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14 de setembro de 2021

Os bastidores de Alina da Valáquia [ATUALIZADO]

Alina da Valáquia



Os vampiros representam um ponto muito importante da Cultura Pop como um todo e não há como dizer que pelo menos UMA de tantas obras lançadas com esse tema não nos tenha impactado — para o bem ou para o mal. Eu particularmente me lembro bem quando assisti Entrevista com o Vampiro pela primeira vez na TV e como todo aquele clima lascivo do filme de 1994 me afetou para sempre. Minha única referência mais vívida dos chupadores de sangue até aquele momento era do clima pastelão com que a novela Vamp  (de Antônio Calmon) tratava o assunto lá no começo dos anos 90, e ver o mundo tão dramático do personagem Louis e todos aqueles seus conflitos éticos — como comer ou não uma menina de 10 ANOS!! — foi um baita choque de realidade.


Entrevista com o vampiro (1994) e Vamp (1992)

"Ei, existe algo sério sendo feito com os vampiros!".

Depois da adaptação de Drácula de Bram Stoker para o cinema e do livro de Anne Rice virando filme protagonizado por Tom Cruise e Brad Pitt, da segunda metade dos anos 90 em diante, muitos autores passaram a também escrever sobre o tema e uma cacetada de adaptações começaram a ganhar forma. Surgiram então as autoras L.J. Smith (de Diários de um Vampiro), Charlaine Harris (dos livros que inspiraram a série True Blood) e até Stephenie Meyer (da saga Crepúsculo). 


No cinema, nem tem como não citar também a adaptação do personagem Blade dos quadrinhos obscuros da Marvel — que dizem, abriu as portas para que o MCU surgisse anos mais tarde — e a longeva saga Underworld com sua protagonista Selene

O que não faltam são fontes de onde se beber, o que torna escrever algo completamente inovador envolvendo vampiros praticamente impossível

Alina da Valáquia



Por que então escrever um livro sobre isso, Rodman? 

Bem, de princípio, é importante lembrar que nunca foi minha intenção fazer algo que ainda não tinha sido visto falando sobre vampiros, mas sim, contar parte da trajetória de uma personagem que POR ACASO se torna uma vampira.


Alina da Valáquia
Opções descartadas para a capa do livro



Há alguns anos eu tinha começado a desenvolver uma equipe de super-heróis que agregaria uma variedade grande de personagens em suas fileiras, incluindo uma vampira. De início, eu tinha escrito essa personagem no presente, para se envolver com os demais heróis dessa equipe, mas confesso que nunca tinha criado uma linha de roteiro sequer que falasse sobre seu passado. Ela era uma vampira, ela era forte, tinha um propósito e era só. 


Rascunho da primeira versão da "Vampíria"

Eu queria alguém que aguentasse chumbo grosso na linha de frente de grandes batalhas super-heroicas e que possuísse um poder incrível de recuperação física. Um vampiro me parecia ser a opção mais acertada e foi assim que criei a "Vampíria".


A Alina Grigorescu surgiu nos primeiros meses de 2020, quando ainda estava finalizando a saga do Pássaro Noturno (disponível lá no Wattpad). Eu sempre gostei de misturar ficção com realidade e queria muito falar de História em meu texto, o que casou perfeitamente com o enredo que eu queria contar sobre a minha vampira. 

Alina era uma moça simples do campo que tinha visto a sua vida virar do avesso ao ser obrigada a fugir de seu lar e achei interessante fazer com que os acontecimentos do mundo da época (da segunda metade do século XIX até meados do século XX) refletissem nas tomadas de decisão que ela teria ao longo da narrativa. Eu queria que o background parecesse um mundo real e que, ao mesmo tempo, esse pano de fundo conduzisse as ações da personagem. Foi uma tentativa válida.


Alina da Valáquia narra a história de uma camponesa que é obrigada a fugir de sua casa quando sua relação com o meio-irmão é descoberta. Na cidade, passando fome e frio, ela é seduzida por um homem misterioso que lhe concede a dádiva e a maldição de uma vida eterna
Arte para a primeira proposta de capa

De início, eu queria escrever cinco capítulos simples para apenas introduzir a personagem num universo que mais tarde teria outros personagens fantásticos — no mesmo universo do Pássaro Noturno — e não era para Alina da Valáquia ser um livro. Eu já tinha concluído esses cinco capítulos, tinha revisado e estava pronto para publicar o conto no Wattpad, quando fiquei sabendo de um concurso literário que a plataforma estava lançando para premiar novas produções. Eles precisavam de 50 mil palavras de uma história fechada e aquilo acabou me incentivando a continuar meu conto, transformando-o num livro. 

"Pensando bem, eu posso dar continuidade agora mesmo na história da Alina!".

Eu levei algumas semanas para planejar o que ainda precisava ser contado sobre a personagem nos novos capítulos e as ideias que eu só ia conduzir melhor lá na frente, acabaram surgindo pela necessidade antes do esperado. Eu já tinha apresentado Costel — o meio-irmão de nossa mocinha —, o vampiro Dumitri, os bruxos Adon e Iolanda, tinha pincelado Alejandro e Pietra — e concluído sua participação — era hora então de criar novos personagens naquilo que passei a chamar de "segundo volume". 


Alina da Valáquia narra a história de uma camponesa que é obrigada a fugir de sua casa quando sua relação com o meio-irmão é descoberta. Na cidade, passando fome e frio, ela é seduzida por um homem misterioso que lhe concede a dádiva e a maldição de uma vida eterna

Voltei a estudar os livros de história — uma das minhas parceiras inseparáveis foi uma enciclopédia sobre os países do mundo que eu tinha desde o final do Ensino Médio —, os sites sobre Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e outros acontecimentos da época e comecei a costurar esse plano de fundo com o destino da personagem. 


Criei a rede de informação "A Teia" com todos seus membros mais importantes, desenvolvi melhor a ideia de uma seita de bruxos malignos — coisa que eu só ia fazer num próximo conto, focado mais em magia — e dei um novo propósito para Alina. Afinal, ela tinha que aproveitar melhor sua vida eterna além de beber vinho e transar loucamente em um castelo da Transilvânia! 


O segundo volume tem tudo que eu queria inserir na história desde o começo — mesmo quando só tinha pensado em um conto curto — e confesso que fiquei bem orgulhoso de como a história foi conduzida. Eu sentia falta de escrever cenas de ação com bastante violência, e a partir do momento que decidi escrever um texto mais adulto — ou pelo menos que não fosse para crianças — decidi pisar no acelerador e colocar para fora parte das bizarrices que povoam minha mente de escritor. Espero ter acertado.



Em resumo, Alina da Valáquia é um dos textos que mais gostei de escrever nos últimos tempos — e a história já fez um ano! — e foi bem divertido trabalhar em cima desse tema mais sobrenatural. Como desde o início eu já queria que ela fizesse parte do mesmo universo dos demais contos — e coloquei easter eggs sobre quase todas as minhas outras publicações do Wattpad — acho que consegui criar uma relação boa com os outros textos, mesmo que isso não seja o ponto principal da história. 




Alina da Valáquia é uma grande homenagem às grandes obras sobre vampiros que sempre adoramos e o capítulo de degustação bem como o resumo dos personagens está disponível gratuitamente na plataforma Wattpad

Alina da Valáquia


Desde setembro de 2021, a plataforma Buenovela adquiriu os direitos de publicação do livro e agora ele está disponível completo e exclusivo por lá. O texto foi revisado e estendido para atender as especificações da editora e eu criei também uma nova arte para a capa. Acessem pelo link abaixo.

Alina da Valáquia
Clica aí para visitar a Buenovela




Curtam, compartilhem, comentem. É muito importante saber a opinião de vocês sobre esse trabalho feito com tanto carinho. 

P.S. - Assim como muita gente, eu também passei — e ainda estou passando — maus bocados durante essa pandemia sem fim e posso dizer que na solidão do isolamento social, escrever Alina da Valáquia foi meu principal alento, bem como uma válvula de escape para não pirar completamente. Estive bem perto disso, e por alguns instantes a Alina me salvou. 

NAMASTE!   

16 de maio de 2021

UM ANO DE PANDEMIA: O QUE MUDOU NESSE PERÍODO?



Há mais de um ano o mundo foi tomado de assalto por um vírus de efeitos catastróficos que já ceifou mais de 3 milhões de vidas, e desde então, as pessoas têm tentado sobreviver da melhor maneira possível, seja se protegendo ao respeitar as regras sanitárias da OMS, seja negando que o bicho seja tão feio assim. 

Do começo da pandemia até o atual momento, muita coisa mudou em nossas vidas. A paranoia aumentou com a falta de liberdade de ir e vir, as relações humanas se tornaram menos calorosas e a velha polarização política de esquerda contra direita acabou se transformando em uma disputa de egos, onde o grupo que quer viver precisa brigar com o que “não está nem aí” para quem vive ou morre. O Coronavírus nos causou mudanças profundas, nos tornou menos humanos e o “novo normal” de uma realidade que parece muito com ficção científica está cada vez mais enraizada no dia-a-dia.

Há quase um ano, o Blog do Rodman, com a esperança de que tudo passaria em alguns poucos meses, publicou um post falando sobre a situação no Brasil e no mundo naquela época. 12 meses depois, é hora de voltarmos ao assunto e contar sobre as mudanças que ocorreram nesse período, as boas e as más. O que aconteceu um ano depois do confinamento por conta do alastramento do Covid-19?


O MUNDO UM ANO DEPOIS


Há um ano, noticiamos aqui, após ampla divulgação nos meios de comunicação, que a Europa havia sido um dos continentes mais afetados pelo surto de Covid-19 depois da Ásia, lugar que, até onde sabemos, o vírus se originou. Os primeiros meses de 2020 foram de grande pânico para a população europeia e vimos países como a Itália e a Espanha registrarem mais de 200 mil casos de infectados em menos de um mês, isso porque nenhum dos governos vigentes havia levado a sério o perigo de contaminação iminente.

Atualmente, a Itália ocupa a oitava colocação no ranking dos países mais afetados pelo Covid-19, tendo um total de 4,07 mil casos registrados e pelo menos 122 mil mortes desde o início da pandemia. Segundo relatos de quem mora por lá, a situação não é tão ruim como a de outras partes do mundo, mas o país atualmente enfrenta um segundo lockdown — nome dado às paralisações de comércio e circulação local — devido uma segunda onda de contaminação que atingiu a capital romana. Por causa disso, os italianos não esperam sair dessa situação ainda alarmante tão cedo.

Itália na pandemia
Itália na pandemia


Já em Barcelona, relatos informam que novos casos de contágio ainda acontecem diariamente, o que tem mantido em alerta máximo as UTIs dos hospitais locais. Junto da Itália, a Espanha protagonizou o epicentro da pandemia na Europa no primeiro ano e atualmente, se encontra em nono lugar no ranking dos mais afetados, com mais de 78 mil mortes e pelo menos 3,55 mil casos registrados. Comparado a um certo país da América do Sul — aquele que de vez em quando rola Carnaval! —, a Espanha está vivendo quase um mar de rosas.

A Espanha ocupa o 9º lugar no ranking da pandemia


Um pouco diferente da vizinha de península Ibérica, Portugal é com certeza o melhor exemplo de recuperação sistemática entre os países europeus. O país, que em janeiro de 2021 sofreu com um recorde de casos e mortes pela doença que colapsou o sistema de saúde local, hoje vive um momento de estabilidade. Em muitas partes, já é possível a flexibilização das restrições que antes impediam que as pessoas sequer saíssem às ruas e os casos de mortes caíram vertiginosamente devido uma política pública de saneamento e conscientização da população sobre abrir mão de certos privilégios pelo bem maior. Hoje, Portugal conta com a imunização garantida de sua população com uma campanha ágil e maciça de vacinação que tem ocorrido em larga escala graças a competência de seu governo — liderado pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa —, o que nos dá certa inveja de nossos coirmãos lusitanos a essa altura.


Portugal foi o país europeu que melhor se recuperou da pandemia


Na América do Norte, os Estados Unidos ainda lideram o ranking dos países mais afetados pelo Covid-19 — já são quase 600 mil mortes em decorrência da doença —, mas a situação antes nublada pela presença conservadora de Donald Trump na Casa Branca foi amenizada com a eleição do democrata Joe Biden. Diferente de seu antecessor, que se negava publicamente a sequer respeitar os protocolos de segurança estimulados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para a não-contaminação do vírus, Biden iniciou sua gestão influenciando de maneira bastante pungente a população quanto aos benefícios da vacinação. 

Atualmente, mais de 105 milhões de americanos já foram totalmente imunizados, enquanto outros 147 milhões  receberam pelo menos a primeira dose da vacina — os EUA têm mais de 328 milhões de habitantes —, lembrando que o país tem à disposição a vacina em dose única da Johnson & Johnson e a mRNA, um tipo de vacina que utiliza a replicação de sequências de RNA, hoje, fabricadas pela alemã BioNtech — em parceria com o laboratório Pfizer — e a Moderna, uma desenvolvedora de vacinas situada em Massachusetts.



Biden anunciou recentemente que pretende imunizar pelo menos 70% de sua população até o feriado nacional de 4 de julho, mas para isso, vai ter que convencer também a ala populacional mais radical que é contra seu governo — aquela que também acredita que houve fraude nas últimas eleições — e que, claro, é contra vacinas

Com três vacinas à disposição e uma situação mais confortável quanto a imunização de sua população, Biden já tem conversado com outros países em situações mais críticas para oferecer ajuda, o que inclui o Brasil e a Índia. Com doses extras da vacina AstraZeneca (do laboratório com sede em Cambridge no Reino Unido), Biden planeja repassar o medicamento a outras nações, além de ajuda com oxigênio e equipamentos clínicos de intubação. Apesar de não ter apoiado Biden em sua campanha, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro já divulgou que agradeceria a gentileza do democrata caso as negociações fossem além, o que daria um gás maior na vacinação do país tropical abençoado por Deus que segue em ritmo lento.

Joe Biden e sua meta até o feriado nacional de 4 de julho


Na Ásia, a cidade chinesa de Wuhan, onde foi detectado o primeiro caso de Coronavírus no mundo, vive hoje uma situação de calmaria e há quase um ano o local está praticamente livre de novos casos da doença, graças a um trabalho rígido de conscientização ao uso de máscaras protetoras, a não-aglomeração em lugares públicos e sobretudo a vacinação. A província de 11 milhões de habitantes foi a responsável pela maior parte das mortes na China pelo Covid-19 — foram pelo menos 4635 óbitos só na região —, mas atualmente administra bem novas ondas, já tendo praticamente eliminado a doença de seu território. A China hoje ocupa a 97ª posição no ranking de países afetados pela pandemia e tem menos de 5 mil mortes em sua extensão — no Brasil, em um único dia, ocorreram 4211 mortes em abril —, o que diz muito sobre sua política de contenção e prevenção do vírus por lá.

Strawberry Music Festival em Wuhan
5 de maio: Público assistindo aos shows do Strawberry Music Festival em Wuhan 


Totalmente na contramão no país de Xi Jinping, a Índia, que é o segundo país mais populoso do planeta, vem vivendo desde o começo de abril uma segunda onda de contaminação devastadora, o que tem preocupado governantes de vários lugares da Ásia e de outros continentes. Após conseguir diminuir e muito a curva do contágio no início do ano — a Índia chegou a registrar mais de 93 mil casos de infectados por dia em setembro de 2020 — o país começou a enxergar com bons olhos a campanha de combate ao Covid-19, o que fez com que seus governantes, num rompante de excesso de confiança, decidissem afrouxar as restrições de segurança em seu território. O processo eleitoral em cinco estados indianos pode ser iniciado sem grandes problemas na metade do mês, o que colocou mais de 186 milhões de pessoas nas ruas para votar sem qualquer protocolo de segurança ou distanciamento social. Além disso, o críquete — esporte nacional mais popular — botou mais de 130 mil torcedores em arquibancadas para assistirem duas partidas contra o time da Inglaterra, igualmente ignorando as medidas sanitárias de praxe. 

O resultado? 

Sistema de saúde colapsado na Índia
Sistema de saúde colapsado na Índia


Por conta do clima de “já ganhou” que tomou a Índia — achando que já tinha derrotado o vírus por nocaute —, nas primeiras semanas de abril (2021), o país registrou 270 mil novos casos de Covid-19, ocasionando mais de 1600 mortes, o que serve de exemplo não só para a Índia, mas também para todo o restante do planeta: Não dá para cantar vitória antes da hora com uma doença tão letal. 

O mais irônico disso tudo é que a Índia, que para não entrar em colapso depende hoje da ajuda humanitária de países como os Estados Unidos, por exemplo, é a principal fabricante mundial de vacinas e é de lá que são provenientes os principais insumos para a fabricação da vacina distribuída atualmente no Brasil, em parceria com os laboratórios da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).


HABEMUS VACINAS


No início da pandemia, ainda em 2020, falava-se que uma possível vacina contra o Covid-19 dificilmente seria sintetizada e aprovada em menos de um ano, o que acabou se provando uma inverdade, para nosso alívio. Ainda no final de janeiro do mesmo ano, a China já havia disponibilizado a sequência genética do vírus, o que possibilitou que as comunidades científicas mundiais começassem a trabalhar num imunizante com base nos estudos.

No mesmo mês, a empresa alemã BioNTech começou a fazer avanços nas pesquisas de RNA, utilizando ao invés do próprio vírus inativado — como é de costume na criação de vacinas — uma molécula desenvolvida em laboratório para simular o material genético do SARS-Cov-2 (nome científico do Covid-19), mas que é incapaz de causar a doença propriamente dita.

Fonte: OMS


Depois dos primeiros estudos em animais, testes de toxidade e o planejamento quanto à fabricação das vacinas, a BioNTech — que já tinha um financiamento governamental de 375 milhões de euros para a pesquisa — contou com a parceria da farmacêutica americana Pfizer para só então avançar com a criação de uma vacina eficaz contra o Coronavírus.

Os primeiros testes em humanos aconteceram na Alemanha já em abril de 2020 e pouco depois nos Estados Unidos. Em julho, foram divulgados os primeiros resultados da fase 1 de testes, contando com voluntários de vários lugares do mundo, incluindo o Brasil.


Ao final da fase 3 de testes, foi concluído que a vacina Pfizer/BioNTech tinha eficácia de 95% contra a doença e os dois laboratórios passaram a se dedicar a produzir o produto em larga escala, com a intenção de imunizar cerca de 650 milhões de pessoas em todo o mundo. O registro da vacina junto ao FDA (Food and Drug Administration, o órgão governamental dos EUA que faz o controle de alimentos e medicamentos) foi realizado em dezembro de 2020.



Em paralelo às pesquisas da Pfizer/BioNTech, a Rússia também começou seus próprios estudos para a criação de uma vacina e chegou a registrar seu imunizante em agosto de 2020, com os cientistas alegando que havia 97,6% de eficácia em seu resultado. Apesar desse aparente sucesso e da pressa do presidente Vladimir Putin em divulgar os avanços de seus cientistas antes de todo mundo, a Sputnik V, como é denominada a vacina russa, não foi aprovada pelos testes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil por, segundo a própria agência, haver até o momento "ausência ou insuficiência de dados de controle de qualidade, segurança e eficácia do produto".

Putin e a Sputnik V


Além das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Sputnik V, pelo menos mais cinco outras estão em uso por todo o mundo, incluindo a Oxford-AstraZeneca (do Reino Unido), a Moderna (EUA), a Janssen (elaborada pela Johnson & Johnson), a indiana Covaxin e a Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.



Na corrida das vacinas, por enquanto, apenas três dessas citadas estão sendo aplicadas no Brasil ou em fase de testes pela Anvisa e apenas a Sputnik V foi, até o momento, descartada para uso em solo tupiniquim. Mais de 16 milhões de brasileiros em grupos prioritários (idosos, agentes de saúde) já foram totalmente imunizados com as duas doses das vacinas do Butantan e a AstraZeneca — a primeira pessoa vacinada no Brasil após a aprovação do uso emergencial pela Anvisa aconteceu no dia 17 de janeiro —, o que equivale a pouco menos do que 8% da população do país. 

A enfermeira Mônica Calazans
A enfermeira Mônica Calazans, a primeira brasileira a ser vacinada no país


É possível acompanhar o avanço da vacinação nacional direto pelo Google diariamente, mas infelizmente o processo só não está sendo mais rápido como em outros países por conta da demora das negociações entre o governo federal e os laboratórios. Além disso, tanto o Butantan quanto a Fiocruz vêm sofrendo com os atrasos no recebimento do denominado IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) para a fabricação das vacinas em território nacional, que nos dois casos são importados da China e da Índia.

Comparativo da eficácia das vacinas contra o Coronavírus


39 milhões de doses da americana Janssen devem chegar ao Brasil até dezembro de 2021 após negociação com o governo para tentar agilizar a imunização no país, porém, é de conhecimento público que as coisas poderiam ter andado bem mais agilmente se o Ministério da Saúde tivesse criado um plano de imunização nacional desde o início da pandemia. Após a fracassada tentativa de comprar 2 milhões de doses diretamente da Índia da vacina AstraZeneca, o governo e seus vários ministros — só nesse período de pandemia já estamos no quarto homem à frente da pasta da saúde — patinaram na condução das negociações com os laboratórios estrangeiros, o que acabou ocasionando nesses meses milhares de mortes por falta de vacina. A maioria delas, com grandes chances de serem evitadas. Hoje, o Brasil tem quase meio milhão de mortos por conta do Covid-19, um número estarrecedor.

meio milhão de CPFs cancelados
Quase meio milhão de CPFs cancelados: Do jeito que o Diabo gosta!


Além da importação de todos esses imunizantes e insumos, o Brasil trabalha nesse momento em duas vacinas próprias, o que vai garantir maior autonomia na aplicação de medicamentos injetáveis. Tanto a Butanvac (elaborada pelo Instituto Butantan de São Paulo) quanto a Versamune (da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) estão em fase de testes pela Anvisa e a previsão é de que, sendo aprovadas, comecem a ser aplicadas a partir do segundo semestre do ano.

 

VARIANTE DO VÍRUS


Além dos atrasos na compra das vacinas e da demora da chegada dos insumos para a fabricação das mesmas em nosso território, o Brasil se viu em janeiro de 2021, também vítima de uma variante do Coronavírus, denominada por aqui de P.1.

Descoberta em Manaus (AM), a P.1 causa um agravamento rápido no quadro de saúde do infectado, além de atingir também pessoas mais jovens e aumentar o tempo de internação. Segundo dados levantados pela BBC, “essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas”

De acordo com a fonte, essa característica mais agressiva pode causar maior letalidade, mas estudos da Fundação Osvaldo Cruz do final de fevereiro de 2021 alegam que, apesar dos infectados com essa variante apresentarem carga viral 10 vezes maior que sua “versão” anterior, — ou seja, a pessoa é capaz de transmitir o vírus com mais facilidade — isso não quer dizer que em seu organismo a doença seja mais grave.

A variante ainda vem sendo analisada, e até o presente momento, as respostas quanto a proteção exercida pelas atuais vacinas são pouco claras. Baseado em testes realizados nos anticorpos de 35 vacinados, o Butantan anunciou que a Coronavac é sim capaz de neutralizar a variante P.1 e já no Reino Unido, todos os testes realizados com a AstraZeneca, a Pfizer e a Moderna também se mostraram eficientes contra a variante europeia da doença, denominada por lá de B.1.1.7.

Esperamos que quanto mais pessoas vacinadas no mundo, menos chances de serem criadas novas variantes do Covid-19 existam e que aqui no Brasil a imunização comece em breve num ritmo mais acelerado, afinal, somos mais de 211 milhões e quanto antes formos vacinados, melhor.


CONTINUA...


Fontes de Pesquisa:


29 de dezembro de 2020

A guerra do streaming e o fim do cinema



O Covid-19 vai deixar marcas profundas em todos nós e não é de se espantar que até mesmo as grandes corporações estejam sofrendo com essa pandemia que se alastra desde meados de março de 2020 pelo mundo. Tendo em vista que as principais salas de cinema mundiais não retornarão às suas atividades normais num futuro próximo e que mesmo após a vacina ter sido sintetizada nossas vidas ainda estarão bastante tumultuadas por conta do coronavirus, a Warner decidiu dar um passo além e anunciou no começo de dezembro que TODOS seus grandes blockbusters estarão disponíveis em sua plataforma de streaming SIMULTANEAMENTE ao lançamento dos cinemas. 



O primeiro grande teste da Warner foi com o filme Mulher Maravilha 1984 que estreou nas salas de cinema e no HBO Max no dia 17. Até o presente momento, a produção dirigida por Patty Jenkins — que deveria ter estreado em abril — teve uma bilheteria mundial de US$ 85 milhões — US$ 16 milhões dos quais só nos EUA — e já foi visto por metade dos assinantes do serviço de streaming da Warner, o que obviamente é algo bem considerável.



Ainda é cedo para se dizer se a ideia de lançar grandes produções tanto no streaming quanto nos cinemas vai ajudar a salvar os cofres bilionários das empresas de entretenimento durante a pandemia, mas a Warner já anunciou que além de Mulher Maravilha 1984, todos seus grandes blockbusters previstos para 2021 também serão lançados nesse mesmo esquema. Filmes como Matrix 4, Duna, Godzilla vs Kong, Tom e Jerry (o filme) e o novo Esquadrão Suicida também constarão no catálogo da HBO Max logo que os filmes forem lançados no cinema e o mais importante: sem que o assinante precise pagar mais por isso. 



Na guerra do streaming, a Disney, assim como a Warner, tem feito experimentações com seu Disney + e foi a primeira empresa a colocar um de seus grandes blockbusters online durante a pandemia. A versão live-action da clássica animação Mulan teve lançamento exclusivo na plataforma em setembro e causou bastante burburinho por não ser uma adaptação fiel a animação de 1998. Além disso, o filme só podia ser visto em streaming se o assinante do Disney + adicionasse um valor extra ao que já pagava mensalmente — algo como se você só pudesse ver o filme no cinema se comprasse o combo com refri+pipoca — e no Brasil isso causou certo incômodo.



A Disney vai manter estratégia parecida com seus próximos lançamentos em streaming — pelo menos com aqueles que serão lançados simultaneamente com os cinemas — e já anunciou que a animação Raya and the Last Dragon será adicionada ao catálogo a partir de março de 2021, com um acréscimo de US$ 30 (R$ 150,00) à mensalidade para quem quiser ver na estreia em casa, em vez de ir ao cinema. 



A Disney ainda não se pronunciou quanto à sua estratégia para enfrentar a pandemia ou sobre os filmes que estão na geladeira por enquanto — como Viúva Negra, por exemplo —, mas nas últimas semanas anunciou 10 novas séries dentro do Universo Marvel dos cinemas e mais 10 sobre Star Wars, o que nos leva a crer que seu foco agora vai ser em seu serviço de streaming e não tanto nas grandes produções hollywoodianas. 



Com a normalização dos serviços de streaming, com lançamentos exclusivos sendo feitos diretamente para essas plataformas ao longo de todo o próximo ano, qual será o futuro das salas de exibição e dos grandes operadores de cinema?  

Falando agora particularmente, se tem uma coisa que eu gosto é de ficar em casa curtindo um filminho ou uma série no som bacanudo do meu home theater, mas mesmo com a facilidade que os serviços de streaming proporcionam —incluindo aí os preços mais baixos em comparação com todo o rolê que inclui uma "simples" ida ao cinema — na minha visão, nada se compara à experiência de ver um filme na telona.



Em minha infância eu não tive muitas oportunidades de ir ao cinema — toque a música triste do Hulk em sua cabeça. O primeiro filme que assisti em tela grande foi O Rei Leão (1994) e só consegui ir de novo no final do século para assistir Star Wars - Episódio I e o Fim dos Dias com o Schwarzenegger. Já no século XXI, quando consegui ir assistir o Homem Aranha (2002) no cinema, a experiência foi inacreditável e tenho lembranças até hoje da sensação incomparável de estar em uma sala confortável, com ar condicionado, ouvindo a reação das pessoas ao meu redor com as cenas impactantes e o cheiro da pipoca no nariz. Acho todo o clima do cinema algo maravilhoso até hoje e a menos que eu ganhe na Mega Sena e possa construir uma sala de cinema em casa, nunca vou poder reproduzir toda essa experiência, por melhor que seja a banda de internet ou melhor que seja o áudio de meu home theater

Você é velho, Rodman! Ninguém gosta mais de cinema lotado, gente levantando no meio do filme, falando alto, usando o celular! O esquema é streaming! 

Tô ligado, jovem padawan!

Eu mencionei antes a sensação de poder ouvir a reação das pessoas ao meu redor ao filme, mas até mesmo quando a sala do cinema está quase vazia AINDA assim vale a experiência. Em 2019 posso dizer que não encarei mais do que duas ou três sessões cheias em cinema e a grande maioria foi na tranquilidade. Ar condicionado no talo, som mais alto que a mastigação da pipoca e uma tela gigante em minha frente me fazendo esquecer dos problemas por duas horas.



Eu tenho quase um caso de amor com o cinema e até mesmo os filmes mais horríveis parecem ganhar uma aura diferenciada na projeção. É algo difícil de explicar. 

A explosão dos serviços de streaming vai trazer uma comodidade que muita gente sempre quis ter de ver seus filmes preferidos em casa, esticadão no sofá ou na cama, sem precisar enfrentar filas, sem ter que procurar vagas de estacionamento ou do incômodo que é ter gente falando alto enquanto o filme está sendo projetado. No entanto, não há como negar que daqui a pouco tempo, pagar uma sessão de cinema não vai ser quase nada comparado aos valores acumulados que vão acarretar assinar três, quatro serviços diferentes para se ter o privilégio de ver um filme em seu lançamento, sem falar nas taxas extras (não é mesmo dona Disney?).  

Você pode estar lendo esse artigo em seu celular com uma banda de fibra ótica de 200 milhões de megas, mas é importante lembrar que tem lugar no Brasil que mal chega 1 Mb de velocidade, além do que a interrupção de banda causa um desconforto inacreditável no meio de um filme ou de um episódio de série. Para quem não tem uma internet decente em casa ou sequer pode se dar ao luxo de assinar Netflix, Amazon Prime Vídeo, Globoplay, Disney + e a vindoura HBO Max — ainda sem data de estreia no país da antivacina — todas de uma vez, uma sessão de quarta-feira a R$ 10,00 no cinema viria muito bem a calhar!

Por enquanto, ainda não está declarado o fim oficial dos cinemas, que continuarão moribundos no próximo ano ainda sob efeito da pandemia do Covid-19, mas se você tem algum bom senso e preza pela vida de seus entes queridos — pelo menos aqueles que não são bolsominions — não vai ser tão cedo que iremos rever cenas como o cinema levantando de emoção enquanto o Capitão América empunha o Mjolnir em Vingadores - Ultimato.

Fala a verdade... nenhum serviço de streaming jamais vai proporcionar a emoção de ver uma cena como aquela em meio a uma galera tão emocionada e vibrante quanto você. Esse tipo de coisa nunca mais vai acontecer. Uma pena.

Estamos ficando velhos, Magneto!

P.S. - Eu não sou muito bom de matemática, mas tendo em vista que você seja um entusiasta dos serviços de streaming e não queira ficar para trás nas rodas de conversas sobre os filmes e séries mais comentados da semana, você teria que desembolsar os já costumeiros R$ 32,90 da Netflix — afinal, você não quer perder Os Cambitos da Rainha e nem a última temporada de La Casa de Papel! —, os R$ 9,90 da Amazon Prime, os R$ 37,90 da Disney + — pra deixar o Mickey ainda mais rico e também para ver o Baby Yoda — e se quiser aproveitar o combo Disney + e o Globoplay, R$ 43,90. Dá para ver o Faustão ao vivo no domingo, conferir a excelente série Desalma e ainda rever o Pescador Parrudo em Kubanacan. Como disse, sou péssimo em contas, mas chutando por alto, se você quiser mesmo ser O entusiasta do streaming — e sem contar com a sua conta no Spotify ou no Deezer — você vai ter que desembolsar o valor módico de R$ 86,70 mensais... ou algo próximo a isso. Se você tiver namorada (o), é mais ou menos o que gasta a uma ida com ela (o) ao cinema, mas sem as experiências já comentadas anteriormente.

P.S. 2 - Rod Rodman ainda não assinou o Disney +... quem sabe ele se decida quando chegarem as séries da Marvel por lá! 

NAMASTE!   

8 de maio de 2020

Crônica de Aniversário: Propósito



Será que todos nós temos mesmo um propósito na vida?

Há mais ou menos um ano eu comecei a fazer terapia - o nome certo não é esse, mas em frente - e uma das perguntas que fiz à minha psicóloga naquelas sessões de 50 minutos foi justamente essa: Todos nós já nascemos com algum propósito?

A resposta dela na época foi bem enfática e me levou a acreditar que, afinal, nós não somos tão especiais assim e que a ideia de que estamos aqui para cumprir uma missão divina ou atendendo aos desígnios de uma criatura de energia que controla o universo bem como nossas ações é apenas um autoengano do qual nos nutrimos para que nossa vida tenha algum sentido. Nós NÃO TEMOS nenhum propósito a cumprir em nossas vidas, embora nos agarremos a essa vã esperança de que "ainda tenho uma missão a cumprir" para poder acordar todos os dias. Você não é o Ethan Hunt, logo não há missão impossível nenhuma para cumprir. Relaxa.

Uma das coisas que me leva a pensar bastante no assunto é o motivo que temos para levantar da cama no dia seguinte, já que tudo isso é apenas comandado pela sua força de vontade. Por que atender o chamado do despertador e encarar outro dia extenuante de trabalho? Por que se submeter aos mandos e desmandos de um sujeito que só existe para ganhar dinheiro e humilhar os funcionários dia após dia, fazendo-os até duvidar que ainda têm autoestima? Que propósito grande o suficiente é esse que me força a sair da cama mesmo quando o aconchego do edredom e a maciez do lençol é tudo que necessito para fingir por alguns instantes que eu não existo realmente? E existir pra que? Qual o propósito de existir?

"Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido
Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta responsa
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir"

No começo da minha vida adulta eu me vi pressionado a tomar uma atitude séria quanto ao meu destino e foi meio que um carro velho forçado a embalar na ladeira. Eu tinha sido até então um moleque tímido e retraído com sérias dificuldades de socializar devido uma infância reclusa e enclausurada. Eu não sabia o que deveria ser ou querer. Tinha uma leve ideia de que gostava de arte, quadrinhos, desenhos e criações, mas vivia ouvindo de todo mundo que "isso é besteira", "isso não dá dinheiro", "que tal fazer alguma coisa de homem, tipo bater uma laje?". Passei o restante dos anos após esse chacoalhão estudando - passei por duas faculdades - e trabalhando porque eu achei que era isso que eu devia fazer, que esse era meu propósito mais imediato. 

Não era. 

Ao longo desses anos de muito trabalho - embora muita gente nem considere que lecionar seja um trabalho - eu tive pouco tempo para reencontrar comigo mesmo e os medos e angústias não sumiram por conta de eu estar muito ocupado. Eles só foram realocados dentro da minha cabeça, de modo que à princípio eles não ficassem muito evidentes, mas que estivessem à espreita, prontos para darem as caras novamente quando eu menos esperasse. 

Enquanto eu trabalhava tentando dizer a mim mesmo que aquele era meu propósito - e realmente foi por algum tempo, já que ensinar as pessoas é algo que nos faz pensar que somos especiais - eu fui deixando minha vida pessoal de lado. Em minha mente, o tempo não ia passar tão rápido. "Eu vou trabalhar bastante aqui por algum tempo, mas daqui a pouco eu começo a pensar em mim mesmo. Eu ainda tenho uma vida inteira pela frente..."

Eu não tenho mais uma vida inteira pela frente.

Enquanto eu achava que o trabalho e os estudos eram meu propósito, eu ignorei todo o resto e o tempo passou incrivelmente rápido aos meus olhos. Eu não tenho mais meus vinte e poucos anos. O que vejo no espelho todos os dias chega a ser assustador. Como foi que a velhice me alcançou tão rápido? Onde eu estava todo esse tempo que não vi ela chegando?

Eu estava ocupado pensando em cumprir a minha missão. 

Eu só não sabia que nunca tive uma

"Todas as graças da mente e do coração se escapam quando o propósito não é firme."

William Shakespeare

Depois de toda a provação que passei em meu último emprego - provação essa amenizada deliciosamente pela sensação de dever cumprido ao dar aulas - eu decidi desligar o piloto automático que comandava minha vida por anos e reassumir o volante. Foi desconfortável. Fazia muito tempo que eu não passava em companhia de mim mesmo e o sujeito no banco do carona me parecia tristemente com uma sombra pálida do que já tinha sido antes. Mas às vezes eu o reconhecia. Poucas vezes. 

Na companhia incômoda de mim mesmo eu procurei recuperar o tempo perdido e fazer algumas coisas que estavam nos planos rascunhados desde muito antigamente. Meu corpo, é claro, sofreu o baque da parada abrupta e começou a apresentar alguns sinais de fadiga. Se antes a mente mandava o corpo trabalhar incessantemente para que eu desse conta de meu emprego e suas funções, agora ele estava em total relaxamento e estranhou. "Ei, espere! Tome aqui essa pedra no seu rim para que se lembre de o quanto você se neglicenciou, estúpido". Passei a lutar contra uma pedra, ainda me recuperando do luto de um fim de relacionamento - esse, tão efêmero quanto cáustico - e o fim dele só me fez entender ainda mais o quanto eu estava sozinho. Se antes eu tinha criado alguns propósitos - vida a dois, filhos, etc... - agora mais uma vez eles não existiam. 

"Ao longo da vida, as pessoas vão sempre acabar te decepcionando. Algumas com algum propósito e outras sem querer. Mas quem escolhe sofrer ou superar cada uma dessas decepções não são elas, é você."

Carolina Bensino  

Eu nunca imaginei que estaria vivendo semanas tão melancólicas durante uma pandemia, mas agora que pude reencontrar comigo mesmo nesse isolamento, após quase duas décadas, tem sido ainda mais difícil acreditar que foi isso que restou. Eu não tenho mais um propósito e é ainda pior saber disso vendo um vírus ainda sem cura levando tanta gente ao redor do mundo. Centenas, milhares de pessoas que talvez tivessem algum propósito, que estivessem cumprindo alguma missão em vida e que foram embora cedo demais. Filhos de alguém. Namorados de alguém. Mães de alguém. Avós de alguém.É difícil olhar para o que está acontecendo e ainda manter esperança de "dias melhores", de que "a humanidade ainda vai dar certo". No Brasil, enquanto lutamos contra o vírus e o governo negacionista, continuamos dentro de casa, esperando uma solução mística, divina, científica - essa sim, mais provável - para vencer a doença. Aos que não tem mais esperança de muita coisa - Presente! - cabe apenas a solidão de dias cada vez mais frios e escuros, onde fica um tanto mais difícil de enxergar um propósito. 

Seu propósito na vida é encontrar um propósito e dedicar a ele todo o seu coração e a sua alma.

Sidarta Gautama (Buda) 


NAMASTE... Ou Não! 

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