27 de junho de 2011

Eu vi: Qualquer gato vira-lata

Qualquer gato vira-lata não era meu alvo de expectativa cinéfila quando eu saí de casa para o cinema, mas mais uma vez aconteceu outra daquelas gratas surpresas, quando me vi passando boas duas horas de grande diversão assistindo o filme.
Baseado na peça "Qualquer gato vira-lata tem uma vida sexual mais saudável que a nossa" de Juca de Oliveira (que é um dos roteiristas do longa), o filme dirigido pelo estreante Tomás Portella não possui nada de revolucionário nem tampouco original, mas conta com uma fórmula infálivel: O humor romântico.
Na trama Cléo Pires vive Tati, uma moça apaixonada que se vê vítima da repentina indiferença do namorado, o galanteador e bon vivant Marcelo, vivido por Dudu Azevedo. Acostumado a ter as mulheres a seus pés, o cara não se incomoda em deixar a gata de lado para viver novas aventuras com todo tipo de piriguete que ele puder pegar, e essa atitude deixa Tati arrasada, uma vez que ela não consegue entender o que há de errado com ela para ter sido deixada de lado daquela forma. Em meio à crise de desespero ela conhece o professor de biologia Conrado (Malvino Salvador) que defende uma tese de que as mulheres não devem tomar a iniciativa em nenhum relacionamento e que essa evolução dos novos tempos está alterando a ordem natural das coisas, quando então só os homens davam o pontapé inicial para o começo de um namoro. Um tanto quanto machista, a teoria é colocada à prova quando Tati se oferece para ser a "cobaia" de Conrado para sua tese, e assim de professor de biologia ele passa a ser uma espécie de guru sentimental da garota, que aprende com ele uma forma eficaz de reconquistar o ex-namorado festeiro, começando por ignorá-lo.

O filme tem momentos hilários envolvendo o triângulo amoroso que se forma entre Tati, Marcelo e Conrado, e a plateia cai na gargalhada por diversos momentos de um jeito muito extasiante. Poucas vezes ri tanto vendo um filme nacional, e até me surpreendi com esse fato, uma vez que, como eu disse no começo do post, a fórmula da película já foi exaustivamente utilizada no cinema. O roteiro é bem semelhante ao de A verdade nua e crua, comédia hollywoodiana estrelada por Gerry Butler, uma das últimas comédias românticas do qual realmente gostei, e só por esses momentos de gargalhadas já teria valido a pena ter visto Qualquer gato vira-lata.

Todos estão muito bem em cena. Cléo Pires esbanja charme o filme quase inteiro além da plástica impecável (êêê lá em casa! A cena em que ela deita chorando na cama é um deleite!), Malvino Salvador se sai bem interpretando o por vezes atrapalhado professor Conrado e Dudu Azevedo apenas não compromete seu papel, que aliás, não é muito diferente do que ele interpreta em Muita calma nessa hora, que comentei aqui. O elenco de apoio também é muito bom e conta com Rita Guedes que vive a ex-mulher de Conrado, Letícia Novaes como a melhor amiga de Tati e o impagável Álamo Facó, que vive Magrão, o amigo porra-louca de Marcelo, um dos maiores responsáveis pelas risadas durante a sessão.

Além da clara fonte de diversão, Qualquer gato me ofereceu também alguns questionamentos sentimentais daqueles que tenho experimentado e teorizado nos últimos meses, e me fez pensar bastante, durante e depois do filme, nas reações humanas com relação a casos amorosos.
Na história, Tati só recebe a atenção que ela sempre quis de Marcelo quando faz aquilo que Conrado lhe propõe (o contrário que seus sentimentos mandam ela fazer), e foi aí que me lembrei dos tais mind games que comentei aqui anteriormente. Ao ignorar Marcelo e tratá-lo com indiferença, ela consegue fazer com que ele volte a se interessar, e o jogo ganha um elemento ainda mais importante representado pelo próprio Conrado, que se torna a pulga atrás da orelha do bon vivant, que até então não tinha qualquer concorrente. Os três personagens representam muito bem os tipos mais comuns existentes por aí: A moça apaixonada e sonhadora que se vê feita de trouxa pelo namorado, o estereótipo do "garanhão" e o professor bom moço, que é o tipo de cara certinho que as mulheres pregam achar o homem ideal, mas que na realidade é o menos escolhido quando a teoria se torna prática.

Na própria tese de Conrado, os homens são retratados como animais instintivos que veem as fêmeas como nada além de um espécime pronto a procriar (e procriar entendemos gratinar, copular, etc., etc.), enquanto que as mulheres fazem o papel passivo, aquele que só espera ser copulada, sem grande participação na ação. A meu ver, muitos homens agem exatamente como o personagem de Dudu Azevedo (os leões predadores), dando pouco valor as mulheres que têm em casa, enquanto cada vez menos caras querem o que o personagem de Malvino Salvador queria, ter apenas uma mulher para chamar de sua (sendo ele então representado pela Arara Azul, um raro caso de animal monogâmico da natureza).

No post do Afinal, o que querem as mulheres levantei o questionamento sobre esse joguinho feminino de fingir aquilo que não se sente apenas para não se dar o braço a torcer, e é exatamente isso que a personagem de Cléo Pires é levada a fazer quando seu "guru" percebe que da outra forma ela nunca seria levada a sério. No caso da Tati do filme, o alvo de sua paixão é um completo idiota que merecia comer um pouco do pão que o Diabo amassou pelo que fez a ela, mas é fato que muitas mulheres usam desses joguinhos o tempo todo, o cara merecendo a indiferença ou não. O mais triste nessa história toda é que no final, com tantos joguinhos, muito do sentimento verdadeiro que se pode ter por outra pessoa se perde, até porque uma hora o jogo se torna realidade e aí pode acabar ficando tarde demais para se voltar atrás. Daí o motivo de eu ser contra qualquer mind game no amor. Se você ama realmente uma pessoa, não quer saber de ficar brincando com ela. Você faz de tudo para que ela fique cada vez mais perto de você. E ponto final.

Qualquer gato vira-lata não vai mudar sua vida, mas é mais um ótimo exemplo de que os filmes nacionais podem sim serem bons sem apelar para putaria desenfreada e sem extrapolar na ambientação das favelas. Pode não ser um primor do cinema, mas garante bons momentos de riso sincero.


NOTA: 7,5

Ah... broxante também a trilha sonora com Marcelo Camelo fazendo dueto com Malú Magalhães.
Pô! Não tem o que tocar coloca um fundo neutro, mas não apela! Heheheh!

NAMASTE!

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