Não há dúvidas que o Homem Morcego é o personagem mais
popular e lucrativo da Warner/DC, por isso, o número de experimentações que o
estúdio faz com o Batman é muito maior do que acontece com o Superman ou com a
Mulher Maravilha, por exemplo. Nesses 80 anos, já vimos o Morcego em
inimagináveis aventuras, das mais comuns às mais bizarras, e acho que esse é o
caso de Batman Ninja, animação japonesa dirigida por Junpei Mizusaki, lançada
em 2018.
Pra começo de conversa, é importante deixar claro que o problema
desse filme não é nem de longe o seu visual, que é fantástico! Apesar de nunca
ter sido muito fã de anime, eu me curvo à técnica japonesa de animação, que é a
mais detalhada e empolgante do mundo, deixando no chinelo muito do que é
produzido no Ocidente. Nos últimos anos, vimos a DC abandonar aos poucos o
estilo ocidental de animação (saudades Bruce Timm!) para adotar algo mais
próximo dos animes, o que tornou as batalhas entre heróis e vilões, de certo
modo, ainda mais épicas nos desenhos produzidos. Sem falar no exagero! O ápice acredito ter sido A
Morte do Superman, animação de 2018, que coloca o Homem de Aço para sair no
braço com o Apocalypse em ritmo de Dragon Ball Z!
Batman Ninja tem um plot sensacional que é arrancar o Batman
de seu habitat natural e jogá-lo séculos antes, no quase inóspito Japão feudal.
Após um confronto rápido com o Gorila Grodd nas dependências do Asilo Arkham do
presente, o herói é removido de seu tempo por um equipamento criado pelo vilão,
e acaba parando no Japão feudal.
Por um inexplicável efeito colateral do
deslocamento temporal, todos os demais internos do Arkham, Grodd, a Mulher Gato
e até mesmo seus aliados, chegaram lá muito antes do Morcego (dois anos antes),
e quando ele chega, todos já estão estabelecidos e adaptados ao novo lar. Cabe então
ao Batman se adaptar a sua nova realidade, sem sua tecnologia habitual e sendo
obrigado a enfrentar todos seus principais vilões, que agora são líderes de
províncias japonesas.
Essa ideia é sensacional! Lendo isso, quem é que não
consegue imaginar batalhas épicas entre o Batman e samurais fazendo-o voltar as
suas origens, quando ele treinou seu corpo para se tornar o melhor lutador
marcial do mundo?
Pois é... É aí que os produtores Michael E. Uslan e Benjamin
Melniker colocam tudo a perder e permitem a inserção de elementos que
simplesmente não condizem em nada ao Japão feudal, que deveria ser o principal elemento
de estranhamento ao Batman e a seus amigos. Seria bem mais interessante vê-los
ter que se virar apenas com o que se tinha disponível naquele período de tempo,
mas do nada, junto com o Batman, foram deslocados no tempo o Asilo Arkham
inteiro, o Batmóvel (que vira a Batwing E a Batmoto!) e até o Alfred (com seu
habitual uniforme de mordomo inglês e um coque samurai na cabeça!). Para
completar a quizumba, o Coringa transforma sua casa de província numa espécie
de monstro que destrói os veículos do Batman, deixando-o à mercê de um Bane
sumô (!) e da Arlequina, que se finge de vítima indefesa para enganá-lo.
Salvo por uma horda
de ninjas-Batman, o Homem Morcego acaba descobrindo que o Asa Noturna, o Robin
Vermelho, o Robin e o Capuz Vermelho estão agindo com esses tais ninjas-Batman e
que eles pertencem a um clã que acredita em uma profecia sobre um salvador
morcego.
Até aqui está ótimo o enredo, Rodman!
Ah, claro! Uma casa japonesa construída com tecnologia de
séculos atrás que é capaz de destruir o Batmóvel. Uhun! Super-comum!
Sem muitas opções, o Batman é obrigado a formar uma aliança
com o Gorila Grodd, que alega estar fazendo um experimento com os antigos
moradores do Arkham, ali deslocados no tempo. Enquanto o Duas-Caras, o Pinguim, a Hera Venenosa e o
Exterminador comandam cada um deles uma província, eles veem na figura do
Coringa o perigo mais imediato, e partem para confrontá-lo, junto ao clã ninja.
Ao final de tudo o barco onde eles estão explode (isso tudo após os soldados do
Coringa usarem METRALHADORAS para tentar matar os ninjas), o Batman se fere,
Grodd trai a confiança do Batman com a ajuda do Duas-Caras, a Mulher-Gato
decide se aliar ao Grodd e o Coringa desaparece junto com a Arlequina.
Irado, Rodman!
Ah, sim! Claro! Em especial a parte das METRALHADORAS do
Coringa no Japão feudal!
Enquanto se recupera, o Batman decide aceitar a dádiva dos
ninjas e treina para se tornar um deles, sugerindo a seus amigos que façam o
mesmo. Logo que o Capuz Vermelho descobre o paradeiro do Coringa, o ex-Robin parte
para confrontá-lo e descobre que o palhaço e a Arlequina perderam a memória,
vivendo agora como simples camponeses. O Batman convence Jason Todd a não matar
o Coringa camponês, e eles partem para tentar deter os demais vilões e retornarem para Gotham City.
Quase totalmente adaptado a seu estilo Ninja, o Batman e
seus aliados são confrontados pelos vilões, que partem para cima dele com seus castelos
provincianos móveis (!) e no ápice da batalha o Coringa ressurge com seu Arkham
móvel (!) e todos eles juntos formam UMA PORRA DE UM ROBÔ GIGANTE!
POR QUE TÊM QUE ENFIAR ROBÔ GIGANTE EM TUDO, SATANÁS! POR
QUE???
Enquanto eu controlo o nível de glicemia e meu ritmo cardíaco
assistindo essa merda bela obra de arte, começo a me perguntar como o Batman e seus ninjas
humanos irão derrotar aquelas máquinas gigantes. Eis então que o Gorila Grodd surge
com a solução. Após ser derrotado em combate à bordo de seu meca gigante, o vilão símio
dá ao Batman uma flauta que comanda o seu exército de macacos (!), e é Damian
Wayne quem a toca e faz com que o exército de comedores de bananas ataque o
Megazord Coringa.
Mas que chances têm simples macacos contra um robô gigante,
Rodman?
Ah, jovem padawan, mas você não contava que os macacos iam
se juntar e formar um MACACO GIGANTE! (Nem dá pra acreditar que alguém achou
bacana esse roteiro!). Como é de se esperar, o macaco gigante não dá conta do
MegaCoringa que começa a pulverizá-los com um lança-chamas. Vendo suas chances diminuírem
cada vez mais, o Batman olha incrédulo para o horizonte quando uma nuvem negra
alerta sobre a chegada de milhões de morcegos que se juntam ao macaco gigante e
formam UM DEUS-BATMAN GIGANTE!
Sério, nessa hora eu já estava tão acostumado com os
absurdos da animação que nada mais me surpreendia. É impressionante o que as
mentes orientais são capazes de criar e mais ainda impressionante é o tipo de
plot que a Warner/DC aprova sem nem questionar.
Ah, Rodman, mas é uma nova visão para o Batman. Como ele
seria concebido visto pela ótica oriental. Deixe de ser pau no cu!
Então tá, né!
Ao longo dos anos como leitor de quadrinhos eu já li muita coisa
absurda envolvendo o próprio Batman (como ele saindo no braço com o Darkseid!),
mas com esse pezinho no oriente, as animações estão cada vez mais bizarras e
inacreditáveis. Ainda bem que não é a mim que esses desenhos têm que agradar,
não é mesmo?
Batman Ninja é uma tremenda ideia mal desenvolvida, mas deve agradar os millennials!
Nota: 4
NAMASTE!
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