7 de fevereiro de 2020

COMBO BREAKER #009 - Oscar 2020 - O Escândalo do Parasita em 1917


De vez em quando é bom desopilar os sentidos e conferir experiências cinematográficas mais diversas, sair dos parques de diversão de Marvel, DC e Star Wars e assistir CINEMA DE VERDADE. Por isso, esse Combo Breaker traz meus reviews - nada abalizados - de O EscândaloParasita e 1917todos premiadíssimos no Globo de Ouro e de qualidade indiscutível, rumo ao Oscar 2020!

O ESCÂNDALO

Não sou um profundo conhecedor de política americana ou nada do gênero, e para não falar nenhuma besteira gigantesca - até porque besteiras leves é o que mais sei dizer! -, tive que me inteirar de alguns termos comuns antes de escrever sobre O Escândalo, um dos filmes mais politizados da lista que vou comentar aqui.

Conservador – 1. Que conserva ou preserva. 2. Que é contrário a mudanças políticas e sociais. Indivíduo que se opõe a inovações ou reformas.

Liberal – 2. Amigo da liberdade política e civil. 4. Pessoa partidária da liberdade política e religiosa; liberalista.

Liberalismo político é uma doutrina cuja meta é a proteção da liberdade do indivíduo. Os liberais defendem que o Estado é necessário como meio de proteção do indivíduo, mas não deve prejudicá-lo e nem representar, ele mesmo, um atentado à liberdade. Defende ainda que o Estado deve preservar a liberdade individual, de escolha dos representantes do povo, a igualdade dos indivíduos perante a eliminação de privilégios. Também defende a liberdade de expressão artística, cultural e religiosa.

A plataforma do Partido Republicano (GOP) envolve o apoio ao capitalismo de livre mercado, à livre iniciativa, ao conservadorismo fiscal, a uma forte defesa nacional, desregulamentação e restrições aos sindicatos. Além de defender políticas econômicas conservadoras, o Partido Republicano é socialmente conservador e busca manter valores tradicionais baseados principalmente na ética judaico-cristã.

Em meados de 2016, uma série de denúncias de assédio sexual contra o produtor de cinema Harvey Weinstein deu início ao popular movimento #metoo, que deu voz na internet a milhares de mulheres em milhares de outros casos de assédio pelo mundo todo, além de Hollywood. Weinstein acabou pagando caro por sua conduta, e muitas atrizes que já haviam trabalhado com ele, nos filmes que ele produzia (através do selo Miramax), o denunciaram à Justiça, colocando fim a sua carreira até então bem-sucedida.

Aqui Weinstein aparece ao lado de Quentin Tarantino e Uma Thurman, uma das atrizes que o denunciaram por assédio.

As denúncias contra Weinstein serviram também como um estopim para que Gretchen Carlson, uma das âncoras jornalísticas da Fox News, revelasse as insinuações sexuais - um dos motivos dos quais, inclusive, culminou em sua demissão do canal - que sofria do patrão Roger Ailes, o grande magnata por trás do polêmico canal de TV. O caso foi tão grave, que abriu precedente para que diversas outras mulheres que trabalhavam com ele entrassem em uma ação conjunta contra o empresário, o que acabou ocasionando a sua demissão algum tempo depois.

O Escândalo, escrito por Charles Randolph e dirigido por Jay Roach (de Entrando Numa Fria) é uma reprodução bem fiel a essa história, colocando Nicole Kidman no papel de Gretchen CarlsonJohn Lithgow como Roger Ailes e Charlize Theron (que também é produtora do longa) como a âncora Megyn Kelly, outra das mulheres que mais tarde revela ter sido vítima de assédio sexual.

John Lithgow em cena e o verdadeiro Roger Ailes

Enquanto ficção e realidade se misturam, Roach opta por uma direção dinâmica no início do filme e chega até mesmo a usar o recurso da quebra da quarta parede, com a personagem de Charlize mostrando para o público – enquanto encara a câmera – como funciona a redação da Fox News e as outras redações que estão no mesmo prédio. Quase toda a ação inicial se desenrola na queda de braço que Megyn Kelly acaba medindo com o, até então, candidato à presidência Donald Trump, e Roach mistura imagens encenadas com vídeos reais. Não há um ator interpretando Trump, por exemplo, e quando ele é interpelado por Kelly no filme, é ele mesmo quem está no vídeo, com imagens tiradas de arquivos.

A verdadeira Megyn Kelly em debate com Trump

A disputa entre Kelly e Trump se dá pelas acusações de assédio sexual do qual Trump era acusado na época, e num tom pouco ameno, ela acaba alfinetando Donald ao lhe questionar sobre isso, enquanto é insultada pelo candidato do partido republicano, em contrapartida. Se valendo de uma técnica bem conhecida também no Brasil, inclusive muito utilizada pelo hoje atual presidente, Trump usava sua conta no Twitter para disseminar seu ódio, chegando a ofender Kelly, chamando a de “repórter de baixa qualidade”, “alucinada”, “incompetente”, “pouco profissional” e “pouco talentosa”. Seja antes de ser eleito ou depois, Trump nunca escondeu de seu eleitorado seu machismo e misoginia, e esse embate entre ele e Kelly é um bom início para O Escândalo, se estendendo até a metade do filme e mostrando que causa certa instabilidade na carreira da jornalista. 

É bem difícil não fazer certa correlação com o que nós brasileiros sentimos em nossa última eleição, já que o perfil dos dois presidentes se iguala bastante – o nosso idolatrando o deles, inclusive – e uma vez que as táticas usadas para agredir com a total falta de tato social pelos meios de comunicação são as mesmas. Depois que se coloca contra Trump, embora faça parte da folha de pagamento do canal mais conservador dos EUA, e o PREFERIDO de Trump, Kelly começa a receber críticas nas ruas, tendo que ouvir sempre um “Truuump” em provocação, enquanto anda por aí. Se fosse no Brasil seria um “Mito” acompanhado do sinal da arminha nas mãos!
  
Introduzida no filme para escancarar mais os casos de assédio sexual contra Ailes e para que eles sejam mostrados graficamente, a personagem Kayla Pospisil de Margot Robbie é uma jovem e ambiciosa jornalista que almeja galgar degraus na profissão rapidamente, atitude que logo é notada por Ailes. A fim de dar um "empurrãozinho" na carreira da moça, o magnata a convida para uma reunião privada em sua sala, e claro, a assedia. Após as visitas ao chefe, ela começa a ascender na redação, mas a custo da própria consciência. Quando as denúncias de Gretchen contra Ailes explodem na mídia, um grupo de mulheres começa a se organizar na Fox News para também denunciar os abusos, e é quando Kayla decide se mobilizar, ficando ao lado delas.


Megyn Kelly é praticamente uma das últimas a aderir à causa, e por um bom tempo ela simplesmente se nega a acusar o homem que a ajudou em começo de carreira, e que praticamente a tornou a âncora de renome que ela se tornou nos quase 12 anos de Fox. Essa questão também pode ser levada para o nosso dia a dia. Quem nunca teve que aguentar até mesmo outros tipos de assédio por parte do chefe escroto só para manter seu emprego e o salário no final do mês? Vendo por esse lado, na vida real, mesmo que o assédio sexual seja algo tão grave e imoral, não dá para julgar uma mulher, que de repente, aceita passar por uma situação dessas em nome do prestígio e do bem-estar financeiro, ou para que seu status quo profissional não seja alterado. Quando Kelly percebe que o movimento das mulheres unidas contra o assédio sexual e a postura condescendente da empresa onde trabalha quanto aos casos de assédio é maior do que seu nome e prestígio, ela adere a ele e passa até mesmo a liderar o grupo, indo a fundo nas investigações e posteriormente derrubando Ailes do cargo.

Outra nuance que o filme trata é justamente o do comodismo de se trabalhar numa empresa que não representa os seus ideais, mas que paga seu salário e suas contas. A personagem de Kate McKinnon representa bem isso. Após um rápido relacionamento com Kayla, ela admite que está na Fox porque foi um dos primeiros empregos na área que ela conseguiu e que ele lhe dá seu sustento. Embora tenha que esconder sua orientação sexual de todos ali – porque afinal, ela está trabalhando no canal de TV mais conservador dos EUA! – e que não concorde em NADA com a ideologia da empresa, ela faz seu papel lá dentro como jornalista, fingindo que concorda com os discursos moralistas e pouco liberais dos patrões.

Margot Robbie, Nicole Kidman, Jay Roach (diretor), Charlize Theron e Charles Randolph (roteirista)

Apesar de dirigido e roteirizado por homens, O Escândalo mostra o assunto assédio sexual contra mulheres de uma maneira até mesmo bem didática, deixando bem claro o quanto essa prática, infelizmente corriqueira, acaba afetando de forma negativa suas vidas. Longe de saber o que realmente uma mulher passa quando é assediada no próprio local de trabalho, eu consegui captar a mensagem que o filme passa, e como às vezes – ou na maioria das vezes – o medo, a culpa e até mesmo o receio de uma possível difamação acabe atingindo de vez a vítima após a denúncia do crime.

"E se eu denunciar e ninguém acreditar em mim?"

"E se eu perder meu emprego e ficar queimada no mercado profissional por ter denunciado?"

Esses questionamentos chegam a ser levantados pelos advogados de Gretchen quando ela decide denunciar os abusos de Alies, e ela só consegue êxito quando mais mulheres aderem à causa. Sozinha, praticamente ela teria sido destruída pela Fox.

Alguns meses depois das acusações, foi descoberto que tanto a Fox News quanto Roger Ailes chegaram a pagar milhões de Dólares para abafar algumas denúncias de assédio ao longo dos anos, e mesmo defenestrado do canal, Ailes recebeu uma bela indenização por sua demissão, vindo a falecer em 2017.

Charlize incrivelmente parecida com Megyn Kelly

Charlize Theron e Margot Robbie concorrem ao Oscar de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante respectivamente, e O Escândalo ainda concorre ao prêmio de Melhor Maquiagem, o que convenhamos, o filme merece pela transformação de Theron em Megyn Kelly, que ficou perfeita.


PARASITA

Dirigido por Bong Joon Hoo o filme sul-coreano Parasita é com certeza uma das maiores surpresas do cinema em 2019. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme EstrangeiroMelhor Roteiro de Cinema e Melhor Diretor, o filme não agradou somente a crítica especializada, como também deixou muito espectador casual de queixo caído na sala de cinema. 

Bong Joon Hoo

Criado para causar um impacto com a diferença gritante entre o estilo de vida da família de Ki-taek (Song Kang-Ho) e a dos ParkParasita não funciona só como uma crítica social sobre o abismo que separa ricos e pobres, mas também como uma forma muito sólida de nos mostrar o quanto a realidade de uma cultura tão distante da nossa, na verdade não é tão diferente assim. Espelhando os perrengues que Ki-Woo (Woo-sik Choi) e a família passam no começo do filme com qualquer morador pobre de país sul-americano de terceiro mundo, não chega a ser algo tão incomum. Soa até mesmo familiar.


O que difere Parasita das demais produções que disputam o Oscar, por exemplo, é a criatividade com que a história nos é contada, algo que só percebemos que estamos perdendo, quando nos despimos de nossos preconceitos culturais e abraçamos uma obra que vem um pouco mais além do que os EUA.


Morando numa espécie de porão – os chamados banjiha –, os desempregados Ki-taekKi-Woo (ou Kevin, como aparece nas legendas), Ki-Jung (Park So-Dam) e Chung-Sook (Chang Hyae Jin) se espremem no cubículo malcheiroso abaixo das ruas da cidade, enquanto tentam ganhar a vida da maneira como podem. A sorte da família começa a mudar quando um amigo de Ki-Woo oferece a ele um emprego para dar aula de inglês à filha de uma tradicional família de Seul, e ao conhecer a família Park e sua luxuosa mansão, a ambição de uma ascensão social começa a crescer em Kevin. Com um plano meticulosamente intrincado em mente, o rapaz e sua irmã golpista - chamada de Jessica na legenda- começam a dar um jeito de colocar os membros da própria família um a um para dentro da mansão dos Park, e é aí que a cobiça começa a lhes cobrar um preço altíssimo.

Park So-Dam e Woo-Sik Choi

Simplesmente não dá para tirar os olhos da tela depois que se começa a assistir Parasita. A trama nos faz mergulhar de um jeito bem particular no filme, e é impossível não torcer para que o plano da família aproveitadora dê certo em seus mínimos detalhes, bem como simpatizar com os carismáticos personagens. Com nuances de comédia bem características no cinema asiático, mas com uma dosagem bem grande de suspense e até mesmo de terror gore, Parasita é surpreendente em suas quase duas horas, e deixa boquiaberto qualquer cinéfilo em sua meia-hora final. Sem grandes efeitos visuais, truques de câmera ou mesmo exageros artificiais, o filme todo prende apenas com a direção firme de Bong Joon Hoo e com as atuações fantásticas do elenco, o que nos faz acreditar que mesmo com poucos recursos, é possível fazer cinema de qualidade.


Parasita concorre ao Oscar de Melhor FilmeMelhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Internacional, Melhor Montagem e Melhor Direção de Arte, e dificilmente sairá de mãos abanando da premiação. Num ano em que CoringaJoJo Rabbit e Adoráveis Mulheres disputam o principal troféu da noite do Oscar, não acho nada difícil que o filme coreano abocanhe o prêmio, o que seria merecido.

1917

A meu ver, e pela minha parca experiência como espectador de cinema, eu diria que o filme que mais faz frente à Parasita como Melhor Filme no Oscar é 1917, do diretor Sam Mendes. Com uma história simples em que dois personagens devem se deslocar do ponto A até o ponto B em meio a Primeira Guerra Mundial, numa cidade francesa, o primor técnico que Mendes e sua equipe conseguem ao executar as filmagens quase que inteiramente num longo plano-sequência, num filme de quase duas horas, é de se aplaudir em pé. Eu não me lembro de ter visto nada parecido em minha vida.

Sam Mendes no set

Filmes de guerra são muito populares, e de cabeça dá para citar uns cinco aqui sem apelar para o Google, mas a ousadia de Sam Mendes em querer contar a história fictícia dos soldados Blake (Dean-Charles Chapman, o Tommen Lannister de Game of Thrones) e Schofield (George Mackay) em meio a uma França tomada por rivais alemães, precisando entregar um recado a uma tropa que está prestes a cair numa armadilha, fazendo os dois rapazes atravessarem a cidade sem nenhum apoio, não só prende a atenção do espectador do começo ao fim como o coloca de carona com eles. O tempo todo nós somos a companhia de Blake e Schofield e não os perdemos de vista até que sua missão seja cumprida (pelo menos parcialmente!).


O plano-sequência é com certeza um dos meios de filmagem mais complexos de se conseguir no cinema, já que exige que uma infinidade de fatores contribua para o sucesso dele, tendo que funcionar tudo AO MESMO TEMPO. Para uma “cena simples” em plano-sequência dar certo, o ator não pode errar a fala (se for o caso de um diálogo), o cenário tem que estar bem iluminado, a câmera tem que estar bem posicionada, os figurantes precisam estar atentos para não aparecerem mais do que devem e principalmente a execução disso tudo tem que estar bem afiada com o desejo do diretor. Um erro não compromete só uma cena, mas uma sequência inteira!

Vocês se lembram de Birdman? O filme que ganhou o Oscar em 2015 era quase que totalmente filmado em plano-sequência, mas era baseado mais em diálogos e interação entre atores do que em ação propriamente dita. Em 1917, estamos no meio de uma batalha. Os personagens precisam lutar por suas vidas enquanto tentam chegar até seu destino e os empecilhos no caminho são muitos. Como se faz sequências tão grandes e complexas de ação sem que tiremos nossos olhos da tela?

Não sei, mas Sam Mendes conseguiu!

Os cenários de guerra são riquíssimos em detalhes. Enquanto os dois rapazes se deslocam, podemos ver os pormenores de trincheiras, casebres, fortes e até mesmo rios cheios de corpos humanos putrefatos boiando, e isso tudo DO NOSSO LADO, ou NA NOSSA CARA. Com um olhar mais clínico, é possível adivinhar os momentos em que os cortes de cena são inseridos na edição, óbvio, mas o plano-sequência falso é tão bem executado, que a sensação ao final do filme é que estivemos acompanhando toda a missão dos dois soldados em tempo real. Tem hora que nem dá pra saber onde está fixada a câmera. É sensacional!



Um bom exemplo de como esse estilo de filmagem impressiona, é quando o avião alemão despenca do céu, após ser abatido. Do momento em que vemos ao longe a batalha aérea, até o ponto exato em que o veículo começa a se precipitar ao chão, não tem um só corte na cena. Nessa sequência tudo funciona. A câmera, a reação dos dois soldados, a sonorização, o impacto da queda e a surpresa. Ali só não funciona mesmo a "bundamolice" de Blake e Schofield, que acabam sendo “bonzinhos” demais com seus inimigos, mesmo após identificá-los – o piloto falou alemão, porra! -, caindo numa armadilha previsível e mortal ao tentar salvar a vida do piloto. 

Mais adiante da missão, é a vez de Schofield se deparar com um inimigo e tentar silenciá-lo, em vez de acabar com ele de uma vez, já que ele estava em desvantagem. Mas não são esses detalhes que estragam o filme.


1917 é uma belíssima obra cinematográfica que precisa ser assistida em tela grande, com uma sonorização especial de cinema. Esses recursos ajudam bastante na entropia da imersão à história, além de causar uns sustos providenciais na hora que a bala começa a comer solta. 

O filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme DramáticoMelhor Direção para Sam Mendes (justíssimo!) e Melhor Trilha Sonora Original. O filme tem 10 indicações ao Oscar, entre elas, pela parte técnica, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som, e prêmios gigantes como Melhor Filme e Melhor Direção.

A disputa esse ano vai ser acirradíssima, lembrando que na lista de melhores filmes ainda consta Ford vs. FerrariO IrlandêsHistória de um Casamento e Era uma vez... Em Hollywood.


Fontes usadas no post:

Liberalismo político
Partido Republicano
Megyn Kelly vs. Trump 
O caso Harvey Weinstein

NAMASTE!   

22 de janeiro de 2020

Crise nas Infinitas Terras - PARTE 5


LEGENDS OF TOMORROW – EPISÓDIO 1 (Temporada 5)

Todos os Paragons acordam no dia seguinte em suas casas e descobrem que o universo foi realmente salvo por eles. Algo inusitado, no entanto, acontece e os heróis que antes moravam em Terras diferentes, agora residem na mesma Terra, a Terra-Prime, além de descobrirem que Lex Luthor é uma espécie de herói nacional reconhecido por todos! 


Como dito anteriormente, é mais ou menos isso que acontece na saga escrita por Marv Wolfman para as HQs. Na época, a DC estava virando um sururu maluco, e conforme eles iam adicionando personagens de outras editoras a sua, comprando as que estavam falindo e forçando a falência (COF! COF! Fawcett Comics!) de outras, eles meio que inventavam que cada grupo de heróis pertencia a uma Terra Paralela qualquer. Com o tempo, isso começou a ganhar proporções gigantescas e uma grande confusão na cabeça dos leitores. Quem é de que Terra? Esse Robin aqui é de onde? E esse Superman velho? E esse Flash com o penico alado na cabeça?

A batalha final contra os Dementadores do Antimonitor
Se a gente for notar, a mesma coisa estava acontecendo nas séries da CW, em especial em The Flash, que na falta de criatividade, sempre se jogava o argumento de que o "fulaninho da vez era de outra Terra" e já era. Após a morte prematura do Harrison Wells na primeira temporada (até hoje o melhor vilão que o Flash já teve em live-action!), a cada temporada eles usavam um “Harrison Wells” diferente, vindo de outra Terra, e vamos combinar que isso perdeu a graça já na terceira vez que aconteceu. Tom Cavanagh é um ator versátil e empresta todo seu talento para sempre criar um Wells diferente a cada temporada, mas isso passou dos limites há muito tempo. Até a Canário Negro (Katie Cassidy) que morreu lá na quarta temporada de Arrow (ou quinta, sei lá!) foi trazida de volta de uma dessas Terras Paralelas, e usaram a desculpa que ela era uma espécie de “gêmea malvada” da verdadeira Laurel Lance de outro mundo, a Sirene Negra.



Ao final do episódio de Legends of Tomorrow, temos vislumbres de outras Terras que continuam existindo além da Terra-Prime (incluindo a Terra-12 com a Tropa dos LANTERNAS VERDES, a Terra-19 do Monstro do Pântano, a Terra-9 com os Titãs, a Terra-21 com a Patrulha do Destino e a Terra-96 com o Superman do Christopher Reeve, interpretado pelo Brandon Routh), o que quer dizer que nem todos os personagens se juntaram... Ainda. 



Por algum tempo, até que exista outra Crise, ainda teremos uma caralhada de Batmen espalhados por aí, um para cada série que esteja precisando de audiência!

Com certeza o ponto alto do episódio são as homenagens que, tanto o mundo quanto os heróis, prestam ao falecido Oliver Queen, deixando bem clara a importância do Arqueiro Verde para esse universo televisivo. É difícil não se emocionar com esse “fim de uma era” que a despedida do Arqueiro causa, em especial para quem acompanhou essas séries engatinharem uma a uma, surgindo de dentro da série principal que era Arrow


O destino do Time Arrow e seus personagens será decidido nos dois últimos episódios da série que irão ao ar ainda esse ano, e outro spin-off dará as caras, acompanhando a partir de então a vida de Mia Smoak e os demais herdeiros de John Diggle, Lyla e do Cão Raivoso (Rick Gonzalez), sob a tutela das Canários Laurel Lance e Dinah Drake (Juliana Harkavy).


Mia Smoak, Laurel Lance e Dinah Drake

O último cameo do crossover é a aparição do próprio escritor Marv Wolfman, que aparece logo no início do episódio tietando o Flash e a Supergirl, explicando que agora eles fazem parte do mesmo mundo, a Terra-Prime. 

Marv Wolfman

As interações entre eles agora podem ocorrer de forma muito mais fluída, sem a necessidade daquele teleportador criado pelo Cisco Ramon, já que eles moram a algumas cidades de distância. O mais irônico da aparição de Wolfman, em cena com os dois personagens é que ele foi o responsável PELA MORTE de ambos em sua versão Crise nas Infinitas Terras para os gibis. Tanto Barry Allen quanto Kara Danvers morrem pelas mãos do Antimonitor, mortes que só seriam desfeitas muitos anos depois, após várias outras Crises na DC.



O episódio termina com Barry Allen formando uma espécie de “Liga da Justiça” com o Superman, a Supergirl, a Batwoman, a Canário Branco, o Caçador de Marte e o Raio Negro, e eles usam como sede a antiga instalação dos laboratórios STAR, que aparece lá no crossover Invasão, prédio que lembra muito o Hall da Justiça dos Superamigos - quem pegou pegou a referência ao macaco Gleek nos instantes finais do episódio! Quais serão os próximos crossovers? Façam suas apostas!


P.S. - O surgimento do personagem Ryan Choi no crossover muito provavelmente deve significar uma passagem de bastão, já que nos quadrinhos, Choi foi uma das identidades do Eléktron. Há algum tempo o ator Brandon Routh afirmou que, assim como Stephen Amell de Arrow, iria se "aposentar" de seu papel de Ray Palmer na série Legends of Tomorrow, e é bem provável que nessa nova temporada os heróis viajantes do tempo ganhem um novo Eléktron, vivido agora pelo ator Osric Chau

P.S. 2 - Além de Arqueiro Verde e as Canários, outro spin-off do Arroverso que foi anunciado pela CW é do Superman, que vai mostrar as aventuras solo de Clark (Tyler Hoechlin) e Lois (Elizabeth Tulloch) criando o pequeno Jonathan. Seria a continuação de Lois & Clark dos nossos sonhos ou uma forma de tornar relevante esse Superman baixinho que é tão insosso nos crossovers?

P.S. 3 - Por mais que a gente critique as lutas sem graça e alguns efeitos visuais meia-boca de Crise nas Infinitas Terras, é importante salientar o esforço criativo DESGRAÇADO que os produtores precisam ter para juntar TANTA GENTE com tantos personagens diferentes interagindo entre si num mesmo lugar, sem que isso descambe para uma salada de frutas intragável. Apesar de muitos dos produtores serem os mesmos das 5 séries, as equipes criativas e o elenco são completamente diferentes, e juntar todo mundo numa história minimamente coesa, sem que haja furos no roteiro - e isso pensando também em cada série individualmente ANTES e DEPOIS do crossover - não deve ser uma tarefa fácil. A gente reclama de fã chato e pau no cu que a gente é mesmo. Mas parabéns a todos os envolvidos. 

As outras partes do review podem ser encontradas aqui:


NAMASTE! 

Crise nas Infinitas Terras - PARTE 4


ARROW – EPISÓDIO 8 (Temporada 8)


PONTOS BAIXOS: Por mais que a gente tente relevar algumas decisões de roteiro para a história fazer algum sentido (e olhe que Crise nas Infinitas Terras é beeem complicada!), esse episódio consegue ser um dos piores do crossover, sendo que devia ser o mais épico.

A história toda começa com os Paragons salvos pelo Pária, presos no Ponto de Fuga, o único lugar que não foi destruído pela onda de antimatéria do Antimonitor. Há meses presos, os sobreviventes tentam achar um meio de sair de lá e tentar deter o vilão de antimatéria, sem sucesso. 

Ryan Choi (o ator Osric Chau que é o Paragon da Humanidade) e Lex Luthor (que roubou o lugar do Superman no rolê dos paragons com a ajuda do Livro do Destino, tornando-se o avatar da Verdade) tentam construir um equipamento que vai transportá-los dali, enquanto a Batwoman (Coragem) só treina, o J’onn J’onzz (Honra) só medita, a Supergirl (Esperança) só se lamenta, a Canário Branco (Destino) só se revolta e o Flash (Amor) corre pela Força de Aceleração.



Tudo parece perdido, até que o novo Espectro Oliver Queen os alcança e diz que a única forma de sair dali é mesmo pela Força de Aceleração, e que Barry esteve certo em procurar uma saída por ela. 

"Gostei do visual! Você está parecendo um Sith!", são as palavras de Ryan Choi quando vê Oliver pela primeira vez!



Por que diabos o Oliver não apareceu antes? Esperou até a barba do Choi crescer, pra só depois falar que tem uma saída! Psss!



O universo foi para o caralho, mas quando Barry Allen – cujos poderes foram turbinados pelo Espectro – leva os colegas paragons para a Força de Aceleração, por alguma razão eles se dispersam, e o ligeirinho precisa reencontrar todos eles lá dentro e fazê-los se lembrar de sua missão. Uma baita desculpa esfarrapada pra eles ficarem metade do episódio rememorando as lembranças de Oliver Queen e o dia que cada um encontrou com ele nas outras temporadas.



Blá blá blá eles se lembram quem são e o que precisam fazer e voltam no tempo (!) para impedir o Monitor de avançar com seus estudos sobre o mundo de antimatéria e criar o Antimonitor com sua curiosidade de cientista maluco no processo. Sim, esse episódio começa mostrando que quem criou o Antimonitor foi o próprio Monitor, ao encontrar um universo que é tipo o avesso do nosso.


Lex Luthor tenta levar o Monitor na ideia

Pela união de seus poderes eu sou o Capitão Planeta, os paragons têm tudo que precisam para derrotar de vez o Antimonitor em seu próprio terreno (que parece a pedreira do Jaspion!), e enquanto eles perdem tempo brincando de lutinha - mesmo o Ryan Choi que é só um cientista! - com os fantasminhas toscos do Antimonitor, o Espectro faz todo o trabalho pesado, encarando o vilão no braço... Ou nesse caso, na mente!


Prontos para lutar na pedreira do Jaspion


É duro ver o Jon Cryer brincando de lutinha (DE TERNO!!) com os outros heróis e usando poderes que seu Lex Luthor tirou do cu mesmo se deu com o Livro do Destino – elemento usado a exaustão para explicar o inexplicável nesses dois últimos episódios! Enquanto o elegante vilão sua lá embaixo dentro do terno com seus amigos heróis, Oliver Queen consegue dar uma segurada no Antimonitor, usando seu treinamento intensivão que ele fez com o antigo Espectro Jim Corrigan para derrotá-lo. Oliver então se sacrifica mais uma vez para recriar o universo e algumas das infinitas Terras, e todos se regojizam! 



Nos quadrinhos, o fim da saga serviu para unificar essas caralhas dessas infinitas Terras e juntar os personagens que vinham de diversas editoras diferentes – incluindo os da Charlton Comics, que mais tarde seriam inspiração pro Alan Moore criar Watchmen - num lugar só, e é mais ou menos isso que acontece também na série.



PONTOS ALTOS: A CW e a Warner/DC conseguiram manter em segredo até o lançamento do episódio na TV, mas o cameo do Flash dos cinemas, vivido por Ezra Miller, aconteceu e deixou muita gente de queixo caído. A maioria dos fãs passou anos pedindo para que os personagens das séries da CW aparecessem nos cinemas ou vice-versa – tanto que até hoje eu acho desnecessário ter dois Supermen, dois Flashes, dois Ciborgues, um na TV e outro no cinema... – e do nada eles nos presentearam com uma presença surpresa que foi muito legal como fanservice... Mas que, pra ser sincero, não serviu de nada para o andar da história. Principalmente porque no ponto onde o Flash de Miller encontra o Flash de Gustin, o universo ainda estava destruído, e não tem porque ele (Miller) existir ali. Forçadamente dá pra dizer que os dois se encontraram dentro da Força de Aceleração usando seus poderes, e se o Barry Allen (Gustin) podia estar ali, porque não o outro Barry Allen (Miller)?



Enfim. Vale pelo encontro entre cinema e TV que ficou bem maneiro. Quem não gostaria de ver também a Mulher Maravilha da Gal Gadot aparecendo pra dar um “oi” pra sua sidekick Donna Troy (Conor Leslie) na série dos Titãs?



Cara, se tem uma coisa legal nas séries da CW é a construção da amizade  entre alguns personagens, e como isso é feito de uma maneira a comover o espectador. Apesar de ser aquele cara sisudão – ele é quase o Batman do Arrowverso – Oliver Queen foi capaz de inspirar amizades inigualáveis ao longo das oito temporadas de Arrow. Assim como ele é considerado um irmão para John Diggle (e o próprio Diggle diz isso no episódio do The Flash), Barry Allen mantém uma fidelidade única para com Oliver. 



Quando o Espectro surge no Ponto de Fuga, dizendo a eles o que fazer, Allen pergunta se o cara na sua frente é mesmo Oliver Queen. Quando ele afirma que sim, o Flash diz uma das frases mais bacanas do episódio: “Então eu confio em você com todas as células do meu corpo”. Caaaara! Chega a arrepiar uma porra dessas!



Ao lado de Sara Lance, Barry é o que mais sente a partida de Oliver nas duas vezes que ele se sacrifica, e ele passa o episódio dizendo o quanto sente a falta do amigo. Vale lembrar que no Arrowverso, praticamente foi o Oliver quem ensinou o Barry a ser um herói de verdade, e o Oliver faz um acordo com o Monitor em Elseworlds para morrer em sacrifício, desde que o cara das costeletas estranhas poupe as vidas de Barry e Kara. Lindimais!

Continua...


NAMASTE! 

21 de janeiro de 2020

Crise nas Infinitas Terras - PARTE 3


THE FLASH – EPISÓDIO 9 (Temporada 6)

PONTOS ALTOS: Esse episódio é caprichado de pontos altos! O primeiro deles é quando John Constantine pede ajuda ao próprio Lúcifer (Tom Ellis) na - infame - Terra-666 para resgatar a alma de Oliver Queen do Purgatório. A participação de Ellis como o Capetão que faz a mulherada suspirar por aí chegou a ser negada antes do crossover ir ao ar, mas acabou acontecendo para delírio das “diabetes”. Nas HQs é bem comum a interação de Constantine com criaturas satânicas, e a atuação de Matt Ryan e Tom Ellis juntos dá aquela vontade de ver quando foi que essa “parceria” começou.


Tom Ellis, Matt Ryan, Katherine McNamara e David Ramsey

A brincadeira com o nome do mago também é bem engraçada, já que tem até uma HQ que sugere que a pronúncia certa do nome do personagem é ConstanTÁINE e não ConstanTINE. No rápido diálogo entre Lúcifer e John, o Capeta o chama de ConstanTÁINE e o mesmo corrige, dizendo que é ConstanTINE.


 Quando a equipe Flash descobre a passagem para o esconderijo do Antimonitor, o grupo, com o auxílio do Pária (Tom Cavanagh) chega até o Flash dos anos 90 (John Wesley Shipp), que está sendo usado para fortalecer o gerador que causa as ondas de antimatéria. Correndo sem parar em uma esteira para abastecer a geringonça, o velho Flash é salvo por Barry Allen (Grant Gustin) e Cisco (Carlos Valdes), mas tudo começa a ruir sem a presença do velocista na esteira. O Pária então traz um novo convidado de outra Terra para ajudar a reter a energia da máquina, e eis que surge o Raio Negro (Cress Williams), da série da Netflix


O Pária e o Raio Negro
Agindo em conjunto, a equipe decide mudar a direção da energia gerada pela esteira para destruir a máquina, e chega a hora do Flash cumprir seu sacrifício... Mas não o de Grant Gustin! Assim como na HQ de origem, o Flash corre na esteira e se sacrifica para impedir o avanço da onda de antimatéria e salvar o universo.



Uma homenagem justa ao Flash dos anos 90, à HQ Crise nas Infinitas Terras e uma ótima despedida do personagem de Wesley Shipp do Arrowverso, ele que já deu vida ao Henry Allen (pai do Barry), ao Joel Ciclone (o Flash da Terra-2) e o próprio Flash dos anos 90, reprisando seu papel com a mesma roupa de veludo, alguns anos mais velho e alguns quilos mais gordinho. 



Esse episódio tem vários momentos isolados que com a trilha sonora certa teriam arrancado lágrimas de muita gente. O primeiro deles é o reencontro de John Diggle (David Ramsey), Mia e Constantine com a alma de Oliver Queen, perdida em Lian Yu. O diálogo entre Diggle e seu parceiro de batalha é muito emocionante e fica estampada a frustração no rosto do cara quando Oliver decide não voltar para seu corpo ressuscitado pelo Poço de Lázaro, preferindo aceitar o convite de Jim Corrigan (Stephen Lobo), o Espectro, a assumir o manto verde do herói fantasmagórico.



A tensão entre Kate e Kara sobre a Supergirl querer reconstituir a sua Terra com o Livro do Destino também é muito bem interpretado por Ruby Rose e Melissa Benoist. A cena se encerra com a Batwoman entregando a pedra de kryptonita que roubou da mansão do Bruce Wayne maluco do futuro para Kara, dizendo que confia nela o bastante para nunca precisar usá-la. A aliança forte entre as duas personagens começou no crossover Elseworlds e se consolidou agora, referenciando um pouco a amizade entre suas contrapartes masculinas nos quadrinhos.



Mas aposto que teve gente shippando esse casal! 

PONTOS BAIXOS: O Antimonitor seduzir Lyla para o lado sombrio da Força e fazê-la trair os amigos a bordo da Waverider tudo bem, mas que lutinha mequetrefe dela contra o Monitor, hein? 



Com poderes inexplicáveis, a Precursora derrota todos os heróis dentro da nave e ainda faz uma batalha de hadoukens com o Monitor, roubando sua essência no final, a la Shang Tsung



Do nada, livre da influência do Antimonitor, o Pária também usa dons inexplicáveis para salvar os sete Paragons e enviá-los ao Ponto de Fuga - um lugar tecnicamente fora do tempo - e em seguida a última Terra existente (a Terra-1) é aniquilada pela onda de antimatéria, inutilizando também o sacrifício do Flash 90! 

Como eu disse, os combates são sempre os momentos baixíssimos do crossover.

Continua...


NAMASTE! 

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