A primeira vez que soube da existência do Foo Fighters foi em uma matéria da revista Placar, lá no final dos anos 90, e eu nunca tinha ouvido falar dos caras.
A tal matéria era sobre jogadores de futebol que curtiam Rock e que tiravam um som de vez em quando nos vestiários de seus respectivos times. Cada um era entrevistado pela revista e sugeria uma banda ou uma música que estivesse curtindo naquele momento.
O então goleiro do São Paulo, Rogério Ceni, foi quem mencionou o Foo Fighters e se disse um grande fã de Dave Grohl desde a época do Nirvana.
Eu não tinha acompanhado a carreira do Nirvana ou sequer sabia que seu vocalista tinha se suicidado há poucos anos, por isso, ignorei o fato de que Grohl era um dos remanescentes daquela que tinha sido uma das bandas grunges de maior influência no mundo naquela década.
Como são-paulino, é óbvio que dei o maior valor à sugestão do cara que era um dos jogadores mais importantes do clube para a qual eu torcia, e passei a prestar mais a atenção no Foo Fighters quando tocava nas rádios, seja na Transamérica, a Jovem Klan Pan ou a 89 FM, que eu estava começando a gostar de ouvir.
"Learn To Fly" foi um dos primeiros sucessos da banda que curti e depois disso, não parei mais de acompanhar a carreira dos caras liderados pelo Dave Grohl.
O meu segundo momento com o Foo Fighters aconteceu já nos primeiros anos da década de 2000. O acesso à internet era bastante escasso, a gente não tinha celular, o Spotify nem sonhava em existir, mas um amigo meu do curso técnico — alô, Rafa! — me mostrou um vídeo em que Dave Grohl e um sujeito loiro e magrelo tocavam bateria simultaneamente na introdução da música "My Hero".
O baterista loiro magrelo era, obviamente, Taylor Hawkins e aquela foi a primeira vez que assisti ao cara detonando em seu instrumento, ao lado de um dos maiores instrumentistas do mundo, o senhor Dave Grohl.
Eu esqueço de coisas que fiz há menos de duas horas, tenho dificuldade de me lembrar nomes de pessoas que acabei de conhecer, mas existem momentos da juventude — em sua maioria banais — que jamais saem da memória.
Eu lá na casa do meu colega de curso, acompanhado de mais uns dois ou três moleques, assistindo pelo computador a apresentação de Dave e Taylor dividindo a bateria ao som de "My Hero" é um desses momentos fixados eternamente na minha mente.
No último dia 25, Taylor Hawkins foi encontrado sem vida em seu quarto de hotel em Bogotá, na Colômbia, apenas um dia antes da apresentação do Foo Fighters em um festival local.
Recentemente, o laudo médico apontou várias substâncias em seu corpo como antidepressivos e opioides, o que, provavelmente, deve ter causado a sua morte por uma possível overdose.
O Foo Fighters estava em uma turnê pela América Latina, ia se apresentar no Brasil em poucos dias e por conta do falecimento de seu baterista, precisou cancelar todos os shows.
Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa, mas com a passagem de Hawkins, é bem possível que o fim prematuro do Foo Fighters também tenha sido declarado.
Como disse anteriormente, o líder da banda, Dave Grohl, já tinha sido obrigado a encarar a morte de um amigo de trabalho com o suicídio de Kurt Cobain em 1994. A criação do Foo Fighters era uma espécie de "precisamos seguir em frente" e nas mais de duas décadas desde a sua formação, é bem óbvio que Grohl ainda tinha muito a mostrar para o público. Ele não era nem de longe "apenas" o baterista carismático do Nirvana. O cara é, em essência, um showman e no palco, dividiu por anos esse "peso" com Hawkins, que era o seu "escada".
Para o meu azar, apesar do Foo Fighters ser a minha banda favorita, eu jamais consegui ir a um show dos caras, mas mesmo pelas apresentações deles disponíveis na internet, era impressionante notar a sinergia que existia entre o cara mais à frente do palco e o que ficava mais ao fundo.
Em todos os shows, Grohl dava espaço para que Hawkins assumisse os vocais, trocando de lugar com o amigo. Em geral, ele cantava músicas do Queen, do Kiss ou qualquer banda que quisesse homenagear.
A troca que havia entre os dois — mais até que os demais componentes da banda — era algo difícil de ver em outros conjuntos. Hawkins tinha assumido a bateria de um grupo em que o, agora vocalista, tinha sido simplesmente O MELHOR naquela categoria e não parecia nem um pouco receoso com isso. Pelo contrário. O poder que Hawkins exalava segurando as suas baquetas era algo de mágico.
Aos 50 anos, Taylor Hawkins se junta a mais uma porção de estrelas do Rock que vimos partir cedo demais nos últimos anos. Chester Bennington. Chris Cornell. Scott Weiland. Chorão.
Assim como Hawkins, todos eles ainda tinham muito para nos presentear, mas agora tudo que nos resta é homenageá-los sem parar, ouvindo suas músicas, prestigiando seu enorme talento e agradecendo por eles um dia terem existido.
Nas últimas apresentações do Foo Fighters, incluindo a que eles fizeram no Lollapalooza do Chile, Taylor Hawkins vinha sempre apresentando músicas do Queen em seu momento solo diante da plateia, mas o meu som preferido com ele nos vocais é "Cold Day In The Sun" do álbum Skin And Bones de 2006. Sempre adorei a energia que essa versão quase acústica apresenta e a voz rouca de Hawkins combina com todo o conjunto instrumental à sua volta.
No vídeo da música, a gente consegue ver um pouco da parceria que havia entre Dave e Taylor.
E esse conjunto de cordas maravilhoso que acompanha? Muito bom.
Perdi as contas de quantas vezes cantei essa música no banheiro durante o banho. Foda demais!
Numa madrugada melancólica dessas de começo de ano — que têm sido mais comuns do que eu gostaria — parei para assistir a um show do Foo Fighters na íntegra disponível no Youtube e me peguei cantando TODAS as músicas que eles apresentaram. Mesmo o Aerosmith, que foi a banda que me ensinou a curtir Rock — e que assisti ao vivo num show de arena em 2010 — tem um repertório 100% conhecido por mim, mas com o Foo Fighters é outra história.
Essa apresentação em Los Angeles marca o retorno aos palcos após a pandemia de Covid-19 e os caras estão em polvorosa durante todo o show. Hawkins canta "Somebody To Love" do Queen em seu momento solo e como era de praxe, levantou a plateia em sua homenagem a Freddie Mercury. Começa aos 1:32:37 do vídeo abaixo.
Têm sido anos muito difíceis para mim e poucas coisas ainda me sustentam. Eu diria que a música é um ponto de equilíbrio em minha vida e eu gosto de usar o Rock para me tirar um pouco da tristeza. O som do Foo Fighters faz parte dos melhores momentos que já vivi nesses trinta anos e blau, e com certeza, a morte de Taylor Hawkins vai sepultar também algumas dessas boas lembranças.
Se existe uma Criatura Superior a olhar para esse mundo caótico, que Ela conforte os entes queridos do baterista e também os seus companheiros de banda. Os últimos dias não devem ter sido fáceis a nenhum deles, assim como não têm sido para os fãs.
Descanse em paz, Taylor Hawkins. Você ERA FODA!
P.S - Difícil se concentrar só na banda com aquela backing vocal loira lá atrás, mas esse show que inseri no post é espetacular e para quem é fã como eu, vale as duas horas e blau que dura. Tem os sons clássicos do grupo e todas as novas músicas que a banda lançou nos últimos meses, incluindo os covers do Bee Gees que ficaram do caralho na versão Foo Fighters.
P.S. 2 - Difícil saber o que realmente aconteceu na noite que Taylor morreu ou a razão de haver tantas drogas em seu organismo, mas é perfeitamente compreensível o fato de que famosos ou não, ricos ou não, estamos todos vulneráveis às nossas dores e suscetíveis a nossos demônios internos, seja em maior ou menor intensidade.
NAMASTE!