Quem em sua mais insana imaginação apostaria que em pleno
2020 estaríamos em meio a uma quarentena imposta por uma pandemia?
Passamos por muita coisa nos últimos anos mundialmente
falando, mas ouso dizer que é a primeira vez (nesse século) que o planeta quase
inteiro é obrigado a ficar em casa com medo do contágio de um vírus que já
ceifou a vida de quase 3 mil pessoas só no Brasil.
Mas afinal, o que é esse tal de Covid-19 aí?
COVID-19
Segundo o site do Ministério da Saúde, “a COVID-19 é
uma doença causada pelo Coronavírus SARS-CoV-2, que apresenta um quadro
clínico que varia de infecções assintomáticas [que não apresenta sintomas] a
quadros respiratórios graves”. De acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), chefiada hoje pelo biólogo e doutor em saúde comunitária etíope Tedros
Adhanom, “a maioria dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos e cerca
de 20% dos casos podem requerer atendimento hospitalar por apresentarem
dificuldade respiratória”, o que torna ainda mais importante o chamado isolamento
social.
O que é o Coronavírus?
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, “Coronavírus é
uma família de vírus que causam infecções respiratórias” e esse novo agente do
corona (daí a denominação NOVO Coronavírus) foi descoberto em 31/12/19, após
casos registrados na China, mais precisamente em Wuhan, província de Hubei. Segundo
informações até o momento, a variação do vírus foi transmitida ao ser humano por
meio de morcegos, não se sabe por contato com a saliva ou com as fezes do
mamífero voador.
Wuhan, China |
Apesar de hoje parecer uma novidade no campo das doenças
respiratórias, o Covid-19 não é o primeiro caso a ser registrado. Em 1937 já
tinha sido isolado o primeiro Coronavírus humano, apesar de que só em 1965 ele
foi batizado com esse nome, devido o aspecto de “coroa” que ele apresentava na
microscopia.
Em 2002 a China registrou casos da chamada SARS (Síndrome Respiratória
Aguda Grave), e a doença que assolou o país mais populoso do mundo passou a ser
denominado SARS-CoV-1. O atual coronavírus também pode ser chamado de
SARS-CoV-2, um apelido mais técnico pouco utilizado no Brasil, exceto por
especialistas.
Recomendações da OMS
O COVID-19 pode ser transmitido de uma pessoa para outra
como uma gripezinha, talkey gripe qualquer, através de aperto de mão,
gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro ou pelo contato da superfície de
objetos como celular, teclados de computador ou brinquedos. Exatamente pela
facilidade de transmissão, a OMS recomenda:
Isolamento social
Entre o final de dezembro (quando o primeiro caso foi
registrado) e o mês de abril, a China que foi o epicentro da pandemia,
contabilizou mais de 80 mil casos de contaminação pelo Coronavírus, com quase
5 mil mortes em seu território. Através dos aeroportos, o país “exportou”
cidadãos de várias nacionalidades de volta às suas terras de origem enquanto o
surto da “gripe” ainda não tinha sido contido e tampouco quantificado, e foi
uma questão de alguns meses até que o mundo estivesse diante de uma pandemia
real. A Europa foi rapidamente atingida pelo vírus e a Itália foi um dos primeiros
países a sentir os efeitos catastróficos da doença, a despeito do que diziam
seus ministros de Relações Exteriores e Saúde em fevereiro. Na época, nenhum
caso grave tinha sido registrado na Europa, e os membros do governo italiano
chegaram a alegar que a ameaça de contágio para a maioria da população no país
era ínfima e que a Itália estava segura.
Em apenas 10 dias, os casos de Covid-19 explodiram no país,
alcançando a marca de mais de 5 mil casos e um total de 200 mortos. Atualmente,
a Itália ocupa o terceiro lugar no ranking dos países mais afetados pela doença, com um total de 187.327 casos registrados e mais de 24 mil mortes em
seu território. A Espanha, a segunda no ranking, trilhou caminho parecido com a
vizinha Itália ao ignorar a gravidade do contágio no início e o país sofre com
mais de 200 mil casos até o momento, num total de 21 mil mortes.
Situação grave na Itália |
Países como a Coreia do Sul e o Japão adotaram um
estratagema muito eficaz logo de cara, e com o isolamento social – paralisando momentaneamente
o comércio de massa, escolas e centros urbanos – as taxas de contágio dos dois
países ficaram muito abaixo do restante do mundo, mesmo mais próximos
territorialmente da China. O confinamento de milhões de pessoas em suas casas e
as punições taxativas para quem descumprisse as regras de isolamento começaram
a ser adotadas não só pela Itália como também em outros países da Europa e do
mundo, o que ajudou a salvar inúmeras vidas. Hoje com o pico da contaminação já
decrescente, os principais líderes mundiais começam a discutir a flexibilização
das regras de confinamento e afrouxamento da quarentena.
Mas e no Brasil? Como foi que tudo aconteceu?
Enquanto isso, no país do Carnaval...
Segundo dados do Ministério da Saúde, o primeiro caso de Covid-19
no Brasil foi registrado em fevereiro no estado de São Paulo. O paciente de 61
anos retornava de uma viagem ao norte da Itália e quando chegou em território
nacional, já apresentava os sintomas da doença como febre, tosse seca, dor de
garganta e coriza. Ainda de acordo com as secretarias de saúde dos estados, a
primeira morte pelo Coronavírus foi registrada em São Paulo no dia 17 de março
e de lá para cá (até a finalização dessa postagem) já são quase 3 mil mortes em
todo o Brasil, num total de 44.565 casos de contaminação.
Evolução dos casos fatais no Brasil |
Segundo dados das
secretarias estaduais de Saúde, em apenas 7 dias, o número de mortes pela
doença pulou de 1760 para 2763, o que começou a causar um sufocamento nos
sistemas de saúde de todo o país, em especial nos estados em que a concentração
da doença é maior, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Com
mais pessoas doentes, menos leitos os hospitais públicos e particulares têm a
oferecer, o que começa a colapsar assim todo o sistema de saúde.
Besteira, Rodman! Isso é coisa que a #Globolixo divulga só
para assustar o povo. Eu vi no SBT que tem até leito sobrando e que tem mais
pessoas curadas no Brasil do que doentes.
Como a ordem do dia no país do Carnaval tornou-se acreditar
em boatos espalhados por WhatsApp, uma reportagem feita pelo canal do Senil
Santos chegou a citar que há leitos “à disposição” em alguns hospitais públicos
e particulares, além de que o Brasil tem sido referência ao lado da Coreia do
Sul em tratamento da doença. Baseado nas vozes de sua cabeça, o jornalista
Roberto Cabrini ainda alimentou a nova narrativa que começou a correr na
internet por parte da extrema-direita de que “é possível que daqui um ano, mais
do que sobre pandemia, estejamos falando sobre o alarmante número de contratos
sem licitação assinados em caráter de emergência para compra de equipamentos
médicos, de produtos de proteção superfaturados”.
Além de alertar sobre um
possível sistema de corrupção que vai começar a se alastrar por conta da
pandemia, o contratado do SBT – que não esconde de ninguém o posicionamento
pró-governo – ainda botou parte da conta dos contágios no bolso do carnaval, ao
dizer que “o número de pacientes recuperados da COVID-19 no Brasil, não sei se
você sabe, é seis vezes maior do que o número de vítimas fatais. Outra coisa:
quando as pessoas que organizaram o Carnaval no Brasil este ano, vão pedir
desculpas à população pela aglomeração que causaram?”. Boa estratégia para legitimar
o abandono ao isolamento e desviar completamente o foco da conversa, não é mesmo?
Leitos "à disposição" segundo Cabrini |
Sobre o número de pessoas que se curaram do Covid-19 no
Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em dados publicados pelo site R7, são
mais de 22 mil casos em que as pessoas acometidas pelo vírus conseguiram se
recuperar, de um total de mais de 44 mil infectados. Ao final do post, links
para as matérias tanto do número de mortes crescente publicado pelo G1 quanto
do R7.
Dedo no c... e gritaria
Uma das vergonhas que o Brasil – pelo menos parte
dele - vem passando mundialmente é protagonizar ao lado de alguns regimes
totalitários como o Turcomenistão do ditador Gurbanguly Berdymukhamedov e a
Bielorússia – governada há 26 anos pelo mesmo Aleksandr Lukashenko - o bloco dos “negacionistas”, ou seja, governos
que simplesmente preferem ignorar a gravidade da pandemia do novo Coronavírus e
desafiar abertamente as recomendações da OMS quanto a proteção populacional.
Enquanto no território dos nossos “colegas” negacionistas o bicho pega caso
alguém se rebele contra o totalitarismo, no Brasil a coisa deveria funcionar
diferente, uma vez que estamos em uma democracia, mas o que se vê diariamente é
a mesma polarização política pré-governo Bolsonaro que se estende doentiamente
como se AINDA estivéssemos em tempos de eleição. Eu estou certo e quem discorda
é comunista!
Em meio a pandemia que parou o mundo, interrompendo as aulas
nas escolas, cancelando shows, campeonatos de futebol, partidas de basquete, estreias
de filmes no cinema e até mesmo a gravação de programas de TV mundialmente, o
presidente Jair Bolsonaro perdeu a grande chance de unificar forças com os
governos estaduais – crescendo assim em popularidade -, montando uma coalizão
do qual ele só teria a ganhar futuramente, mesmo que salvar vidas não fosse seu
objetivo principal. Diferente do que alega o próprio governo, mesmo antes da
pandemia, o Brasil já começava a enfrentar um momento difícil de instabilidade
financeira, além de inúmeros problemas até mesmo comportamentais do presidente,
que embora empossado, continuou agindo como se tivesse em campanha, vendo
inimigos por todos os lados – Comunistas! Comunistas everywhere! -,
justificando sua habitual falta de tato social com “opinião própria” e “personalidade
forte”. Se Bolsonaro tivesse se esforçado, ele sairia ainda mais fortificado ao final da pandemia e seria visto até mesmo pelos rivais como um líder à altura do país. Pois é. Mas ele nem tentou parecer competente.
Não fala mal do meu Capitão, Rodman, seu PTista!
Esqueceu de me chamar de comunista também, jovem padawan!
Provando que depois do fundo do poço ainda há mais para onde se descer, Bolsonaro continuou correndo na contramão da unificação mundial em favor da proteção de vidas, comprando briga com quem discordasse de seus delírios e se livrando de quem não pensasse como ele. Uma das vítimas dos mandos e desmandos do presidente ególatra foi o seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que desde o início da campanha contra o Coronavírus vinha desempenhando um bom trabalho à frente da pasta, prestando esclarecimentos diários sobre os avanços da doença no Brasil bem como medidas adotadas pelo governo de prevenção e combate ao Coronavírus. Era bem visível que Mandetta estava se tornando em pouco tempo a parcela sã dentro de um governo que mais parecia um circo de loucos - teve citação a Goebbels, pum de palhaço, abstinência sexual... - e seu protagonismo diante da crise acabou afetando seu chefe.
Luiz Henrique Mandetta (ao centro) |
Embora também tivesse seus pecados para pagar - como o retrocesso no tratamento do HIV no país, no início de sua gestão - o ex-ministro da saúde estava dando algum conforto à população, dando a cara a tapa todos os dias para tranquilizar (ou tentar!) a todos. Seja como for, a ala bolsonarista também se irritou com ele, e até alguns apoiadores públicos como o apresentador sensacionalista Datena da Band pediu a cabeça do ministro, que foi substituído pelo médico oncologista Nelson Teich. Mais alinhado com o pensamento (?) de Bolsonaro, Teich deve deixar de lado o protagonismo de Mandetta e falar só o indispensável para não se indispor com o rei do Brasil.
Inábil em juntar forças com os governos estaduais – que hoje
divergem veementemente de seus desmandos – Bolsonaro preferiu comprar briga com
eles, desobedecendo regras específicas de isolamento social orientadas pela
própria OMS – regras essas também negadas no início por seu principal ídolo
Donald Trump, e que custou mais de 40 mil vidas nos EUA – e criando muita
confusão até mesmo no simples ato de dar o exemplo e aparecer de máscara em
coletiva de imprensa.
"Mais pra baixo, presidente, mais pra baixo" |
Como é de seu feitio, Bolsonaro não só dividiu o país em
à favor do isolamento social e contra o isolamento social, como também vem
instigando a parcela da população que o apoia a contrariar com afinco as
recomendações da Organização Mundial de Saúde, alegando que “afinal essa
gripezinha nem é tudo isso!”. Empresários, patrões e senhores de engenho de
todo o país obviamente saíram em defesa ao presidente, inflando o discurso de
que “o país não pode parar” e que a economia não pode sofrer um abalo tão
grande, mesmo que isso custe algumas vidinhas de nada. Lembrando que já são
quase 3 mil mortes.
Tedros Adhanom, chefe da OMS |
Enquanto o presidente não deixa o próprio ego ser abalado
por nada, ele continua aparecendo em público contrariando as recomendações da
OMS de isolamento social, cumprimentando, abraçando e até falando ao pé do ouvido dos
súditos, que como em qualquer sistema totalitário que se preze, aplaudem, apoiam, mugem e até
zurram em favor do comandante.
Pedidos de intervenção militar |
Em uma das suas últimas aparições públicas, em Brasília,
Bolsonaro subiu na caçamba de um carro e discursou em meio a um grupo de
radicais – infiltrados, segundo ele – que não só apoiavam a destituição do
Congresso, pedindo a cabeça do presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia,
como também o retorno do AI-5, Ato Institucional que na época da Ditadura
Militar no Brasil – também negada pelo atual presidente e seus seguidores –
proibia partidos políticos contrários ao governo, estudantes e órgãos da
imprensa a se manifestarem, sendo perseguidos de maneira violenta pelo exército
se desobedecessem. Entre palavras de ordem, risinhos e muitas tosses – Covid-19,
será? – Bolsonaro posou diante de várias placas pedindo o retorno do AI-5 e não
pareceu nem um pouco incomodado com elas.
Enquanto o mundo discute o afrouxamento do isolamento social
e a retomada do sustento da economia, no Brasil a pressão para que as empresas
voltem a funcionar normalmente já se arrasta pelas últimas semanas, com patrões
e enricados dos grandes centros promovendo carreatas em pró da tal máxima “O
Brasil não pode parar”. Parece que nas próximas semanas o mundo voltará a ser o
que era gradativamente, mas será que todos nós seremos os mesmos depois de toda essa
loucura?
Cloroquina: Eu sou a cura
Há algum tempo, o presidente do Brasil saiu na frente da
maioria dos órgãos de saúde mundiais e especialistas anunciando que tinha
fontes seguras de que a Cloroquina – medicamento utilizado no tratamento da
malária – estava retardando, e em alguns casos até curando o Covid-19 em alguns pacientes. Isso
bastou para que a ala radical pró-governo começasse com as teorias de conspiração
de praxe. Depois de espalhar que o “vírus chinês” tinha sido inventado em
laboratório e espalhado no mundo para desestabilizar a economia mundial, esses
mesmos conspirólogos seguidores de Olavo de Carvalho começaram a inventar
inúmeras soluções para o combate ao Coronavírus - sempre alegando que estavam escondendo os benefícios do medicamento da população -, as principais envolvendo a
própria Cloroquina.
A realidade é que, segundo especialistas, ainda estamos
longe de uma cura propriamente dita para o vírus Covid-19 e embora alguns
testes in vitro tenham dado resultado no intuito de derrotar o vírus, nenhum
sucesso é suficientemente comprovado.
Segundo o especialista José Antônio Baddini-Martinez, que é
professor adjunto de pneumologia da Escola Paulista de Medicina e da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo), “é necessária a realização de pesquisas
mais completas para termos segurança sobre a efetividade de qualquer tratamento
para a Covid-19”. Embora tenha-se pressa para se descobrir um resultado mais
preciso contra a doença, é de conhecimento geral que curas não são sintetizadas
da noite para o dia, e o próprio Martinez afirma em entrevista para o UOL que “os
estudos conhecidos sobre o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina no
tratamento de pacientes com o novo coronavírus são ‘imperfeitos’” e que “ainda
não há informações suficientes para recomendar o uso das substâncias. O que a
gente precisa é um estudo melhor desenhado para termos uma resposta de
qualidade".
José Antônio Baddini-Martinez |
Por enquanto, o melhor a fazer é AINDA respeitar a
quarentena e sair de casa somente o necessário, caso você tenha essa
possibilidade. Continuar lavando bem as mãos e usar máscara é um hábito que não
pode ser deixado de lado MESMO com a suspensão total do isolamento social
futuramente, e essas simples ações vão garantir a sua segurança e a de quem
está a seu lado, até porque o vírus não vai embora completamente só porque
deixamos de lado a quarentena.
Fontes:
NAMASTE!