28 de janeiro de 2013

Top 10 – A Trilha Sonora de Tarantino



É quase impossível desassociar os filmes de Quentin Tarantino das trilhas sonoras que ele meticulosamente seleciona para as cenas que escreve. O diretor de 49 anos nascido no Tennessee já divulgou em entrevistas que chegou a basear cenas de seus filmes em músicas que ouvia desde moleque (quando em geral, acontece o contrário no processo de criação de filmes), e olhe que o repertório musical de Tarantino é tão vasto quanto seu conhecimento de cinema!

Quem não se lembra logo de Tim Roth e Amanda Plummer (Pumpkin e Honey Bunny) anunciando um assalto na lanchonete em Pulp Fiction quando toca "Misirlou" de Dick Dale, ou sai pra dançar um Twist ao som de "You never can tell" de Chuck Berry feito John Travolta e Uma Thurman? Ou ainda, quem é que não se lembra logo de Elle Driver caminhando pelo corredor de um hospital vestida de enfermeira pronta a dar cabo de Beatrix Kiddo enquanto assovia o infernal "Twisted Nerve" de Bernard Herrmann na primeira parte de Kill Bill?

Os filmes de Tarantino estão intimamente ligados à música, e a dura missão desse Top 10 é elencar as melhores trilhas dentre tantas (deixando com um grande pesar obras-primas de fora da lista), as que mais possuem significado para as cenas ou simplesmente aquelas que não podiam ser deixadas de fora.

Aumente o volume e divirta-se!



Death Proof (Prova de Morte) faz parte de um projeto em que Tarantino aliou-se ao amigo (menos talentoso) Robert Rodriguez para recriar filmes de gênero Grindhouse, aqueles em que normalmente as mulheres protagonizam e que são produzidos com um baixo orçamento. 

Apesar de ser o filme menos inspirado da carreira do diretor, Death Proof ainda traz cenas memoráveis, entre elas a embalada pela música “Hold Tight” da banda britânica dos anos 60 Beaky/Dave Dee/Dozy/Mick/Tich, ou simplesmente “DDDBMT”.

Como não podia deixar de ser, Tarantino coloca seu conhecimento musical em jogo, e uma das personagens conta a história que envolve a música e o vocalista do The Who, que chegou a ser chamado para integrar a tal DDDBMT. É impossível não mexer a cabeça pra cima e pra baixo enquanto esperamos o choque eminente do carro à prova de morte do Dublê Mike (Kurt Russel) e o das amigas da Julia Selvagem (Sydney Tamiia Poitier) ao som de “Hold Tight”!



Essa é sem dúvida uma das cenas de acidente de carro mais fantásticas do cinema!



Se Death Proof é o filme menos inspirado da carreira de Tarantino, Jackie Brown é aquele que tem menos a cara de Tarantino, e isso se deve bastante ao fato de que o roteiro não é escrito baseado em uma história criada por ele.

Apesar do ritmo bem mais lento de Jackie Brown, o filme é recheado de referências ao universo “nigger” e a Blaxploitation, movimento cinematográfico voltado especificamente ao público negro norte-americano, o que inclui muita música Soul e Black.

Enquanto os letreiros sobem (ou descem, vão pra esquerda, direita... enfim!), já somos logo sacudidos pela balada “Across 110th Street” de Bobby Womack, cantor negro cujas músicas principais fizeram grande sucesso nas décadas de 60 e 70. A música conta o cotidiano de um personagem negro do gueto onde vive.



Interessante que o filme começa e se encerra embalado por "Across 110th Street", e rola uma certa melancolia enquanto a Jackie Brown (Pam Grier) dirige seu carro cantando tristemente a letra da música, se despedindo do público.



Django, você sempre foi solitário?
DJANGO!
Django, você nunca mais amou novamente?
O amor viverá, oh oh oh...
A vida deve continuar, oh oh oh
Pois você não pode passar o resto da vida se arrependendo

Pra quem não sabe, Django foi um personagem vivido pelo ator italiano Franco Nero na década de 60, e o Django de 2013 dirigido por Tarantino é mais uma homenagem do diretor ao cinema que ele tanto venera.
O tema de Django criado por Luis Bacalov & Rocky Roberts também era o tema do filme original, e a letra da música acabou casando bem com esse novo Django escravo que se livra das correntes para ir atrás de sua amada esposa Brunhilde.

A música é um verdadeiro chiclete, e não há como se livrar de seu refrão e da voz grave de Rocky Roberts uma vez que se ouve.




Django!
Django!



Quem mais além de Quentin Tarantino conseguiria imaginar uma luta entre duas samurais em um cenário cheio de neve, embalado por uma música Disco dos anos 70?

Uma das razões do sucesso desse maluco é justamente essa habilidade única que ele tem em criar esse tipo de amálgama entre coisas que aparentemente não possuem qualquer relação, e que em suas mãos acabam dando certo, a ponto de rolar aquela pergunta “Por que ninguém pensou nisso antes?”.

E não é que "Don’t let me be misunderstood" funcionou direitinho como fundo sonoro para a luta decisiva entre Beatrix Kiddo e O-Ren-Ishii?



Peço perdão por ter zombado de você!”.



"Stuck in the Middle With You" com certeza não é a música mais emblemática do longa metragem Cães de Aluguel (Reservoir Dogs - 1992), o primeiro como escritor e diretor de Tarantino. Quem se lembra do filme com certeza pensa em “Little Green Bag” de George Baker como a trilha definitiva da película, até porque a cena em que os Cães de Aluguel andam em câmera lenta enquanto os atores que os interpretam são apresentados ao público (logo após o diálogo na lanchonete sobre Like a Virgin), ao som da canção, fixa melhor na memória.

A cena onde o psicótico Mr. Blonde (Michael Madsen) tortura e mutila um policial preso a uma cadeira enquanto faz uma dancinha desengonçada ao som de "Stuck in the Middle With You", no entanto, é pra mim, a principal marca de Cães de Aluguel, razão pela qual escolhi essa música para integrar ao Top 10.

Todo o desenvolvimento da cena é espetacular, sem falar na interpretação do ator Kirk Baltz que vive o policial Marvin Nash e a frieza de Michael Madsen, que aliás, vive personagens filhos da puta como ninguém em Hollywood!!



A música cantada pela banda de folk escocesa Stealers Wheel possui trechos como “Estou tão assustado no caso de eu cair da minha cadeira”, “Sim, eu estou preso no meio com você e eu estou me perguntando o que eu deveria fazer” e “Tentando fazer algum sentido de tudo mas vejo que isso não faz sentido”, o que nos faz ter certeza de que as músicas escolhidas por Tarantino não são aleatórias. Elas estão sempre dentro do contexto da história.



Confesso que as trilhas de Tarantino me trouxeram o conhecimento de vários artistas dos quais eu nunca havia ouvido falar (perdão, Mundo!), entre elas The Coasters, a banda de Rhythm and Blues dos anos 50 que toca a deliciosa "Down in Mexico".

A cena antológica onde a personagem Arlene “Butterfly” (Vanessa Ferlito) sensualiza diante de Dublê Mike (Kurt Russel) em um show de Lap Dance ao som de "Down in Mexico" em Death Proof já entrou para os “anais” da história do cinema! E como entrou!



“De repente, caminhando com essa garota
Joe começa a tocar com uma Latina
Em torno de sua cintura ela usava três meias arrastão
Ela começou a dançar com as castanholas
Eu não sabia exatamente o que esperar
Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço
Começamos a dançar por todo o chão
E então ela fez uma dança que eu nunca vi antes


Dança nota 10!


Kill Bill é o filme com o maior repertório musical de Tarantino, e penso cá comigo que daria para fazer um Top 10 apenas da Trilha Sonora dos dois filmes sobre a Noiva. Exatamente por essa dificuldade em escolher as melhores músicas do filme, deixei me guiar pelo meu instinto, e a meu ver, não há música presente em Kill Bill mais emblemática que "Malaguena Salerosada banda “chicana” Chingon, de Robert Rodriguez.

A letra fala de um pobre rapaz que é feito de gato e sapato por uma garota rica, e mesmo não tendo porra nenhuma a ver com o enredo do filme e só tocar na cena final, quando então Beatrix já derrotou Bill e recuperou a linda B.B, mesmo assim ela representa a alma do filme, que é um misto absurdo de várias culturas, bem ao estilo Tarantino de fazer cinema.  



“Que bonitos ojos tienes
Debajo de esas dos cejas”


Patti Smith é considerada a “poetisa do punk” e começou a fazer sucesso na década de 70, onde então despontou para ser uma das cantoras mais influentes do Rock and Roll.
Minha paixão por “Baby It’s You”, que faz parte da trilha de Death Proof foi imediata, e desde então a música não sai mais da minha playlist diária, entrando inclusive nesse Top 10 na posição de Bronze




Que voz maravilhosa tem essa mulher!


Hoje não existe viva alma que não conheça a balada “Girl, You'll Be a Woman soon”, mas na década de 90 nem mesmo o Urge Overkill devia acreditar nessa canção, algo que foi completamente alterado quando Tarantino decidiu acrescentá-la ao soundtrack daquele que viria a ser seu filme de maior sucesso.

Pulp Fiction é meu filme favorito da carreira de Tarantino, acho difícil que o diretor consiga superar algum dia o que ele fez com esse longa, mas além de toda a estética criada, da popularização do roteiro não-linear e da restauração das carreiras de vários artistas, Pulp Fiction deixou marcado em nossas vidas principalmente as canções que embalam suas cenas.



Como esquecer a overdose de Mia Wallace e as divagações de Vincent Vega sobre comer ou não comer a mulher do chefe enquanto "Girl, You'll Be a Woman soon" toca na vitrola?


Mia Wallace e Vincent Vega são chamados ao palco do Jack Rabbit Slim’s para um desafio de Twist. A esposa de Marsellus Wallace os apresenta, e enquanto a banda se prepara para tocar, Vega tira os sapatos, iniciando em seguida uma das cenas mais reconhecidas e imitadas do cinema. A carreira decadente de John Travolta sofreu um "Boom" e Quentin Tarantino havia criado uma verdadeira obra-prima, nos dando doses cavalares de drogas, rock and roll e violência. Muita violência.  

Chuck Berry é considerado um dos pais do Rock N' Roll, uma lenda da música mundial e dispensa apresentações, e "You Never can tell" é com certeza uma das suas obras mais memoráveis de todos os tempos, que acabou sendo imortalizada de vez em uma das cenas mais emblemáticas do cinema. Palmas para Tarantino pela escolha. 



Confessa que você já imitou os passos do Travolta nessa cena alguma vez na vida, vai!



Clique AQUI para baixar a Trilha Sonora comentada nesse Post e abaixo para ler as críticas sobre Kill Bill (Vol. 1 e 2) e Django:






NAMASTE!

4 comentários:

  1. Muito bom, mais podia ter entrado tbm Tito e Tarantula do filme um Drink no Inferno com a Salma Hayek.

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    Respostas
    1. Com certeza fica para um Top 10 Danças Sensuais...
      Ahh, Salma Hayek!!

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  2. Bang Bang da Nacy Sinatra, abertura da primeira parte de Kill Bill <3

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