9 de março de 2021

10 Melhores momentos de WandaVision



Antes de começar meu texto propriamente dito, quero deixar aqui uma salva de palmas para a Marvel Studios pela ousadia de parir esse projeto chamado WandaVision!




Tendo homenageado a empresa devidamente, é hora de relembrar um pouco dos 10 momentos mais marcantes dessa série do Disney + que já entrou para a história da TV e dos serviços de streaming

Sigam-me os bons!

Homenagens e referências



Criada inicialmente para parecer uma sitcom americana, WandaVision nos apresenta um primeiro episódio carismático que remete aos anos 50, prestando homenagens a seriados como “I Love Lucy”, que entre outras coisas, mostrava o cotidiano de um casal suburbano. O mistério sobre o que está acontecendo e porque Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e o Visão (Paul Bettany) estão dentro de uma sitcom permanece até o fim de “Gravado ao vivo com plateia”, quando então nos é mostrado que existe vida fora da exibição em preto e branco.



Os episódios a seguir, mostram saltos temporais específicos e a cada nova atração, o casal aparece referenciando uma década diferente, dos anos 60 (em episódio inspirado em “A Feiticeira”), aos anos 2000 (com referência a “Modern Family”). Os diversos penteados, as vestimentas e toda a ambientação da sempre pacata cidadezinha de Westview são pontos muito importantes dentro de WandaVision, uma vez que além de situar o espectador em suas diferentes épocas, servem também para dar o tom de cada episódio, da comédia pastelão dos áureos anos 50, passando pelo caos dos anos 80 e acabando mais deprimente e dramática nos anos 2000.



Tenho dificuldade para escolher em qual dos visuais que a Elizabeth Olsen usou durante os 9 episódios ela ficou mais charmosa — já que essa mulher é maravilhosa de qualquer jeito — mas se fosse elencar meu top 5, a versão gravidinha anos 70 seria um forte candidato ao pódio!



Darcy e Woo em ação



A Dra. Darcy Lewis (Kat Dennings) foi uma das únicas coisas realmente engraçadas em Thor: Mundo Sombrio (2013) e trazê-la de volta em WandaVision foi um grande acerto da produção, já que ela serviu como a ponte entre o mundo criado por Wanda e a nossa "realidade". Contatada pela E.S.PA.D.A (Equipe de Supervisão, Pesquisa, Avaliação e Defesa Armada), a astrofísica mostra logo de cara todo seu talento em detectar anomalias — algo que ela já fazia como a anteriormente estagiária de Jane Foster em Thor 1 — e não demora a sacar o que realmente está acontecendo dentro do — batizado por ela — “Hex”. 



Em parceria com o gentil agente do FBI Jimmy Woo (Randall Park) que nos foi apresentado em Homem Formiga e a Vespa (2018), Darcy é com certeza um dos grandes destaques da série, dando o tom de comédia certo nos momentos necessários. Esperamos vê-la novamente no futuro da Marvel, quem sabe agora num cargo mais importante dentro da S.W.O.R.D?


Monica Rambeau ganha poderes



Eu já declarei aqui todo o meu amor pela personagem Monica Rambeau e falei como a heroína acabou sendo injustiçada nos quadrinhos pela Marvel após os anos 90, por isso, esse momento é meu!



Interpretada em sua infância pela fofíssima Akira Akbar em Capitã Marvel (2019), a Monica já havia ganhado nossos corações em tela e despertado aquele desejo de vê-la em uma possível continuação, quem sabe em Capitã Marvel 2. Na época, ninguém imaginava que a Marvel a traria de volta já adulta antes do cinema, e em WandaVision, ela fez sua estreia interpretada agora por Teyonah Parris. E foi em grande estilo!



O episódio 4 “Interrompemos este programa” é o primeiro que nos mostra realmente o que está acontecendo fora da realidade da Wanda e tudo acontece quando Monica é atirada através das paredes do Hex, quando demonstra lá dentro ter ciência de que algo está errado. A série então mostra toda a trajetória da capitã Monica Rambeau desde seu retorno do “blip” — o estalar de dedos de Tony Stark em Vingadores – Ultimato — até ela se aventurar pelo campo vibracional criado pela Wanda ao redor de Westview. Uma vez dentro do Hex, Monica acaba “entrando para o elenco” da sitcom como a personagem Geraldine e faz descobertas importantes que são usadas mais tarde por Darcy e o General Hayward (Josh Stamberg), o diretor interino da E.S.P.A.D.A.



Tendo atravessado o campo vibracional do Hex mais vezes do que qualquer um — já que depois de ser jogada de lá, ela decide retornar depois —, Monica apresenta uma anomalia em seu DNA, o que é detectado por Darcy. A capitã faz relação com o câncer que vitimou a sua mãe Maria (Lashana Lynch) durante os cinco anos que durou o “blip”. Para sorte dela, Rambeau acaba desenvolvendo habilidades especiais que a tornam capaz de suportar a pressão causada pelo agora reforçado campo de Wanda e até consegue peitar a protagonista.



O momento em que Monica desafia seus próprios limites ouvindo as vozes de sua mãe e da Carol Danvers em sua mente é uma das grandes cenas da personagem na série. Chega a dar aquele quentinho no coração só em saber que agora, mais do que nunca, a Capitã Marvel DE VERDADE existe no MCU.

Como deixar de lado a referência ao uniforme branco e preto usado por ela nos quadrinhos ou o codinome “Fóton” na foto de sua mãe na parede da S.W.O.R.D? Já queremos Monica de volta pra ONTEM em Capitã Marvel 2 e na série Invasão Secreta!  


O aparecimento do "Fietro"



Fora trailers e algumas notícias esporádicas sobre roteiro, eu procuro me manter afastado de histórias de bastidores de produções que pretendo assistir futuramente para evitar spoilers. Eu não fazia ideia que Evan Peters estava no elenco de WandaVision e vê-lo aparecer à porta do casal título em Westview foi um dos grandes momentos “que porra está acontecendo aqui? ” em minha cabeça.

Era muito natural que acabassem usando o ator Aaron Taylor-Johnson no casting, uma vez que ele era o Pietro Maximoff — até então — oficial do MCU. Trazer o Pietro do universo dos X-Men da finada FOX no lugar de Taylor-Johnson, no entanto, foi uma sacada genial, mesmo que ele não estivesse ali exatamente para conectar os universos cinematográficos, como quase todo mundo especulou no lançamento do episódio.



Eu sempre tive o meu pé atrás quanto a overpowerização da supervelocidade do Mercúrio usada em X-Men – Dias de um Futuro Esquecido e em suas sequências, uma vez que ele não é tão rápido nas HQs — mimimi de véio chato —, mas é inegável que o “Peter” de Evan Peters é imensamente mais carismático que o de Taylor-Johnson, apresentado em Vingadores – A Era de Ultron. As cenas da interação do “tio Pietro” com os gêmeos de Wanda talvez não fossem tão engraçadas se ali em seu lugar tivesse o Mercúrio mais ranzinza de A Era de Ultron, por isso, valeu e muito essa participação especial.

Quem diria que o tal marido “Ralph” que tanto Agatha citava nos primeiros episódios era o tempo todo o fake Pietro!


Wanda dá à luz aos gêmeos



Agora em cores” é um dos episódios mais engraçados da fase sitcom de WandaVision e também um dos que melhor afloram a veia cômica de Elizabeth Olsen, Paul Bettany e Teyonah Parris. Toda a situação em torno da gravidez de Wanda, o desespero do Visão em ver que a barriga da esposa cresce cada vez mais em questão de horas e o corre-corre para garantir um parto saudável me tiraram risadas genuínas ao longo do capítulo.



As expressões de Olsen, seus trejeitos e entrega artística às cenas de humor fazem a grande diferença desse terceiro episódio. O momento de “escada” de Teyonah em que Geraldine conta sobre seu novo trabalho enquanto Wanda tenta afugentar a pintura de uma cegonha que ganhou vida na sala é hilária, assim como os efeitos drásticos nos móveis da casa quando os poderes de Wanda escapam de seu controle com as dores do parto.



Wanda fazendo a respiração “cachorrinho” é um dos pontos altos do episódio e a surpresa em seu rosto ao perceber que ela deu à luz a gêmeos, causa aquele “ohhhh” nos espectadores. Como leitor velho de HQs, jamais achei que um dia ia ver em tela o nascimento dos filhos imaginários da Feiticeira Escarlate com o Visão... Ainda mais “Agora em Cores”! (Hein? Hein?)

Ver os moleques crescidos e usando trajes que remetem à sua personalidade heroica dos gibis também foi massa demais.



O surgimento do Visão... Branco!



A fase das HQs em que o Visão é desmantelado por um grupo governamental que começa a enxergá-lo como uma ameaça após o sintozóide ter tentado dominar os computadores mundiais é com certeza um dos grandes momentos do personagem, criado por Roy Thomas em 1968. John Byrne, no final dos anos 80 era o grande cara das HQs, escrevendo e desenhando quase tudo que se podia imaginar tanto para a Marvel quanto para a Divina Concorrente. Foi ele quem criou o arco “Busca pelo Visão” que retirou completamente os traços mais emotivos do personagem — os mesmos que fizeram a Wanda se apaixonar e casar com ele — o dando uma aparência pálida e mais robótica.



A vinda do Visão Branco no MCU já era comentada desde a época de Vingadores – Guerra Infinita, quando um cadáver acinzentado do Visão é deixado aos pés do vilão Thanos, que consegue na testa do sintozóide a última gema do infinito que faltava em sua coleção. Muito se especulou que ele acabaria voltando no futuro sem seus traços de personalidade mais comuns, e até que faria sentido, já que aquilo que lhe dava vida era a joia da mente. A própria Shuri, a irmã do Pantera Negra, havia dito que era possível SIM remover a joia sem matá-lo e se tivesse mais tempo, a garota teria separado o Visão do poderoso artefato. Quem poderia saber que tipo de personalidade ele iria adquirir depois disso?

Nos instantes finais de “Nos capítulos anteriores...”, o episódio 8 da série, o general Hayward enfim consegue reativar o Visão, cujo corpo ele recuperou após os eventos de Guerra Infinita, e ele é… Branco!

Explosões cerebrais, urros, gritos de “eu te amo John Byrne” foram ouvidos numa certa casa em São Paulo. Não vou dizer em qual foi!


É tudo culpa da Agatha



Nas HQs, Agatha Harkness é uma bruxa muito antiga que aceita ser a tutora de Wanda Maximoff quando enfim a menina decide abraçar as tradições ciganas de seu povo em Wundagore e aprender a feitiçaria, a magia de camponês. Wanda é uma mutante cujo dom a permite alterar as probabilidades a seu bel prazer, mas sua alcunha “feiticeira” não é por acaso. É a Agatha quem ensina os principais truques e feitiços à moça, algo que mais tarde, a torna a vingadora mais poderosa — e perigosa — de todas.



Na série, Agatha se infiltra no Hex como Agnes para entender melhor quem é a Wanda e como pode existir um ser tão poderoso capaz de manipular a realidade a seu redor. A personagem vivida por Kathryn Hahn dá as caras em praticamente todos os episódios, agindo sempre como a vizinha enxerida que aparece em todos os momentos de necessidade, como que prevendo o que está acontecendo dentro da casa de Wanda e Visão.

O final de “Derrubando a quarta parede” é catártico, já que nos mostra que, afinal, a vizinha safada e Zé-Povinho é na verdade Agatha Harkness, uma bruxa ambiciosa que esteve por trás de todos os eventos que desestabilizaram a família Maximoff, e que estava ali o tempo todo para vigiar Wanda. Agatha All Along!



O momento flashback de “Nos capítulos anteriores...” que mostra Agatha absorvendo a magia de todo seu Coven na Salem de 1693 começa a nos preparar para o que vem pela frente e o tamanho da encrenca que espera nossa mocinha Wanda.

Em tempo, Kathryn Hahn é com certeza uma das principais novidades de WandaVision e entrega ótimos momentos de atuação com Elizabeth Olsen, seja no drama ou na comédia. Esperamos também vê-la mais vezes no futuro do MCU.

 

Wanda constrói o Hex



Chegamos ao pódio dos grandes momentos de WandaVision e não há como não citar uma das cenas mais emblemáticas da série, que é quando Wanda em todo seu sofrimento, usa a Magia do Caos para criar o seu próprio universo particular.

“Nos capítulos anteriores...” nos faz voltar no tempo para entendermos o que, afinal, motivou Wanda a criar o Hex, sequestrando mais de 3 mil pessoas que moravam naquela cidade e as usando como fantoches de sua narrativa. Enquanto Agatha a força a reviver suas tragédias, nós mergulhamos de cabeça no mundo de Wanda, assistindo de camarote tudo que foi tirado dela desde a infância humilde em Sokovia, passando pelo afloramento de seus dons místicos — potencializados pela joia da mente — e chegando até seu envolvimento com o Visão. 

Wanda ficou órfã num atentado terrorista, perdeu o irmão gêmeo durante a batalha contra Ultron e foi obrigada a ver seu amado Visão morrer DUAS vezes diante de seus olhos na Guerra Infinita. Não é como se justificássemos o sequestro de milhares de pessoas inocentes, mas a gente consegue entender o desespero que a levou a criar todo um mundo de fantasia a partir do terreno em que ela e o Visão pretendiam levar uma vida tranquila em Westview — provavelmente após a viagem que eles fazem juntos para a Europa, no começo de Vingadores 3 — e ainda trazer seu marido de volta à vida. Wanda perdeu tudo e ela tem os poderes para mudar isso.



O que você faria em seu lugar?

Eu não sofri perdas como as de Wanda na série, mas se eu pudesse alterar a realidade a meu redor para tornar minha vida um pouco mais aceitável — e porque não dizer, fugir da realidade? —, é bem certo que eu também ia criar o meu próprio mundinho e nunca mais ia querer sair lá de dentro.

  

Wanda reencontra o Visão



O episódio 8 de WandaVision me fez chorar em várias oportunidades e não foi pouco.

Um dos momentos mais tocantes desse capítulo, é quando Wanda invade a sede da S.W.O.R.D a fim de recuperar o corpo do Visão e acaba o encontrando inteiramente desmontado sobre uma mesa. É claro que nem preciso dizer que o pequeno Rodman de 10 anos gritou aprisionado  dentro do meu atual corpo velho e putrefato com a referência icônica dos quadrinhos, mas a cena vai muito além disso. Elizabeth Olsen entrega uma interpretação comovente quando sua personagem se depara com os restos do sintozóide e percebe que não sobrou nada do Visão que ela amava naquele corpo destruído. A frase “Eu não consigo sentir você” é de partir o coração. Chorei e não foi pouco.

A cena de Wanda na SWORD remete a um momento semelhante ocorrido em "A Busca pelo Visão" de John Byrne


Elizabeth Olsen mostra toda a sua versatilidade como atriz ao longo dos 9 episódios. Ela vai do tom cômico — que prova dominar bem — ao drama com o mesmo talento e não seria de se espantar se ela levasse um Emmy em 2021 por sua atuação primorosa. Depois de WandaVision, é certeza que sua personagem vai se tornar o ponto central do MCU, além do que o status de atriz de Olsen vai receber uma elevação muito merecida por sinal. 

 

Wanda se torna a Feiticeira Escarlate



Nunca houve em minha cabeça uma dissociação dos nomes “Wanda Maximoff” e “Feiticeira Escarlate” por conta da minha relação com os quadrinhos dos Vingadores, mas no MCU, a personagem de Elizabeth Olsen ainda não tinha sido chamada por sua alcunha heroica e havia uma razão para isso.

A batalha entre Wanda e Agatha de “O Grande Final” serve para mostrar ao espectador que a personagem título sempre esteve predestinada a ocupar o posto avançado da Feiticeira Escarlate, que segundo Harkness, é alguém de extremo poder natural destinado a destruir o mundo. Disposta a absorver para si toda a Magia do Caos controlada por Wanda, Agatha leva a moça a seu limite durante o combate e é quando a verdadeira personalidade de Maximoff assume o controle, transformando-a na lendária Feiticeira Escarlate!



Explosões cerebrais, urros, gritos de “eu te amo John Byrne” foram ouvidos numa certa casa em São Paulo outra vez nessa hora... Eu sei, eu tava lá!

É de aplaudir de pé todo o esmero que a Marvel teve em escrever a saga dessa personagem que já era tão querida nas HQs agora também nas telas. WandaVision não é apenas um “TV Show” raso de entretenimento barato, mas sim um produto raro que soube lidar com temas como depressão, luto e fuga da realidade com uma sensibilidade muito apurada, isso envolto em um enlatado americano fabricado para ser sim, “apenas” entretenimento.

O que será do Visão Branco? O que aconteceu com Agatha? Como será o desenvolvimento da capitã Monica Rambeau? O que Wanda está buscando na cena pós-crédito do último episódio? Como o Doutor Estranho vai se envolver nessa história toda?

Não sabemos e isso é ótimo, já que nos mantem com esperanças de vivermos um novo dia e aguardar os próximos capítulos dessa maravilha que é o MCU. Bora curtir então o luto pelo fim da série.


“E o que é o luto senão o amor que perdura? ”

(VISÃO)


P.S. – Eu fui até o balcão do Boteco do Infinito Podcast bater um papo com o Antonio Pereira sobre as HQs “Visão” de Tom King e “Dia das Bruxas” de Bill Mantlo, ainda no hype da série. No final do programa, falamos de WandaVision (com spoilers) até o episódio 7, depois especulamos como seria o final da série... erramos TODAS as teorias, mas ainda assim vale ouvir o episódio que está massa demais. Clica aí no banner e vai ouvir, jovem padawan!



P.S. 2 – O Blog do Rodman também é um universo particular criado por mim e aqui eu vivo numa bolha perdida na internet, como se milhões de pessoas estivessem lendo meus posts e rindo das minhas piadas ruins ad eternum, quando na realidade estou falando sozinho... É pena que não posso controlar essas pessoas de verdade...

HA HA HA HA HA!



NAMASTE!

26 de janeiro de 2021

1984 tons de Mulher Maravilha



Eu precisei assistir Mulher Maravilha 1984 duas vezes para tecer a minha opinião sobre o filme e vou tentar resumir nesse post meus sentimentos um tanto quanto controversos a respeito dessa produção que custou US$ 200 milhões aos cofres da Warner e já rendeu US$ 142,5 milhões em todo o mundo.

Sigam-me os bons!

Em primeiro lugar, é preciso defender a ideia da diretora Patty Jenkins e dos roteiristas Geoff Johns e Dave Callham de tentar levar para a tela um produto leve, divertido e muito mais positivo do que 80% das películas que o estúdio vinha trazendo à vida mais recentemente — pelo menos aquelas baseados nos super-heróis da DC. Nós havíamos nos desacostumado a assistir nos cinemas histórias que nos deixassem mais leves ao final do filme em vez de sair da sala de exibição com aquele gosto amargo do sangue derramado pelos personagens que tanto admirávamos nos quadrinhos e foi graças a Jenkins que pudemos ver uma vez mais o bem vencer o mal com WW 84, embora nesse caso, haja uma linha bem tênue entre esses dois extremos durante as quase duas horas e meia de projeção, além de personagens com mais de 50 tons de cinza em sua personalidade.



A própria diretora responde sobre isso quando perguntada a respeito da conduta sempre apaziguadora da personagem-título, e em poucas palavras, resume o que ela pensa sobre a Mulher Maravilha em entrevista ao Correio Braziliense:

“Normalmente, há heróis e vilões. Na maior parte do tempo, eles ficam tentando destruir uns aos outros. Eles perseguem na tentativa de se livrar uns dos outros, tendo por base o ódio. O diferencial de Diana é que ela nunca deseja machucar ou destruir ninguém. Mesmo quando são pessoas más. Ela tem um sentimento bondoso de compreensão. Ela se vê como uma pessoa prestativa, preocupada em melhorar a vida de quem está à sua volta. Ela cuida do mundo que a envolve. ”  



Ainda pela sua visão, a diretora comenta sobre o simbolismo que a sua Mulher Maravilha pretende transmitir aos espectadores:

“A Mulher-Maravilha é algo de que o mundo precisa agora. Ela não se encerra num conceito de derrubar os malvados. Ela desperta amor, compaixão, gentileza e desejo de se aprimorar como ser humano. Diana se desafia para se tornar uma pessoa melhor, ainda que esteja na posição de heroína. ”

Quem acabou comparando um pouco WW 84 com outro filme da DC de grande sucesso, o Superman de 1978, tem grande razão de fazê-lo, já que Jenkins não esconde em nenhum momento que o filme dirigido por Richard Donner foi uma grande referência para seu trabalho. A Diana Prince de Gal Gadot é quase tão heroica e inspiradora quanto o Clark Kent de Christopher Reeve e há diversos momentos em WW 84 que nos faz lembrar da simplicidade e do heroísmo daquele Superman que era muito mais próximo ao conceito do que um super-herói deveria representar ao mundo do que tudo que veio depois. Mas não vamos falar do maior cineasta do planeta aqui novamente. Já fiz um post inteiro em homenagem a ele recentemente!



Ok, Rodman! Isso quer dizer que, na sua opinião, o filme então é 10/10?

Ah, não, jovem padawan. Longe disso. O filme tem vários problemas e embora acerte e MUITO na forma como representa a Mulher Maravilha, peca em outros momentos que comentarei a seguir.

Apesar de parecer uma mistura de Cavaleiros do Zodíaco com Todo Poderoso e com uma pitada de Thundercats, WW 84 tem um enredo confuso e arrastado que nos faz cansar rápido, por exemplo, das motivações de Maxwell Lord, em tela interpretado pelo Mandaloriano Pedro Pascal. O personagem de cara surge como um vigarista ambicioso que parece ser capaz de passar por cima de tudo e todos para alcançar seu tão sonhado sucesso empresarial, mas enquanto ele tenta mover as engrenagens para conseguir seus objetivos, fica claro o quão fracassado o cara é, recebendo logo no começo do filme aquele "empurrãozinho" ladeira abaixo do sócio multimilionário que lhe dá um ultimato quanto ao futuro da parceria entre eles, o famoso “ou vai ou racha”.



Entra em cena então o elemento “místico” que vai permitir a Lord o tal impulso necessário para alcançar seu objetivo — o de pagar sua dívida com o sócio —, quando ele bota as mãos na “Dreamstone”, Pedra dos Sonhos. Daí até o final da história, Lord toma uma série de decisões questionáveis para se tornar rico, poderoso e influente, algo que certamente a maioria de nós faria em posse de um objeto místico que realizasse nossos desejos mais íntimos. Mais do que isso, Lord usa o super-trunfo dos desejos para se tornar ele mesmo o realizador de desejos, que é quando a sua história se perde um pouco, ao vê-lo o tempo todo desesperado para realizar os sonhos daqueles que ele almeja superar. 



Por ser um personagem quase patético, é difícil levá-lo a sério e é ainda mais difícil enxergá-lo como um adversário à altura da Mulher Maravilha, o que acaba o tornando algo como o Lex Luthor é para o Superman, — não um adversário físico, mas mental — só que nesse caso com bem menos talento que o vilão careca.

Ah, mas Rodman, o Lex Luthor usa a armadura e...

Cala a boca, jovem padawan!



É nos últimos instantes do filme que enfim conseguimos nos importar com Max Lord, e suas ações ao longo de toda a projeção quase podem ser justificadas ao vermos em forma de flashback sua trajetória desde a infância miserável. O amor ao filho e o reconhecimento de que ele é um fracassado é bastante comovente, e assim como previa o roteiro desde o início, acontece a redenção do personagem que nunca foi um vilão e sim alguém muito ganancioso em busca de seu lugar ao sol depois de uma vida de provações.



A outra personagem que se contrapõe à Mulher Maravilha no filme é Barbara Minerva (Kristen Wiig), que desde o início nos é retratada como o tipo mais comum de adversário ao herói lindo, tesão, bonito e gostosão. Assim que batemos o olho em Minerva com seu jeito tímido, retraído e desajeitado, vem à memória um monte de outros personagens que eram iguais em filmes de super-herói, e só para ficar em produções da Warner/DC não tem como não citar a Selina Kyle de Michelle Pfeiffer em Batman O Retorno (1992), o Edward Nygma de Jim Carrey em Batman Forever (1995) ou da Pamela Isley de Uma Thurman em Batman & Robin (1997). Todos eles têm em comum a característica de serem praticamente invisíveis para seus superiores, embora sejam dotados de uma inteligência ímpar que possivelmente os colocaria em destaque em outras circunstâncias. É praticamente o mesmo personagem em todos os filmes citados, e assim como seus antecessores, Wiig o conduz muito bem, a ponto de não nos importarmos muito com o bem-estar do assediador em quem ela dá uma lição logo que tem o seu desejo realizado pela Pedra dos Sonhos... dos desejos... sei lá!



Diferente do personagem de Pascal, a gente se importa com a Barbara, e a influência do poder que ela conquista sobre sua anteriormente frágil e inibida personalidade fica nítida conforme ela vai se acostumando a ser tão poderosa e admirada quanto sua “colega” de trampo Diana Prince. Aliás, em questão de interpretação, Kristen Wiig dá um banho completo em Gal Gadot, que está menos inspirada agora do que esteve no filme anterior em que protagonizou.

Embora simpatizemos um pouco com Barbara Minerva — a despeito de o quanto seu gosto por roupas vai piorando à medida que ela vai se tornando mais poderosa —, a personagem não tem um objetivo maior a alcançar, e fora se equiparar a Diana Prince, ela quase não tem o que fazer no filme, se tornando uma adversária sem muito peso para a Mulher Maravilha. É claro que o simples fato dela ser alguém que pode rivalizar em força com Diana a torna incrivelmente valorosa, e mesmo sem ter um objetivo tangível a alcançar, sua presença no filme é mais justificada por ela ser alguém próxima à personagem-título que acaba se tornando sua rival por consequência da realização de seus desejos. Ao querer se igualar à sua “ídola”, Minerva acaba se transformando em alguém que bate de frente com o que Diana defende e preza, e é essa rivalidade que dá algum tempero à relação entre as duas no filme.



Fala a verdade! Aquelas cenas das duas conversando no restaurante e a troca de confidências entre elas deve ter acionado na mente dos fanfiqueiros de plantão um monte de ideias pervertidas, nénão? Não procurei, mas é certeza que já tem uma porrada de ilustração e contos no Wattpad fazendo a Diana e a Barbara se pegando “diconforça” só por conta da admiração da cover de Cheetara pela Princesa de Themyscira em WW 84. O povo não consegue mais enxergar amizade entre duas pessoas, tem que partir logo para o roça-roça!

Eu estava no meio da plateia da CCXP 2019 quando o trailer de Wonder Woman 84 foi exibido pela primeira vez, e embora tenha sido contagiado pela reação orgásmica de todos ao meu redor naquele momento em ver as primeiras cenas do longa, confesso que depois que vi com mais calma, não achei nada muito surpreendente. Não sei se o fato de eu já estar morto por dentro há algum tempo diminuiu o impacto de tudo que vi como trailer depois de Vingadores Guerra Infinita, mas honestamente, eu caguei muito para todo o material promocional que vi de Mulher Maravilha 1984 até assistir ao filme.



Bem... depois de ver, não posso dizer que acabei sendo mais impactado do que quando assisti ao trailer. Achei a maioria das sequências de ação bem fracas e senti que o filme não se esforçou muito no sentido de gravar com ferro em brasa nenhuma cena em nossa memória. Salvo a sequência de pancadaria dentro da Casa Branca — aquela em que a Mulher Maravilha enfraquecida LEVA UMA SURRA da Mulher-Leopardo — pouca coisa se manteve em minha mente após assistir a “fita”. E olhe que já vi duas vezes!



Gal Gadot é uma péssima atriz de ação, e embora tenha nos enganado direitinho no primeiro Mulher Maravilha mostrando o contrário, suas expressões de esforço, dor e resistência são pouco convincentes quando o pau está torando de verdade na história. Gadot é dona de uma beleza e de um charme impressionante e todavia esteja nos planos da Warner/DC indicá-la como melhor atriz na próxima premiação do Oscar, acho que ela, por enquanto, leva mesmo o troféu Cigano Igor de interpretação, prêmio aliás, já vencido com todos os méritos por Brandon Routh na época de Superman Returns (2006).



Ainda falando dos problemas do filme, além das sequências de ação pouco trabalhadas, não tem como não citar os efeitos visuais usados para mostrar a supervelocidade da Mulher Maravilha. 



Todas as cenas em que ela aparece correndo são horríveis e até quando ela FINALMENTE aprende a voar — sem precisar do jato invisível —, falta um pouco da leveza e da naturalidade que aquele momento exigia, algo que conseguia ser capturado pelo filme do Superman de 1978 em alguns momentos — não todos, é claro — mesmo sem recurso digital quase nenhum à disposição na época. Bryan Singer também consegue essa leveza em algumas cenas de voo do seu Superman de cera no filme de 2006, mas Patty Jenkins não teve muito sucesso na sua vez, embora toda aquela sequência entre as nuvens seja bastante simbólica e importante ao desenvolvimento da personagem.



Outra coisa questionável no filme também é a decisão dos roteiristas fazerem de Diana uma eterna viúva que passou quase 70 anos sonhando com o namorado morto. Sério... Onde que isso seria aceitável? Sério mesmo! 

Eu entendo que a Diana Prince não é qualquer mulher, eu entendo a visão romântica da pessoa que nunca mais encontrou o amor depois da morte de seu (sua) parceiro (a), mas não consigo enxergar como isso poderia ter funcionado no mundo real. Pensa no tamanho da seca dessa mulher! Quase 70 anos sem dar umazinha! Nenhuma mulher que conheço seria capaz. A minha ex já tava dando pra outro uma semana depois do término e eu nem sequer morri! Ou esse Steve Trevor é muito bom de cama ou a Diana é a mulher mais fiel do mundo!



A que ponto chegamos... analisando a vida sexual de uma personagem fictícia!

Bem, assim como no primeiro filme, já que falamos do personagem de Chris Pine, Steve Trevor não é muito mais do que o par romântico da Mulher Maravilha em WW 84, mas a forma como ele é inserido na história novamente, apesar de ter sido explodido no ar no filme anterior, é bastante interessante. É bacana, para variar, ver um personagem masculino sendo somente o coadjuvante num filme de ação protagonizado por uma mulher e todas as cenas de humor que o filme tem para gastar são usadas com Trevor em destaque, enquanto ele tenta se adaptar ao admirável mundo novo. A questão da moda é algo que Jenkins faz questão de nos mostrar para ajudar a nos ambientar ao cafonismo dos anos 80 e os figurinos de Pine ao longo do filme mostram bem o quão ridículo era esse período da nossa existência.



Imagina o quão escrotas são as pessoas que nasceram nessa época...

Que tipo de merda você deve ter sido para nascer em plenos anos 80... ai ai! 

Assim como no primeiro filme, o ator está bem em cena e seu personagem é usado única e exclusivamente como a força motriz por trás das motivações de Diana para vencer o Baixo-Astral... além de dar aquela relembrada na cocota de como é dar umazinha após muitos anos. He He He...



Com boas interpretações de Kristen Wiig e Pedro Pascal, ótima caracterização dos anos 80, boa trilha sonora e uma excelente leitura do conceito super-herói na figura da própria Mulher Maravilha — que vence no final sem brandir uma espada, mas na base do amor e da compaixão —, WW 84 é sim, apesar das críticas, um bom filme de Sessão da Tarde e que não deve ser visto como nada além disso. Ao longo de décadas já vimos um monte de filmes bem piores com conceitos muito mais horríveis, e Mulher Maravilha 1984 tem ao menos uma mensagem positiva ao final... assim como Superman IV – Em Busca da Paz...

É... não foi uma comparação muito feliz, mas não tem como não equiparar os dois filmes, principalmente em se tratando de mísseis nucleares, do começo de uma quase Terceira Guerra Mundial e da “superforça de vontade” que faz as coisas voltarem a seus lugares de origem como mágica.

Nós, velhos de quase quarenta anos ainda adoramos ver esses filmes de lutinha, de raiozinho e de tirinho, e mais do que isso, adoramos criticar aquilo que não está “do nosso agrado”, mas é bem claro que nenhuma dessas produções é mais feita para pessoas como nós. Se pararmos para pensar bem, a gente se amarrava no primeiro filme dos Power Rangers e curtia os batmamilos em Batman Forever sem nem questionar. A molecada de 13, 14 anos deve ter se amarrado em Mulher Maravilha 1984 e é muito bom saber que um monte de menina vai crescer tendo ao menos um filme de super-heroína para se inspirar, assim como nós, velhos gordos, carecas e broxas tivemos o Superman de 1978. E não... eu não era nascido nessa época, mas essa porra reprisava na TV dia sim, dia não na Sessão da Tarde durante os anos 90!

Os velhos gordos, carecas e broxas no Rotten Tomatoes avaliaram o filme com 60% (no tal tomatômetro), enquanto a pontuação pública ficou em 74%. Só para comparar, o primeiro Mulher Maravilha alcançou 93% de nota da crítica “especializada”, enquanto 84% do público aprovou o filme. Vale lembrar, que isso não quer dizer nada, já que como comentei, o filme não é feito para esse tipo de pessoa que muito provavelmente o avaliou.

Em tempo, a Warner inscreveu Mulher Maravilha 84 para 15 categorias do Oscar 2021, incluindo Melhor Direção (Patty Jenkins), Melhor Atriz (Gal Gadot), Melhor Atriz Coadjuvante (Kristen Wiig, Robin Wright e Connie Nielsen) e Melhor Trilha Sonora Original (assinada por Hans Zimmer). Isso não quer dizer que o filme vai concorrer a todas essas estatuetas e sim que o estúdio tem a intenção que os velhos gordos, carecas e broxas da Academia escolham WW 84 como indicação a elas. Ficamos na torcida para que pelo menos Jenkins seja escolhida e represente as mulheres nessa categoria onde, costumeiramente, elas são tão marginalizadas no Oscar.

Quem eu realmente gostaria que disputasse algum prêmio de atuação é a fofíssima Lilly Aspell que dá um show de carisma na sequência inicial do filme em que a pequena Diana encara um tipo de Olimpíadas do Faustão contra as demais amazonas adultas. A cena em que ela fica contrariada em ser tirada da disputa por Antiope (Robin Wright) por ter trapaceado é de cortar o coração. Aspell, assim como no filme anterior, mostra que é uma atriz-mirim de primeira grandeza e encanta em todas as cenas que aparece. Devia dar umas aulas de atuação a Gal Gadot!



Se você ainda não viu porque ainda não tem HBO Max no Brasil ou porque não quis se arriscar a encarar uma sala de cinema lotada em plena pandemia de Covid-19, ou que, assim como eu, não teve o privilégio de poder viajar para os Estados Unidos DUAS VEZES só para assistir o filme antes de todo mundo, Wonder Woman 84 estará disponível nas plataformas digitais em breve. Até a Sky — a famosa choveu, caiu! — vai deixar o filme disponível para alugar. Assista sem medo. Diversão de Sessão da Tarde garantida.

P.S. - Alguém duvida que se Zack Snyder — vulgo o maior cineasta do universo — dirigisse o filme, a história não ia terminar com essa cena em vez do papo sobre responsabilidade e compaixão?



P.S. 2 - Eu abstraí um monte de soluções absurdas que o filme mostra como as mil e uma utilidades do Laço da Verdade — que laça de balas a relâmpagos! —, mas juro que não consegui explicar como é que funcionou aquele sistema de comunicação que o Maxwell Lord usa para realizar os sonhos de todas as pessoas que o estavam assistindo. Aliás... o que diabos é aquela câmara com luz azul em que ele fica gritando feito maluco enquanto Diana enrosca o Laço da Verdade em sua perna e por que tem um troço desses dentro da Casa Branca? entendi foi porra nenhuma! Acho que vou ter que ver o filme de novo.   


P.S. 3 - Como eu disse, a primeira pancadaria entre Barbara e Diana é muito bem coreografada e produz efeitos bem maneiros, mas o que essa briga tem de inventiva, a última tem de ruim. Além da coreografia bem qualquer nota, os efeitos digitais para criar a ilusão da agilidade e força da Mulher-Leopardo são bem mequetrefes, sem falar que ela mais parece um cosplay de CATS. Outra coisa que deixa bastante a desejar é a tão alardeada armadura de Asteria que é "vendida" como a coisa mais foda do filme, mas que parece mais feita de latão vagabundo durante a batalha.  



NAMASTE!

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