Oi, eu sou o Rod Rodman!
Eu poderia estar fazendo vídeos de
dancinha no TikTok, começando algum
podcast de mesa no Youtube ou traficando metanfetamina, mas em vez
disso, estou escrevendo em um Blog… em pleno ano 2021!
SIM!
Quem ainda escreve em blog? E quem
ainda lê isso?
Se você está aqui, parabéns. Você é
tão lamentável quanto eu!
Independentemente dessa melancolia toda, hoje estou aqui para tirar do fundo do baú uma história que me foi muito peculiar em minha longínqua infância, quando a vida era bela e eu ainda tinha todo um futuro pela frente. O Incrível Hulk, publicado no Brasil pela Editora Abril em 1985 estava em seu número 22 e custava 2100 Cruzeiros…
(Pois é… Essa é do fundo do baú, MESMO!
Tem gente hoje em dia que não sabe nem que o Cruzeiro já foi uma moeda no Brasil, que não sabe o significado de HQ e que só conhece “Hulk” porque ele apareceu nos filmes
dos Vingadores!)
Anyway…
Esse gibi publicava histórias
regulares do “Golias Esmeralda” da década anterior e início dos anos 80 —
lembrando que havia uma defasagem de alguns anos entre o que saía nos EUA e o
que era publicado no Brasil —, e lembro que essa capa me chamou bastante a atenção por
conta do seu tema central: Morte!
Sim, já contei aqui algumas vezes o
quanto o tema “morte” me atraía e me deixava bastante chocado nas histórias em
quadrinhos durante a infância e pré-adolescência e como a personalidade do jovem Rod Rodman foi praticamente moldada pelo trauma sofrido durante a morte da Gwen Stacy e do Superman.
Era o começo dos anos 90, não sei
precisar a data específica, mas eu tinha sido levado por meu irmão mais velho
para a casa de alguns amigos de escola dele para jogar videogame — era uma
dupla de irmãos também e eles eram donos de um Atari, se não me falha a memória — ou
jogar bola no quintal. Não sei os detalhes porque eu era realmente muito pequeno… Todavia, lembro que já sofria bullying por ser inepto tanto em manipular aquele controle "bananão" do Atari quanto em
jogar bola, mas esses outros traumas não vêm ao caso agora...
Não se excitem, isso não é um consolo, é um controle de Atari |
Esse meu irmão foi o grande
responsável por eu gostar de HQ — e de eu ter gastado o valor de alguns carros
populares com essa merda desde então — e foi ele quem trouxe para casa as
primeiras revistas do tipo.
Esses amigos de meu irmão também
gostavam de gibizinhos e um deles possuía uma caixa de papelão grande cheia
de ácaro revistas, o que, obviamente, chamava a atenção de uma criança. Dentro dessa caixa,
me lembro de ter visto muita HQ que era lançada na época — e provavelmente
anteriores também — tanto da Disney, da Marvel e da DC e até hoje, quando me deparo com alguma das capas que vi na época, agora em
sites de download, me bate um sentimento de nostalgia.
E já que citei a morte da Gwen Stacy,
a primeira vez que peguei nas mãos a edição especial da Abril que reunia todos
os confrontos do Homem-Aranha com o Duende Verde e consequentemente o fim trágico da
namorada de Peter Parker, foi na casa desse cara mencionado.
O incrível Hulk #22 foi uma das HQs que
encontrei nessa coleção e só para galera se situar no tempo/espaço, no começo
dos anos 90, para o público “civil” o Hulk era um personagem extremamente popular, já que
muita gente assistia as reprises do seriado do personagem vivido tanto pelo Lou
Ferrigno quanto por Bill Bixby na TV. Se você não sabe do que estou falando, dá um
Google aí, mas não espere muita coisa…
Eu já conhecia "de orelhada" alguns
personagens da DC como o Superman, o Batman e o Robin por conta dos desenhos dos
Superamigos e na Marvel, provavelmente, era familiarizado apenas com o Homem-Aranha
porque uma das primeiras revistas que tivemos em casa era o seu título mensal,
também da Abril. “Wolverine”, no entanto, era um personagem totalmente obscuro para mim.
Eu comecei a ler HQs na primeira
metade dos anos 90 e nunca tinha colocado a mão em nada referente a X-Men ou
outros mutantes, por isso, aquele cara com garras metálicas saltadas
dos antebraços e vestindo um traje amarelo era um completo estranho… Mas ele
tinha matado o Hulk — a capa da edição deixava isso explícito — e o pequeno Rodman
sentiu interesse em ver como isso acontecia.
Enquanto meu irmão jogava Atari ou
batia uma bola no quintal com seus amigos, obviamente, eu, que já era
introspectivo, preferia ficar “devorando” os gibizinhos no quarto um por um.
História legal, Rodman… Você sempre
foi freak… Mas e daí?
Daí, jovem padawan, que naquela época,
eu não fazia ideia o que significava “What if…” ou mesmo a sua tradução em
português, portanto, eu não entendia que o Wolverine não tinha matado, de fato, o
Hulk. Eu fiquei chocado que alguém fosse capaz de acabar com o Golias Esmeralda
— que nos gibis do meu irmão, surrava os Vingadores sem nem suar! — e essa é a
importância dessa história para a minha cronologia pessoal.
Para escrever esse post, eu decidi reler tanto a história em que ela é baseada quanto o próprio What if… e várias recordações voltaram em minha mente.
Além do momento em que o Logan dá cabo
do abacate vitaminado da Marvel, esse mix da Abril — o famoso "formatinho" 20x13 cm — também conta com uma história da
guerreira Sonja escrita por Roy Thomas e Clair Noto, com desenhos de Frank
Thorne e uma história do Quarteto Fantástico — dividida em duas partes —
escrita por Gerry Conway e desenhada por Rich Buckler.
Confesso que a minha mente obliterou
qualquer lembrança da história da Sonja — nunca gostei de Conan e nem de seus derivados, por isso devo ter cagado para esse fato — e da
história do Quarteto Fantástico eu me recordava apenas dessa imagem específica:
Eu conhecia o Namor de sunguinha verde por causa daquele seu confronto contra o Hulk — junto dos "Pesos Pesados" da Marvel — escrito por John Byrne e quando o vi com esse traje azulado, devo admitir que achei mais maneiro. Mesmo ainda criança, sempre imaginei que devia ser incômodo lutar vestindo apenas uma cuequinha de escamas!
Por muitos anos, achei que aquele Namor vestido adequadamente fosse alguma coisa da minha imaginação, e só quando ele voltou a usar esse uniforme — que é descrito na história citada como um “traje formal da realeza” atlante — muitos anos depois, é que eu percebi que não era um devaneio meu e que a roupa com asas embaixo das axilas era de verdade.
Obviamente, eu não me lembrava de nada
sobre o conteúdo de nenhuma dessas outras duas histórias.
O que aconteceria se... O Wolverine tivesse matado o
Hulk? é uma história escrita por Rich Margopoulos com arte de Bob Budiansky e
Mike Esposito em 1981 — apenas 4 anos antes da sua publicação no Brasil — e como todo
mundo sabe agora com por causa da exposição do seriado animado do MCU, "What if..." é um selo que
visita acontecimentos passados em realidades paralelas, com narração do Vigia Uatu.
Quem são essas pessoas que você citou, Rodman?
Boa pergunta! Eu não conhecia nenhum desses escritores e desenhistas na época e
continuo não fazendo a mais puta ideia de quem sejam hoje!
A história original em que o
Wolverine faz a sua estreia no universo quadrinístico da Marvel, caindo no soco
com o Hulk e o Wendigo AO MESMO TEMPO, se deu em 1974, com roteiros de Herb
Trimpe e Len Wein — que criou o carcaju — e arte de Jack Abel.
No universo 616 tradicional — história que li a primeira vez em uma republicação feita pela própria Editora Abril na edição comemorativa de nº 100 do personagem, em 2000 — o
Wolverine — que tinha um visual todo esquisito com uma máscara aberta nos olhos
e “bigodinhos” — é contratado pelo governo canadense para capturar o Hulk — que
está invadindo a área de uma instalação secreta — e o Wendigo, um monstro
canibal que aterroriza as paragens do Canadá há algum tempo.
Como não podia deixar de ser, os dois
monstros estão caindo de pau em meio ao cenário desolado, quando o Wolverine chega
para dar um basta na contenda e acaba colocando ainda mais lenha na fogueira com seu
jeitão estúpido e bronco.
Todo mundo sabe que foi o Chris
Claremont, alguns anos depois da criação do personagem, que deu todas as características mais básicas
que hoje identificamos no Logan em qualquer mídia que aparece e naquele início, ele era só
um baixinho muito folgado que achava que podia peitar o personagem mais forte
da Marvel…
Essa história envolve muito mais a
mística ao redor do monstro albino da floresta do que a briga entre o Hulk e o
Wolverine necessariamente e o “tão esperado” momento em que os dois caem no
soco pela primeira vez é bem mais ou menos. Os desenhos de Jack Abel são apenas
“OK” e o roteiro é um pouco cansativo, embora conclua bem com uma reviravolta interessante envolvendo a identidade do humano amaldiçoado que habita o corpo do
Wendigo — ou seria o Wendigo que habita o seu corpo? 🤔 Enfim...
Alguns anos depois da história original que apresentou o Wolverine ao mundo, os roteiristas imaginaram o que teria acontecido se, naquele primeiro embate, o cara com ossos de adamantium já tivesse matado o Hulk, fato que ocorre logo na primeira página da HQ.
O enredo desse "What if..." praticamente ignora a existência do Wendigo ou mesmo a razão dos dois monstros estarem lutando pouco antes da chegada de Logan ao local e em uma atitude impulsiva, o carcaju simplesmente decide cravar suas garras no pescoço do verdão, que cai
mortalmente ferido.
Se eu tivesse assistido aquele “telefilme”
do Hulk em que ele morre após cair de um helicóptero 🙄 eu poderia já estar preparado para um desfecho tão
simplista como esse, mas naquela época, eu pensava que o Hulk era invulnerável,
assim como o Superman, por exemplo…
O diálogo da cena me abalou na
época:
“Vou rasgar sua goela!”. Imagina uma
criança de 7 anos lendo isso num gibi!
Tudo depois dessa cena em diante é uma
grande nuvem de lembranças esparsas em minha cabeça e só alguns anos depois —
leia-se 2021 — é que fui saber o que acontece em seguida na história.
Em resumo, depois que mata o Hulk, o Wolverine
é expulso da equipe tática do governo canadense e por sua atitude enérgica
em resolver a questão com o monstro verde, ele acaba sendo cooptado por ninguém menos que o
Magneto para integrar a sua famosa Irmandade de Mutantes.
Na época, os X-Men ainda eram formados
apenas pelos cinco membros originais — Ciclope, Garota Marvel, Homem de Gelo,
Anjo e Fera — e a Irmandade tinha em suas fileiras o Blob, a Lorelei, o Mestre
Mental e um tal de Unus, que eu nunca tinha ouvido falar — e cujo poder é
basicamente “ser intocável”.
Corta a cena e o Wolverine aparece de
cara lavada sem seu traje amarelo na mansão do Professor Xavier, se oferecendo
para fazer parte dos X-Men. Como estava usando um dispositivo que não permitia que o careca lesse seus pensamentos, o carcaju se infiltra no grupo mutante com facilidade e
começa a ganhar a confiança de todos... menos do Ciclope.
O plano, óbvio, é permitir que Magneto
e sua trupe consiga invadir a mansão em um momento vulnerável dos alunos de Xavier e é o
Wolverine quem vai garantir isso.
Apaixonado por Jean Grey — até porque
sabemos que o único ponto fraco do Logan é mulher ruiva —, o cara decide, na última
hora, trair Magneto e acaba sendo morto quando o mestre do magnetismo usa seus dons
para forçar o Wolverine a cravar as garras de metal em sua própria garganta… Coisa,
aliás, que já devia ter acontecido desde a primeira vez que os dois se enfrentam no
universo 616… Um controla o metal, o outro tem os ossos revestidos por metal…
Adivinha!
O magnetismo deve deixar o Magneto
meio burro…
O que aconteceria se O Wolverine tivesse matado o Hulk? é uma história maravilhosa?
Não.
Vai mudar a sua vida?
Nem um pouco.
Mas diverte durante os 10 minutos que
você demora para ler. Aqui funciona apenas o fator nostalgia da coisa e também
para deixar claro que um “What if…” bem contado, sempre termina com muitas
mortes… Esse parecia ser o padrão da série desde a sua gênese.
Quem quiser dar uma conferida nesse
clássico da Marvel — contém ironia —, fica aí embaixo no link para download.
NAMASTE!