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20 de setembro de 2021

Para Ana Luiza

para Ana Luiza


No último dia 17, eu e a minha família perdemos a Ana Luiza, de 26 anos, para o câncer. 

Sua luta contra a doença durou apenas alguns meses entre a descoberta, o tratamento com a quimioterapia e os resultados negativos após a mastectomia. 

Em suas redes sociais, com uma fé que parecia inabalável, em nenhum momento ela pareceu duvidar de sua cura. Teve que pedir ajuda aos amigos e familiares para se manter firme com os custos do tratamento, mas não desanimou um só instante. Acreditou que ia ficar bem até o fim.

Ela e eu não éramos primos próximos. Sempre morávamos em cidades muito distantes em São Paulo. Era um daqueles casos de familiares que se perdem um do outro durante anos e que se reencontram muito tempo depois com já todo mundo crescido e estabelecido. 

Minha empatia por ela foi meio que instantânea. São-paulina fanática estampava em todos os lugares para quem quisesse ver o quanto amava o nosso Tricolor Paulista. 

Durante anos, fomos "companheiros" inseparáveis de elogios, birras, críticas e muito lamento – esse principalmente nos últimos anos! – com esse time por meio do Twitter e era lá que tínhamos a nossa ligação mais forte. 

Ela dizia que o Twitter "não era lugar para família cuidar da nossa vida" e como todo mundo, usava o espaço de poucos caracteres como diário da vida. Eu era família também, mas como ela dizia, era bem-vindo. 

Ana Luiza



Por razões que só a vida pode explicar, eu encontrei a Analu apenas uma vez pessoalmente e foi – pasmem – num velório há alguns anos. Já a conhecia por fotos e claro, tínhamos contato pelas redes sociais. Ao vivo, nunca. 

Nossas famílias eram bem distantes uma da outra e as reuniões familiares passaram a rarear cada ano mais com os falecimentos naturais de parentes mais velhos. 

Apesar disso, eu a considerava como alguém próximo. As redes sociais nos fazem sentir como se a pessoa do outro lado estivesse "logo ali" e de um jeito ou de outro, ela estava sempre conversando comigo com suas postagens no Twitter

Linda. Alegre. Sincera. Essa era a Ana Luiza que eu conhecia. Não consigo imaginá-la de outro jeito. 

A partir do momento que ela deu entrada no hospital já em estado grave, eu passei a questionar o quanto todo esse sofrimento era injusto. 

Como alguém tão jovem e com tanta coisa ainda para viver pode passar por algo tão terrível?

Que tipo de justiça divina é essa que permite que uma moça tão cheia de fé em sua cura possa ser violada dessa maneira por uma doença tão feroz que não perdoa ninguém? 

E por que ela, que queria tanto viver?

Por que não eu que passei os últimos dois anos praticamente pedindo pra ser levado daqui porque já não acreditava mais em nada e não tinha mais nenhum propósito de vida? 

Às vezes, eu acho que se tem mesmo alguém lá em cima olhando tudo isso acontecer sem reação alguma, é alguém de puro sadismo.

E às vezes, eu acho que não existe ninguém. 

Analu, como seu amigo distante, eu desejei muito a sua cura. Até o último segundo acreditei que você fosse sim ser abençoada com uma melhora em seu quadro de saúde e que em breve estaria entre nós mais uma vez, abraçando seus entes queridos, vibrando com o São Paulo – nos momentos bons e ruins –, revendo seu Toy Story, curtindo seu Coldplay, jogando seu Free Fire, dando apertões carinhosos na sua Tereza e abrindo esse sorrisão lindo que tu tinha.  

Infelizmente, o universo não quis assim.

Nos vemos em breve então, quem sabe. Eu vou com a camisa do Tricolor, que tal? Eu e você na torcida lá de cima gritando muito, xingando palavrão… ia ser hilário! 
Fica em paz prima! Você foi, é e sempre será incrível! Nós te amamos!

P.S. - Parei de usar o Facebook há algum tempo e não o tenho mais instalado no celular. Apesar disso, mantenho o Messenger para algum tipo de emergência, sei lá. 
Há alguns dias, quando a Ana Luiza ainda estava em tratamento regular, eu mandei uma mensagem perguntando como ela estava passando por tudo isso. A ideia era bater um papo, manter uma proximidade, passar algum tipo de esperança, embora ela já a tivesse de sobra. Como a mensagem ficou sem resposta por um tempo, achei que ela não tivesse visto ou não tivesse ligado. 
Ao abrir o Messenger recentemente, descobri que ela tinha me respondido dia 08/09, apenas 5 dias antes de ser internada pela última vez. O app não me notificou e eu jamais vou ter a chance de responder aquela pergunta. 

Ana Luiza



P.S. 2 - Vou sentir falta de assistir futebol e depois ler os comentários da Analu marrenta no Twitter. A bicha era braba!
Os jogos do São Paulo nunca mais vão ser os mesmos sem ela...

Analu braba



NAMASTE!

19 de abril de 2021

Para Peter

Será que os cães vão para o Paraíso?

Hoje eu perdi o meu melhor amigo e não há nada que eu escreva aqui que vá confortar meu coração. Ele vinha há alguns anos lutando contra um câncer que o estava debilitando bastante, comprometendo ainda mais a sua já cansada forma física. O Peter tinha 15 anos, estava na família há bastante tempo e é difícil descrever a falta que já está me fazendo.

Eu o adotei quando ele tinha alguns meses de vida. Uma colega de trabalho tinha dito que ele e seus irmãozinhos estavam sendo doados por vizinhos, o que me fez pensar em ter uma companhia canina. Nós já tínhamos tido alguns cães em nossa casa durante a minha infância, mas na época, acabei não tendo muita ligação emocional com eles. O Peter foi o meu primeiro cachorro de certa maneira. Por alguma razão, eu sempre quis ter um animalzinho em casa — além dos infinitos gatos de minha mãe que iam e vinham — e minha conexão com aquele vira-lata de pelo branco foi imediata.

Não tem jeito. Por mais que a gente queira se preparar para o momento da despedida, nada é capaz de nos acalentar quando a hora da separação chega. Eu estou escrevendo esse texto poucas horas depois de dar o último adeus ao meu amigo, por isso, espero que quem esteja lendo isso me perdoe pelas incoerências e erros gramaticais.

Por conta da doença, nos últimos meses o Peter vinha sofrendo algumas convulsões que paralisavam suas patas traseiras e o deixava ofegante. Nada era mais doloroso do que vê-lo sofrer sem poder fazer nada. Eu costumava ficar com ele quando essas convulsões aconteciam, não porque eu achava que o pudesse ajudar, mas para confortá-lo, fazê-lo se sentir seguro, talvez feliz por ter companhia na hora da dor. Eu não sei. Queria ter podido fazer mais.

Eu tenho muita dificuldade para lidar com a morte e sempre tentei adiar o máximo possível falar disso no âmbito familiar. Eu chorava só de pensar em ter que me despedir do meu amigo e agora que o momento chegou, eu mal consigo acreditar que não vou mais vê-lo, que ele não vai mais estar na sua casinha, que ele não vai mais andar até mim quando me ver chegar da rua. Os anos o deixaram mais lento, mais frágil, mas sempre era bom ser recepcionado com aquele balançar de cauda, aquele olhar de felicidade ao me ver. Cara! Não deve ter nada no mundo que se compare a isso!

Eu tenho diversas boas memórias do Peter nesses 15 anos e uma delas é vê-lo jovem e saudável correndo atrás de uma bola brincando comigo e com meu sobrinho Michael no quintal de casa. O “Pete” — Píti —, como a gente o chamava, era aquele filhote do tipo “elétrico” que não conseguia parar quieto no lugar, sempre brincalhão e alegre. Pulava nas nossas pernas dando aquele “coice” com as patas traseiras e quando agarrava alguma coisa com os dentes afiados, não queria mais largar. Eu demorei a perceber que os anos tinham passado e não saberia dizer quando foi que ele parou de ser tão agitado, assumindo então sua velhice.

Uma das minhas melhores memórias com o Peter foi na época no fim do meu primeiro grande relacionamento amoroso, que na época, me deixou muito mal. Eu não era de demonstrações públicas de sofrimento, por isso, me escondi numa das duas casas do quintal da minha mãe e me sentei lá para chorar as dores do amor perdido. Como eu disse antes, o Peter sempre foi um bicho muito animado e bagunceiro, ele jamais chegaria perto de mim sem pular em cima ou latir primeiro, mas naquele dia, como que respeitando a minha tristeza — e eu estava em lágrimas por causa do fim do namoro — o Peter chegou próximo de mim, me viu ali sentado e simplesmente se deitou ao meu lado, calmamente, silenciosamente, como ele nunca tinha feito. Aquela foi a maior demonstração de amizade que eu havia recebido na vida e depois daquilo, passei a entender que os cães eram com segurança as criaturas mais amáveis da face da Terra. Eu amava o Peter.



Depois que eu comecei a trabalhar diariamente com raríssimos intervalos de férias, feriados e fins de semana, eu meio que parei de acompanhar a evolução daquele meu cachorro antes feliz e saudável para o velhinho doente, mas todas as vezes que eu chegava em frente ao portão, ainda era muito bom ver aqueles olhos brilhando em minha direção, dele sobressaltando de onde quer que estivesse para me recepcionar com alegria. Não importava o quão ruim tinha sido o meu dia, tudo passava quando eu acariciava aqueles pelos brancos e fazia um cafuné na cabeça daquele vira-lata. Por anos, o Peter era a única constante em minha vida. Mesmo triste, cabisbaixo, infeliz, zangado ou simplesmente de saco cheio da vida, aquele cachorro ainda me tirava um sorriso e me fazia falar com aquela “vozinha” que todo mundo faz quando se dirige ao seu pet.

Eu me acostumei durante os últimos meses a ir para a sala assistir algum filme ou série e preparar algum sanduíche ou algo rápido antes para comer na cozinha — rotina quase certa durante a pandemia —, e essa era a hora que ele sempre aparecia na porta, como quem dissesse “ei, amigão, tem algo aí pra mim? ”. Era eu acender a luz para ele colocar a cabeça na porta e eu o dar algum mimo, em especial aqueles biscoitos para cães que ele adorava. Mesmo já não tão ágil e nem com tanta firmeza no maxilar, ele pegava o biscoito com o máximo de delicadeza e saía para mastigar, já se preparando para vir buscar outro. Parece uma coisa simples, mas até disso eu venho sentindo saudades. É uma dor que parece que não vai embora nunca. O último pacote de biscoitos ficou no armário, ainda pela metade.

Essa noite eu fui dormir querendo sonhar com o Peter, para poder me despedir melhor dele, para lhe dar o abraço que eu não dei e tudo que espero para os próximos dias é que eu sinta a presença do meu tão querido amigo nem que seja só para me dar um “oi”. Eu tenho estado muito isolado, solitário nesses meses de pandemia e eu sentia que o Peter era minha última conexão com o mundo. Enquanto as lágrimas rolam em meu rosto nesse momento, rogo para que, se é que esse lugar existe, o meu cachorro tenha um lugar especial no Paraíso, e que ele seja bem tratado lá, correndo feliz entre as nuvens e pulando nas pessoas com sua energia inesgotável.



Descanse em paz, amigão. Espero te ver novamente um dia!

NAMASTE!      

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