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29 de março de 2022

O adeus a Taylor Hawkins

Homenagem do Rodman Taylor Hawkins


A primeira vez que soube da existência do Foo Fighters foi em uma matéria da revista Placar, lá no final dos anos 90, e eu nunca tinha ouvido falar dos caras.

A tal matéria era sobre jogadores de futebol que curtiam Rock e que tiravam um som de vez em quando nos vestiários de seus respectivos times. Cada um era entrevistado pela revista e sugeria uma banda ou uma música que estivesse curtindo naquele momento. 

O então goleiro do São Paulo, Rogério Ceni, foi quem mencionou o Foo Fighters e se disse um grande fã de Dave Grohl desde a época do Nirvana.  

Eu não tinha acompanhado a carreira do Nirvana ou sequer sabia que seu vocalista tinha se suicidado há poucos anos, por isso, ignorei o fato de que Grohl era um dos remanescentes daquela que tinha sido uma das bandas grunges de maior influência no mundo naquela década.

Como são-paulino, é óbvio que dei o maior valor à sugestão do cara que era um dos jogadores mais importantes do clube para a qual eu torcia, e passei a prestar mais a atenção no Foo Fighters quando tocava nas rádios, seja na Transamérica, a Jovem Klan Pan ou a 89 FM, que eu estava começando a gostar de ouvir. 

"Learn To Fly" foi um dos primeiros sucessos da banda que curti e depois disso, não parei mais de acompanhar a carreira dos caras liderados pelo Dave Grohl.

O meu segundo momento com o Foo Fighters aconteceu já nos primeiros anos da década de 2000. O acesso à internet era bastante escasso, a gente não tinha celular, o Spotify nem sonhava em existir, mas um amigo meu do curso técnico — alô, Rafa! — me mostrou um vídeo em que Dave Grohl e um sujeito loiro e magrelo tocavam bateria simultaneamente na introdução da música "My Hero". 

O baterista loiro magrelo era, obviamente, Taylor Hawkins e aquela foi a primeira vez que assisti ao cara detonando em seu instrumento, ao lado de um dos maiores instrumentistas do mundo, o senhor Dave Grohl. 



Eu esqueço de coisas que fiz há menos de duas horas, tenho dificuldade de me lembrar nomes de pessoas que acabei de conhecer, mas existem momentos da juventude — em sua maioria banais — que jamais saem da memória.

Eu lá na casa do meu colega de curso, acompanhado de mais uns dois ou três moleques, assistindo pelo computador a apresentação de Dave e Taylor dividindo a bateria ao som de "My Hero" é um desses momentos fixados eternamente na minha mente. 


Homenagem do Rodman Taylor Hawkins


No último dia 25, Taylor Hawkins foi encontrado sem vida em seu quarto de hotel em Bogotá, na Colômbia, apenas um dia antes da apresentação do Foo Fighters em um festival local. 

Recentemente, o laudo médico apontou várias substâncias em seu corpo como antidepressivos e opioides, o que, provavelmente, deve ter causado a sua morte por uma possível overdose. 

O Foo Fighters estava em uma turnê pela América Latina, ia se apresentar no Brasil em poucos dias e por conta do falecimento de seu baterista, precisou cancelar todos os shows.

Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa, mas com a passagem de Hawkins, é bem possível que o fim prematuro do Foo Fighters também tenha sido declarado. 

Como disse anteriormente, o líder da banda, Dave Grohl, já tinha sido obrigado a encarar a morte de um amigo de trabalho com o suicídio de Kurt Cobain em 1994. A criação do Foo Fighters era uma espécie de "precisamos seguir em frente" e nas mais de duas décadas desde a sua formação, é bem óbvio que Grohl ainda tinha muito a mostrar para o público. Ele não era nem de longe "apenas" o baterista carismático do Nirvana. O cara é, em essência, um showman e no palco, dividiu por anos esse "peso" com Hawkins, que era o seu "escada".

Para o meu azar, apesar do Foo Fighters ser a minha banda favorita, eu jamais consegui ir a um show dos caras, mas mesmo pelas apresentações deles disponíveis na internet, era impressionante notar a sinergia que existia entre o cara mais à frente do palco e o que ficava mais ao fundo. 

Em todos os shows, Grohl dava espaço para que Hawkins assumisse os vocais, trocando de lugar com o amigo. Em geral, ele cantava músicas do Queen, do Kiss ou qualquer banda que quisesse homenagear. 

A troca que havia entre os dois — mais até que os demais componentes da banda — era algo difícil de ver em outros conjuntos. Hawkins tinha assumido a bateria de um grupo em que o, agora vocalista, tinha sido simplesmente O MELHOR naquela categoria e não parecia nem um pouco receoso com isso. Pelo contrário. O poder que Hawkins exalava segurando as suas baquetas era algo de mágico.

Aos 50 anos, Taylor Hawkins se junta a mais uma porção de estrelas do Rock que vimos partir cedo demais nos últimos anos. Chester Bennington. Chris Cornell. Scott Weiland. Chorão.

Assim como Hawkins, todos eles ainda tinham muito para nos presentear, mas agora tudo que nos resta é homenageá-los sem parar, ouvindo suas músicas, prestigiando seu enorme talento e agradecendo por eles um dia terem existido. 

Nas últimas apresentações do Foo Fighters, incluindo a que eles fizeram no Lollapalooza do Chile, Taylor Hawkins vinha sempre apresentando músicas do Queen em seu momento solo diante da plateia, mas o meu som preferido com ele nos vocais é "Cold Day In The Sun" do álbum Skin And Bones de 2006. Sempre adorei a energia que essa versão quase acústica apresenta e a voz rouca de Hawkins combina com todo o conjunto instrumental à sua volta.

No vídeo da música, a gente consegue ver um pouco da parceria que havia entre Dave e Taylor. 



E esse conjunto de cordas maravilhoso que acompanha? Muito bom.

Perdi as contas de quantas vezes cantei essa música no banheiro durante o banho. Foda demais!

Numa madrugada melancólica dessas de começo de ano — que têm sido mais comuns do que eu gostaria — parei para assistir a um show do Foo Fighters na íntegra disponível no Youtube e me peguei cantando TODAS as músicas que eles apresentaram. Mesmo o Aerosmith, que foi a banda que me ensinou a curtir Rock — e que assisti ao vivo num show de arena em 2010 — tem um repertório 100% conhecido por mim, mas com o Foo Fighters é outra história.

Essa apresentação em Los Angeles marca o retorno aos palcos após a pandemia de Covid-19 e os caras estão em polvorosa durante todo o show. Hawkins canta "Somebody To Love" do Queen em seu momento solo e como era de praxe, levantou a plateia em sua homenagem a Freddie Mercury. Começa aos 1:32:37 do vídeo abaixo.



Têm sido anos muito difíceis para mim e poucas coisas ainda me sustentam. Eu diria que a música é um ponto de equilíbrio em minha vida e eu gosto de usar o Rock para me tirar um pouco da tristeza. O som do Foo Fighters faz parte dos melhores momentos que já vivi nesses trinta anos e blau, e com certeza, a morte de Taylor Hawkins vai sepultar também algumas dessas boas lembranças. 

Se existe uma Criatura Superior a olhar para esse mundo caótico, que Ela conforte os entes queridos do baterista e também os seus companheiros de banda. Os últimos dias não devem ter sido fáceis a nenhum deles, assim como não têm sido para os fãs.

Descanse em paz, Taylor Hawkins. Você ERA FODA!


P.S - Difícil se concentrar só na banda com aquela backing vocal loira lá atrás, mas esse show que inseri no post é espetacular e para quem é fã como eu, vale as duas horas e blau que dura. Tem os sons clássicos do grupo e todas as novas músicas que a banda lançou nos últimos meses, incluindo os covers do Bee Gees que ficaram do caralho na versão Foo Fighters.


P.S. 2 - Difícil saber o que realmente aconteceu na noite que Taylor morreu ou a razão de haver tantas drogas em seu organismo, mas é perfeitamente compreensível o fato de que famosos ou não, ricos ou não, estamos todos vulneráveis às nossas dores e suscetíveis a nossos demônios internos, seja em maior ou menor intensidade.

NAMASTE!  

18 de setembro de 2018

CAPITÃ MARVEL – O TEASER TRAILER



O que sabemos até aqui sobre o filme da Capitã Marvel é bem pouco, visto que somente nas últimas semanas a Marvel começou a lançar o material de divulgação. O aguardado primeiro teaser trailer caiu feito uma bomba nas redes sociais, e a galera pirou com o visual do filme e o contraste planeta Terra e Espaço que fica evidente no vídeo. Chega de blábláblá e bora assistir a bagaça:


Claro que por um trailer não tem como formar uma opinião a respeito da direção do filme, que está a cargo de Anna Boden (Se enlouquecer não se apaixone) e Ryan Fleck (Half Nelson), dois diretores que já estão acostumados a trabalharem juntos e que são quase desconhecidos do grande público, mas as cenas de ação parecem bem dinâmicas. Depois dos Irmãos Russo ficamos mal-acostumados a cenas de ação inventivas de nos fazer cair o cu da bunda, portanto, vai ser difícil aceitar algo que não seja NO MÍNIMO parecido. Torcemos para que a dupla Boden/Fleck seja feliz nesse quesito.



Além de Brie Larson, que está com uma tremenda cara de militar fodona badass motherfucker nas cenas em que aparece em treinamento, temos no elenco o Samuel L. Jackson como um Nick Fury quase vinte anos mais novo do que o que vimos em Homem de Ferro 1 (2008), temos Jude Law (Mar-Vell), Ben Mendelsohn (Talos), Lee Pace (de volta ao papel de Ronan), Digimon Hounson (como Korath, o braço direito de Ronan), Clark Gregg (o Agente Coulson que aparece no trailer de topetinho) e Lashana Lynch, creditada como Maria Rambeau. Eu disse RAMBEAU!! Quem vocês conhecem nos quadrinhos que tem esse sobrenome?



O teaser ainda não nos mostra muita coisa de concreto sobre o roteiro, e apesar de algumas imagens lançadas há alguns dias mostrarem a cara dos skrulls e dos krees, ainda não sabemos se haverá MESMO uma Guerra Kree-Skrull logo no primeiro filme da heroína. 



Seja pelas fotos ou pelo teaser, ainda não sabemos também quão grande será a participação do Capitão Marvel na história, já que é mencionado que Carol Danvers ganha suas habilidades por causa da fisiologia kree do alienígena (assim como nos quadrinhos), mas nada além disso. 



As cenas com Jude Law também são bem escassas nesse primeiro trailer, o que aumenta a dúvida sobre o papel do personagem que ele interpreta e sua importância.



Considerando que o filme deve ter uma média de duas horas (que é mais comum), resta saber como será dividido o tempo de tela da história entre as aventuras da heroína na Terra e no espaço (é possível ver alguns segundos de uma cidade futurista no trailer que NÃO DEVE pertencer a Terra, já que o enredo se passa nos anos 90), SE É QUE teremos grande tempo de tela no espaço. 



É possível que a história toda se desenrole na Terra, com Carol tendo a ajuda da SHIELD para desvendar quem são os skrulls infiltrados no planeta quase como uma Invasão Secreta.



 A cena em que a Capitã senta o braço numa IDOSA dentro do metrô deve significar isso. “Skrull safado!”.



Além das conjecturas, podemos elogiar a fotografia do filme e os cenários que estão espetaculares. Brie Larson parece bem à vontade no papel da Capitã Marvel, e o finalzinho com ela emanando energia transparecendo todo o poder que ela manipula é de querer urrar de empolgação!



Já foi dito que esse filme será mais sobre a Carol Danvers do que a Capitã Marvel, o que deve significar um foco maior na personalidade da personagem do que em seus poderes (que são poucos, ela só tem superforça, voo, resistência a maior parte das toxinas e venenos existentes, controla e manipula energias estelares, tem controle sobre calor, espectro eletromagnético, gravidade, pode sobreviver no vácuo do espaço e viajar à velocidade da luz). 

Criada nos quadrinhos durante os anos 70 por Roy Thomas e Gene Colan, a Capitã Marvel nasceu como “Miss Marvel”, após ser atingida por uma explosão que a fez adquirir os mesmos poderes que o Capitão Marvel. Ela não demorou a fazer parte dos Vingadores e com eles viveu os grandes momentos de sua carreira, desde ser abduzida por um alienígena até perder os poderes (e a vida) quase que permanentemente após um quebra-pau com a Vampira dos X-Men



Nos anos 2000, após enfrentar um ostracismo GIGANTESCO, ela foi trazida de volta ao universo Marvel, dessa vez com status de A MAIOR super-heroína da editora, continuou usando seu maiô preto por um bom tempo até se tornar a CAPITÃ Marvel, nome pelo qual é mais conhecida hoje. Acho justo que ela seja a primeira super-heroína a estrear um filme solo pela Marvel em especial pelo potencial que tem a personagem, só é uma pena que ela não tenha aparecido antes em nenhum momento, nem que fosse apenas como sua persona humana em qualquer um dos filmes do MCU. Pelo trailer, é possível notar que ela esteve um bom tempo no espaço antes de cair de volta a Terra, e que ela não se lembra com detalhes de ter realmente vivido aqui. Vamos ver como isso tudo se encaixará no restante do MCU e como ela vai CHUTAR A BUNDA do Thanos em Vingadores 4!



O filme deve estrear em 7 de março de 2019.

PS.: Em tempos de empoderamento feminino e igualdade de gênero é importante notar que não há QUALQUER destaque nos dotes físicos da personagem no trailer, sem close na bundinha ou no peitinho, focando a história na personalidade da Capitã Marvel e em seus poderes.  

NAMASTE!

28 de janeiro de 2013

Top 10 – A Trilha Sonora de Tarantino



É quase impossível desassociar os filmes de Quentin Tarantino das trilhas sonoras que ele meticulosamente seleciona para as cenas que escreve. O diretor de 49 anos nascido no Tennessee já divulgou em entrevistas que chegou a basear cenas de seus filmes em músicas que ouvia desde moleque (quando em geral, acontece o contrário no processo de criação de filmes), e olhe que o repertório musical de Tarantino é tão vasto quanto seu conhecimento de cinema!

Quem não se lembra logo de Tim Roth e Amanda Plummer (Pumpkin e Honey Bunny) anunciando um assalto na lanchonete em Pulp Fiction quando toca "Misirlou" de Dick Dale, ou sai pra dançar um Twist ao som de "You never can tell" de Chuck Berry feito John Travolta e Uma Thurman? Ou ainda, quem é que não se lembra logo de Elle Driver caminhando pelo corredor de um hospital vestida de enfermeira pronta a dar cabo de Beatrix Kiddo enquanto assovia o infernal "Twisted Nerve" de Bernard Herrmann na primeira parte de Kill Bill?

Os filmes de Tarantino estão intimamente ligados à música, e a dura missão desse Top 10 é elencar as melhores trilhas dentre tantas (deixando com um grande pesar obras-primas de fora da lista), as que mais possuem significado para as cenas ou simplesmente aquelas que não podiam ser deixadas de fora.

Aumente o volume e divirta-se!



Death Proof (Prova de Morte) faz parte de um projeto em que Tarantino aliou-se ao amigo (menos talentoso) Robert Rodriguez para recriar filmes de gênero Grindhouse, aqueles em que normalmente as mulheres protagonizam e que são produzidos com um baixo orçamento. 

Apesar de ser o filme menos inspirado da carreira do diretor, Death Proof ainda traz cenas memoráveis, entre elas a embalada pela música “Hold Tight” da banda britânica dos anos 60 Beaky/Dave Dee/Dozy/Mick/Tich, ou simplesmente “DDDBMT”.

Como não podia deixar de ser, Tarantino coloca seu conhecimento musical em jogo, e uma das personagens conta a história que envolve a música e o vocalista do The Who, que chegou a ser chamado para integrar a tal DDDBMT. É impossível não mexer a cabeça pra cima e pra baixo enquanto esperamos o choque eminente do carro à prova de morte do Dublê Mike (Kurt Russel) e o das amigas da Julia Selvagem (Sydney Tamiia Poitier) ao som de “Hold Tight”!



Essa é sem dúvida uma das cenas de acidente de carro mais fantásticas do cinema!



Se Death Proof é o filme menos inspirado da carreira de Tarantino, Jackie Brown é aquele que tem menos a cara de Tarantino, e isso se deve bastante ao fato de que o roteiro não é escrito baseado em uma história criada por ele.

Apesar do ritmo bem mais lento de Jackie Brown, o filme é recheado de referências ao universo “nigger” e a Blaxploitation, movimento cinematográfico voltado especificamente ao público negro norte-americano, o que inclui muita música Soul e Black.

Enquanto os letreiros sobem (ou descem, vão pra esquerda, direita... enfim!), já somos logo sacudidos pela balada “Across 110th Street” de Bobby Womack, cantor negro cujas músicas principais fizeram grande sucesso nas décadas de 60 e 70. A música conta o cotidiano de um personagem negro do gueto onde vive.



Interessante que o filme começa e se encerra embalado por "Across 110th Street", e rola uma certa melancolia enquanto a Jackie Brown (Pam Grier) dirige seu carro cantando tristemente a letra da música, se despedindo do público.



Django, você sempre foi solitário?
DJANGO!
Django, você nunca mais amou novamente?
O amor viverá, oh oh oh...
A vida deve continuar, oh oh oh
Pois você não pode passar o resto da vida se arrependendo

Pra quem não sabe, Django foi um personagem vivido pelo ator italiano Franco Nero na década de 60, e o Django de 2013 dirigido por Tarantino é mais uma homenagem do diretor ao cinema que ele tanto venera.
O tema de Django criado por Luis Bacalov & Rocky Roberts também era o tema do filme original, e a letra da música acabou casando bem com esse novo Django escravo que se livra das correntes para ir atrás de sua amada esposa Brunhilde.

A música é um verdadeiro chiclete, e não há como se livrar de seu refrão e da voz grave de Rocky Roberts uma vez que se ouve.




Django!
Django!



Quem mais além de Quentin Tarantino conseguiria imaginar uma luta entre duas samurais em um cenário cheio de neve, embalado por uma música Disco dos anos 70?

Uma das razões do sucesso desse maluco é justamente essa habilidade única que ele tem em criar esse tipo de amálgama entre coisas que aparentemente não possuem qualquer relação, e que em suas mãos acabam dando certo, a ponto de rolar aquela pergunta “Por que ninguém pensou nisso antes?”.

E não é que "Don’t let me be misunderstood" funcionou direitinho como fundo sonoro para a luta decisiva entre Beatrix Kiddo e O-Ren-Ishii?



Peço perdão por ter zombado de você!”.



"Stuck in the Middle With You" com certeza não é a música mais emblemática do longa metragem Cães de Aluguel (Reservoir Dogs - 1992), o primeiro como escritor e diretor de Tarantino. Quem se lembra do filme com certeza pensa em “Little Green Bag” de George Baker como a trilha definitiva da película, até porque a cena em que os Cães de Aluguel andam em câmera lenta enquanto os atores que os interpretam são apresentados ao público (logo após o diálogo na lanchonete sobre Like a Virgin), ao som da canção, fixa melhor na memória.

A cena onde o psicótico Mr. Blonde (Michael Madsen) tortura e mutila um policial preso a uma cadeira enquanto faz uma dancinha desengonçada ao som de "Stuck in the Middle With You", no entanto, é pra mim, a principal marca de Cães de Aluguel, razão pela qual escolhi essa música para integrar ao Top 10.

Todo o desenvolvimento da cena é espetacular, sem falar na interpretação do ator Kirk Baltz que vive o policial Marvin Nash e a frieza de Michael Madsen, que aliás, vive personagens filhos da puta como ninguém em Hollywood!!



A música cantada pela banda de folk escocesa Stealers Wheel possui trechos como “Estou tão assustado no caso de eu cair da minha cadeira”, “Sim, eu estou preso no meio com você e eu estou me perguntando o que eu deveria fazer” e “Tentando fazer algum sentido de tudo mas vejo que isso não faz sentido”, o que nos faz ter certeza de que as músicas escolhidas por Tarantino não são aleatórias. Elas estão sempre dentro do contexto da história.



Confesso que as trilhas de Tarantino me trouxeram o conhecimento de vários artistas dos quais eu nunca havia ouvido falar (perdão, Mundo!), entre elas The Coasters, a banda de Rhythm and Blues dos anos 50 que toca a deliciosa "Down in Mexico".

A cena antológica onde a personagem Arlene “Butterfly” (Vanessa Ferlito) sensualiza diante de Dublê Mike (Kurt Russel) em um show de Lap Dance ao som de "Down in Mexico" em Death Proof já entrou para os “anais” da história do cinema! E como entrou!



“De repente, caminhando com essa garota
Joe começa a tocar com uma Latina
Em torno de sua cintura ela usava três meias arrastão
Ela começou a dançar com as castanholas
Eu não sabia exatamente o que esperar
Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço
Começamos a dançar por todo o chão
E então ela fez uma dança que eu nunca vi antes


Dança nota 10!


Kill Bill é o filme com o maior repertório musical de Tarantino, e penso cá comigo que daria para fazer um Top 10 apenas da Trilha Sonora dos dois filmes sobre a Noiva. Exatamente por essa dificuldade em escolher as melhores músicas do filme, deixei me guiar pelo meu instinto, e a meu ver, não há música presente em Kill Bill mais emblemática que "Malaguena Salerosada banda “chicana” Chingon, de Robert Rodriguez.

A letra fala de um pobre rapaz que é feito de gato e sapato por uma garota rica, e mesmo não tendo porra nenhuma a ver com o enredo do filme e só tocar na cena final, quando então Beatrix já derrotou Bill e recuperou a linda B.B, mesmo assim ela representa a alma do filme, que é um misto absurdo de várias culturas, bem ao estilo Tarantino de fazer cinema.  



“Que bonitos ojos tienes
Debajo de esas dos cejas”


Patti Smith é considerada a “poetisa do punk” e começou a fazer sucesso na década de 70, onde então despontou para ser uma das cantoras mais influentes do Rock and Roll.
Minha paixão por “Baby It’s You”, que faz parte da trilha de Death Proof foi imediata, e desde então a música não sai mais da minha playlist diária, entrando inclusive nesse Top 10 na posição de Bronze




Que voz maravilhosa tem essa mulher!


Hoje não existe viva alma que não conheça a balada “Girl, You'll Be a Woman soon”, mas na década de 90 nem mesmo o Urge Overkill devia acreditar nessa canção, algo que foi completamente alterado quando Tarantino decidiu acrescentá-la ao soundtrack daquele que viria a ser seu filme de maior sucesso.

Pulp Fiction é meu filme favorito da carreira de Tarantino, acho difícil que o diretor consiga superar algum dia o que ele fez com esse longa, mas além de toda a estética criada, da popularização do roteiro não-linear e da restauração das carreiras de vários artistas, Pulp Fiction deixou marcado em nossas vidas principalmente as canções que embalam suas cenas.



Como esquecer a overdose de Mia Wallace e as divagações de Vincent Vega sobre comer ou não comer a mulher do chefe enquanto "Girl, You'll Be a Woman soon" toca na vitrola?


Mia Wallace e Vincent Vega são chamados ao palco do Jack Rabbit Slim’s para um desafio de Twist. A esposa de Marsellus Wallace os apresenta, e enquanto a banda se prepara para tocar, Vega tira os sapatos, iniciando em seguida uma das cenas mais reconhecidas e imitadas do cinema. A carreira decadente de John Travolta sofreu um "Boom" e Quentin Tarantino havia criado uma verdadeira obra-prima, nos dando doses cavalares de drogas, rock and roll e violência. Muita violência.  

Chuck Berry é considerado um dos pais do Rock N' Roll, uma lenda da música mundial e dispensa apresentações, e "You Never can tell" é com certeza uma das suas obras mais memoráveis de todos os tempos, que acabou sendo imortalizada de vez em uma das cenas mais emblemáticas do cinema. Palmas para Tarantino pela escolha. 



Confessa que você já imitou os passos do Travolta nessa cena alguma vez na vida, vai!



Clique AQUI para baixar a Trilha Sonora comentada nesse Post e abaixo para ler as críticas sobre Kill Bill (Vol. 1 e 2) e Django:






NAMASTE!

15 de novembro de 2011

Top 10 - Clipes mais Criativos


Desde que Michael Jackson revolucionou o mundo do audiovisual e transformou os videoclipes em super-produções com seu Thriller, cada vez mais artistas têm mostrado todo seu talento inventivo nos clipes de suas músicas, fazendo-nos pensar, nos emocionar e porque não dizê-lo pirar!
O Top 10 Clipes mais criativos faz uma pequena mostra do que artistas e designers aliados a diretores de arte são capazes de fazer para contar uma história em até 5 minutos, e como a música pode servir apenas como pano de fundo para esse espetáculo visual!


O Nickelback tem em seu repertório várias músicas melosas com um alto poder de nos deixar na fossa, pensando naquela ex que nos deu um pé ou naquele amor impossível. O que ninguém duvida, no entanto, é na capacidade que os caras têm em mostrar histórias pra lá de criativas em seus videoclipes.
O vídeo da música Savin’ Me começa com um homem vagando perto de uma esquina que consegue evitar que um rapaz distraído com seu celular seja atropelado. Após ser salvo pelo estranho que vai embora sem dar-lhe maiores explicações, o jovem começa a ver temporizadores sobre a cabeça das pessoas, como numa contagem regressiva de quanto tempo elas ainda têm de vida, e fica assombrado com aquele seu novo dom.
Totalmente surreal!


“Os portões do Paraíso não abrirão para mim
Com essas asas quebradas estou caindo
E tudo que eu vejo é você
Esses muros da cidade não tem nenhum amor por mim
Estou na beira da 18º história
E, oh, eu grito por você
Venha, por favor, estou chamando
E tudo que eu preciso é você
Apresse-se, estou caindo”



Gente bizarra em clipe de rock é o que não falta se prestarmos bem a atenção, e é partindo dessa premissa que Steven Tyler e seus companheiros se fundem em corpos de gente tatuada, “piercinzada”, bebês, mães gostosas e lutadores de sumô. Em Pink, música do excelente álbum Nine Lives, o Aerosmith tira de letra a piada com alter-egos, e produz um clipe memorável e pra lá de divertido.
No vídeo da música é usado CGI para a montagem dos personagens e há uma variedade de caracteres aleatórios misturados com membros da banda que posam para a câmera, transformando-se em personagens diferentes no processo.
Há duas versões do vídeo da música, uma versão mais adulta que mostra até peitinhos femininos e outra mais família que corta as cenas mais “picantes”.


“Rosa foi amor à primeira vista
Rosa quando eu desligo as luzes
Rosa é como vermelho mas nem tanto
Eu acho que tudo vai ficar bem
Não importa o que a gente faça esta noite”


Dirigido por Tony Kaye ( diretor do excelente A outra História Americana), o clipe de Dani California mostra Anthony Kiedis e seus comparsas imitando diversas bandas clássicas do cenário rock com muito talento, enchendo a tela com micagens e caretas dignas de um filme do Jim Carrey.
A sátira às grandes bandas e "eras" do rock é na verdade uma grande homenagem a Elvis Presley, Beatles, Sex Pistols, Misfits, "hair metal" e Nirvana, e não tem como não curtir o ótimo som de Dani California, um dos últimos trabalhos realmente esforçados da banda que ainda contava com John Frusciante nas guitarras.


“Nascida no estado do Mississipi
Papai era um tira e mamãe uma hippie
Em Alabama, ela balançaria um martelo
O preço que você tem que pagar quando destrói o panorama
Ela nunca soube que havia algo além da pobreza
Pelo quê no mundo sua companhia me toma?”



O Jamiroquai é uma banda britânica liderada pelo cantor Jay Kay.
O vídeo de Virtual Insanity consiste principalmente do vocalista, dançando a música em um quarto branco brilhante com um piso cinza. Ao longo do vídeo, há várias combinações de sofás e poltronas, que são a única mobília da sala. O vídeo ganhou reconhecimento da crítica por seus efeitos especiais: o chão parece mover-se enquanto o resto da sala permanece parado. Em alguns pontos a câmera gira para cima ou para baixo para mostrar o piso ou teto por alguns segundos, e quando ele retorna à posição central, o cenário mudou completamente.
Esse sensacional clipe que é embalado pela animada letra de Virtual Insanity é dirigido por Jonathan Glazer, e ganhou no MTV Musical Awards em 1997 quatro prêmios, incluindo vídeo mais experimental e Melhor Vídeo do Ano.



“Futuros feitos de insanidade virtual agora
Sempre parece ser
Governado por esse amor que temos
Para inútil, a torção da nova tecnologia
Oh, agora não há som
Porque nós todos vivemos debaixo do chão.”


À princípio o clipe da música Open your Eyes parece que não vai chegar a lugar algum (literalmente), mas conforme vamos passeando pelas ruas de Paris tal qual um Need for Speed, passando por sinais, pássaros, pessoas, entrando em ruas desertas e escuras, descobrimos que o vídeo todo foi filmado em um único take, obviamente sem cortes ou inserção de cenas.
O vídeo na verdade são os minutos finais de um curta metragem francês de 1976 chamado "C'était un Rendez-vous", idealizado e dirigido pelo cineasta francês Claude Lelouch. Uma câmera fixada na frente de um carro nos leva a um passeio ao amanhecer pelas ruas de Paris, e não dá pra dizer que o passeio é deveras aprazível.
No clipe, enquanto o cantor do Snow Patrol Gary Lightbody insiste em seu refrão "Tell me that you'll open your eyes" acabamos conhecendo pontos turísticos da Cidade Luz, e o passeio acelera quando a música alcança seu ápice.
Mas porque será que o motorista está com tanta pressa?
Desvende comigo:


“Levante, vá embora, saia de perto desses mentirosos
Porque eles não entendem sua alma ou seu fogo
pegue minha mão, entrelace seus dedos entre os meus
E nós sairemos deste quarto escuro pela última vez”


Produzido em stop motion (técnica que utiliza a disposição sequencial de fotografias diferentes de um mesmo objeto inanimado para simular o seu movimento) pelo grupo Shynola, o vídeo de Strawberry Swing mostra o vocalista do Coldplay Chris Martin no chão interagindo com desenhos animados feitos a giz. O clipe começa com Martin acordando em sua casa. Uma vez que ele vê que uma moça está sendo mantida refém por um esquilo gigante, se transforma em um super-herói e tenta salvá-la. Ao longo do caminho, Martin enfrenta ataques do esquilo, de um peixe gigante no oceano além de outros perigos saídos diretamente da mente criativa dos diretores.
O que será que esse caras fumam antes de ter essas ideias??


“Fria, água fria traga-me para si
Agora meus pés não vão tocar o chão
Fria, água fria, o que você disse?
Quando é tão... É um dia tão perfeito
Um dia tão perfeito....”


O vídeo da música Coffee & TV dirigido por Hammer & Tongs é sem sombra nenhuma de dúvidas um dos mais divertidos dessa lista.
Protagonizado quase que exclusivamente por uma carismática caixinha de leite (criada por Jim Henson o "pai" dos desenhos animados americanos Muppets Babies) o vídeo mostra a jornada do personagem pela cidade em busca do guitarrista do Blur Graham Coxon, que aparentemente fugiu de casa. Caixas de leite são usadas ​​às vezes (especialmente nos EUA) para ajudar a procurar pessoas desaparecidas, e a família fictícia de Coxon teve essa ideia de pôr seu rosto em um apelo impresso em caixas de papelão.
Eu adorei esse clipe a primeira vez que o vi, e fiquei impressionado com a criatividade que alguns diretores têm para desenvolver certas ideias que, a meu ver, me parecem por vezes estapafúrdias.


“Então me dê café e TV, tranquilamente
Eu vi demais, estou ficando cego
E meu cérebro está virtualmente morto
A sociabilidade é bastante difícil pra mim
Me leve desse mundo grande e mal
E aceite casar comigo
E aí poderemos começar tudo de novo”


Criado pelo estúdio inglês Shynola (o mesmo do clipe de Strawberry Swing) o clipe de Go with the flow é um vídeo agressivo, intenso e que segundo o próprio vocalista da banda Josh Homme, simula uma "jogada de cabeça contra a parede".
A inspiração visual veio de imagens dos quadrinhos de Frank Miller (Sin City, 300...) e da capa do álbum que contém a música do vídeo, Songs for the Deaf (Canções para os Surdos) de 2002.
Para as filmagens do vídeo, a banda teve que tingir o cabelo e pintar a pele de preto, tornando a fase de rotoscopia (técnica que usa como referência a filmagem de um modelo vivo, aproveitando-se então cada frame filmado para desenhar o movimento do que se deseja animar) mais fácil para os artistas gráficos. Os cenários e movimentos no carro (uma pick up dos anos 60 toda pintada de preto) foram finalizados em 3D digital com a utilização do software Maya.
O resultado?
Um dos videoclipes mais empolgantes e provocativos dos últimos anos!


“Ela disse "eu me jogarei fora "
"Afinal, são apenas fotografias"
Eu não consigo fazer você ficar por perto
Eu não consigo tirar você da minha pele
Do lado de fora da moldura é o que estamos excluindo
Você não lembrará de qualquer maneira”


Steven “Steve” Barron já havia dirigido Billie Jean de Michael Jackson quando idealizou Take on Me um dos clipes mais sensacionais de todos os tempos.
O vídeo de Take on me tornou-se um clássico em 1985 ao unir imagens em preto e branco com imagens reais, e a animação feita a lápis também utilizou o processo de rotoscopia. O vídeo tocou exaustivamente na MTV e deu ao A-HA (banda norueguesa) um momento de glória no concorrido mercado norte americano.
O clipe narra uma romântica e fantasiosa história de amor entre duas personagens, a garota, interpretada pela atriz Bunty Bailey e Morten Harket (o vocalista da banda) que nada mais é do que um personagem de história em quadrinhos.
Eu como fã de HQ e de desenhos artisticos, não consigo deixar de admirar a criatividade desse clipe e de me impressionar com o processo detalhado de rotoscopia que transforma pessoas reais em desenhos animados.
Take on me é um deleite visual, e isso na década de 80, onde a tecnologia estava longe de ser avançada!


"Estamos conversando à toaEu não sei o que dizerDirei de qualquer maneiraHoje é outro dia para encontrar vocêSe AfastandoEstarei vindo pelo seu amor, ok?"


Imitation of life, é em minha opinião, e na de muitos críticos mundo afora, um dos mais ousados videoclipes da história.
Mike Stipe (o vocalista do REM) e Garth Jennings provavelmente estavam inspiradíssimos no dia que decidiram criar esse vídeo, e todas as impressões acerca dessa obra de arte só podem ser comprovadas após a visualização da mesma.
A história do clipe é contada de trás pra frente e é impressionante notar como cada cena, num emaranhado delas, se encaixam perfeitamente uma na outra sem falhas.
Primeiro vemos detalhes de uma cena maior que se desenrola sem pausas, depois, num ângulo mais fechado, conferimos que cada um dos fragmentos fazem parte de um todo muito mais complexo.
Coisa de gênio.
Imitation of life é o mais criativo entre todos os melhores videoclipes da história, sem falar em sua ousadia.

Nota 10!


“Como um tímido num tanque congelante
Como peixe dourado numa tigela
Eu não quero ouvir você chorar”

Fontes:
http://www.midiativasantos.com



NAMASTE!

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