17 de julho de 2012

Review - O Espetacular Homem Aranha



Eu fui ao cinema para a sessão de O Espetacular Homem Aranha não com um pé atrás com relação à produção, mas sim COM OS DOIS pés atrás, isso por vários motivos já citados aqui por mim em outro post. A expectativa já estava lá embaixo, mas não é que o filme me surpreendeu?

Ele conseguiu ser pior do que eu esperava.

As comparações de O Espetacular Homem Aranha com os filmes, de certa forma ainda recentes da trilogia dirigida por Sam Raimi, são inevitáveis. É o que praticamente todo mundo que assistiu os quatro filmes está fazendo, por isso tentarei me ater ao “filho teioso” mais novo da Sony, sem falar de Sam Raimi (não prometendo que conseguirei). 

Ao sair do cinema após a sessão, fica claro que o que foi feito não é uma sequência e sim um reboot. Nada que foi visto anteriormente vale nesse filme. Esqueça teias orgânicas, esqueça Mary Jane e esqueça Peter Parker nerd e bobalhão. Somos apresentados a um Peter Parker (Andrew Garfield) muito mais descoladão, que apanha sim na escola, mas que enfrenta seus adversários de peito aberto, mais ou menos como o Steve Rogers fracote do filme Capitão América - O Primeiro Vingador.


O filme tenta nos manter interessados no passado secreto dos pais de Peter Parker logo em seu início, mas na metade do filme ninguém nem se lembra mais disso, já que o próprio filme se foca no relacionamento de “pai e filho” entre Peter e seu Tio Ben (Martin Sheen), com algumas participações especiais da Tia May (Sally Field totalmente subaproveitada na história).
O roteirista James Vanderbilt cria uma conexão entre um experimento que está sendo criado na Oscorp que visa tanto tratar uma doença que está matando Norman Osborn (que não aparece no filme) quanto satisfazer os desejos pessoais do Dr. Curt Connors (Rhys Ifans) em regenerar seu braço amputado (que nem explicam como ele perdeu). Richard Parker (Campbell Scott), o pai de Peter, trabalhava nessa fórmula com Connors quando então ele misteriosamente morre em um acidente aéreo com a esposa Mary (Julianne Nicholson), deixando Peter orfão com o irmão de Richard, Ben Parker.


Curioso quanto ao passado do pai, Peter começa a investigar por conta própria, a partir de anotações feitas por seu pai em um diário, a relação de Richard, Connors e a Oscorp, e bisbilhotando na empresa do todo poderoso Osborn ele acaba se vendo em meio a experimentos genéticos com animais feitos pelos cientistas. Após entrar em uma sala "secreta" com relativa facilidade, ele acaba se  deparando com várias aranhas “mutantes”, e sem saber, acaba saindo de lá com uma delas em seu pescoço. O resto você já pode imaginar.

Partindo do pressuposto de que todo mundo já sabe a trajetória do Homem Aranha desde que ele conseguiu seus poderes, Marc Webb imprime um ritmo corrido a seu filme, deixando de explicar ou simplesmente ignorando alguns pontos senão essenciais, necessários para o entendimento do filme.
Em pouco tempo o garoto é picado por uma aranha, troca pescotapas com alguns encrenqueiros dentro de um trem, descobre reflexos físicos que nunca teve, além de uma aderência incomum dos dedos... Embora desnecessária, foi uma forma inusitada e criativa de fazer Parker descobrir no filme que algo havia mudado em seu metabolismo depois do contato com a aranha alterada geneticamente. 


O acidente que dá poderes aracnídeos ao jovem rapaz não se parece com nada que eu já tenha visto ou lido antes, e a todo momento eu me perguntava se aquele era mesmo um filme do Homem Aranha ou de um Homem Aranha. Se trocassem o nome dos personagens e dissessem que aquele garoto com dons de aranha se chamava Miguel O’Hara ou sei lá, Rodrigo Guevara (Essa aliás, a melhor parte do filme!) eu nem me importaria tanto.
O fato é que em quase nada aquele se parece com o personagem que conheço há quase 20 anos, e embora eu tenha aprendido a perdoar alguns tipos de “liberdades poéticas” de roteiro ou adaptações cabíveis em filmes que visam levar para o cinema algum personagem de quadrinhos, pra tudo tem limite. Não me pareceu que Marc Webb e sua trupe quiseram fazer certas alterações no conceito do Homem Aranha como a atitude Sk8er Rock do Peter Parker ou mesmo nos fatos que levaram a morte do Tio Ben (pô! Isso não é Spoiler! Todo mundo sabe que ele empacota!) para que a história ficasse mais crível, e sim porque “ficaria mais descolado para a nova geração”. Não duvido que a nova política da Marvel de reaproximar o Aranha do público para o qual ele foi concebido tenha feito sombra sobre a produção do reboot cinematográfico, daí a necessidade de se apresentar um Peter Parker mais vida loka próximo da realidade atual. Afinal, quem é que hoje em dia ainda iria torcer por um nerd completamente idiota sem jeito com as mulheres em um filme?

Voltando a história.

Correndo para nos apresentar um Homem Aranha diferente de tudo que já vimos, o roteirista do filme muda o foco das preocupações do personagem a cada meia hora da fita. Primeiro ele quer saber quem são os pais, depois ele está preocupado com seus novos poderes, depois ele está querendo vingança contra o bandido que matou o Tio Ben, depois ele está ocupado com sua vida de super-herói e no meio disso aparece um Lagarto gigante atacando a cidade de Nova York enquanto Peter tenta impressionar a garota dos seus sonhos Gwen (Emma Stone) falando logo de cara que ele e o Homem Aranha são a mesma pessoa


Ufa!!
Não há um foco específico, e tudo parece meio jogado na trama, de forma meio inconsequente.  A motivação de Peter Parker em se tornar um herói sempre partiu do assassinato de seu tio, o drama de ter podido impedir o bandido que tirou a vida daquele que fora um pai para ele e não ter feito nada, e essa culpa me pareceu diluída no filme, trocada apenas pelo desejo de vingança puro e simples. O que chama o rapaz para a dádiva dos ninjas dos grandes poderes, grandes responsabilidades (frase que não é dita com essas palavras) é um acidente na ponte em que o Aranha acaba salvando várias pessoas do ataque do Lagarto (em uma cena sem apelo dramático algum!), mas em nenhum momento isso é inspirado pela morte do tio Ben.
Talvez eu esteja sendo levado por minha “fanboyzisse”, pelo Aranha ser meu herói preferido e por eu o ter visto tão descaracterizado na tela, mas muita coisa me desagradou enquanto eu via o filme. O que me preocupa é que meu sentido de Aranha estava ligado o tempo todo para que eu não me equivocasse em não gostar do que estava vendo apenas por picuinha, por gostar (ainda) muito do filme de Sam Raimi (o primeiro), mas então me ative ao fato de que em Vingadores também mudaram muita coisa do conceito básico dos personagens (Gavião Arqueiro agente da SHIELD, Jarvis Inteligência artificial, Viúva Negra nos membros fundadores), mas nenhuma das alterações me fez gostar menos do filme, porque o todo valeu e muito a pena. Vi o filme duas vezes no cinema e me diverti como poucas vezes consegui, enquanto em o Espetacular Homem Aranha eu só bocejava na última meia hora de filme. 


O que mais me desagradou em O Espetacular Homem Aranha foi o exagero. A cena da ponte em que o Aranha segura um carro com a força do braço e deixa vários outros veículos a salvo presos a sua teia foi uma das mais forçadas que já vi. A variação de força do personagem chegou a confundir às vezes, uma vez que um cara que é capaz de segurar um carro teria esmagado os ossos dos policias na cena em que ele luta contra a Polícia, visto que ele nem havia aprendido a controlar seus poderes. As demonstrações de “sou foda, na cama te esculacho, no beco ou no carro” também são ridículas. O que dizer da demonstraçãozinha de Air Jordan na quadra contra Flash Thompson (Chris Zylka) em que Parker arrebenta a tabela de basquete ou no campo de futebol em que ele entorta a trave com um arremesso?


E das cenas desnecessárias como ele tecendo sua teia nos esgotos para captar as vibrações nos fios na tentativa de localizar o Lagarto e que no fim das contas não serviu pra nada?
Reclamaram tanto dos filmes do Sam Raimi nunca terem explicado como diabos Peter conseguiu fazer aquela fantasia de Homem Aranha sendo que ele contava moedas para poder comprar um carro e impressionar a Mary Jane, e só porque em O Espetacular Homem Aranha aparece o personagem pesquisando por uns dois segundos o material que ele usaria para a roupa todo mundo já ficou satisfeito. Grandes coisas!
Sem falar na rapidez com que ele construiu o lançador de teias (sim, porque ele é um gênio!), baseando-se em experimentos feitos na Oscorp! A meu ver, em um filme que pretende ser realista, nenhuma dessas desculpas é suficientemente boa, nem no filme atual e nem nos anteriores. 


Se colocar na balança, acho que O Espetacular Homem Aranha tem mais erros do que acertos, mas das coisas que em minha opinião Marc Webb fez muito bem foi evitar o uso de CGI. As cenas em que vemos o Homem Aranha de verdade se balançando em sua teia ou nas cenas de ação dão um tom menos ficcional ao filme, e esse é um ponto positivo com relação ao que Sam Raimi fez em sua trilogia, já que ele usava um boneco digital até mesmo em cenas desnecessárias, em que um ator comum ou um dublê poderiam fazer sem problemas.
Ver o Aranha sacaneando o bandido na cena que já aparecia nos trailers (do arremesso de teia supersônico) também foi bem bacana, e deu um tom meio babaca ao personagem, que já vimos em várias oportunidades nas HQs. Um dos motivos para que todos os vilões odeiem o herói aracnídeo é exatamente esse: Seu poder de irritar todo mundo com suas gracinhas. É uma pena que isso não foi explorado o suficiente para que pudéssemos simpatizar com o personagem. 


Outro ponto positivo na produção foi a escolha do elenco, que deu prioridade a artistas tarimbados como Martin Sheen e Sally “mãe do Forrest” Field e outros que não fizeram feio como Rhys Ifans que deu vida a um Curt Connors crível, possível de existir na vida real, diferente daquele seu alter-ego grotesco e sem profundidade de roteiro que mais parecia uma mistura de Dino da Família Dinossauro com o Godzilla.
Andrew Garfield tem a cara de Zé Mané que o personagem necessita, e se mostrou competente na interpretação de Peter Parker, apesar de eu discordar completamente da caracterização que quiseram imprimir ao personagem. Ele mostrou que consegue passar do drama ao humor sem perder o ritmo, e se dá bem também nas cenas de ação, apesar de parecer um tanto quanto magrelo, se assemelhando mais ao Aranha desenhado por Steve Ditko (mais tarde revisitado por Ron Frenz) do que o de John Romita (o pai). 


Não vi muito da Gwen Stacy que conheci nos quadrinhos (a do Universo 616 pelo menos) em Emma Stone, mas ela está mais próxima da personagem do que Bryce Dallas esteve no trágico Homem Aranha 3 de Sam Raimi. A interpretação da garota, no entanto, fez jus ao que o público podia esperar do interesse romântico do herói e já me agradou mais o fato de não vê-la como a eterna mocinha em perigo, pelo menos não diretamente, já que ela corria risco sim, dentro da Oscorp enquanto o Lagarto pretendia foder a porra toda com seu plano “brilhante” de transformar toda a população em lagartos humanos. 
Aliás, em se tratando de motivação de vilões, quando é que a Marvel vai fugir desse plano clichê que vem se repetindo em todos os filmes praticamente desde X-Men 1? Os vilões querem sempre a mesma coisa: Transformar a população em seres semelhantes a eles!
O casal Peter e Gwen não chega a emocionar ou passar muita credibilidade, mas funciona melhor do que Peter e a Mary Jane piriguete dos filmes, que só se interessou por ele depois que descobriu que ele era o Aranha. Seja como for, achei meio forçada a situação de Peter Parker já revelar sua identidade para a garota em seu primeiro encontro, numa tentativa desesperada de fazê-la se interessar mais rápido. Se bem que eu me perguntei se eu não faria o mesmo se ganhasse poderes de uma hora para outra. Acho que todo mundo faria!


Em suma, O Espetacular Homem Aranha não é um filme horrível do tipo Elektra ou Motoqueiro Fantasma e nem espetacular (apesar do título) como Vingadores, mas é “assistível”. Não saí decepcionado (como em Homem Aranha 3) do cinema, até porque a expectativa já estava lá embaixo, mas confesso que eu queria ser surpreendido positivamente. No fundo no fundo eu esperava que o filme tivesse um efeito X-Men First Class, que levantou a franquia mutante (derrubada em X-Men 3) de forma inteligente e competente. Na minha opinião passou longe disso, e ainda fico com a emoção que tive ao ver o Homem Aranha no cinema pela primeira vez em 2002.
A falta de cenas impactantes, de momentos de exaltação, daqueles que nos fazem pular da poltrona torcendo pelo herói me fizeram achar o filme de morno para frio, e nessa hora é bem difícil não preferir o primeiro longa em que Tobey Maguire representava o Peter Parker que eu conhecia.  

Depois de Homem Aranha, desisto de ver filmes em 3D comum no cinema. Além de não acrescentar nada a história ou às cenas de ação, o efeito acaba incomodando em alguns planos, tornando-se desnecessário. Não me lembro de praticamente nenhuma cena em que o 3D me deu aquela sensação de “Uau”, e só o vi bem empregado ao fim do filme, quando o Escalador de Paredes joga sua teia na cara da plateia. O som (mais uma vez) baixo demais também deixou a desejar (puta que pariu, hein, Cinemark!) e não ajudou a me empolgar. Pelo contrário. A sessão me deixou com sono.
Na próxima vez dou parte do dinheiro que gastaria com alguma sessão em 3D para algum mendigo na rua. Aposto que será uma grana muito mais bem gasta!


Se você ainda não viu, não veja vá ao cinema e tire suas próprias conclusões. Percebi muita gente se divertindo bastante nas cenas “engraçadinhas” do filme enquanto eu achava tudo muito chato, portanto, acho válido indicar o filme a outras pessoas que não gostem tanto assim do personagem e que só queiram desligar o cérebro por algumas horas.
O único momento em que ri na sessão foi quando ao aparecer uma figura misteriosa para falar com o Dr. Connors, já na cena pós-créditos, alguém na fileira de trás perguntou: “Quem é esse? É o Thanos?”. Rachei de rir.

NOTA: 6

NAMASTE!

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