19 de janeiro de 2012

Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras

Na faculdade de Design Gráfico, nas aprazíveis aulas de Cinema da professora Maria Goretti e também com minha própria experiência cinéfila, eu aprendi a enxergar além do que só aquilo que nos é entregue superficialmente em um filme. Estética, design de cenários, efeitos especiais, tudo isso é usado para compor o filme, mas está longe de ser a essência dele. A essência está naquilo que o roteirista procurou nos entregar e naquilo que o diretor conseguiu transmitir, bem como também está nas interpretações dos atores. Seja como for, eu me tornei, durante um tempo, exigente demais com aquilo que vejo na tela, e pouca coisa me agradou plenamente depois do período de faculdade.
A situação em que me vejo agora, no entanto, é a de ter perdido esse “faro” para detectar produções meramente comerciais (não que antes disso eu fosse um apreciador de filmes europeus ou iranianos) e que os filmes atuais têm me agradado bem mais do que o normal, como foi o caso de Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras. O filme realmente é essa Coca-Cola todo ou eu que ando me empolgando à toa?

Saí do cinema bem satisfeito com o que vi na tela, e na minha opinião, Guy Ritchie acertou e muito a mão ao dar mais uma vez seu tom clipeiro à história do maior detetive do mundo (chupa, Batman!).
O Jogo de Sombras , diferente do que alguns críticos apontaram, conseguiu manter o clima inovador e moderno ao universo do personagem inglês, criado por Sir Arthur Conan Doyle, conseguido no primeiro filme, e que me desculpem os mais conservadores, mas é uma visão muito interessante do detetive, tanto quanto aquela sua imagem clássica do homem de meia idade de chapéu que fuma cachimbo.

A história se passa no final do século XIX, e enquanto seu fiel amigo e companheiro de investigações Dr. Watson (Jude Law) se prepara para o casamento com Mary (Kelly Reilly), Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) passa a se dedicar obsessivamente a mapear as ações do Professor Moriarty (Jared Harris), um renomado e culto matemático que começa a se revelar um verdadeiro gênio do crime. Encontrando ligações diversas do Professor com vários crimes que passam a acontecer na Europa, o detetive se vê instigado a estudar a mente de Moriarty, descobrindo ali uma rivalidade de astúcia nunca antes encontrada por ele.

Holmes se vale de todos os seus talentos para desvendar as maquinações de seu adversário intelectual, incluindo seus disfarces (mendigo, professor e até de mulher) e técnicas dedutivas, mas o Professor Moriarty mostra que não é um simples inimigo e leva Holmes ao longo do filme a diversas pistas falsas, bem como armadilhas que acabam se tornando mortais.
A relação entre Holmes e Watson se intensifica nessa continuação, mostrando a todo o momento que o detetive está incomodado com o casamento do amigo. Muitos podem ver ali, como bem alguns críticos já insinuaram, um comportamento homossexual entre os dois, do tipo que um não quer que o outro (no caso Holmes) se case com uma mulher e assim interrompa a relação duradoura de amizade de ambos. Cabe também, no entanto, a interpretação de que Holmes não encontra facilmente alguém que acompanhe seu raciocínio dedutivo lógico, e que a partida do amigo para o tão sonhado casamento vá deixa-lo terrivelmente sozinho com sua mente arguciosa e inquieta. Eu prefiro essa segunda interpretação.

Aquela que podemos entender como o único interesse romântico de Holmes, presente no primeiro filme no papel de Irene Adler (Rachel McAdams) faz uma pequena participação na sequência, e nos faz compreender melhor a peça que ela representava no jogo entre Moriarty e Holmes.

Quem também surge em cena é o irmão mais velho e mais inteligente (quem diria!) de Holmes, Mycroft (Stephen Fry) que nas poucas aparições que faz dá um tom bem cômico ao filme, na sua tentativa de ser arrogante. Percebe-se que há uma competição entre os dois irmãos, o que deve ser comum entre mentes brilhantes numa mesma família, mas apesar disso, os dois se ajudam na tentativa de impedir os planos de Moriarty de começar uma guerra mundial.

O Jogo de Sombras tem sequências de ação tão empolgantes quanto seu antecessor, e Guy Ritchie abusa do slow motion num ritmo bem “zacksnyderiano”. Desta vez vemos Holmes e Watson realmente em desvantagem contra os capangas de Moriarty, tendo que lutar para sobreviver enquanto o poderio bélico do Professor cresce logo que ele assume a fábrica de armas de uma de suas vítimas.

Contando com a ajuda da cigana Simza Heron (Noomi Rapace), cujo irmão é uma importante peça no tabuleiro de Moriarty, a dupla se mete nas mais impensadas aventuras, e os jogos mortais começam logo que o Professor se apresenta para Holmes, avisando-o que irá “cumprimentar” o Dr. Watson pessoalmente por seu casamento.

A sequência no trem em que Watson e Mary embarcam para a Lua de mel é uma das mais marcantes do filme, e enquanto os homens de Moriarty tentam liquidar o doutor, Holmes aparece travestido de mulher para salvá-lo. Impossível não notar a referência ao Coringa ao final dessa cena em que Holmes aparece já sem peruca e as roupas de mulher com a cara toda branca e com um batom borrado na boca.

Ritchie soube equilibrar seu filme entre ótimas cenas de ação e hilariantes cenas cômicas. Não foram raras as vezes em que me rachei de rir no cinema, e passaria um bom tempo aqui descrevendo as minhas preferidas. O casamento de Watson, com o noivo todo ferrado e rasgado após uma briga de bar e o mordomo velhinho de Mycroft renderam as melhores gargalhadas.
Stanley! Onde é que você vai?”

O desfecho do filme, sem querer entregar SPOILERS, como costumeiramente faço aqui (OK, me processem) é bem semelhante ao último confronto entre Holmes e Moriarty no livro escrito por Conan DoyleO Problema Final”, aquele que foi feito para ser o capítulo final da saga do detetive inglês. Moriarty, além de possuir uma mente brilhante quase ao mesmo nível que a de Sherlock também é um exímio boxeador, e é muito interessante o raciocínio lógico que ele utiliza para vencer Holmes, aquele mesmo que tão bem marcou as cenas de luta do primeiro filme. É de prender o fôlego a solução que Holmes encontra para não permitir que Moriarty o vença em combate, o que fatalmente aconteceria.

Dublagem

Como assisti o filme no fim de semana de estreia, não foi nenhuma surpresa que o cinema estivesse lotado. Em um horário bom, me sobrou uma sessão dublada, daquelas que uma boa parte do público costuma torcer o nariz, mas devo dizer que não fiquei inteiramente descontente com isso.
Apesar de preferir a versão legendada no cinema, como sempre costumo dizer aqui, a dublagem está de primeira. Todas as vozes do primeiro filme estão lá, incluindo Marco Ribeiro que dubla Robert Downey Jr. como de praxe (ele também o faz em Homem de Ferro 1 e 2), Alexandre Moreno que faz a voz de Jude Law, Fernanda Fernandes na voz de Rachel McAdams, Mauro Ramos como Stephen Fry e Dário de Castro (a voz do Ciclope da série animada dos X-Men dos anos 90) como o Professor Moriarty.
Sou um fã da dublagem brasileira, e esse meu carinho ficou impresso no Top 10 que fiz sobre dublagem. Lá, pra quem não ligou os nomes citados acima às vozes, dou detalhes de seus trabalhos, com exceção de Dário de Castro, cujo nome eu desconhecia. Agradeço a dica que Guilherme Briggs me deu através do Twitter sobre o dublador.
Todos estão, como de costume, acima da média, mas destaco o trabalho de Mauro Ramos, que empresta a voz a Mycroft Holmes, personagem responsável pelas principais gargalhadas do filme. Ele empostou mais a voz e encheu o personagem de um sotaque (que deveria ser o inglês britânico) de “r” muito engraçado. A frase “Stanley, onde é que você vai?”, quando o personagem chama seu mordomo meio caduco, ficou na minha cabeça depois da sessão. Mauro, pra quem não lembra, costuma dublar personagens grandalhões e/ou truculentos. Estão no seu currículo as vozes do Pumbaa, Sully (Monstros S.A), Fera (X-Men Evolution) e Shrek (à partir do segundo filme).
Ponto para o Brasil e seus excelentes dubladores que fazem com que apreciemos os filmes no cinema mesmo sem ter que ler nada para entender nomes de lugares ou de personagens.
Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras é pra mim um filme nota 9. Me diverti além do esperado, e a julgar pelos aplausos ao final da sessão, tal qual ao fim de uma peça de teatro, não fui o único que aprovou as novas aventuras de Sherlock Holmes, e isso é elementar, meu caro Watson.

Pra quem não leu o review do primeiro filme, fique à vontade. A casa é sua:

Sherlock Holmes 1


NAMASTE!

3 comentários:

  1. Assisti ontem ao filme e concordo com vc. um filme muito bom e com a referência o coringa ficou melhor ainda. Muito boa a sua review. parabéns!

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  2. Não gostei do filme, tem umas cenas nada a ver e a história é muito tonta... E o dublador do Watson é irritante o sotaque dele é o mesmo que faz o pai do do numero 4 no filme Eu Sou o Número 4 e o Inimigo do Bond!!!! Não gosto da voz e do sotaque desse dublador.. Acho que é Alexandre Moreno.

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  3. A Dublagem Brasileira já teve a sua época de ouro, primeiro nos anos 50 com os radio atores, depois nos anos 60 e 70, com grandes dubladores como Borges de Barros, Antonio Patino, Lima Duarte, etc.
    Hoje, eu sou obrigado a escutar o Guilherme Briggs em cada filme que dubla, dizer o bordão: "Ô Meu querido"...
    "O Meu Querido", caco em dublagem não !!!!!

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