Lançado em 2012, Wayne de Gotham surgiu na pegada dos games de sucesso do Homem Morcego (a série “Arkham”), e apesar de beber principalmente da fonte de onde ele nasceu, os quadrinhos, Tracy Hickman, o escritor, usa muitos elementos visuais dos jogos, em especial a tecnologia utilizada pelo Batman. Leitores de quadrinhos já estão acostumados com os chamados “Elseworlds” que nos apresentam realidades alternativas onde nossos heróis vivem, e Wayne de Gotham pode ser considerado um “Túnel do Tempo”, em especial pelo desfecho da história que foge da realidade com a qual estamos acostumados.
Quando estranhos crimes envolvendo uma carta contendo um
resíduo químico que induz quem entra em contato com ela a ter reações pouco
convencionais começam a assolar Gotham, o Batman é obrigado a entrar numa
investigação que o leva ao passado de sua família. Quanto mais ele procura,
mais os indícios o levam ao momento mais doloroso de sua vida: O Assassinato de
Thomas e Martha Wayne.
Enquanto o Batman investiga o caso no presente, somos levados
através de flashbacks, até o passado da década de 50, onde o jovem Thomas Wayne
sofre com os métodos rudes de educação de seu pai, o velho Patrick Wayne. Disposto
a transformá-lo num HOMEM nem que seja na marra, o avô de Bruce Wayne utiliza
até mesmo de terror psicológico, o obrigando a manejar armas de fogo e atirar
contra alvos móveis. A contragosto do velho, Thomas se forma em medicina e passa
a exercer sua função, enquanto esconde uma paixão secreta por sua amiga de
infância e vizinha, Martha Kane. Martha tem hábitos autodestrutivos e um gosto
peculiar para homens, o que a mantem longe do pouco corajoso Thomas, que encara
uma friendzone sofrida, acompanhando Martha as festas e a vendo se embebedar e
dar mole para os caras mais cretinos da cidade. Hickman descreve um período da
vida dos Wayne pouco explorado anteriormente, e por quase todas as páginas do
livro vemos Thomas e Martha apenas como amigos, mesmo sabendo que ambos sãos os
pais de Bruce.
Durante sua investigação, Bruce Wayne começa a descobrir que
tudo que sabia sobre seus pais e até mesmo sobre seu fiel mordomo Alfred não era
o que ele imaginava, o que o leva a uma cruzada solitária até as provas de que
seu pai pode ter sido o responsável por toda a loucura que sempre esteve
presente em Gotham. Quando uma mulher chamada Amanda Richter surge de forma
misteriosa no jardim da mansão Wayne, Bruce forja uma identidade (Gerald
Grayson) para abordá-la, e é aí que sua vida começa a virar do avesso. O suposto
pai de Amanda, um renomado cientista, possuía ligações no passado com Thomas
Wayne, e os segredos guardados dessa relação causam uma ruptura entre Bruce e
Alfred, já que o mordomo escondia tais informações dele o tempo todo, sabendo o
quão graves seriam seus efeitos sobre Bruce.
Enquanto procura descobrir o que Richter e Thomas Wayne
faziam no Asilo Arkham na década de 50, o que isso tem a ver com o surgimento
de tantos malucos homicidas em Gotham e em especial o porquê isso levou seus
pais a serem assassinados, o Batman acaba reencontrando pelo caminho alguns de
seus velhos inimigos, incluindo a Arlequina e o Coringa, que parecem estar
ligados a grande trama que o envolve. Quem seria o grande mentor por trás de
toda essa intrincada trama? A resposta surge de forma surpreendente nas páginas
finais do livro.
Wayne de Gotham é uma viagem espetacular ao passado da
família Wayne, e o texto é tão fluído que nos deixa curiosos o tempo todo para
saber qual é o mistério que envolve a vida e a morte dos pais do Batman. Ao mesmo
tempo que acrescenta novos elementos a história que nós pensávamos que já
conhecíamos sobre os Wayne, de maneira nenhuma isso interfere no presente do
personagem dos quadrinhos, funcionando como um retcon perfeito. O Batman no
presente, no entanto, já está na ativa há bastante tempo, e não são raras as
vezes que em suas descrições o personagem se diz “velho” e “cansado” para
certos esforços físicos. É como se estivéssemos acompanhando as aventuras do
Bruce Wayne do Cavaleiro das Trevas (de Frank Miller) com a tecnologia do
Batman Beyond, o desenho animado que mostrava as aventuras de um jovem Batman
comandado pelo velho (e ranzinza) Bruce Wayne. A bat-roupa funciona mais como
uma armadura dotada de vários equipamentos como aumento de força, sonar e visão
periférica computadorizada, e o traje comanda diretamente o Batmóvel, algo bem
próximo do que vemos nos games do Homem Morcego criados pela Rocksteady.
Apesar de possuir capítulos muito instigantes e interessantes
de um modo geral, algumas descrições das cenas de ação do Batman são muito
confusas, o que acaba deixando o leitor perdido na narração. O Batman do livro
se pauta tanto pelo uso da tecnologia, que as vezes não conseguimos acompanhar
o que realmente ele está fazendo, como e por que, e isso faz com que o livro,
que foi traduzido por Alexandre Martins, perca pontos importantes num dos
detalhes específicos do Batman, que é sua perícia física. Não dá pra saber se o
texto de Hickman é que se torna confuso quando ele tenta explicar as cenas de
ação ou se algo se perdeu na tradução, mas esse ponto incomoda bastante. Seja como
for, o livro vale a pena para quem é fã do Homem Morcego e para quem acha que
já sabe tudo sobre o passado da família mais tradicional de Gotham. Você irá se
surpreender.
Wayne de Gotham foi publicado pela editora Fantasy Casa da
Palavra e pode ser encontrado nas principais livrarias por algo em torno de R$
30,00.
NAMASTE!
Nenhum comentário:
Postar um comentário