Esse post pode conter SPOILERS ocasionais
O gosto amargo que tem ficado ao fim de cada sessão de cinema, em especial dos filmes ditos "adaptados de histórias em quadrinhos" tem me preocupado ultimamente. Foram tantos filmes regulares e ruins lançados nesse gênero que as vezes dá a impressão que nada mais vai agradar, ou que nenhum filme vai proporcionar o mínimo que se espera de uma adaptação: Fidelidade à origem.
O último filme realmente empolgante que assisti no cinema e que trata de personagens oriundos das HQs, curiosamente, foi o primeiro Homem de Ferro e devo adiantar que o segundo filme não deixa nada a dever ao original. Nada mesmo.
Dizem que fazer a sequência de um filme de sucesso é mais fácil porque a fórmula já foi criada e experimentada.
Jon Favreau aproveita os elementos utilizados no primeiro filme e desenvolve uma história de fácil assimilação, onde até mesmo o sujeito menos Nerd dentro da sala de projeção é capaz de entender sem ter que recorrer a referências "hqzísticas" depois. O que o diretor faz é justamente continuar o filme a partir da revelação da identidade secreta de Tony Stark diante da imprensa, o que se vê em seguida, como é de se esperar, é a incorporação de novos personagens e novos elementos a trama, que aliás, é tão divertida e movimentada quanto a criada no primeiro filme.
Dessa vez somos levados a Rússia, onde um homem conhecido com Ivan Vanko assiste pela TV a ascensão de Tony Stark que acaba de revelar ser o Homem de Ferro diante das câmeras. Pouco depois, o pai de Vanko, Anton, falece nos braços do filho ao ver a figura de Stark ostentando uma tecnologia que segundo ele, "deveria ter pertencido ao filho". Claramente há um pedido de vingança no ar, e até boa parte do filme ignoramos completamente qual o real motivo do ódio dos Vanko pelo milionário.
Vanko demonstra habilidade em recriar quase com perfeição a miniatura do reator ARK que mantém Tony Stark vivo (afastando com eletroimã estilhaços de um explosivo de seu coração), e cria um sistema de arma com um chicote energético embutido ao reator (Stark usa os raios repulsores).
Seis meses se passam, e logo Vanko confronta Stark enquanto ele se exibe na pista de Mônaco num carro de corrida. Nesse momento, o homem por dentro da armadura do Homem de Ferro está começando a morrer envenenado pelos mesmos elementos químicos que o mantém vivo, e esse revés é utilizado na trama, para substituir o alcoolismo, que é uma característica marcante na vida do personagem nas HQs.
A cena do confronto é uma das melhores do filme, tanto em adrenalina, tensão quanto em humor, e foi uma das primeiras a serem veiculadas nos traillers promocionais antes do filme ser lançado.
Vanko (um Chicote Negro muito mais mortífero que o das HQs), parte o carro de Stark ao meio e ameaça destruir o industrial milionário enquanto aterroriza a plateia que assiste tudo ao vivo. Cabe aos amigos de Tony, Peppers (Gwyneth Paltrow) e Happy (o próprio Jon Favreau) de salvá-lo, é quando eles começam uma corrida desesperada para lhe entregar uma maleta especial para que ele possa se tornar o Homem de Ferro.
Diferente do que já estamos acostumados a ver, a luta entre os dois ocorre de forma dinâmica sem muitas inserções de CG, o que a torna ainda mais empolgante. Ao mesmo tempo que tenta salvar Peppers e Happy presos dentro de um carro, Stark é obrigado a confrontar o Chicote que à princípio (por incrível que pareça) parece ter mais potencial físico. Somente quando Tony destrói o reator ARK de Vanko é que a briga termina, mas a ele ainda cabe descobrir quais eram as intenções reais de seu adversário.
Mais tarde, já preso, Vanko alega que conseguiu o que queria: Provar diante do mundo que se você pode fazer um Deus sangrar, ninguém mais irá respeitá-lo, fazendo uma clara alusão ao status ao qual o próprio Stark se colocou se dizendo o guardião da paz.
Durante o filme a questão da armadura Homem de Ferro ser ou não uma arma de destruição em massa é considerada diversas vezes, o que torna a história ainda mais verossímil. De olho nessa arma, o governo e o exército americano tenta obrigar Stark a compartilhar seus segredos tecnológicos , o que obviamente ele não permite. O conflito que já havia sido rascunhado no primeiro filme entre Stark e o amigo militar Jim Rhodes (ainda melhor interpretado por Don Cheadle) ganha mais força na sequencia agora que, por causa do envenenamento por paládio, Stark acredita estar às portas da morte, o que o torna inconseqüente em manusear a armadura Homem de Ferro. Nos quadrinhos, quando Tony se afundou no álcool, foi Rhodes quem assumiu a identidade do Homem de Ferro, e nessa mesma época, outro personagem importante foi inserido no mundo do Vingador Dourado, Justin Hammer, um industrial inescrupuloso que queria acabar com Stark e chegou até mesmo a controlar sua armadura, provocando diversos acidentes.
No filme, Justin Hammer ganhou um tom mais leve interpretado pelo excelente Sam Rockwel (o Wild Bill de "À espera de um milagre"), o que apesar de descaracterizar o personagem acabou acrescentando à história, já que ele é pra Stark o que Bill Gates seria para Steve Jobs em termos empresariais (forçando um pouco a comparação, claro).
Hammer não é tão talentoso quanto Stark, mas acaba ganhando importantes contratos com o exército, uma vez que no primeiro filme Tony tirou suas empresas de projetos armamentistas. Quando Hammer se alia a Vanko, ele ganha mais força para sobrepujar aquele da qual ele nunca saiu da sombra, e começa a tocar seu projeto de criar um exército de drones, robôs controlados por computador com ilimitado poder de fogo.
Enquanto Hammer empresta sua duvidosa tecnologia para Vanko, os excessos de Tony dentro da armadura fazem com que ele entre em conflito físico com Rhodes, que utiliza a Mark II para dar uma lição no amigo. Ao fim da briga que encerra uma festa regada a muita bebida na casa do milionário, o militar alça voo levando a armadura prateada direto para o exército e lá mais tarde, com a ajuda de Justin Hammer, eles começam o projeto Máquina de Combate: um Homem de Ferro à serviço do governo.
Interpretações
O elenco de Homem de Ferro 2 é um dos melhores entre todos os filme de super-heróis já feitos. Robert Downey Jr está ainda mais à vontade na pele do milionário narcisista, e sua atuação é um dos melhores pontos do filme. Todas suas sacadas sarcásticas e piadinhas parecem vir do próprio Downey, ao em vez de seu personagem. Seus diálogos com Peppers Potts são tão inteligentes quanto no primeiro filme, e a paixão mal resolvida dos dois criam situações hilárias durante o desenrolar da história. Curiosamente, uma das cenas veiculadas nos traillers em que Peppers beija o capacete do Homem de Ferro e o lança do alto de um prédio, não foi inserida na versão final do filme.
Gwyneth Paltrow não brilha tanto quanto no primeiro filme, mas o charme discreto de sua personagem funciona perfeitamente bem para aliviar os poucos momentos de tensão dramática.
Uma das surpresas do filme é Mickey Rourke, que interpreta um Ivan Vanko por vezes engraçado em meio a toda truculência que tanto o próprio ator quanto o personagem exalam. O sotaque russo que ele simula enquanto tenta falar inglês é divertidíssimo, e Rourke volta a demonstrar toda sua versatilidade em fazer personagens variados (como ele bem o fez em “o Lutador”), embora tenham uma essência de brucutu. Ele é o antagonista físico perfeito para o Homem de Ferro.
Don Cheadle à princípio causa estranheza na tela quando surge caracterizado de James Rhodes, afinal já estávamos acostumados com as fuças de Terrence Howard encarnando o personagem, muito bem por sinal.
Não chega a ser uma mudança que afeta o desenrolar da história, mas eu diria que fisicamente Terrence tem mais porte de Jim Rhodes, enquanto Cheadle tem mais a personalidade do personagem. De qualquer forma, ao vestir a armadura cheia dos canhões e apetrechos do Máquina de Combate, Cheadle não compromete, até pelos anos de experiência na carreira, e passa mais segurança na hora de dar uma bronca em Tony do que Terrence.
Encarnando a belíssima espiã da SHIELD Natasha Romanoff, Scarlett Johansson simplesmente desfila charme e sensualidade na tela, embora sua personagem esteja camuflada como uma séria secretária das Indústrias Stark que em nenhum momento dá bola para a malícia de Tony. Numa das poucas cenas em que ela veste o colante preto da Viúva Negra (embora ela não seja denominada assim em nenhum momento no filme), Scarlett dá show, numa impressionante sequencia em que ela massacra os capangas de Justin Hammer por um corredor, seguida não tão de perto pelo motorista de Stark, Happy. Muito bem coreografada, a cena é empolgante e a musa de 11 entre 10 Nerds (e estou falando de Scarlett e não da Viúva) chega até a aplicar golpes de WWE em alguns pobres coitados, demonstrando toda a eficiência física da espiã ruiva. O papel de Scarlett não é lá dos mais importantes do filme, mas causa impacto por acrescentar mais uma heroína que é figurinha carimbada em grande parte das histórias em quadrinhos dos Vingadores.
Samuel L. Jackson volta na pele do manda-chuva da SHIELD Nick Fury, mas o que vemos na verdade, é Samuel L. Jackson interpretando Samuel L. Jackson. Do diretor sisudo e casca-grossa da agência de inteligência pouco podemos ver em cena, mas a personalidade de Jackson já é tão marcante que é difícil dizer quando ele está atuando ou quando está sendo ele mesmo. De qualquer forma, o personagem serve como uma espécie de consciência para Stark, dando dicas inclusive sobre seu pai e seu passado durante a história. Ainda com a intenção de recrutar heróis para o que ele chamou no primeiro filme de Iniciativa Vingadores, em certo ponto do filme ele descarta a presença de Tony Stark na equipe, embora aprove o Homem de Ferro (!).
Os efeitos
Já admiti aqui que os efeitos em CG de Alice no País das Maravilhas me incomodaram um pouco por ainda não estarem no nível de perfeição que dizem estar os personagens de Avatar (que eu ainda não vi), mas os de Homem de Ferro 2 melhoraram muito em relação ao primeiro filme, e dá um show de tecnologia se compararmos com o primeiro Homem Aranha lá de 2002, por exemplo.
É preciso prestar muita atenção para saber onde é CG e onde não é, em especial na criação das armaduras tanto do Homem de Ferro, do Máquina de Combate e do próprio Chicote (sim, ele também veste uma). A movimentação de personagens ganhou uma qualidade bem superior ao primeiro Homem de Ferro e soa de forma perfeitamente natural. Na ocasião era fácil notar quando o Homem de Ferro que estava na tela era uma mesclagem de Robert Downey Jr. Com CG e quando o Homem de Ferro era totalmente criado em CG. No segundo filme, essa diferença já não é mais tão simples de se perceber e em muitas cenas parecemos que temos a todo momento alguém dentro da armadura disparando repulsores ou dando socos e pontapés e não apenas um boneco digital.
O design criado para a Mark 4 é basicamente o mesmo da sua antecessora, com leves diferenças na tonalidade do vermelho da armadura e na placa peitoral, que ao em vez de ter uma elipse, possui agora um triângulo luminoso. De resto ela ainda é inspirada na armadura Extremis criada pelo desenhista Adi Granov para a mini-série de mesmo nome, e que na minha opinião, é a mais bonita de todas que o Homem de Ferro já utilizou nos quadrinhos.
Em breve farei um post sobre as melhores armaduras do Homem de Ferro, personagem que tenho como um dos meu prediletos nas HQs.
A comparação com Batman o Cavaleiro das Trevas (e estou falando do filme de Christopher Nolan) é injusta, até porque ambos os filmes possuem características completamente diferentes, mas Homem de Ferro 2 desponta como um dos melhores filmes de super-heróis da última década, deixando poucos detalhes negativos a serem discutidos. É um filme divertido, tem cenas de ação de tirar o fôlego, possui diálogos muito bem humorados e não é um filme que insulta a inteligência do espectador (Transformers, Cof! Cof!), diferente da maioria dos filmes ditos de ação. É um filme sobre fantasia, mas o que vemos na tela não é nada humanamente impossível de acontecer daqui há alguns anos em matéria de tecnologia. Claro que Tony Stark está anos-luz à frente de qualquer inventor atual, mas assim como explicaram no lançamento do primeiro filme em 2008, toda a tecnologia empregada é perfeitamente capaz de ser desenvolvida na vida real. Alguém duvida?
Eu me diverti muito assistindo Homem de Ferro 2. É um filme tanto para Nerds que acompanham o personagem há anos nos quadrinhos quanto para qualquer pessoa que queira ver um filme descontraído e despretensioso. Foi exatamente essa mescla de público que vi na sessão em que assisti no Cinemark do Shopping Metrô Santa Cruz. Haviam os mais entendidos e aqueles que não sacaram, por exemplo, qual o motivo do martelo do Thor aparecer em meio a uma cratera na cena adicional ao final dos créditos.
NOTA: 7,5
NAMASTE!