A maioria de nós está impossibilitada de sair de casa devido
a pandemia de Covid-19, que até a conclusão desta postagem, ainda estava
assolando o nosso planeta, por isso, assistir filmes e séries virou mais do que
passatempo corriqueiro. Virou uma questão de sanidade, já que sem essa válvula
de escape, muitos de nós já teriam pirado completamente só assistindo noticiários
(e eu nem estou falando só da pandemia, talkey!).
Seja nas plataformas de streaming ou na TV por assinatura, a
variedade de filmes disponíveis é bem seleta, e eu separei aqui um
Top 10 (sem muito compromisso de ser do "pior" para o "melhor") daqueles que mais me chamaram a atenção durante a quarentena a que estamos
confinados.
OPERAÇÃO OVERLORD
Dirigido pelo desconhecido Julius Avery, o simpático
Operação Overlord foi vendido como “o filme escrito por J.J. Abrams”, fato esse
que colaborou para a garantia de pelo menos metade da bilheteria (fraca) que o
filme obteve no cinema.
A história de guerra situa seus personagens na França de 1944,
quando uma tropa de paraquedistas americanos desembarca bem em cima das linhas
inimigas, sendo obrigada a se separar sob fogo cerrado. Quando os sobreviventes
da queda conseguem se reagrupar, eles partem para cumprir a missão que eles
acreditam ser a desativação de uma base inimiga, mas já em seu destino, acabam
descobrindo que os nazistas estão planejando algo muito mais grandioso e mortal
contra os Aliados.
Mathilde Ollivier e Jovan Adepo em cena |
Muitos filmes já colocaram os nazistas e seu comandante como
estudiosos do oculto, das forças malignas, e com isso, Operação Overlord
consegue juntar dois gêneros muito populares em Hollywood que é “filme de
guerra” com “filmes de zumbis”. O que aconteceria se Hitler tivesse encontrado
uma forma de reviver os mortos e torná-los os soldados perfeitos para sua
conquista mundial?
Overlord (que também foi o nome dado à missão de invasão da
Normandia durante a 2ª Guerra) rendeu apenas US$ 41 milhões de um orçamento de
US$ 38 milhões, mas não chega a ofender a inteligência de ninguém, sendo um
ótimo divertimento de quase duas horas e com uma história interessante de ser
acompanhada. Os personagens são cativantes e o filme possui cenas de violência beeeem
gráficas, em especial quando vai se aproximando mais do seu final. Além do
protagonista Jovan Adepo, o elenco ainda conta com a belíssima atriz e modelo
francesa Mathilde Ollivier (que possui o arco mais dramático do filme, em busca
do irmão raptado), o ator Wyatt Russell (que vai ser o John Walker/Agente
Americano na série da Marvel Soldado Invernal e Falcão) e Iain De Caestecker (o
Agente Fitz de Agents of SHIELD). Como filme de guerra, não chega a ser um
Resgate do Soldado Ryan ou um 1917, mas possui vilões muito bons que vão fazer
o desfecho valer ainda mais a pena.
Wyatt Russel |
Como tem nazistas na história, vai agradar parte dos eleitores do atual presidente do país!
Nota: 7
Disponível no catálogo do Telecine.
A BABÁ
Depois de As Panteras: Detonando (2003) e Exterminador do Futuro –
A Salvação (2009), nunca mais achei que veria outra coisa dirigida por McG, mas acabei
assistindo A Babá na total ignorância de que era o cara por trás das câmeras.
Diferente de Terminator Salvation que era para ser levado a
sério, A Babá (filme de 2017) subverte completamente o gênero terror, tornando
o filme uma comédia galhofa de ótima qualidade. O plot inicial nos mostra o
medroso protagonista Cole (Judah Lewis) como o único menino do bairro que ainda
tem uma babá para cuidar dele quando os pais saem de casa, fato que gera muito
constrangimento e bullying com ele na escola. Cheio de fobias e incapaz de
enfrentar os bullies do bairro, Cole tem como única amiga a vizinha Melanie
(Emily Alyn Lind), além de contar com a proteção de Bee, a sua Babá.
Judah Lewis e Samara Weaving |
Bee se mostra uma verdadeira parceira “nerd” para o menino,
e as horas que os dois passam juntos na ausência dos pais dele são sempre muito bem
aproveitadas, com várias atividades que deixariam qualquer moleque adolescente
simplesmente apaixonado pela babá. Destaque para a cena em que os dois escolhem
uma equipe para combater invasores alienígenas cheia de referências nerds, que
vai de Capitão Kirk ao Xenomorfo de Alien.
Tudo corre muito bem na vida de Cole, até que ele descobre
numa noite a razão pela qual Bee o dopa todas as noites, para mantê-lo em sono
profundo: Ela é uma assassina adoradora do Diabo que quer seu sangue
inocente para ganhar tudo aquilo que almeja.
A partir dessa descoberta, o filme vira um delicioso
thriller em que cenas cada vez mais absurdas inundam a tela até o
desfecho da história. A Babá de McG é dirigido com ótimas tomadas de câmera que
às vezes coloca o espectador na visão do menino Cole, além de uma edição muito
caprichada e veloz que exprime graficamente as emoções do protagonista com
textos e efeitos digitais. É bem incrível o que o diretor consegue fazer nas
cenas de ação sem exagerar no CGI (algo que era terrível em As Panteras!), mas
independente dos efeitos visuais, o carisma de todos os personagens segura
muito bem a história. Além de Judah Lewis, o filme conta com a lindíssima
Samara Weaving como Bee, Leslie Bibb (a jornalista que vai pra cama com Tony
Stark em Homem de Ferro 1) como a mãe de Cole e Robbie Amell (o Nuclear caucasiano
do Arrowverso) como um dos amigos adoradores do demônio de Bee.
O desfecho é de partir o coração, mas A Babá vale muito a pena para
um domingo à noite de bobeira na quarentena.
Nota: 8
Tem na Netflix.
P.S. - Não confundir com A Babá (2018) de Joel
Novoa, que esse sim, é um filme de terror roots, de dar cagacinho.
A NOITE É DELAS
Rough Night (2017) é um daqueles filmes que conquista seu interesse só pelo trailer, mas que por uma razão ou outra, a gente não consegue assistir no cinema. Dirigida pela diretora italiana Lucia Aniello, a comédia rasgada nos coloca para rir quase que do começo ao fim com um grupo de amigas dos tempos da faculdade que decidem sair numa viagem para comemorar a despedida de solteira de uma delas, Jess, a personagem vivida por Scarlett Johansson. Elas agora seguem vidas completamente diferentes da época em que dividiam uma república.
Jess é candidata a um alto cargo no governo, Alice (Jillian Bell)
tornou-se professora do primário, Blair (Zoë Kravitz, a próxima Mulher Gato de The Batman) é uma empresária
bem-sucedida divorciada e com um filho e Frankie (Ilana Glazer) que nos tempos
da faculdade namorava Blair, agora é uma ativista feminista. Quando as moças se
reencontram, meio que rola uma tensão entre elas, e fica nítido ao espectador
que elas não parecem ser tão amigas assim. Essa tensão dura até o momento em
que elas chegam na casa em Miami onde vão passar aqueles dias, quando então a
nova melhor amiga de Jess, chamada de “Kiwi” (Kate McKinnon) se junta ao grupo,
causando ciúmes na controladora Alice.
A engraçadíssima Kate McKinnon e Scarlett Johansson |
Os problemas do grupo começam realmente quando uma das garotas decide contratar um Go-Go Boy para entreter a noiva Jess e acidentalmente elas acabam matando o cara. E isso não é spoiler, porque tem no trailer. A partir daí as confusões para elas se safarem daquele problema sem prejudicar suas vidas e suas carreiras criam as situações mais hilárias do filme, nos prendendo firmemente ao sofá até o desenrolar da história. A personagem de Kate McKinnon com seu sotaque australiano e seu jeito meio destrambelhado rouba fácil a maior parte das cenas de humor (destaque para o acidente de jet-ski!), o que torna o filme uma das grandes surpresas do gênero comédia.
Como é de
praxe, o filme tem citações e insinuações sexuais para caralho, só que o mais
interessante nesse ponto é que agora estamos vendo tudo pela ótica feminina, já
que é uma mulher atrás da câmera. Não espere, portanto, personagens
sexualizadas ou estereotipadas em A Noite é Delas, já que isso não acontece em
nenhum momento.
NOTA: 9
Está disponível na Netflix.
OS 7 MAGNÍFICOS
Eu tenho uma certa preguiça para filmes de “bang bang” (como diria minha mãe), mas confesso que o que me chamou a atenção no western Os 7 Magníficos (2016) foi seu elenco. Dirigido por Antoine Fuqua, o longa é um remake de um filme homônimo da década 1960, que também já era baseado no japonês Os Sete Samurais de 1954. Fuqua tem no currículo o excelente Dia de Treinamento (2001), filme que rendeu o Oscar de melhor ator a Denzel Washington, merecidamente, além de vários outros filmes também protagonizados pelo ator.
O enredo conta a história do oficial negro Sam Chisolm (Denzel Washington) que decide aceitar a recompensa paga por Emma Cullen (Haley Bennett) para libertar o seu vilarejo das garras tirânicas de Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard), um barão industrialista que quer se beneficiar das minas existentes no lugar. Bogue chega no vilarejo com toda sua força armada e exige que os moradores vendam suas casas a preço de banana. No processo, ele acaba matando aqueles que se rebelam, deixando Emma viúva. É aí que ela reúne os poucos recursos que o lugar tem e decide contratar caçadores de recompensa para acabar com Bogue e seu bando. Embora não seja um caçador de recompensas, Chisolm decide aceitar o serviço ao saber quem está envolvido nele, reunindo os melhores homens da região para ajudá-lo naquela missão praticamente suicida.
Os “sete” do título são formados, além de Chisolm, por Faraday (Chris Pratt, o Starlord de Guardiões da Galáxia), Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke), Jack Horne (Vincent D’Onofrio, o Wilson Fisk da série do Demolidor da Netflix), Billy Rocks (Byung-hun Lee) o especialista em facas, o mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) e Red Harvest (Martin Sensmeier) o índio Comanche solitário que decide se juntar a eles no caminho. O filme tem sequências espetaculares de ação, regadas com muito tiroteio, explosões, empalamentos e flechadas. Todo o elenco está muito bem em cena, conduzido pela direção firme e talentosa de Fuqua. Cada personagem, por possuir uma habilidade específica (além de só saber apertar um gatilho), é explorado unicamente em suas características, o que também pode ser observado com relação a suas personalidades. Nesse quesito talvez os dois únicos que saem perdendo, não tendo tanto tempo de tela quanto os demais, são o Comanche e o mexicano, que tem pouco de suas personalidades explorada no roteiro.
Haley Bennett, Chris Pratt e Peter Sarsgaard |
A interação do elenco é uma das melhores coisas sobre esse filme, o que faz o tiroteio final ser tão empolgante quanto doloroso.
Nota: 8
Está disponível na Netflix.
NA NATUREZA SELVAGEM
Um pouco antes desse filme voltar a ser comentado em 2020
devido a
história do brasileiro que decidiu seguir os passos de Christopher McCandless
até o Alaska, eu resolvi finalmente dar uma chance a ele, após ser
citado em um podcast que ouvi. Na Natureza Selvagem (2008) esteve disponível na
Netflix por algum tempo, mas acabei tendo que apelar para meios alternativos
para assisti-lo já que ele foi tirado do catálogo.
Dirigido pelo também ator Sean Penn, o filme é baseado em
Into the Wild de Jon Krakauer, livro que conta a história real de Christopher
McCandless, o jovem de 23 anos que decidiu largar toda sua vida de luxos e
riquezas para embarcar em uma viagem de autoconhecimento até o Alaska.
McCandless (ou Alexsander Supertramp) simplesmente desaparece após se formar na
faculdade, não deixando qualquer rastro para trás e abandonando completamente
sua vida anterior. Bens materiais, família... Tudo é colocado em segundo plano
enquanto ele decide trilhar seu próprio destino até o Alaska, onde ele, por um
infortúnio, jamais conseguiu chegar.
McCandless é competentemente interpretado por Emile Hirsch
no filme e o ator mergulhou fundo (literalmente!) no papel, dispensando dublês
em cenas mais perigosas (como a que desce uma corredeira de caiaque) e até
encarando um urso de verdade. Hirsch ainda aceitou provações físicas para se
aproximar perfeitamente ao estado em que o verdadeiro Christopher deve ter
chegado em seus últimos dias, privado de alimentos, e o ator está só pele e
osso nas últimas cenas.
Na Natureza Selvagem, como dá pra perceber até aqui, não é
um filme de fantasia com final feliz, mas todo o processo (egoísta sim) de
descoberta pelo qual o personagem passa em sua história é uma das mais
comoventes que já assisti em um drama. Todo o clima de melancolia e solidão
(embora o personagem se negue a ser depressivo ou mesmo triste) do enredo fica
ainda melhor sentido pelas canções e pela trilha sonora composta por Eddie Vedder
(o vocal do Pearl Jam), Michael Brook e Kaki King. Toquei essa trilha
incessantemente por algumas semanas no Spotify, tentando absorver tudo que o
filme acabou representando para mim. Chorei e não foi pouco ao final do filme,
e de uma forma ou outra, acabei me perguntando se eu não faria algo parecido
com o que o protagonista fez. Às vezes, por mais que isso seja egoísta e idiota, o
isolamento total até a morte parece ser a única resposta para as dores diárias
da vida e a total falta de propósito. Mas esse é meu lado depressivo falando mais alto.
P.S. : Foi a primeira vez que achei a atriz Kristen Stewart
levemente atraente. Decididamente, ela fica muito melhor de cabelos mais escuros e
meio sujinha do que aquela boneca de cera sem vida que ela sempre aparece nos
filmes posteriores.
Nota: 9
Está disponível no Telecine Play (e seu aplicativo HORRÍVEL!).
BRIGHTBURN
Brightburn (O Filho das Trevas, como foi intitulado no
Brasil) é um filme de 2019 dirigido por David Yarovesky e produzido por James
Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia e do próximo Esquadrão Suicida. Assim
como outras adaptações que foram feitas nos quadrinhos, o enredo de Brightburn
escrito pelos irmãos de James Gunn Brian e Mark, procura desvendar o que
aconteceria se o Superman tivesse se tornado mau após cair na Terra, e embora
não haja NENHUMA ligação do filme com o personagem icônico da DC Comics, o que
não faltou foram correlações dos fãs do escoteiro kryptoniano com o personagem
Brandon Breyer (Jackson A. Dunn).
As semelhanças começam quando o casal Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (David Denman) após várias tentativas frustradas de terem um filho pelos meios naturais, acabam tendo suas preces atendidas quando uma espécie de foguete cai no terreno de sua fazenda no Kansas. O objeto voador traz à Terra durante a noite uma forma de vida semelhante a um bebê humano, que o casal decide tomar conta como se fosse seu filho, escondendo de todos a seu redor sua real natureza. Embora não saibam exatamente de onde o bebê veio, Tori e Kyle escondem a nave alienígena embaixo do celeiro e lá a deixam oculta até a pré-adolescência de Brandon.
As semelhanças com a origem do Superman terminam quando após
o aniversário de 12 anos, Brandon começa a se comportar de maneira assustadora,
como que tendo a mente manipulada por um comando extraterrestre da nave que o
manda “conquistar o mundo”. O comando faz com que uma natureza selvagem seja
despertada no menino, que começa a agir de maneira a satisfazer seus desejos
mais primitivos, como fazer com que a colega de sala Caitlyn (Emmie Hunter) o
aceite como amigo à força ou mesmo assassinar aqueles que ao longo do filme vão
descobrindo o que ele é capaz de fazer. A partir do ponto em que Brandon aceita
seu lado maligno, o filme vira um thriller muito bom que vai
surpreendendo o espectador numa escalada impressionante até seu fim dramático.
Com seus poderes (que além de voo, rajadas de calor dos olhos parece incluir
também telecinésia), Brandon passa a usar um capuz assustador para cometer incólume
várias barbaridades em Brightburn, a cidade que dá título ao filme, enquanto
deixa sua marca (literalmente!) por onde passa.
O filme rendeu uma 32 milhões ao estúdio que o produziu, o
que nos dias atuais não parece ter sido um retorno muito bom. Meio obscura, a
produção parece só ter causado algum disse-me-disse no meio nerd mesmo, devido
as semelhanças com o Superman. O restante do público “civil” parece ter
ignorado o longa completamente. Uma pena, porque eu gostei pra cacete do filme e
recomendo.
A cena final ainda é embalada pela música “Bad Guy” da
esquisitinha Billie Eilish.
Nota: 8
O filme está disponível no catálogo da HBO Go.
SERGIO
Começo esse tópico completamente envergonhado pela total
ignorância a respeito da vida e do trabalho de Sérgio Vieira de Mello,
personagem central do filme (de 2020) e também do documentário “Sergio” de 2009, ambos
dirigidos por Greg Baker. Após assistir o longa, fiquei completamente
sensibilizado pela história de vida desse brasileiro que chegou a ocupar no
início dos anos 2000 um dos cargos mais altos dentro do quadro de funcionários
da ONU, o de Alto Comissário das Nações Unidas. Amigo pessoal do agora ex-secretário-geral
Kofi Annan, Vieira de Mello chegou a ser intitulado como o “homem que
queria salvar o mundo” devido à natureza de seu trabalho e o afinco com que o
realizava. Formado em Filosofia, ele entrou na ONU aos 21 anos, seguindo de
perto a carreira do próprio pai. Embora nunca tenha sido, de fato, um diplomata
(porque não representava o Brasil no exterior), de Mello foi chamado assim por
muito tempo, agindo com o intuito de apaziguar os ânimos entre nações e
poderes.
De forma não-linear, já que vai e volta no tempo algumas
vezes durante a projeção, Sergio narra os últimos anos de vida do brasileiro,
desde sua intervenção no Camboja (onde ajudou a repatriar milhares de
refugiados), passando pela vitoriosa negociação em ajudar a libertar o Timor-Leste do
domínio da Indonésia e sua missão final no Iraque pós-Saddam Hussein. O Timor
havia sido colonizado por Portugal no século XVI e só foi conhecer sua
independência brevemente em 1975, quando então passou a ser ocupado pela
Indonésia. Sergio Vieira de Mello ajudou a libertar o país asiático do jugo da
Indonésia e por esse feito antes considerado impossível, ele ganhou honrarias
na ONU, além do cargo de Alto Comissário.
Após o fatídico ataque da organização Al-Qaeda aos EUA em 11
de Setembro de 2001, o então presidente George Bush impeliu um forte ataque
militar a vários países do Oriente Médio, incluindo o Iraque. Enquanto as
tropas militares americanas conseguiam finalmente acabar com o domínio de
Saddam Hussein (inimigo que o pai de Bush não conseguiu deter durante a Guerra
do Golfo nos anos 90) no país, um novo território começava a surgir para os
norte-americanos, agora livre do ditador que comandava o lugar durante as últimas
décadas. A missão de Vieira de Mello no Iraque era ajudar a conduzir o país
para novas eleições, mas os planos dos EUA, representado na figura do diplomata
Paul Bremer, era dominar a área, fazendo com que o Iraque se tornasse uma
espécie de colônia deles.
Sergio Vieira de Mello na ficção e na vida real |
Baseado quase que totalmente na história real do brasileiro à serviço da ONU, é quase difícil acreditar que o ataque à sede da UN que vitimou Sergio e 21 de seus colegas não foi orquestrada pelos EUA (e o filme chega a dar entender isso), mas a realidade é que um grupo de terroristas se aproveitou da fragilidade do prédio para bombardear o local, colocando um fim na carreira brilhante do diplomata carioca. Embora foque bastante no relacionamento amoroso (muito bem construído, por sinal) entre Sergio e a economista argentina Carolina Larriera, o filme dá um vislumbre geral em quem era o homem por trás do diplomata, o que nos faz sentir sua morte ainda mais. Certamente alguém pacífico como Sergio seria duramente criticado no Brasil intolerante em que vivemos hoje em dia e não demoraria até que fosse chamado de “comunista”, assim como são chamados todos que buscam uma convivência mais pacífica entre as diferenças. O fato é que ele foi uma pessoa única, razão pela qual colecionava admiradores pelo mundo.
A atuação de Wagner Moura é algo de estupenda nesse filme.
Que ele é um ator versátil e que topa qualquer desafio na carreira, isso nós já
sabemos, mas a forma como ele torna seu Sergio plausível é elogiável. Ao longo
do filme, ele não só fala inglês (língua principal do filme e que ele usa muito
bem anasalada, sem muito sotaque), como arrisca o espanhol (pelo qual foi
criticado na série Narcos onde interpretou Pablo Escobar) e até o francês, além de falar também em português.
Ao lado da atriz cubana Ana de Armas (que interpreta a Carolina), ele constrói
cenas muito tocantes de cumplicidade e romance, o que nos faz acreditar no amor
que existe entre os dois. Aliás, é impossível não ficar apaixonado pela Ana de
Armas ao longo do filme! Que mulher maravilhosa!
Wagner Moura e Ana de Armas |
Sergio não é um filme com cenas de ação retumbantes ou um
enredo dinâmico, mas entretém quem está procurando algo mais tocante e repleto
de mensagens belíssimas.
“Eu queria ser uma nuvem, cair em forma de chuva e ficar
para sempre na Terra a qual pertenço”.
NOTA: 10
Filme disponível na Netflix.
INFILTRADOS NA KLAN
BlacKkKlansman garantiu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado para o diretor Spike Lee em 2019 e com certeza o longa-metragem merecia muito mais atenção, já que disputou outros prêmios na grande celebração do cinema, mas não levou. Baseado no livro homônimo escrito pelo próprio Ron Stallworth, o filme conta com bastante fidelidade a história real do primeiro policial negro do Colorado a trabalhar infiltrado em um caso. Disposto a se tornar um oficial tão qualificado e de destaque quanto os colegas brancos de equipe (enfrentando muito preconceito racial dentro da própria corporação), Stallworth (no filme vivido por John David Washington, filho de Denzel Washington) acaba entrando em contato com membros da Ku Klux Klan, a fim de se infiltrar entre eles e desbaratar um atentado racista que estava prestes a ser colocado em prática. A ironia da história é justamente essa: Um policial negro infiltrado nas fileiras do grupo que defende a supremacia branca em plenos anos 70, quando então os negros começavam a conquistar seus direitos civis nos EUA.
O diretor Spike Lee |
Stallworth não esperava que suas investigações o levassem
tão longe, mas quando um membro de alta cúpula da KKK exige um encontro
pessoalmente com ele, após cair no seu papo de filiação por identificação com a causa "American First" e "White Power", é necessário mandar alguém em seu lugar, quando então surge
a ideia de agir em conjunto com o colega policial (e judeu) Flip Zimmerman (na
tela vivido por Adam Driver) para se passar pelo Ron Stallworth branco. Na história real, o colega de Ron não é um judeu,
fato que Spike Lee adicionou à história para dar um ar ainda mais dramático ao
filme, já que além de negros, os supremacistas brancos também odiavam os
judeus.
Adam Driver e John David Washington |
O enredo consegue nos manter na ponta da cadeira até o
final, já que o jogo perigoso dos dois detetives pode ser descoberto pelos
racistas a qualquer momento. Para manter seu disfarce até a conclusão da investigação
e desmantelar o atentado que prometia vitimar centenas de pessoas inocentes, é
preciso que os dois “Ron Stallworth” estejam em perfeita sintonia, o que acaba
não acontecendo em alguns momentos.
Laura Harrier |
Além das excelentes atuações de Washington e Driver, o filme
ainda conta com a atriz Laura Harrier (a Liz Allen de Homem Aranha: De Volta ao
Lar) como Patrice, uma ativista pelos direitos dos negros e interesse amoroso
de Stallworth e Topher Grace (o Eddie Brock/Venom de Homem Aranha 3) como David
Duke, um dos líderes da KKK que tem um encontro interessante com Ron no
decorrer da história.
Topher Grace |
Nota: 10
Filme disponível no catálogo do Telecine Play.
P.S - Antes dos créditos finais do filme, Spike Lee mostra um compilado de vídeos reais de manifestações recentes (de 2017) de apoiadores de grupos radicais como o KKK, Skinheads e similares, marchando com tochas em mãos nos EUA. São mostrados vários conflitos violentos entre defensores da causa "White Power" e manifestantes contrários, além de um atropelamento covarde que vitimou a ativista de direitos civis Heather Heyer em Charllottesville. No vídeo, o presidente Donald Trump minimiza os acontecimentos em pronunciamento, dizendo que "não havia somente supremacistas brancos" na manifestação com tochas em punho, mas também "pessoas boas". Quem também aparece no vídeo é o verdadeiro David Duke, endossando uma fala do próprio Trump em época de eleição, dizendo que eles (brancos) precisavam retomar os EUA.
P.S 2 - Nesse momento em que esse post está sendo escrito, os EUA e o mundo estão em campanha contra o racismo, motivada pelo assassinato brutal de George Floyd, um homem afro-americano, por um policial branco chamado Derek Chauvin. O ato causou revoltas na Terra do Tio Sam e o presidente Donald Trump resolveu combater aqueles que tentam lutar por justiça com forças armadas. Além disso, no Brasil, membros do governo federal continuam insuflando grupos de supremacistas brancos e fazendo referências a eles bebendo copo de leite durante lives na internet.
Pelo visto, o racismo é algo
que ainda vai precisar ser combatido por muito tempo na sociedade e não é coisa
só de cinema. #VidasNegrasImportam #BlackLivesMatter
ROCKETMAN
Confesso que eu era bem ignorante quanto à carreira musical
de Elton John antes de Rocketman, e tudo que eu sabia sobre o artista era seu
gosto extravagante para roupas e suas músicas mais populares que tocavam nas
rádios AM que minha mãe ouvia antigamente. Lembro também que uma vez apareceu
um LP lá em casa do Elton John e que eu tinha pirado na sua interpretação com
o George Michael para “Don’t Let me Sun Go Down on me” desse disco. O meu pai tinha uma
fita cassete dos melhores hits dele, entre elas uma que eu gosto até hoje, “Nikita”.
Com o aval do cantor inglês, o filme Rocketman (baseado em
uma “fantasia real”) dirigido por Dexter Fletcher (o mesmo que salvou o que
pode em Bohemian Rhapsody, após a demissão de Bryan Singer do projeto) não é só
uma homenagem a Elton John como também um diário aberto para o mundo sobre a
carreira de um dos artistas mais talentosos e polêmicos da música. Apesar de na
infância ser um garoto tímido e retraído pela severidade do pai e a quase
indiferença da mãe, Reginald Dwight (seu verdadeiro nome) se mostrou um
virtuoso musicista, mostrando talento no piano desde sempre. A formação erudita
não o impediu de alçar voos mais altos e foi na loucura do Rock’n Roll que
Dwight conheceu o parceiro musical Bernie Taupin, com quem dividiu o sucesso de
suas grandes canções (letras em sua maioria escritas por Taupin) se tornando
então Elton John.
Bernie Taupin (Jamie Bell) e Elton John (Egerton) |
O filme não é bem uma cinebiografia, mas procura contar com
certa fidelidade as lembranças de John, que participou de grande parte do
processo criativo com o marido e cineasta David Furnish. Muito do que
acontece no filme como o envolvimento com drogas, os relacionamentos tóxicos, o
descaso do pai autoritário, o casamento fracassado com uma amiga (apesar de já ter se declarado gay na época) e até mesmo a
tentativa de suicídio são fatos da vida do pianista, contados na tela de uma
maneira fantasiosa às vezes (e é aí que entra a genialidade do filme) e nos
colocando em meio a delírios e devaneios da mente do inquieto e solitário Elton
John.
Taron Egerton e Richard Madden |
A direção de Fletcher acerta em quase tudo, nos contando de
uma maneira comovente a vida conturbada de uma estrela do Rock da sua ascensão à
queda, mas é na direção de elenco que o diretor mostra que estava muito mais
inspirado em Rocketman do que em Bohemian Rhapsody. Taron Egerton dá vida ao
jovem Elton John de maneira muito efusiva, dando um show de interpretação e
realmente vivenciando o espetáculo. Diferente de Rami Malek que apenas simulava
os momentos musicais de Freddie Mercury no filme sobre o Queen (e isso não
podemos culpar o coitado, já que NINGUÉM conseguiria interpretar a potência
vocal de Mercury além dele mesmo!), Egerton entrou na dança de corpo e alma,
cantando ele mesmo as músicas de Elton John no filme. A música "(I’m Gonna) Love Me Again", que concedeu ao músico o Oscar de Melhor Canção Original de
2020 (e único prêmio que a produção venceu pela Academia) é interpretada por John em parceria com Egerton, que desempenhou em Rocketman com certeza
o melhor papel de sua carreira até aqui.
O elenco ainda conta com as presenças de Bryce Dallas Howard
como a mãe de John, Richard Madden (o Rob Stark de Game of Thrones) como o amante
tóxico do pianista, Jamie Bell como o amigo Bernie Taupin e o talentosíssimo
ator mirim Matthew Illesley, que encena as sequências mais emocionantes do
filme, interpretando o Reginald Dwight na infância.
Bryce Dallas Howard e Matthew Illesley |
Vale para quem nunca antes foi um grande fã de Elton John (como
eu) e deve valer ainda mais para quem é fã do artista mais multifacetado da
cultura pop.
NOTA: 9
Está disponível nas plataformas Telecine Play e Sky Play.
RESGATE
Numa época em que dá pra fazer quase tudo no cinema com
alguns milhões de dólares de produção e um CGI cada vez mais realista, é muito difícil inovar no cinema de ação, mas é o que o diretor Sam Hargrave e
os produtores Joe e Anthony Russo procuraram fazer em Extraction (2020), filme
protagonizado por Chris Hemsworth.
Com cenas alucinantes de perseguição de carros e um plano-sequência
assustador e claustrofóbico (aquele em que embarcamos de carona com os
personagens em meio a um tiroteio no meio do filme), Resgate consegue prender
a atenção do espectador do começo ao fim, mesmo com um enredo meio batido de
extração de um refém, executada por um caçador de recompensas. Sério. Nós já
vimos esse plot em pelo menos uns 25 mil filmes, mas é a forma como isso é mostrado
graficamente para quem está assistindo é que conta aqui.
Chris Hemsworth como Tyler Rake |
Da mesma escola de David Leitch, que também era dublê e
diretor de coreografias de luta em Hollywood, Sam Hargrave participou da
coordenação de dublês nos filmes da Marvel dirigidos pelos Irmãos Russo. Com um
faro apurado para as cenas de ação (assim como Leitch) por estar fortemente ligado ao meio, era natural que o cara
acabasse se tornando um excelente diretor de filmes de ação, e isso ele mostra
muito bem nas quase duas horas de Resgate. Não há como não comparar o estilo de
luta franca e realista do personagem Tyler Rake com a de John Wick da franquia
estrelada por Keanu Reeves, e acho que exatamente por isso o filme acabou
ganhando um burburinho mais alto por aí. Com o passar do tempo, cenas mal coreografadas ou
entupidas de CGI para disfarçar a péssima qualidade de direção nos filmes de
tiroteio meio que cansaram o público. A pegada John Wick com lutas mais
próximas da realidade e o famoso tiro na cara repentino hoje parece fazer mais
o gosto da galera.
Eu tenho defendido esse jeito mais “sincero” de fazer filmes
de ação ultimamente no Blog e o que não faltam são elogios para as cenas
dirigidas pelos Irmãos Russo nos filmes da Marvel (que mesmo usando CGI sabem
coreografar muito bem um bom quebra-pau) e o próprio David Leitch que colaborou
nos filmes de John Wick, dirigiu o excelente Atômica e mandou bem em algumas
lutas de Deadpool 2, pelo menos as que não contavam com o CGI péssimo da Fox.
Já há quem queira um crossover entre John Wick e o Tyler
Rake de Chris Hemsworth e o público só teria a ganhar com isso, embora algo
dessa natureza seja praticamente improvável. O filme agradou tanto que já se
comenta sobre uma continuação, algo sim muito plausível para a dona Netflix que
adora fazer umas continuações de$nece$$ária$.
Mas Rodman... E o enredo?
Caçador de recompensas é contratado para resgatar o filho
adolescente de um perigoso chefe da máfia, mas no meio do caminho acaba se
afeiçoando ao moleque, arriscando a missão pelo qual ele não seria pago. Fim.
Nota: 8
Como já mencionei, o filme está disponível exclusivamente na
Netflix.
E você? O que tem visto nessa quarentena além do presidente
[INSIRA AQUI O NOME DO SEU PRESIDENTE] falando merda todos os dias na TV?
NAMASTE!