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24 de abril de 2021

Indicações ao Oscar 2021



O cinema costuma refletir o que acontece na vida real e como não podia deixar de ser, esse ano o Oscar vai premiar ótimas obras de ficção baseadas na realidade, entre elas, três produções que falam de racismo e preconceito étnico: Judas e o Messias Negro, Os 7 de Chicago e Dois Estranhos.

Sigam-me os bons!


Fundado em 1966 pelos estudantes negros de Oakland (Califórnia) Huey Newton e Bobby Seale, o grupo dos Panteras Negras foi criado para combater a violência policial praticada sobretudo contra os afro-americanos, ação que na época, estava se intensificando devido a luta pelos direitos civis. Vendo seus pares recebendo um tratamento cada vez mais agressivo na sociedade à medida que tentavam reivindicar por melhores condições humanitárias, Newton e Seale decidiram igualar suas forças com a Polícia, tornando os Panteras Negras, à princípio, um grupo armado que monitorava as ações truculentas contra negros, coibindo também qualquer manifestação de racismo.   

Nos primeiros anos da fundação dos Black Panther, o grupo não só conseguiu mais adeptos de seus ideais na própria Califórnia, como também acabou ganhando projeção nacional, espalhando células por todo os Estados Unidos. As ações radicais — incluindo as armadas — começaram a se tornar mais sociais e o grupo logo transformou-se num partido, passando a usar sua influência para construir clínicas médicas populares — que atendiam a comunidade pobre, negra e latina —, escolas e até organizando mutirões para entrega de alimentos. Entre suas muitas ideologias, os Panteras Negras pregavam a sociedade autogestionária — onde os negros governariam a si mesmos —, crítica aberta ao sistema capitalista, liberdade para determinar o destino da comunidade, moradia, educação decente e isenção do serviço militar para homens negros.

A expansão das células do partido pelo país claramente passou a incomodar o governo da época — liderado na Casa Branca por J. Edgar Hoover — que via na sua influência um perigo para a sociedade branca predominante. Apoiados por grande parte da população que via na segregação racial o status quo que deveria ser seguido em seu país, os governantes usaram o FBI para implodir a organização dos Panteras Negras, implantando agentes infiltrados em suas células e enfraquecendo o grupo ano após ano. Dois dos casos mais emblemáticos envolvendo membros do partido foram o de Bobby Seale durante o julgamento dos “7 de Chicago” em que o cofundador dos Panteras Negras foi amarrado e amordaçado perante a corte a mando do juiz responsável pelo caso e o do jovem líder do partido em Illinois Fred Hampton que foi assassinado à queima-roupa pela Polícia em sua casa, diante da esposa grávida de oito meses. Ambas as histórias reais estão sendo retratadas em filmes distintos e concorrendo ao Oscar de 2021.


JUDAS E O MESSIAS NEGRO



Dirigido pelo norte-americano Shaka King de 41 anos, Judas e o Messias Negro conta sem grandes filtros a dramática ascensão e queda do líder carismático Fred Hampton, que aos 21 anos veio a se tornar um dos mais importantes e influentes líderes do partido dos Panteras Negras. Interpretado na tela por Daniel Kaluuya (do excelente Corra!), Hampton era um orador talentoso que baseava seus discursos, sempre bastante inflamados frente a sua comunidade, em nomes como o de Malcolm X e do pastor Martin Luther King, ambos assassinados por suas crenças ainda durante a década de 60. Como o “Presidente” do partido em Illinois, Hampton usou de sua persuasão para abraçar outros grupos em pró da sua causa — seguindo a ideologia já comentada dos Panteras — como os porto-riquenhos e os sulistas, que tal qual os negros, eram marginalizados e condenados à extrema pobreza no estado americano.

Judas e o Messias Negro


Em paralelo à ascensão de Hampton junto aos Panteras Negras, o filme acompanha também a vida de William O’Neal (LaKeith Stanfield), um ladrão de carros trapaceiro que acaba sendo cooptado por um agente do FBI chamado Mitchell (vivido pelo comumente conhecido “Matt Damon genérico” Jesse Plemons) para trabalhar infiltrado junto à célula de Hampton. Se vendo sem saída e aceitando trabalhar para o governo em troca de um salvo-conduto, “Wild Bill” acaba entrando para os Panteras Negras, chegando a se tornar o chefe de segurança do partido enquanto espiona secretamente as ações de Hampton.

Judas e o Messias Negro


Apesar de não impressionar tanto em seu início lento ou ousar com tomadas de câmaras mirabolantes — e nesse caso desnecessárias — Judas e o Messias Negro compõe muito bem seus personagens principais, tornando bastante imersivas suas jornadas pessoais. É impossível não reagir positivamente às sequências em que Hampton discursa diante de uma plateia exultante ou que ele simplesmente convence novos adeptos à sua causa — entre eles a célula conhecida como “The Crowns”, que eram rivais aos Panteras em essência, mas que partilhavam de vários de seus ideais — e exatamente por isso, o filme se coloca como um elemento importantíssimo para entendermos melhor essa época tão conturbada da história americana e cujas consequências se estendem até os dias atuais. De certo modo, a luta de Hampton contra o racismo perdura até hoje, travada agora por outras pessoas.

É importante salientar que em vários momentos do filme nos é mostrado em detalhes que, apesar das ações sociais em pró da comunidade carente da região onde a sede do partido está instalada, os Panteras Negras consideram o uso da força contra a Polícia para se fazer entender, mas que isso em nenhum momento desabona o motivo pela qual eles se organizaram. O endosso pela causa antirracista ganha ainda mais intensidade conforme mergulhamos no plano sujo do agente Mitchell e seus superiores para destruir Fred Hampton — com o óbvio aval do Presidente J. Edgar Hoover, em tela vivido por Martin Sheen — usando a figura de O’Neal, e simplesmente não tem como não nos colocarmos do lado dos oprimidos. Nesse sentido, Judas e o Messias Negro presta um excelente serviço de conscientização às causas raciais e nos faz ter empatia não só ao que Fred Hampton representava na vida real, como também a todas as pessoas que sofreram injúrias e acabaram pagando com suas próprias vidas acima de tudo pela cor de sua pele.

O assassinato brutal de Fred Hampton estimulou diversos protestos na comunidade negra dos Estados Unidos ao final da década de 60 e somente muitos anos depois é que foi pago uma indenização à sua família e a dos outros membros do partido mortos durante a ação desproporcional da Polícia, que disparou quase 100 tiros na invasão à casa, contra um disparado em autodefesa. Apesar disso, não houve qualquer declaração de desculpas ou de arrependimento por parte das autoridades após a derrota nos tribunais. 

É impossível não comparar Judas e o Messias Negro com outra grande porrada visual que é Infiltrados na Klan (comentado aqui) de Spike Lee, o vencedor de Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2020, já que ambos falam de assuntos semelhantes — racismo, infiltração de agentes em grupos rivais... —, mas apesar de ser um material mais cru de uma realidade sem floreios, o filme de Shaka King carece de ritmo em certos momentos comparado ao de Lee, o que felizmente é compensado pela brilhante atuação do protagonista Daniel Kaluuya, que desponta como um dos mais importantes atores negros de Hollywood. Toda a motivação de Hampton está entranhada na interpretação do ator e ele chega ao Oscar 2021 como um forte candidato ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, ao lado do parceiro em tela LaKeith Stanfield.

Além de Melhor Ator Coadjuvante, a produção disputa também Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia. Se destacando como o primeiro filme a ser produzido inteiramente por negros (entre eles Ryan Coogler, diretor de Creed e Pantera Negra da Marvel), Judas e o Messias Negro não concorreu ao prêmio máximo do Globo de Ouro desse ano, mas Daniel Kaluuya foi premiado como Melhor Ator Coadjuvante na categoria.

Judas e o Messias Negro não está disponível em nenhuma plataforma de streaming no Brasil e atualmente pode ser visto apenas em alguns cinemas do país, com todas as restrições atuais por conta da pandemia de Covid-19.

NOTA: 9


OS 7 DE CHICAGO



Tanto Judas e o Messias Negro quanto Os 7 de Chicago se passam praticamente na mesma época dos anos 60 e chegam mesmo a “compartilhar” alguns personagens, visto que Bobby Seale — que é apenas mencionado em Judas — faz parte inicialmente do julgamento dos "7 de Chicago" e é orientado, na ausência de seu advogado na corte, pelo próprio Fred Hampton, nesse filme, interpretado pelo ator Kelvin Harrison Jr.. 

Os 7 de Chicago


A participação de Seale (vivido por Yahya Abdul-Mateen II, o Arraia Negra de Aquaman) na produção dirigida por Aaron Sorkin é bem mais intensa, visto que é protagonizada por ele a cena absurda — e revoltante — em que o juiz tendencioso Julius Hoffman (Frank Langella), na tentativa de calá-lo por sua insistência em querer se representar sozinho diante do júri — doente, o advogado de Seale está ausente do julgamento —, manda que os seguranças batam, amarrem e amordacem o homem diante de todos, numa tentativa truculenta de “manter a ordem” no tribunal. 

Assim como os outros réus do famoso caso, Seale é acusado de causar tumultos em protestos contra a obrigatoriedade do alistamento de jovens para combater na Guerra do Vietnã e apesar de não estar necessariamente aliado aos demais, acaba sendo julgado em paralelo, até ser absolvido de todas as acusações posteriormente. É notório no filme o desprezo que o juiz Hoffman sente pela figura de Seale e é bem claro o tratamento diferenciado que ele, por ser preto, recebe do magistrado, incluindo aí a ordem de violência física.

Os 7 de Chicago


De maneira bem didática em forma de flashbacks e da narração sucinta do personagem Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen, de Borat) em um show de stand-up, Sorkin mostra toda a trajetória de cada um dos 7 membros até sua chegada ao fatídico dia do confronto com a Polícia, durante a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago, Illinois. Acusados de conspiração e incitação à revolta contra a Guerra do Vietnã — em que os EUA estavam presentes desde 1964 —, Tom Hayden (Eddie Redmayne), Abbie Hoffman (o já citado Sacha Baron Cohen), Rennie Davis (Alex Sharp), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Lee Weiner (Noah Robbins) e John Froines (Daniel Flaherty) passam por um extenuante julgamento que demora seis meses e em que a promotoria tenta de várias maneiras comprovar a culpa deles em toda a ação que levou ao uso excessivo de força por parte da Polícia. Representados pelo advogado William Kunstler (Mark Rylance) e procurando comprovar sua inocência enquanto dezenas de testemunhas são ouvidas, os 7 são interpelados pelo promotor Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt), que apesar de toda a pressão para que faça-se cumprir a lei, no filme, não acredita 100% na culpa dos rapazes.

Os 7 de Chicago


O longa tem uma montagem dinâmica entre as cenas e a história é conduzida sem grande barriga no miolo, fazendo com que até mesmo o espectador mais leigo em direito penal consiga acompanhar do preâmbulo da narrativa até seu desfecho, em tela, apoteótico. Embora conte com vários floreios que servem para uma condução mais adequada da trama — algo bastante comum em adaptações de histórias reais para o cinema — Os 7 de Chicago é até bastante fiel ao que aconteceu de fato em 1968, incluindo as piadas da dupla Abbie e Jerry com o juiz Hoffman e a leitura dos nomes dos mais de 5 mil soldados americanos mortos no Vietnã durante o julgamento. Filmes que narram julgamentos sempre me atraíram desde a adolescência — e Hollywood sabe bem transformar qualquer caso em espetáculo! —, mas costumeiramente eles são chatos e arrastados, algo que não acontece aqui.

Na festa do Oscar, além de Melhor Filme, The Trial of the Chicago 7 concorre a Melhor Ator Coadjuvante (com Sacha Baron Cohen, que realmente está incrível como o provocador Abbie Hoffman), Roteiro Original, Fotografia, Montagem e Canção Original (“Hear My Voice”, interpretada pela cantora Celeste).

Assim como outros 17 títulos que disputam o Oscar esse ano, Os 7 de Chicago está disponível na Netflix e pode ser assistido até a noite da premiação.

NOTA: 8,5


DOIS ESTRANHOS



Dirigido por Martin Desmond Roe e escrito por Travon Free, Dois Estranhos (no original “Two Distant Strangers”) é um daqueles curtas que possivelmente nunca iríamos dar uma chance de assistir se por um acaso não fosse indicado ao Oscar, mas que é uma bofetada na cara de quem acha que cinema tem que ser obrigatoriamente apenas diversão. Confesso que não sou muito de assistir curtas-metragens e que ignorava completamente a existência de Dois Estranhos até muito recentemente, mas agradeço muito a facilitação que hoje os serviços de streaming como a Netflix trazem ao disponibilizar esse tipo de material, os tornando mais acessíveis para um público como eu.

Produzido na onda de choque que foi o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos e tendo como enfoque principal o racismo, Dois Estranhos narra em 32 minutos — menos que muito episódio de série — a desventura do personagem Carter James (Joey Bada$$) que após acordar no apartamento de uma namorada casual, decide seguir para sua casa tranquilamente, tendo a infelicidade de topar com o policial linha-dura vivido pelo ator Andrew Howard no caminho. 

Joey Bada$$ e Andrew Howard de Dois Estranhos


Por puro e simples preconceito racial, o homem aborda Carter de maneira intimidatória, usando de argumento o cigarro que ele está fumando, além do maço de dinheiro que ele guarda na mochila, fruto de seu trabalho como designer gráfico. Sem dar qualquer chance do rapaz se explicar, o policial entra em conflito físico com Carter o derrubando no chão e o asfixiando, de maneira muito semelhante ao que Derek Chauvin fez com George Floyd em maio de 2020 em Minneapolis. A sensação ao assistirmos a cena fictícia é tão assustadora quanto a que tivemos com o vídeo real — incluindo a mesma frase de súplica "I can't breathe!" — e após a “morte” de Carter, o personagem entra num looping temporal — como no Dia da Marmota — que o leva sempre ao mesmo desfecho violento: com ele sendo vítima fatal do policial branco.

Apesar de ser um filme curto com poucos personagens, “Two Distant Strangers” é de uma carga emocional muito grande que nos faz enxergar pela ótica de uma pessoa negra os preconceitos e infortúnios diários com que eles convivem, sendo sempre vítimas de desconfiança, de olhares tortos e da completa desumanização por parte de quem não é dito “de cor”. No curta, mesmo tentando abordagens mais brandas e procurando evitar o confronto a cada nova chance de vida, Carter acaba percebendo que o policial não está a fim de ser empático com a sua figura — mesmo ele provando se tratar de uma pessoa boa cujo cão o está esperando para ser alimentado em casa — e mesmo quando tudo aponta para um desfecho colorido e reconfortador, a dura realidade volta a bater em nossa cara, mostrando que nem todo mundo consegue ter um final feliz numa sociedade tão racista e preconceituosa.

De uns tempos pra cá, eu tenho tentado estudar sobre direitos civis e entender mais sobre o racismo estrutural que permeia o nosso meio — e casos como o João Alberto Silveira Freitas do Carrefour nos mostram que a realidade está bem mais próxima de nós do que imaginamos —, mas é cada dia mais complicado tentar entender o que leva o ser humano em pleno século XXI ainda querer que haja segregação racial ou a querer que as pessoas negras aceitem que o seu “não gostar de negros” é a sua opinião e não estupidez pura e simples. Enquanto os corpos de novos George Floyd e outros João Alberto vão sendo empilhados, a sociedade continua negando a existência de um preconceito racial, inflamando cada dia mais um discurso vazio e rasteiro para justificar a sua ignorância.

Mais do que nunca, é preciso que seja dito… Vidas Negras Importam!

Dois Estranhos disputa o Oscar de Melhor Curta-Metragem em live-action e tem tudo para fazer história na premiação em tempos tão necessários de obras diretas e concisas como essa. Fica nossa torcida.

NOTA: 10 


P.S. – O Pantera Negra da Marvel chegou a ser chamado de “Black Leopard” em 1972 para que houvesse uma dissociação do Rei de Wakanda com o partido político homônimo do personagem e tanto Jack Kirby quanto Stan Lee, os criadores dele, sempre negaram a influência dos Panteras Negras para o desenvolvimento de T’Challa. Em tempos, a primeira menção a um grupo denominado “Panteras Negras” surgiu nos EUA em 1965, mas o grupo criado por Huey Newton e Bobby Seale só surgiu um ano depois, na mesma época em que o Pantera Negra da Marvel fez sua estreia nas HQs do Quarteto Fantástico.

Pantera Negra socando nazista

 

P.S. 2 - A cena em que o cachorro do personagem Carter James de Dois Estranhos é focalizado esperando ele enquanto seu dono é baleado pelo policial filho da puta deu um gatilho foda! Ainda estou de luto pelo meu amigo Peter e cada referência canina na ficção me causa um turbilhão de lágrimas!


Fontes:

Para entender os Panteras Negras

Quem foi o Messias Negro

Quem foram os The Crowns

O Pantera Negra da Marvel e seu contexto político

O Caso João Alberto Silveira Freitas

O Caso George Floyd


NAMASTE!

4 de junho de 2020

10 filmes para ver na Quarentena


A maioria de nós está impossibilitada de sair de casa devido a pandemia de Covid-19, que até a conclusão desta postagem, ainda estava assolando o nosso planeta, por isso, assistir filmes e séries virou mais do que passatempo corriqueiro. Virou uma questão de sanidade, já que sem essa válvula de escape, muitos de nós já teriam pirado completamente só assistindo noticiários (e eu nem estou falando só da pandemia, talkey!).

Seja nas plataformas de streaming ou na TV por assinatura, a variedade de filmes disponíveis é bem seleta, e eu separei aqui um Top 10 (sem muito compromisso de ser do "pior" para o "melhor") daqueles que mais me chamaram a atenção durante a quarentena a que estamos confinados.  


OPERAÇÃO OVERLORD


Dirigido pelo desconhecido Julius Avery, o simpático Operação Overlord foi vendido como “o filme escrito por J.J. Abrams”, fato esse que colaborou para a garantia de pelo menos metade da bilheteria (fraca) que o filme obteve no cinema.

A história de guerra situa seus personagens na França de 1944, quando uma tropa de paraquedistas americanos desembarca bem em cima das linhas inimigas, sendo obrigada a se separar sob fogo cerrado. Quando os sobreviventes da queda conseguem se reagrupar, eles partem para cumprir a missão que eles acreditam ser a desativação de uma base inimiga, mas já em seu destino, acabam descobrindo que os nazistas estão planejando algo muito mais grandioso e mortal contra os Aliados.

Mathilde Ollivier e Jovan Adepo em cena

Muitos filmes já colocaram os nazistas e seu comandante como estudiosos do oculto, das forças malignas, e com isso, Operação Overlord consegue juntar dois gêneros muito populares em Hollywood que é “filme de guerra” com “filmes de zumbis”. O que aconteceria se Hitler tivesse encontrado uma forma de reviver os mortos e torná-los os soldados perfeitos para sua conquista mundial?


Overlord (que também foi o nome dado à missão de invasão da Normandia durante a 2ª Guerra) rendeu apenas US$ 41 milhões de um orçamento de US$ 38 milhões, mas não chega a ofender a inteligência de ninguém, sendo um ótimo divertimento de quase duas horas e com uma história interessante de ser acompanhada. Os personagens são cativantes e o filme possui cenas de violência beeeem gráficas, em especial quando vai se aproximando mais do seu final. Além do protagonista Jovan Adepo, o elenco ainda conta com a belíssima atriz e modelo francesa Mathilde Ollivier (que possui o arco mais dramático do filme, em busca do irmão raptado), o ator Wyatt Russell (que vai ser o John Walker/Agente Americano na série da Marvel Soldado Invernal e Falcão) e Iain De Caestecker (o Agente Fitz de Agents of SHIELD). Como filme de guerra, não chega a ser um Resgate do Soldado Ryan ou um 1917, mas possui vilões muito bons que vão fazer o desfecho valer ainda mais a pena.

Wyatt Russel

Como tem nazistas na história, vai agradar parte dos eleitores do atual presidente do país! 

Nota: 7

Disponível no catálogo do Telecine.

A BABÁ


Depois de As Panteras: Detonando (2003) e Exterminador do Futuro – A Salvação (2009), nunca mais achei que veria outra coisa dirigida por McG, mas acabei assistindo A Babá na total ignorância de que era o cara por trás das câmeras.

Diferente de Terminator Salvation que era para ser levado a sério, A Babá (filme de 2017) subverte completamente o gênero terror, tornando o filme uma comédia galhofa de ótima qualidade. O plot inicial nos mostra o medroso protagonista Cole (Judah Lewis) como o único menino do bairro que ainda tem uma babá para cuidar dele quando os pais saem de casa, fato que gera muito constrangimento e bullying com ele na escola. Cheio de fobias e incapaz de enfrentar os bullies do bairro, Cole tem como única amiga a vizinha Melanie (Emily Alyn Lind), além de contar com a proteção de Bee, a sua Babá.

Judah Lewis e Samara Weaving

Bee se mostra uma verdadeira parceira “nerd” para o menino, e as horas que os dois passam juntos na ausência dos pais dele são sempre muito bem aproveitadas, com várias atividades que deixariam qualquer moleque adolescente simplesmente apaixonado pela babá. Destaque para a cena em que os dois escolhem uma equipe para combater invasores alienígenas cheia de referências nerds, que vai de Capitão Kirk ao Xenomorfo de Alien.

Tudo corre muito bem na vida de Cole, até que ele descobre numa noite a razão pela qual Bee o dopa todas as noites, para mantê-lo em sono profundo: Ela é uma assassina adoradora do Diabo que quer seu sangue inocente para ganhar tudo aquilo que almeja.


A partir dessa descoberta, o filme vira um delicioso thriller em que cenas cada vez mais absurdas inundam a tela até o desfecho da história. A Babá de McG é dirigido com ótimas tomadas de câmera que às vezes coloca o espectador na visão do menino Cole, além de uma edição muito caprichada e veloz que exprime graficamente as emoções do protagonista com textos e efeitos digitais. É bem incrível o que o diretor consegue fazer nas cenas de ação sem exagerar no CGI (algo que era terrível em As Panteras!), mas independente dos efeitos visuais, o carisma de todos os personagens segura muito bem a história. Além de Judah Lewis, o filme conta com a lindíssima Samara Weaving como Bee, Leslie Bibb (a jornalista que vai pra cama com Tony Stark em Homem de Ferro 1) como a mãe de Cole e Robbie Amell (o Nuclear caucasiano do Arrowverso) como um dos amigos adoradores do demônio de Bee.


O desfecho é de partir o coração, mas A Babá vale muito a pena para um domingo à noite de bobeira na quarentena.

Nota: 8

Tem na Netflix. 

P.S. - Não confundir com A Babá (2018) de Joel Novoa, que esse sim, é um filme de terror roots, de dar cagacinho.

A NOITE É DELAS


Rough Night (2017) é um daqueles filmes que conquista seu interesse só pelo trailer, mas que por uma razão ou outra, a gente não consegue assistir no cinema. Dirigida pela diretora italiana Lucia Aniello, a comédia rasgada nos coloca para rir quase que do começo ao fim com um grupo de amigas dos tempos da faculdade que decidem sair numa viagem para comemorar a despedida de solteira de uma delas, Jess, a personagem vivida por Scarlett Johansson. Elas agora seguem vidas completamente diferentes da época em que dividiam uma república. 


Jess é candidata a um alto cargo no governo, Alice (Jillian Bell) tornou-se professora do primário, Blair (Zoë Kravitz, a próxima Mulher Gato de The Batman) é uma empresária bem-sucedida divorciada e com um filho e Frankie (Ilana Glazer) que nos tempos da faculdade namorava Blair, agora é uma ativista feminista. Quando as moças se reencontram, meio que rola uma tensão entre elas, e fica nítido ao espectador que elas não parecem ser tão amigas assim. Essa tensão dura até o momento em que elas chegam na casa em Miami onde vão passar aqueles dias, quando então a nova melhor amiga de Jess, chamada de “Kiwi” (Kate McKinnon) se junta ao grupo, causando ciúmes na controladora Alice.

A engraçadíssima Kate McKinnon e Scarlett Johansson

Os problemas do grupo começam realmente quando uma das garotas decide contratar um Go-Go Boy para entreter a noiva Jess e acidentalmente elas acabam matando o cara. E isso não é spoiler, porque tem no trailer. A partir daí as confusões para elas se safarem daquele problema sem prejudicar suas vidas e suas carreiras criam as situações mais hilárias do filme, nos prendendo firmemente ao sofá até o desenrolar da história. A personagem de Kate McKinnon com seu sotaque australiano e seu jeito meio destrambelhado rouba fácil a maior parte das cenas de humor (destaque para o acidente de jet-ski!), o que torna o filme uma das grandes surpresas do gênero comédia. 

Como é de praxe, o filme tem citações e insinuações sexuais para caralho, só que o mais interessante nesse ponto é que agora estamos vendo tudo pela ótica feminina, já que é uma mulher atrás da câmera. Não espere, portanto, personagens sexualizadas ou estereotipadas em A Noite é Delas, já que isso não acontece em nenhum momento.


Aniello tem um estilo muito próprio de filmar as cenas mais movimentadas, e até as sequências óbvias acabam causando risos, mesmo nos momentos mais prováveis. A Noite é Delas é para ver com os amigos reunidos na sala, mas como isso vai contra as recomendações de isolamento social da OMS, pode assistir em casa de casalzinho que também vale a pena. O filme ainda conta no elenco com o ator Colton Haynes (o Ricardito do Arrowverso) como um garoto de programa e com a sumida Demi Moore, que interpreta a vizinha ninfomaníaca da casa em Miami.

NOTA: 9

Está disponível na Netflix.   

OS 7 MAGNÍFICOS


Eu tenho uma certa preguiça para filmes de “bang bang” (como diria minha mãe), mas confesso que o que me chamou a atenção no western Os 7 Magníficos (2016) foi seu elenco. Dirigido por Antoine Fuqua, o longa é um remake de um filme homônimo da década 1960, que também já era baseado no japonês Os Sete Samurais de 1954. Fuqua tem no currículo o excelente Dia de Treinamento (2001), filme que rendeu o Oscar de melhor ator a Denzel Washington, merecidamente, além de vários outros filmes também protagonizados pelo ator.


O enredo conta a história do oficial negro Sam Chisolm (Denzel Washington) que decide aceitar a recompensa paga por Emma Cullen (Haley Bennett) para libertar o seu vilarejo das garras tirânicas de Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard), um barão industrialista que quer se beneficiar das minas existentes no lugar. Bogue chega no vilarejo com toda sua força armada e exige que os moradores vendam suas casas a preço de banana. No processo, ele acaba matando aqueles que se rebelam, deixando Emma viúva. É aí que ela reúne os poucos recursos que o lugar tem e decide contratar caçadores de recompensa para acabar com Bogue e seu bando. Embora não seja um caçador de recompensas, Chisolm decide aceitar o serviço ao saber quem está envolvido nele, reunindo os melhores homens da região para ajudá-lo naquela missão praticamente suicida.


Os “sete” do título são formados, além de Chisolm, por Faraday (Chris Pratt, o Starlord de Guardiões da Galáxia), Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke), Jack Horne (Vincent D’Onofrio, o Wilson Fisk da série do Demolidor da Netflix), Billy Rocks (Byung-hun Lee) o especialista em facas, o mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) e Red Harvest (Martin Sensmeier) o índio Comanche solitário que decide se juntar a eles no caminho. O filme tem sequências espetaculares de ação, regadas com muito tiroteio, explosões, empalamentos e flechadas. Todo o elenco está muito bem em cena, conduzido pela direção firme e talentosa de Fuqua. Cada personagem, por possuir uma habilidade específica (além de só saber apertar um gatilho), é explorado unicamente em suas características, o que também pode ser observado com relação a suas personalidades. Nesse quesito talvez os dois únicos que saem perdendo, não tendo tanto tempo de tela quanto os demais, são o Comanche e o mexicano, que tem pouco de suas personalidades explorada no roteiro.

Haley Bennett, Chris Pratt e Peter Sarsgaard

A interação do elenco é uma das melhores coisas sobre esse filme, o que faz o tiroteio final ser tão empolgante quanto doloroso.

Nota: 8

Está disponível na Netflix.   

NA NATUREZA SELVAGEM


Um pouco antes desse filme voltar a ser comentado em 2020 devido a história do brasileiro que decidiu seguir os passos de Christopher McCandless até o Alaska, eu resolvi finalmente dar uma chance a ele, após ser citado em um podcast que ouvi. Na Natureza Selvagem (2008) esteve disponível na Netflix por algum tempo, mas acabei tendo que apelar para meios alternativos para assisti-lo já que ele foi tirado do catálogo.


Dirigido pelo também ator Sean Penn, o filme é baseado em Into the Wild de Jon Krakauer, livro que conta a história real de Christopher McCandless, o jovem de 23 anos que decidiu largar toda sua vida de luxos e riquezas para embarcar em uma viagem de autoconhecimento até o Alaska. McCandless (ou Alexsander Supertramp) simplesmente desaparece após se formar na faculdade, não deixando qualquer rastro para trás e abandonando completamente sua vida anterior. Bens materiais, família... Tudo é colocado em segundo plano enquanto ele decide trilhar seu próprio destino até o Alaska, onde ele, por um infortúnio, jamais conseguiu chegar.


McCandless é competentemente interpretado por Emile Hirsch no filme e o ator mergulhou fundo (literalmente!) no papel, dispensando dublês em cenas mais perigosas (como a que desce uma corredeira de caiaque) e até encarando um urso de verdade. Hirsch ainda aceitou provações físicas para se aproximar perfeitamente ao estado em que o verdadeiro Christopher deve ter chegado em seus últimos dias, privado de alimentos, e o ator está só pele e osso nas últimas cenas.


Na Natureza Selvagem, como dá pra perceber até aqui, não é um filme de fantasia com final feliz, mas todo o processo (egoísta sim) de descoberta pelo qual o personagem passa em sua história é uma das mais comoventes que já assisti em um drama. Todo o clima de melancolia e solidão (embora o personagem se negue a ser depressivo ou mesmo triste) do enredo fica ainda melhor sentido pelas canções e pela trilha sonora composta por Eddie Vedder (o vocal do Pearl Jam), Michael Brook e Kaki King. Toquei essa trilha incessantemente por algumas semanas no Spotify, tentando absorver tudo que o filme acabou representando para mim. Chorei e não foi pouco ao final do filme, e de uma forma ou outra, acabei me perguntando se eu não faria algo parecido com o que o protagonista fez. Às vezes, por mais que isso seja egoísta e idiota, o isolamento total até a morte parece ser a única resposta para as dores diárias da vida e a total falta de propósito. Mas esse é meu lado depressivo falando mais alto.

P.S. : Foi a primeira vez que achei a atriz Kristen Stewart levemente atraente. Decididamente, ela fica muito melhor de cabelos mais escuros e meio sujinha do que aquela boneca de cera sem vida que ela sempre aparece nos filmes posteriores.


Nota: 9

Está disponível no Telecine Play (e seu aplicativo HORRÍVEL!).

BRIGHTBURN


Brightburn (O Filho das Trevas, como foi intitulado no Brasil) é um filme de 2019 dirigido por David Yarovesky e produzido por James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia e do próximo Esquadrão Suicida. Assim como outras adaptações que foram feitas nos quadrinhos, o enredo de Brightburn escrito pelos irmãos de James Gunn Brian e Mark, procura desvendar o que aconteceria se o Superman tivesse se tornado mau após cair na Terra, e embora não haja NENHUMA ligação do filme com o personagem icônico da DC Comics, o que não faltou foram correlações dos fãs do escoteiro kryptoniano com o personagem Brandon Breyer (Jackson A. Dunn).

As semelhanças começam quando o casal Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (David Denman) após várias tentativas frustradas de terem um filho pelos meios naturais, acabam tendo suas preces atendidas quando uma espécie de foguete cai no terreno de sua fazenda no Kansas. O objeto voador traz à Terra durante a noite uma forma de vida semelhante a um bebê humano, que o casal decide tomar conta como se fosse seu filho, escondendo de todos a seu redor sua real natureza. Embora não saibam exatamente de onde o bebê veio, Tori e Kyle escondem a nave alienígena embaixo do celeiro e lá a deixam oculta até a pré-adolescência de Brandon.


As semelhanças com a origem do Superman terminam quando após o aniversário de 12 anos, Brandon começa a se comportar de maneira assustadora, como que tendo a mente manipulada por um comando extraterrestre da nave que o manda “conquistar o mundo”. O comando faz com que uma natureza selvagem seja despertada no menino, que começa a agir de maneira a satisfazer seus desejos mais primitivos, como fazer com que a colega de sala Caitlyn (Emmie Hunter) o aceite como amigo à força ou mesmo assassinar aqueles que ao longo do filme vão descobrindo o que ele é capaz de fazer. A partir do ponto em que Brandon aceita seu lado maligno, o filme vira um thriller muito bom que vai surpreendendo o espectador numa escalada impressionante até seu fim dramático. Com seus poderes (que além de voo, rajadas de calor dos olhos parece incluir também telecinésia), Brandon passa a usar um capuz assustador para cometer incólume várias barbaridades em Brightburn, a cidade que dá título ao filme, enquanto deixa sua marca (literalmente!) por onde passa.


O filme rendeu uma 32 milhões ao estúdio que o produziu, o que nos dias atuais não parece ter sido um retorno muito bom. Meio obscura, a produção parece só ter causado algum disse-me-disse no meio nerd mesmo, devido as semelhanças com o Superman. O restante do público “civil” parece ter ignorado o longa completamente. Uma pena, porque eu gostei pra cacete do filme e recomendo.


A cena final ainda é embalada pela música “Bad Guy” da esquisitinha Billie Eilish.

Nota: 8

O filme está disponível no catálogo da HBO Go.   

 

SERGIO


Começo esse tópico completamente envergonhado pela total ignorância a respeito da vida e do trabalho de Sérgio Vieira de Mello, personagem central do filme (de 2020) e também do documentário “Sergio” de 2009, ambos dirigidos por Greg Baker. Após assistir o longa, fiquei completamente sensibilizado pela história de vida desse brasileiro que chegou a ocupar no início dos anos 2000 um dos cargos mais altos dentro do quadro de funcionários da ONU, o de Alto Comissário das Nações Unidas. Amigo pessoal do agora ex-secretário-geral Kofi Annan, Vieira de Mello chegou a ser intitulado como o “homem que queria salvar o mundo” devido à natureza de seu trabalho e o afinco com que o realizava. Formado em Filosofia, ele entrou na ONU aos 21 anos, seguindo de perto a carreira do próprio pai. Embora nunca tenha sido, de fato, um diplomata (porque não representava o Brasil no exterior), de Mello foi chamado assim por muito tempo, agindo com o intuito de apaziguar os ânimos entre nações e poderes.


De forma não-linear, já que vai e volta no tempo algumas vezes durante a projeção, Sergio narra os últimos anos de vida do brasileiro, desde sua intervenção no Camboja (onde ajudou a repatriar milhares de refugiados), passando pela vitoriosa negociação em ajudar a libertar o Timor-Leste do domínio da Indonésia e sua missão final no Iraque pós-Saddam Hussein. O Timor havia sido colonizado por Portugal no século XVI e só foi conhecer sua independência brevemente em 1975, quando então passou a ser ocupado pela Indonésia. Sergio Vieira de Mello ajudou a libertar o país asiático do jugo da Indonésia e por esse feito antes considerado impossível, ele ganhou honrarias na ONU, além do cargo de Alto Comissário.  

Após o fatídico ataque da organização Al-Qaeda aos EUA em 11 de Setembro de 2001, o então presidente George Bush impeliu um forte ataque militar a vários países do Oriente Médio, incluindo o Iraque. Enquanto as tropas militares americanas conseguiam finalmente acabar com o domínio de Saddam Hussein (inimigo que o pai de Bush não conseguiu deter durante a Guerra do Golfo nos anos 90) no país, um novo território começava a surgir para os norte-americanos, agora livre do ditador que comandava o lugar durante as últimas décadas. A missão de Vieira de Mello no Iraque era ajudar a conduzir o país para novas eleições, mas os planos dos EUA, representado na figura do diplomata Paul Bremer, era dominar a área, fazendo com que o Iraque se tornasse uma espécie de colônia deles.

Sergio Vieira de Mello na ficção e na vida real

Baseado quase que totalmente na história real do brasileiro à serviço da ONU, é quase difícil acreditar que o ataque à sede da UN que vitimou Sergio e 21 de seus colegas não foi orquestrada pelos EUA (e o filme chega a dar entender isso), mas a realidade é que um grupo de terroristas se aproveitou da fragilidade do prédio para bombardear o local, colocando um fim na carreira brilhante do diplomata carioca. Embora foque bastante no relacionamento amoroso (muito bem construído, por sinal) entre Sergio e a economista argentina Carolina Larriera, o filme dá um vislumbre geral em quem era o homem por trás do diplomata, o que nos faz sentir sua morte ainda mais. Certamente alguém pacífico como Sergio seria duramente criticado no Brasil intolerante em que vivemos hoje em dia e não demoraria até que fosse chamado de “comunista”, assim como são chamados todos que buscam uma convivência mais pacífica entre as diferenças. O fato é que ele foi uma pessoa única, razão pela qual colecionava admiradores pelo mundo.

A atuação de Wagner Moura é algo de estupenda nesse filme. Que ele é um ator versátil e que topa qualquer desafio na carreira, isso nós já sabemos, mas a forma como ele torna seu Sergio plausível é elogiável. Ao longo do filme, ele não só fala inglês (língua principal do filme e que ele usa muito bem anasalada, sem muito sotaque), como arrisca o espanhol (pelo qual foi criticado na série Narcos onde interpretou Pablo Escobar) e até o francês, além de falar também em português. Ao lado da atriz cubana Ana de Armas (que interpreta a Carolina), ele constrói cenas muito tocantes de cumplicidade e romance, o que nos faz acreditar no amor que existe entre os dois. Aliás, é impossível não ficar apaixonado pela Ana de Armas ao longo do filme! Que mulher maravilhosa!

Wagner Moura e Ana de Armas

Sergio não é um filme com cenas de ação retumbantes ou um enredo dinâmico, mas entretém quem está procurando algo mais tocante e repleto de mensagens belíssimas.

“Eu queria ser uma nuvem, cair em forma de chuva e ficar para sempre na Terra a qual pertenço”.

NOTA: 10

Filme disponível na Netflix.  

 

INFILTRADOS NA KLAN

Vidas Negras Importam

BlacKkKlansman garantiu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado para o diretor Spike Lee em 2019 e com certeza o longa-metragem merecia muito mais atenção, já que disputou outros prêmios na grande celebração do cinema, mas não levou. Baseado no livro homônimo escrito pelo próprio Ron Stallworth, o filme conta com bastante fidelidade a história real do primeiro policial negro do Colorado a trabalhar infiltrado em um caso. Disposto a se tornar um oficial tão qualificado e de destaque quanto os colegas brancos de equipe (enfrentando muito preconceito racial dentro da própria corporação), Stallworth (no filme vivido por John David Washington, filho de Denzel Washington) acaba entrando em contato com membros da Ku Klux Klan, a fim de se infiltrar entre eles e desbaratar um atentado racista que estava prestes a ser colocado em prática. A ironia da história é justamente essa: Um policial negro infiltrado nas fileiras do grupo que defende a supremacia branca em plenos anos 70, quando então os negros começavam a conquistar seus direitos civis nos EUA.

O diretor Spike Lee

Stallworth não esperava que suas investigações o levassem tão longe, mas quando um membro de alta cúpula da KKK exige um encontro pessoalmente com ele, após cair no seu papo de filiação por identificação com a causa "American First" e "White Power", é necessário mandar alguém em seu lugar, quando então surge a ideia de agir em conjunto com o colega policial (e judeu) Flip Zimmerman (na tela vivido por Adam Driver) para se passar pelo Ron Stallworth branco. Na história real, o colega de Ron não é um judeu, fato que Spike Lee adicionou à história para dar um ar ainda mais dramático ao filme, já que além de negros, os supremacistas brancos também odiavam os judeus.

Adam Driver e John David Washington

O enredo consegue nos manter na ponta da cadeira até o final, já que o jogo perigoso dos dois detetives pode ser descoberto pelos racistas a qualquer momento. Para manter seu disfarce até a conclusão da investigação e desmantelar o atentado que prometia vitimar centenas de pessoas inocentes, é preciso que os dois “Ron Stallworth” estejam em perfeita sintonia, o que acaba não acontecendo em alguns momentos.

Laura Harrier

Além das excelentes atuações de Washington e Driver, o filme ainda conta com a atriz Laura Harrier (a Liz Allen de Homem Aranha: De Volta ao Lar) como Patrice, uma ativista pelos direitos dos negros e interesse amoroso de Stallworth e Topher Grace (o Eddie Brock/Venom de Homem Aranha 3) como David Duke, um dos líderes da KKK que tem um encontro interessante com Ron no decorrer da história.

Topher Grace

Nota: 10

Filme disponível no catálogo do Telecine Play.

P.S - Antes dos créditos finais do filme, Spike Lee mostra um compilado de vídeos reais de manifestações recentes (de 2017) de apoiadores de grupos radicais como o KKK, Skinheads e similares, marchando com tochas em mãos nos EUA. São mostrados vários conflitos violentos entre defensores da causa "White Power" e manifestantes contrários, além de um atropelamento covarde que vitimou a ativista de direitos civis Heather Heyer em Charllottesville. No vídeo, o presidente Donald Trump minimiza os acontecimentos em pronunciamento, dizendo que "não havia somente supremacistas brancos" na manifestação com tochas em punho, mas também "pessoas boas". Quem também aparece no vídeo é o verdadeiro David Duke, endossando uma fala do próprio Trump em época de eleição, dizendo que eles (brancos) precisavam retomar os EUA. 

P.S 2 - Nesse momento em que esse post está sendo escrito, os EUA e o mundo estão em campanha contra o racismo, motivada pelo assassinato brutal de George Floyd, um homem afro-americano, por um policial branco chamado Derek Chauvin. O ato causou revoltas na Terra do Tio Sam e o presidente Donald Trump resolveu combater aqueles que tentam lutar por justiça com forças armadas. Além disso, no Brasil, membros do governo federal continuam insuflando grupos de supremacistas brancos e fazendo referências a eles bebendo copo de leite durante lives na internet. 

Pelo visto, o racismo é algo que ainda vai precisar ser combatido por muito tempo na sociedade e não é coisa só de cinema. #VidasNegrasImportam #BlackLivesMatter  

ROCKETMAN


Confesso que eu era bem ignorante quanto à carreira musical de Elton John antes de Rocketman, e tudo que eu sabia sobre o artista era seu gosto extravagante para roupas e suas músicas mais populares que tocavam nas rádios AM que minha mãe ouvia antigamente. Lembro também que uma vez apareceu um LP lá em casa do Elton John e que eu tinha pirado na sua interpretação com o George Michael para “Don’t Let me Sun Go Down on me” desse disco. O meu pai tinha uma fita cassete dos melhores hits dele, entre elas uma que eu gosto até hoje, “Nikita”.

Com o aval do cantor inglês, o filme Rocketman (baseado em uma “fantasia real”) dirigido por Dexter Fletcher (o mesmo que salvou o que pode em Bohemian Rhapsody, após a demissão de Bryan Singer do projeto) não é só uma homenagem a Elton John como também um diário aberto para o mundo sobre a carreira de um dos artistas mais talentosos e polêmicos da música. Apesar de na infância ser um garoto tímido e retraído pela severidade do pai e a quase indiferença da mãe, Reginald Dwight (seu verdadeiro nome) se mostrou um virtuoso musicista, mostrando talento no piano desde sempre. A formação erudita não o impediu de alçar voos mais altos e foi na loucura do Rock’n Roll que Dwight conheceu o parceiro musical Bernie Taupin, com quem dividiu o sucesso de suas grandes canções (letras em sua maioria escritas por Taupin) se tornando então Elton John.

Bernie Taupin (Jamie Bell) e Elton John (Egerton)

O filme não é bem uma cinebiografia, mas procura contar com certa fidelidade as lembranças de John, que participou de grande parte do processo criativo com o marido e cineasta David Furnish. Muito do que acontece no filme como o envolvimento com drogas, os relacionamentos tóxicos, o descaso do pai autoritário, o casamento fracassado com uma amiga (apesar de já ter se declarado gay na época) e até mesmo a tentativa de suicídio são fatos da vida do pianista, contados na tela de uma maneira fantasiosa às vezes (e é aí que entra a genialidade do filme) e nos colocando em meio a delírios e devaneios da mente do inquieto e solitário Elton John.

Taron Egerton e Richard Madden

A direção de Fletcher acerta em quase tudo, nos contando de uma maneira comovente a vida conturbada de uma estrela do Rock da sua ascensão à queda, mas é na direção de elenco que o diretor mostra que estava muito mais inspirado em Rocketman do que em Bohemian Rhapsody. Taron Egerton dá vida ao jovem Elton John de maneira muito efusiva, dando um show de interpretação e realmente vivenciando o espetáculo. Diferente de Rami Malek que apenas simulava os momentos musicais de Freddie Mercury no filme sobre o Queen (e isso não podemos culpar o coitado, já que NINGUÉM conseguiria interpretar a potência vocal de Mercury além dele mesmo!), Egerton entrou na dança de corpo e alma, cantando ele mesmo as músicas de Elton John no filme. A música "(I’m Gonna) Love Me Again", que concedeu ao músico o Oscar de Melhor Canção Original de 2020 (e único prêmio que a produção venceu pela Academia) é interpretada por John em parceria com Egerton, que desempenhou em Rocketman com certeza o melhor papel de sua carreira até aqui.


O elenco ainda conta com as presenças de Bryce Dallas Howard como a mãe de John, Richard Madden (o Rob Stark de Game of Thrones) como o amante tóxico do pianista, Jamie Bell como o amigo Bernie Taupin e o talentosíssimo ator mirim Matthew Illesley, que encena as sequências mais emocionantes do filme, interpretando o Reginald Dwight na infância.

Bryce Dallas Howard e Matthew Illesley

Vale para quem nunca antes foi um grande fã de Elton John (como eu) e deve valer ainda mais para quem é fã do artista mais multifacetado da cultura pop.

NOTA: 9

Está disponível nas plataformas Telecine Play e Sky Play.    

RESGATE


Numa época em que dá pra fazer quase tudo no cinema com alguns milhões de dólares de produção e um CGI cada vez mais realista, é muito difícil inovar no cinema de ação, mas é o que o diretor Sam Hargrave e os produtores Joe e Anthony Russo procuraram fazer em Extraction (2020), filme protagonizado por Chris Hemsworth.

Com cenas alucinantes de perseguição de carros e um plano-sequência assustador e claustrofóbico (aquele em que embarcamos de carona com os personagens em meio a um tiroteio no meio do filme), Resgate consegue prender a atenção do espectador do começo ao fim, mesmo com um enredo meio batido de extração de um refém, executada por um caçador de recompensas. Sério. Nós já vimos esse plot em pelo menos uns 25 mil filmes, mas é a forma como isso é mostrado graficamente para quem está assistindo é que conta aqui.

Chris Hemsworth como Tyler Rake

Da mesma escola de David Leitch, que também era dublê e diretor de coreografias de luta em Hollywood, Sam Hargrave participou da coordenação de dublês nos filmes da Marvel dirigidos pelos Irmãos Russo. Com um faro apurado para as cenas de ação (assim como Leitch) por estar fortemente ligado ao meio, era natural que o cara acabasse se tornando um excelente diretor de filmes de ação, e isso ele mostra muito bem nas quase duas horas de Resgate. Não há como não comparar o estilo de luta franca e realista do personagem Tyler Rake com a de John Wick da franquia estrelada por Keanu Reeves, e acho que exatamente por isso o filme acabou ganhando um burburinho mais alto por aí. Com o passar do tempo, cenas mal coreografadas ou entupidas de CGI para disfarçar a péssima qualidade de direção nos filmes de tiroteio meio que cansaram o público. A pegada John Wick com lutas mais próximas da realidade e o famoso tiro na cara repentino hoje parece fazer mais o gosto da galera.


Eu tenho defendido esse jeito mais “sincero” de fazer filmes de ação ultimamente no Blog e o que não faltam são elogios para as cenas dirigidas pelos Irmãos Russo nos filmes da Marvel (que mesmo usando CGI sabem coreografar muito bem um bom quebra-pau) e o próprio David Leitch que colaborou nos filmes de John Wick, dirigiu o excelente Atômica e mandou bem em algumas lutas de Deadpool 2, pelo menos as que não contavam com o CGI péssimo da Fox.


Já há quem queira um crossover entre John Wick e o Tyler Rake de Chris Hemsworth e o público só teria a ganhar com isso, embora algo dessa natureza seja praticamente improvável. O filme agradou tanto que já se comenta sobre uma continuação, algo sim muito plausível para a dona Netflix que adora fazer umas continuações de$nece$$ária$.

Rake versus Wick

Mas Rodman... E o enredo?

Caçador de recompensas é contratado para resgatar o filho adolescente de um perigoso chefe da máfia, mas no meio do caminho acaba se afeiçoando ao moleque, arriscando a missão pelo qual ele não seria pago. Fim.

Nota: 8

Como já mencionei, o filme está disponível exclusivamente na Netflix.

E você? O que tem visto nessa quarentena além do presidente [INSIRA AQUI O NOME DO SEU PRESIDENTE] falando merda todos os dias na TV?

NAMASTE!

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