20 de setembro de 2021
Para Ana Luiza
14 de setembro de 2021
Os bastidores de Alina da Valáquia [ATUALIZADO]
Os vampiros representam um ponto muito importante da Cultura Pop como um todo e não há como dizer que pelo menos UMA de tantas obras lançadas com esse tema não nos tenha impactado — para o bem ou para o mal. Eu particularmente me lembro bem quando assisti Entrevista com o Vampiro pela primeira vez na TV e como todo aquele clima lascivo do filme de 1994 me afetou para sempre. Minha única referência mais vívida dos chupadores de sangue até aquele momento era do clima pastelão com que a novela Vamp (de Antônio Calmon) tratava o assunto lá no começo dos anos 90, e ver o mundo tão dramático do personagem Louis e todos aqueles seus conflitos éticos — como comer ou não uma menina de 10 ANOS!! — foi um baita choque de realidade.
Entrevista com o vampiro (1994) e Vamp (1992) |
"Ei, existe algo sério sendo feito com os vampiros!".
Depois da adaptação de Drácula de Bram Stoker para o cinema e do livro de Anne Rice virando filme protagonizado por Tom Cruise e Brad Pitt, da segunda metade dos anos 90 em diante, muitos autores passaram a também escrever sobre o tema e uma cacetada de adaptações começaram a ganhar forma. Surgiram então as autoras L.J. Smith (de Diários de um Vampiro), Charlaine Harris (dos livros que inspiraram a série True Blood) e até Stephenie Meyer (da saga Crepúsculo).
No cinema, nem tem como não citar também a adaptação do personagem Blade dos quadrinhos obscuros da Marvel — que dizem, abriu as portas para que o MCU surgisse anos mais tarde — e a longeva saga Underworld com sua protagonista Selene.
O que não faltam são fontes de onde se beber, o que torna escrever algo completamente inovador envolvendo vampiros praticamente impossível.
Bem, de princípio, é importante lembrar que nunca foi minha intenção fazer algo que ainda não tinha sido visto falando sobre vampiros, mas sim, contar parte da trajetória de uma personagem que POR ACASO se torna uma vampira.
Opções descartadas para a capa do livro |
Há alguns anos eu tinha começado a desenvolver uma equipe de super-heróis que agregaria uma variedade grande de personagens em suas fileiras, incluindo uma vampira. De início, eu tinha escrito essa personagem no presente, para se envolver com os demais heróis dessa equipe, mas confesso que nunca tinha criado uma linha de roteiro sequer que falasse sobre seu passado. Ela era uma vampira, ela era forte, tinha um propósito e era só.
Rascunho da primeira versão da "Vampíria" |
Arte para a primeira proposta de capa |
De início, eu queria escrever cinco capítulos simples para apenas introduzir a personagem num universo que mais tarde teria outros personagens fantásticos — no mesmo universo do Pássaro Noturno — e não era para Alina da Valáquia ser um livro. Eu já tinha concluído esses cinco capítulos, tinha revisado e estava pronto para publicar o conto no Wattpad, quando fiquei sabendo de um concurso literário que a plataforma estava lançando para premiar novas produções. Eles precisavam de 50 mil palavras de uma história fechada e aquilo acabou me incentivando a continuar meu conto, transformando-o num livro.
"Pensando bem, eu posso dar continuidade agora mesmo na história da Alina!".
Eu levei algumas semanas para planejar o que ainda precisava ser contado sobre a personagem nos novos capítulos e as ideias que eu só ia conduzir melhor lá na frente, acabaram surgindo pela necessidade antes do esperado. Eu já tinha apresentado Costel — o meio-irmão de nossa mocinha —, o vampiro Dumitri, os bruxos Adon e Iolanda, tinha pincelado Alejandro e Pietra — e concluído sua participação — era hora então de criar novos personagens naquilo que passei a chamar de "segundo volume".
Voltei a estudar os livros de história — uma das minhas parceiras inseparáveis foi uma enciclopédia sobre os países do mundo que eu tinha desde o final do Ensino Médio —, os sites sobre Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e outros acontecimentos da época e comecei a costurar esse plano de fundo com o destino da personagem.
Criei a rede de informação "A Teia" com todos seus membros mais importantes, desenvolvi melhor a ideia de uma seita de bruxos malignos — coisa que eu só ia fazer num próximo conto, focado mais em magia — e dei um novo propósito para Alina. Afinal, ela tinha que aproveitar melhor sua vida eterna além de beber vinho e transar loucamente em um castelo da Transilvânia!
O segundo volume tem tudo que eu queria inserir na história desde o começo — mesmo quando só tinha pensado em um conto curto — e confesso que fiquei bem orgulhoso de como a história foi conduzida. Eu sentia falta de escrever cenas de ação com bastante violência, e a partir do momento que decidi escrever um texto mais adulto — ou pelo menos que não fosse para crianças — decidi pisar no acelerador e colocar para fora parte das bizarrices que povoam minha mente de escritor. Espero ter acertado.
Em resumo, Alina da Valáquia é um dos textos que mais gostei de escrever nos últimos tempos — e a história já fez um ano! — e foi bem divertido trabalhar em cima desse tema mais sobrenatural. Como desde o início eu já queria que ela fizesse parte do mesmo universo dos demais contos — e coloquei easter eggs sobre quase todas as minhas outras publicações do Wattpad — acho que consegui criar uma relação boa com os outros textos, mesmo que isso não seja o ponto principal da história.
Alina da Valáquia é uma grande homenagem às grandes obras sobre vampiros que sempre adoramos e o capítulo de degustação bem como o resumo dos personagens está disponível gratuitamente na plataforma Wattpad.
P.S. - Assim como muita gente, eu também passei — e ainda estou passando — maus bocados durante essa pandemia sem fim e posso dizer que na solidão do isolamento social, escrever Alina da Valáquia foi meu principal alento, bem como uma válvula de escape para não pirar completamente. Estive bem perto disso, e por alguns instantes a Alina me salvou.
NAMASTE!
16 de maio de 2021
UM ANO DE PANDEMIA: O QUE MUDOU NESSE PERÍODO?
Há mais de um ano o mundo foi tomado de assalto por um vírus de efeitos catastróficos que já ceifou mais de 3 milhões de vidas, e desde então, as pessoas têm tentado sobreviver da melhor maneira possível, seja se protegendo ao respeitar as regras sanitárias da OMS, seja negando que o bicho seja tão feio assim.
Do começo da pandemia até o atual momento, muita coisa mudou em nossas vidas. A paranoia aumentou com a falta de liberdade de ir e vir, as relações humanas se tornaram menos calorosas e a velha polarização política de esquerda contra direita acabou se transformando em uma disputa de egos, onde o grupo que quer viver precisa brigar com o que “não está nem aí” para quem vive ou morre. O Coronavírus nos causou mudanças profundas, nos tornou menos humanos e o “novo normal” de uma realidade que parece muito com ficção científica está cada vez mais enraizada no dia-a-dia.
Há quase um ano, o Blog do Rodman, com a esperança de que
tudo passaria em alguns poucos meses, publicou um post falando sobre a situação
no Brasil e no mundo naquela época. 12 meses depois, é hora de voltarmos ao
assunto e contar sobre as mudanças que ocorreram nesse período, as boas e as
más. O que aconteceu um ano depois do confinamento por conta do alastramento do
Covid-19?
O MUNDO UM ANO DEPOIS
Há um ano, noticiamos aqui, após ampla divulgação nos meios de comunicação, que a Europa havia sido um dos continentes mais afetados pelo surto de Covid-19 depois da Ásia, lugar que, até onde sabemos, o vírus se originou. Os primeiros meses de 2020 foram de grande pânico para a população europeia e vimos países como a Itália e a Espanha registrarem mais de 200 mil casos de infectados em menos de um mês, isso porque nenhum dos governos vigentes havia levado a sério o perigo de contaminação iminente.
Atualmente, a
Itália ocupa a oitava colocação no ranking dos países mais afetados pelo
Covid-19, tendo um total de 4,07 mil casos registrados e pelo menos 122 mil
mortes desde o início da pandemia. Segundo relatos de quem mora por lá, a
situação não é tão ruim como a de outras partes do mundo, mas o país atualmente
enfrenta um segundo lockdown — nome dado às paralisações de comércio e
circulação local — devido uma segunda onda de contaminação que atingiu a
capital romana. Por causa disso, os italianos não esperam sair dessa situação ainda alarmante
tão cedo.
Itália na pandemia |
Já em Barcelona, relatos informam que novos casos de
contágio ainda acontecem diariamente, o que tem mantido em alerta máximo as
UTIs dos hospitais locais. Junto da Itália, a Espanha protagonizou o epicentro
da pandemia na Europa no primeiro ano e atualmente, se encontra em nono lugar no
ranking dos mais afetados, com mais de 78 mil mortes e pelo menos 3,55 mil
casos registrados. Comparado a um certo país da América do Sul — aquele que de
vez em quando rola Carnaval! —, a Espanha está vivendo quase um mar de rosas.
A Espanha ocupa o 9º lugar no ranking da pandemia |
Um pouco diferente da vizinha de península Ibérica, Portugal
é com certeza o melhor exemplo de recuperação sistemática entre os países
europeus. O país, que em janeiro de 2021 sofreu com um recorde de casos e mortes
pela doença que colapsou o sistema de saúde local, hoje vive um
momento de estabilidade. Em muitas partes, já é possível a flexibilização das
restrições que antes impediam que as pessoas sequer saíssem às ruas e os casos
de mortes caíram vertiginosamente devido uma política pública de saneamento e
conscientização da população sobre abrir mão de certos privilégios pelo bem
maior. Hoje, Portugal conta com a imunização garantida de sua população com uma
campanha ágil e maciça de vacinação que tem ocorrido em larga escala graças a
competência de seu governo — liderado pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa —,
o que nos dá certa inveja de nossos coirmãos lusitanos a essa altura.
Portugal foi o país europeu que melhor se recuperou da pandemia |
Na América do Norte, os Estados Unidos ainda lideram o ranking dos países mais afetados pelo Covid-19 — já são quase 600 mil mortes em decorrência da doença —, mas a situação antes nublada pela presença conservadora de Donald Trump na Casa Branca foi amenizada com a eleição do democrata Joe Biden. Diferente de seu antecessor, que se negava publicamente a sequer respeitar os protocolos de segurança estimulados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para a não-contaminação do vírus, Biden iniciou sua gestão influenciando de maneira bastante pungente a população quanto aos benefícios da vacinação.
Atualmente, mais de 105 milhões
de americanos já foram totalmente imunizados, enquanto outros 147 milhões receberam pelo menos a primeira dose da vacina — os EUA têm mais de 328
milhões de habitantes —, lembrando que o país tem à disposição a vacina em dose
única da Johnson & Johnson e a mRNA, um tipo de vacina que utiliza a
replicação de sequências de RNA, hoje, fabricadas pela alemã BioNtech — em
parceria com o laboratório Pfizer — e a Moderna, uma desenvolvedora de vacinas
situada em Massachusetts.
Biden anunciou recentemente que pretende imunizar pelo menos 70% de sua população até o feriado nacional de 4 de julho, mas para isso, vai ter que convencer também a ala populacional mais radical que é contra seu governo — aquela que também acredita que houve fraude nas últimas eleições — e que, claro, é contra vacinas.
Com três vacinas à disposição e uma situação mais
confortável quanto a imunização de sua população, Biden já tem conversado com
outros países em situações mais críticas para oferecer ajuda, o que inclui o
Brasil e a Índia. Com doses extras da vacina AstraZeneca (do laboratório com
sede em Cambridge no Reino Unido), Biden planeja repassar o medicamento a
outras nações, além de ajuda com oxigênio e equipamentos clínicos de intubação.
Apesar de não ter apoiado Biden em sua campanha, o presidente brasileiro Jair
Bolsonaro já divulgou que agradeceria a gentileza do democrata caso as
negociações fossem além, o que daria um gás maior na vacinação do país tropical
abençoado por Deus que segue em ritmo lento.
Joe Biden e sua meta até o feriado nacional de 4 de julho |
Na Ásia, a cidade chinesa de Wuhan, onde foi detectado o
primeiro caso de Coronavírus no mundo, vive hoje uma situação de calmaria e há
quase um ano o local está praticamente livre de novos casos da doença, graças a
um trabalho rígido de conscientização ao uso de máscaras protetoras, a não-aglomeração
em lugares públicos e sobretudo a vacinação. A província de 11 milhões de
habitantes foi a responsável pela maior parte das mortes na China pelo Covid-19
— foram pelo menos 4635 óbitos só na região —, mas atualmente administra bem
novas ondas, já tendo praticamente eliminado a doença de seu território. A
China hoje ocupa a 97ª posição no ranking de países afetados pela pandemia e
tem menos de 5 mil mortes em sua extensão — no Brasil, em um único dia, ocorreram 4211 mortes em abril —, o que diz muito sobre sua política
de contenção e prevenção do vírus por lá.
5 de maio: Público assistindo aos shows do Strawberry Music Festival em Wuhan |
Totalmente na contramão no país de Xi Jinping, a Índia, que é o segundo país mais populoso do planeta, vem vivendo desde o começo de abril uma segunda onda de contaminação devastadora, o que tem preocupado governantes de vários lugares da Ásia e de outros continentes. Após conseguir diminuir e muito a curva do contágio no início do ano — a Índia chegou a registrar mais de 93 mil casos de infectados por dia em setembro de 2020 — o país começou a enxergar com bons olhos a campanha de combate ao Covid-19, o que fez com que seus governantes, num rompante de excesso de confiança, decidissem afrouxar as restrições de segurança em seu território. O processo eleitoral em cinco estados indianos pode ser iniciado sem grandes problemas na metade do mês, o que colocou mais de 186 milhões de pessoas nas ruas para votar sem qualquer protocolo de segurança ou distanciamento social. Além disso, o críquete — esporte nacional mais popular — botou mais de 130 mil torcedores em arquibancadas para assistirem duas partidas contra o time da Inglaterra, igualmente ignorando as medidas sanitárias de praxe.
O resultado?
Sistema de saúde colapsado na Índia |
Por conta do clima de “já ganhou” que tomou a Índia — achando que já tinha derrotado o vírus por nocaute —, nas primeiras semanas de abril (2021), o país registrou 270 mil novos casos de Covid-19, ocasionando mais de 1600 mortes, o que serve de exemplo não só para a Índia, mas também para todo o restante do planeta: Não dá para cantar vitória antes da hora com uma doença tão letal.
O mais irônico disso tudo é que a Índia, que para não entrar em colapso depende hoje da ajuda humanitária de países como os Estados Unidos, por exemplo, é a principal fabricante mundial de vacinas e é de lá que são provenientes os principais insumos para a fabricação da vacina distribuída atualmente no Brasil, em parceria com os laboratórios da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).
HABEMUS VACINAS
No início da pandemia, ainda em 2020, falava-se que uma
possível vacina contra o Covid-19 dificilmente seria sintetizada e aprovada em
menos de um ano, o que acabou se provando uma inverdade, para nosso alívio.
Ainda no final de janeiro do mesmo ano, a China já havia disponibilizado a sequência
genética do vírus, o que possibilitou que as comunidades científicas mundiais começassem
a trabalhar num imunizante com base nos estudos.
No mesmo mês, a empresa alemã BioNTech começou a fazer
avanços nas pesquisas de RNA, utilizando ao invés do próprio vírus inativado —
como é de costume na criação de vacinas — uma molécula desenvolvida em laboratório
para simular o material genético do SARS-Cov-2 (nome científico do Covid-19),
mas que é incapaz de causar a doença propriamente dita.
Fonte: OMS |
Depois dos primeiros estudos em animais, testes de toxidade
e o planejamento quanto à fabricação das vacinas, a BioNTech — que já tinha um
financiamento governamental de 375 milhões de euros para a pesquisa — contou
com a parceria da farmacêutica americana Pfizer para só então avançar com a criação de uma
vacina eficaz contra o Coronavírus.
Os primeiros testes em humanos aconteceram na Alemanha já em
abril de 2020 e pouco depois nos Estados Unidos. Em julho, foram divulgados os
primeiros resultados da fase 1 de testes, contando com voluntários de vários
lugares do mundo, incluindo o Brasil.
Em paralelo às pesquisas da Pfizer/BioNTech, a Rússia também
começou seus próprios estudos para a criação de uma vacina e chegou a registrar
seu imunizante em agosto de 2020, com os cientistas alegando que havia 97,6% de
eficácia em seu resultado. Apesar desse aparente sucesso e da pressa do
presidente Vladimir Putin em divulgar os avanços de seus cientistas antes de
todo mundo, a Sputnik V, como é denominada a vacina russa, não foi aprovada
pelos testes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil
por, segundo a própria agência, haver até o momento "ausência ou insuficiência
de dados de controle de qualidade, segurança e eficácia do produto".
Putin e a Sputnik V |
Além das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Sputnik V, pelo
menos mais cinco outras estão em uso por todo o mundo, incluindo a Oxford-AstraZeneca
(do Reino Unido), a Moderna (EUA), a Janssen (elaborada pela Johnson & Johnson),
a indiana Covaxin e a Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em
parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Na corrida das vacinas, por enquanto, apenas três dessas citadas estão sendo aplicadas no Brasil ou em fase de testes pela Anvisa e apenas a Sputnik V foi, até o momento, descartada para uso em solo tupiniquim. Mais de 16 milhões de brasileiros em grupos prioritários (idosos, agentes de saúde) já foram totalmente imunizados com as duas doses das vacinas do Butantan e a AstraZeneca — a primeira pessoa vacinada no Brasil após a aprovação do uso emergencial pela Anvisa aconteceu no dia 17 de janeiro —, o que equivale a pouco menos do que 8% da população do país.
A enfermeira Mônica Calazans, a primeira brasileira a ser vacinada no país |
É possível
acompanhar o avanço da vacinação nacional direto pelo Google diariamente, mas
infelizmente o processo só não está sendo mais rápido como em outros países por
conta da demora das negociações entre o governo federal e os laboratórios.
Além disso, tanto o Butantan quanto a Fiocruz vêm sofrendo com os atrasos no
recebimento do denominado IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) para a fabricação das
vacinas em território nacional, que nos dois casos são importados da China e da
Índia.
39 milhões de doses da americana Janssen devem chegar ao
Brasil até dezembro de 2021 após negociação com o governo para tentar agilizar
a imunização no país, porém, é de conhecimento público que as coisas poderiam
ter andado bem mais agilmente se o Ministério da Saúde tivesse criado um plano
de imunização nacional desde o início da pandemia. Após a fracassada tentativa
de comprar 2 milhões de doses diretamente da Índia da vacina AstraZeneca, o
governo e seus vários ministros — só nesse período de pandemia já estamos no
quarto homem à frente da pasta da saúde — patinaram na condução das negociações
com os laboratórios estrangeiros, o que acabou ocasionando nesses meses
milhares de mortes por falta de vacina. A maioria delas, com grandes chances de
serem evitadas. Hoje, o Brasil tem quase meio milhão de mortos por conta do Covid-19, um número estarrecedor.
Quase meio milhão de CPFs cancelados: Do jeito que o Diabo gosta! |
Além da importação de todos esses imunizantes e insumos, o
Brasil trabalha nesse momento em duas vacinas próprias, o que vai garantir
maior autonomia na aplicação de medicamentos injetáveis. Tanto a Butanvac
(elaborada pelo Instituto Butantan de São Paulo) quanto a Versamune (da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) estão em
fase de testes pela Anvisa e a previsão é de que, sendo aprovadas, comecem a
ser aplicadas a partir do segundo semestre do ano.
VARIANTE DO VÍRUS
Além dos atrasos na compra das vacinas e da demora da chegada
dos insumos para a fabricação das mesmas em nosso território, o Brasil se
viu em janeiro de 2021, também vítima de uma variante do Coronavírus,
denominada por aqui de P.1.
Descoberta em Manaus (AM), a P.1 causa um agravamento rápido no quadro de saúde do infectado, além de atingir também pessoas mais jovens e aumentar o tempo de internação. Segundo dados levantados pela BBC, “essa variante do coronavírus é mais contagiosa, entre outros motivos, por causa de mutações que facilitaram a invasão de células humanas”.
De acordo com a fonte, essa
característica mais agressiva pode causar maior letalidade, mas estudos da
Fundação Osvaldo Cruz do final de fevereiro de 2021 alegam que, apesar dos
infectados com essa variante apresentarem carga viral 10 vezes maior que sua “versão”
anterior, — ou seja, a pessoa é capaz de transmitir o vírus com mais facilidade
— isso não quer dizer que em seu organismo a doença seja mais grave.
A variante ainda vem sendo analisada, e até o presente
momento, as respostas quanto a proteção exercida pelas atuais vacinas são pouco
claras. Baseado em testes realizados nos anticorpos de 35 vacinados, o Butantan
anunciou que a Coronavac é sim capaz de neutralizar a variante P.1 e já no
Reino Unido, todos os testes realizados com a AstraZeneca, a Pfizer e a Moderna
também se mostraram eficientes contra a variante europeia da doença, denominada
por lá de B.1.1.7.
Esperamos que quanto mais pessoas vacinadas no mundo, menos
chances de serem criadas novas variantes do Covid-19 existam e que aqui no
Brasil a imunização comece em breve num ritmo mais acelerado, afinal, somos
mais de 211 milhões e quanto antes formos vacinados, melhor.
5 de maio de 2021
Adeus a Paulo Gustavo
Vou começar o post com uma frase clichê que sempre é dita quando um humorista se vai, mas que representa exatamente o momento atual: hoje o Brasil ficou mais triste com a passagem de Paulo Gustavo.
É muito complicado tentar exprimir em palavras o que a gente
sente quando alguém tão popular, que de certa maneira faz parte da nossa vida,
se vai e é preciso ter um poder muito raro de concisão para colocar num texto
tudo que acaba saindo no calor do momento, por isso, eu nem vou tentar. Vou
falar aqui com o coração mesmo, desprovido de coesão, razão ou qualquer poder
de síntese. Vai ser no improviso.
Eu conheci o Paulo Gustavo, até meio tardiamente, já no palco
do Vai que Cola — humorístico do canal Multishow —, vários anos depois dele já ter
despontado com suas peças teatrais de sucesso e os filmes estrelados no cinema nacional. Eu chegava do trabalho mais ou menos por volta das 20:00, às vezes
mais tarde, tomava um banho, esquentava alguma coisa pra comer e ia pra frente
da TV assistir ao programa basicamente todos os dias da semana. Em pouco tempo, virou um vício na casa da minha mãe e
a gente ria muito assistindo os improvisos e a “trocação” que o ator fazia “ao
vivo” com os colegas de humor Samantha Schmütz, Marcus Majella e — na época da 1ª temporada — Fernando
Caruso. Aliás, por mais que o texto do sitcom brasileiro fosse realmente
engraçado e a direção de cena muito competente, eram mesmo as falas fora do script que davam o verdadeiro tom da atração. Era impossível não cair no riso.
Fazia muito tempo que eu não assistia TV e menos ainda
programas ditos humorísticos com aquela coisa mais quadrada cheia de bordões
ensaiados como “A Praça é Nossa” ou o antigo “Zorra Total”. Eu já não achava
mais graça de coisas assim e nem perdia meu tempo vendo. O Vai que Cola e
em especial o humor “bagaceiro” do Paulo Gustavo é que me fez gostar novamente
de atrações assim e ele com seus personagens caricatos e exagerados nos fazia
rir genuinamente, sem aquela forçada — o sorrisinho amarelo — que às vezes nos
permitimos só para não admitir que estamos é constrangidos pelas piadas sem
graça. E nem estou falando do Valdomiro, o personagem pilantra que Paulo
interpretava no sitcom desde a primeira temporada, aquele que adorava falar mal
do bairro do Méier do Rio de Janeiro — onde se passava a história — de
sacanagem. Como ele mesmo costumava brincar com o amigo Majella — e esse
diálogo aparece até no primeiro filme baseado no programa — os dois não sabiam
interpretar personagens héteros. O grande talento de Paulo estava mesmo em
fazer graça na pele de mulheres ou gays rasgadíssimos, algo no qual ele era
insuperável.
A gente nem mede o sucesso de Paulo Gustavo ou sua
importância para o mundo do humor por ele fazer a nossa geração rir, mas sim
dele ter uma capacidade impressionante de atingir as nossas mães, as nossas avós,
um público mais antigo que não está acostumado ou mesmo faz esforço para
entender que homossexuais existem e merecem tanto espaço quanto qualquer outra
pessoa, seja de qual orientação for. A gente que teve tempo de se informar
mais, de procurar entender o outro com empatia vê em Paulo Gustavo — homossexual assumido
desde sempre — apenas um cara engraçadíssimo que tem uma facilidade fenomenal
de causar risos falando de sexualidade, mas nossos pais são da época em que “viado”,
“sapatão” ou qualquer outro apelido mais pejorativo eram comuns e que “esse
tipo de gente” não deveria ter tanto espaço. Em rede nacional, quase no horário
nobre, Paulo Gustavo foi lá e fez as nossas mães rirem com piadas sobre
sexualidade, com shows de drags e muita “pinta”, coisas impensáveis há vinte,
talvez trinta anos.
Minha mãe já disse frases como “eu não vejo nenhuma graça
nesse novo Zorra”, quando o programa tentou uma abordagem menos machista, menos
homofóbica e fazendo um humor mais consciente nas noites de sábado da Globo. Ela dava risada vendo o Didi
chamar o Mussum de “urubu” na época dos Trapalhões, gostava de quadros como “dá uma subidinha” — cheio de sexismo — protagonizados no Zorra Total pelo também saudoso Agildo Ribeiro
e odeia programas como Casseta & Planeta e o humor mais atual de atores
como Marcelo Adnet, Tatá Werneck ou Rodrigo Sant'Anna. Ah, mas do Paulo Gustavo
ela gostava. E muito! Eu ouvi da boca dela que o Vai que Cola só tinha graça
quando tinha o Valdomiro e que quando ele saiu lá pela terceira ou quarta
temporada, sei lá, segundo ela, o humorístico tinha perdido a graça.
A catarse e a entrega total pelo talento do humorista de 42
anos veio mesmo com seu papel essencial da carreira e quando eu coloquei para
passar Minha Mãe é uma Peça para a MINHA mãe assistir, não tinha mais como
negar ao vê-la gargalhar em frente à TV: Paulo Gustavo tinha mesmo o poder de
reunir várias gerações com sua interpretação PERFEITA da matriarca ciumenta,
desbocada e barraqueira, mas que tinha em sua essência aquele coração enorme
que a gente identificava também em nossas mães. Há um pouquinho da Dona
Hermínia na minha mãe e tenho certeza que quem está lendo esse texto vai balançar a cabeça nesse momento, concordando com o que digo e pensando “na
minha também! ”. O talento de se entregar tanto ao seu trabalho ao ponto de
abraçar virtualmente inúmeras pessoas de credos, culturas e orientações
diferentes é raríssimo. Talvez eu tenha visto em alguma figura do esporte, da
política ou mesmo de outras áreas da TV que não a das artes cênicas, mas nesse
ramo do humor jamais.
O dublador e ator Guilherme Briggs sintetizou esse
pensamento de maneira muito lúcida em sua conta do Twitter e eu não teria
maneira de incorporar em meu texto sem usar suas palavras exatas, por isso
farei um quote direto do que ele disse:
“O objetivo do artista é dar mais do que aquilo que tem. E assim fez o amado Paulo Gustavo, que se doou de tal forma, com tanto amor e intensidade, com tanta entrega e desenvoltura, que agora ele se transferiu de corpo e alma para dentro do coração do Brasil, para sempre. ❤”
E é isso! É uma tristeza muito grande ver um artista com um
talento tão grande ser levado dessa maneira tão brutal por uma doença que já
arrastou com ela mais de 400 mil vidas e que pasmem, já tem uma vacina. Enquanto
choramos a morte de Paulo Gustavo, mais outras 400 mil famílias também choram
por seus entes queridos, pais, mães, avós, irmãos, namoradas e tias, todos
levados, sobretudo, pela negligência de um governo negacionista que podia ter
feito muito mais pela população em todos esses meses e que preferiu se omitir, fingindo que tudo não
passava de uma marolinha no oceano e não o verdadeiro tsunami que acabou sendo a pandemia
de Covid-19.
Estamos tristes, machucados e já sentimos muito a perda de
Paulo Gustavo, mas ao mesmo tempo, esperamos que depois de tanta luta, que
depois de mais de 50 dias de internação, ele possa enfim descansar em paz e que
lá de cima esteja olhando por seus entes queridos, a mãe — a grande inspiração
para a Dona Hermínia —, sua irmã, seu marido e os dois filhos que infelizmente
crescerão sem a sua presença maravilhosa aqui na Terra. Um cara gay que conseguiu
reunir inúmeras tribos fazendo rir e que arrecadou com um filme mais de 140
milhões em bilheteria — a maior do Brasil — num país que nem sequer valoriza o
próprio cinema. Isso não é pra qualquer um! Sua passagem por nossas vidas foi
breve, como um meteoro no céu, mas seu trabalho jamais será esquecido. Descanse em
paz, querido. Obrigado pelas noites de gargalhadas.
“… contra o preconceito, a intolerância, a mentira a tristeza já existe vacina: é o afeto, é o amor! ”.
NAMASTE!
19 de abril de 2021
Para Peter
Será que os cães vão para o Paraíso?
Hoje eu perdi o meu melhor amigo e não há nada que eu
escreva aqui que vá confortar meu coração. Ele vinha há alguns anos lutando
contra um câncer que o estava debilitando bastante, comprometendo ainda mais a sua já cansada forma física. O Peter tinha 15 anos, estava na família há
bastante tempo e é difícil descrever a falta que já está me fazendo.
Eu o adotei quando ele tinha alguns meses de vida. Uma
colega de trabalho tinha dito que ele e seus irmãozinhos estavam sendo doados
por vizinhos, o que me fez pensar em ter uma companhia canina. Nós já tínhamos
tido alguns cães em nossa casa durante a minha infância, mas na época, acabei
não tendo muita ligação emocional com eles. O Peter foi o meu primeiro cachorro
de certa maneira. Por alguma razão, eu sempre quis ter um animalzinho em casa —
além dos infinitos gatos de minha mãe que iam e vinham — e minha conexão com
aquele vira-lata de pelo branco foi imediata.
Não tem jeito. Por mais que a gente queira se preparar para
o momento da despedida, nada é capaz de nos acalentar quando a hora da
separação chega. Eu estou escrevendo esse texto poucas horas depois de dar o
último adeus ao meu amigo, por isso, espero que quem esteja lendo isso me
perdoe pelas incoerências e erros gramaticais.
Por conta da doença, nos últimos meses o Peter vinha
sofrendo algumas convulsões que paralisavam suas patas traseiras e o deixava
ofegante. Nada era mais doloroso do que vê-lo sofrer sem poder fazer nada. Eu
costumava ficar com ele quando essas convulsões aconteciam, não porque eu
achava que o pudesse ajudar, mas para confortá-lo, fazê-lo se sentir seguro,
talvez feliz por ter companhia na hora da dor. Eu não sei. Queria ter podido
fazer mais.
Eu tenho muita dificuldade para lidar com a morte e sempre
tentei adiar o máximo possível falar disso no âmbito familiar. Eu chorava só de
pensar em ter que me despedir do meu amigo e agora que o momento chegou, eu mal
consigo acreditar que não vou mais vê-lo, que ele não vai mais estar na sua
casinha, que ele não vai mais andar até mim quando me ver chegar da rua. Os
anos o deixaram mais lento, mais frágil, mas sempre era bom ser recepcionado
com aquele balançar de cauda, aquele olhar de felicidade ao me ver. Cara! Não
deve ter nada no mundo que se compare a isso!
Eu
tenho diversas boas memórias do Peter nesses 15 anos e uma delas é vê-lo jovem
e saudável correndo atrás de uma bola brincando comigo e com meu sobrinho
Michael no quintal de casa. O “Pete” — Píti —, como a gente o chamava, era aquele filhote
do tipo “elétrico” que não conseguia parar quieto no lugar, sempre brincalhão e
alegre. Pulava nas nossas pernas dando aquele “coice” com as patas traseiras e
quando agarrava alguma coisa com os dentes afiados, não queria mais largar. Eu demorei
a perceber que os anos tinham passado e não saberia dizer quando foi que ele
parou de ser tão agitado, assumindo então sua velhice.
Uma
das minhas melhores memórias com o Peter foi na época no fim do meu primeiro
grande relacionamento amoroso, que na época, me deixou muito mal. Eu não era de
demonstrações públicas de sofrimento, por isso, me escondi numa das duas casas
do quintal da minha mãe e me sentei lá para chorar as dores do amor perdido. Como eu
disse antes, o Peter sempre foi um bicho muito animado e bagunceiro, ele jamais
chegaria perto de mim sem pular em cima ou latir primeiro, mas naquele dia,
como que respeitando a minha tristeza — e eu estava em lágrimas por causa do
fim do namoro — o Peter chegou próximo de mim, me viu ali sentado e
simplesmente se deitou ao meu lado, calmamente, silenciosamente, como ele nunca
tinha feito. Aquela foi a maior demonstração de amizade que eu havia recebido
na vida e depois daquilo, passei a entender que os cães eram com segurança as
criaturas mais amáveis da face da Terra. Eu amava o Peter.
Depois
que eu comecei a trabalhar diariamente com raríssimos intervalos de férias,
feriados e fins de semana, eu meio que parei de acompanhar a evolução daquele meu
cachorro antes feliz e saudável para o velhinho doente, mas todas as vezes que eu
chegava em frente ao portão, ainda era muito bom ver aqueles olhos brilhando em
minha direção, dele sobressaltando de onde quer que estivesse para me
recepcionar com alegria. Não importava o quão ruim tinha sido o meu dia, tudo
passava quando eu acariciava aqueles pelos brancos e fazia um cafuné na cabeça
daquele vira-lata. Por anos, o Peter era a única constante em minha vida. Mesmo
triste, cabisbaixo, infeliz, zangado ou simplesmente de saco cheio da vida,
aquele cachorro ainda me tirava um sorriso e me fazia falar com aquela “vozinha”
que todo mundo faz quando se dirige ao seu pet.
Eu me
acostumei durante os últimos meses a ir para a sala assistir algum filme ou
série e preparar algum sanduíche ou algo rápido antes para comer na cozinha — rotina quase certa
durante a pandemia —, e essa era a hora que ele sempre aparecia na porta, como
quem dissesse “ei, amigão, tem algo aí pra mim? ”. Era eu acender a luz para
ele colocar a cabeça na porta e eu o dar algum mimo, em especial aqueles
biscoitos para cães que ele adorava. Mesmo já não tão ágil e nem com tanta firmeza
no maxilar, ele pegava o biscoito com o máximo de delicadeza e saía para
mastigar, já se preparando para vir buscar outro. Parece uma coisa simples, mas
até disso eu venho sentindo saudades. É uma dor que parece que não vai embora
nunca. O último pacote de biscoitos ficou no armário, ainda pela metade.
Essa
noite eu fui dormir querendo sonhar com o Peter, para poder me despedir melhor
dele, para lhe dar o abraço que eu não dei e tudo que espero para os próximos dias é que eu sinta a presença do meu tão
querido amigo nem que seja só para me dar um “oi”. Eu tenho estado
muito isolado, solitário nesses meses de pandemia e eu sentia que o Peter era
minha última conexão com o mundo. Enquanto as lágrimas rolam em meu rosto nesse
momento, rogo para que, se é que esse lugar existe, o meu cachorro tenha um
lugar especial no Paraíso, e que ele seja bem tratado lá, correndo feliz entre
as nuvens e pulando nas pessoas com sua energia inesgotável.
Descanse
em paz, amigão. Espero te ver novamente um dia!
NAMASTE!