegada mais realista que ele adotou combina bastante com o clima de espionagem inserido na história por Brubaker, e estou gostando bastante dessa mescla entre um de meus autores preferidos de HQ com um dos melhores desenhistas brasileiros da atualidade.
A pegada de espionagem, ameaças secretas e modus operandi furtivo é envolvente, e nos faz mergulhar no roteiro de forma muito pungente. Apesar de ser uma trama basicamente de espiões, rola muita porradaria, e dá gosto de ver a equipe de Rogers em ação. A violência aliás, está nos picos, e lendo esses dois arcos de história cheguei à conclusão de que o bom e velho Steve Rogers agora é adepto de uma forma mais peculiar de abordar os adversários, não lhes dando grandes chances de defesa e usando métodos que antes ele condenava. Não que ele esteja matando geral como seu “gêmeo” do universo Ultimate, mas é que agora ele não parece mais se importar tanto com a vida dos inimigos, deixando inclusive seus parceiros matarem à vontade, em prol daquilo que eles acham certo.
Ao lado de Rogers tem pelo menos três personagens que não hesitam em tirar a vida dos adversários, como a Viúva Negra, o Cavaleiro da Lua e a Valquíria (a arma da mulher é uma espada! O que pode se esperar disso?), além do Máquina de Combate (e seus trabucos), que como ele mesmo se define após as partidas de Marvel X Capcom “Não, eu não sou o Homem de Ferro”, fazendo uma alusão de que ele não é tão bonzinho quanto seu chefe.
Fica pro Homem Formiga (um ex-agente da SHIELD que tomou pra si o equipamento do falecido Scott Lang) o cargo de o “engraçadinho” do grupo, servindo nas missões como o alívio cômico da história, enquanto o Fera e sua equipe de super-nerds agem nos bastidores dando suporte técnico e científico.
Quando Sharon Carter é capturada (êêêê, Sharon Carter!) por John Steele, os Vingadores são obrigados a entregar Shang Chi para o Conselho das Sombras em troca da moça, e na hora da troca o Capitão decide medir forças com o supersoldado, levando uma surra homérica.
Eu acompanho as histórias de Steve Rogers há um bom tempo e devo confessar que não constam em meus arquivos muitas histórias em que ele apanha feio. Já o vi ser derrotado ao enfrentar caras mais fortes e tals, mas do jeito que ele apanha pra John Steele é inédito. Além de vencê-lo em força, o supersoldado torce o joelho de Rogers, deixando-o incapacitado para detê-lo, além de impedir o Conselho das Sombras de escapar com Shang Chi.
Mais tarde os Vingadores conseguem deter os planos malignos que envolvem a restauração da forma decadente de Mumm-Rá Zheng Zu graças à dica do Cavaleiro da Lua que está disfarçado de soldado do Conselho, e os heróis chegam causando estardalhaço no meio da cerimônia. Além de impedir o ritual de sangue do mestre do mal com seu filho Shang Chi, a Valquíria consegue derrotar John Steele empalando-o com sua espada justiceira asgardiana, mas na confusão o falso Nick Fury e o diretor do Conselho Thorndrake acabam escapando.
Eu me diverti bastante lendo esses dois primeiros arcos dos Vingadores Secretos, e o que ficou dessa nova abordagem criada por Ed Brubaker é que os tempos são outros e que nossos heróis já não podem mais tratar os adversários com polidez. Agora chamado de Comandante por seus subordinados, Rogers assumiu de vez sua personalidade de liderança, e mesmo em campo de batalha ele mostra porque é conhecido como o Sentinela da Liberdade, e porque seus adversários devem temê-lo. Como diria o Capitão Fábio de Tropa de Elite, ele é o novo "Pica das Galáxias" da parada.
Gostei dessa equipe escolhida por Steve Rogers, mas acho que faltou maior espaço para o Cavaleiro da Lua, o que talvez possa acontecer nas próximas aventuras.
Espero também que Mike Deodato continue à frente dos desenhos e que Brubaker continue afiado em seus roteiros cinematográficos, se assim o for, ainda teremos uma ótima leitura pela frente.
NAMASTE!
Muito bem feito esta matéria, eu ainda não li estas revistas,mas parecem boas!
ResponderExcluirVai atrás sim, "Verdades e Enigmas". E aproveite que elas ainda estão nas bancas.
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