Eu não tive a oportunidade de escrever sobre Wolverine
Imortal (The Wolverine) quando o filme estreou nos cinemas por aqui em
terras tapuias, mas agora com o lançamento do Home-Video (DVD , Blu-Ray) essa
chance retorna para a ponta dos meus dedos. Afinal, o que eu, que critiquei
tanto o primeiro filme solo do Carcaju canadense (num dos primeiros posts aqui
do Blog do Rodman), achei da segunda empreitada da FOX com o personagem?
Sigam-me os bons!
Em primeiro lugar devo ressaltar que The Wolverine me agradou
bem mais que X-Men Origens: Wolverine. O filme é mais bem dirigido, possui um
roteiro mais elaborado e cenas de ação muito melhor produzidas que seu
antecessor. James Mangold (de Os Indomáveis com Russel Crowe e Johnny & June
com Joaquim Phoenix), o diretor da bagaça, tinha um roteiro pronto com a HQ
escrita por Chris Claremont e desenhada por Frank Miller em mãos (resenhada
aqui por mim), mas como nem sempre tudo são flores, ele contou com a ajuda de
Scott Frank (Minority Report) e Mark Bomback (O Vingador do Futuro com Colin
Farrel) para fazer a adaptação da história em quadrinhos, e isso ocasionou o que
podemos chamar de uma pequena pulga atrás da orelha não só para os fãs de Eu,
Wolverine (a HQ), mas também para quem em geral é fã do personagem mutante.
O enredo se passa algum tempo depois de X-Men: The Last
Stand, e após um flashback em que acompanhamos Wolverine (Hugh Jackman) em
Nagazaki salvando a vida de um jovem
soldado chamado Yashida (Ken Yamamura) em plena Segunda Guerra Mundial, vemos
que o Carcaju abandonou seus amigos mutantes e se isolou em uma caverna,
atormentado pelo espírito de Jean Grey (Famke Jansen), a mulher que ele amava e que fora
obrigado a matar. Inquieto com seus próprios demônios pessoais, Logan vive o
grande drama que permeia toda a história de The Wolverine: Como pode ele
suportar a dor de perder aqueles que ele ama enquanto seus dons fazem dele um
ser imortal?
Disposto a ficar isolado, achando assim que pode afastar a
dor das perdas, seu destino se altera quando ele é abordado por uma habilidosa
jovem japonesa chamada Yukio (Rila Fukushima) que o convence a viajar para o
Oriente a fim de se despedir do agora velho Yashida, o mesmo homem que ele
salvara da explosão atômica de Nagazaki no passado.
Uma vez no Japão, Logan
descobre as reais intenções de Yashida (Hal Yamanouchi) e se vê tendo que
escolher entre sua imortalidade e uma vida comum, sendo capaz de envelhecer e
morrer como qualquer pessoa.
Próximo do inevitável fim e convencido que Logan
não lhe dará seu fator de cura de bom grado, Yashida coloca a vida de sua neta
Mariko (Tao Okamoto) sob a proteção do herói canadense, alegando que forças
maiores desejam liquidá-la tão logo ela se torne a herdeira de toda a fortuna
da família. Decidido a ir embora, Wolverine volta a ser
atormentado pelos pesadelos com Jean à noite, quando então ele recebe uma
inesperada visita da oncologista que trata Yashida, a perigosa Víbora (Svetlana
Khodchenkova). Após esse evento, Logan percebe que sua vida não será mais fácil
como antes, e que ele agora goza da mais pura e simples mortalidade.
Parece um bom enredo, certo?
Pois é. Só parece.
É realmente incrível a capacidade que alguns roteiristas têm
de transformar em merda uma linha de texto tão fácil de fazer dar certo, e após
nos deleitarmos com ótimas cenas de ação em que Wolverine retalha os capangas
da Yakuza mandados para acabarem com Mariko enquanto ele a protege, o filme
embala numa ladeira sem fim, que só volta a subir lá por volta da cena
pós-crédito, que aliás dá um gancho perfeito para X-men: Dias de um Futuro Esquecido.
Ai, Rodman! Mas o filme é massa!
Em certos aspectos concordo com você, jovem padawan, as
cenas em que Wolverine utiliza livremente suas afiadas garras de adamantium
para tirar do caminho os agentes da Yakuza são felomenais, parafraseando o
grande Giovanni Improta, e embora não vejamos uma só gota de sangue, existem
sequências bem agressivas no filme. O fato do poder de cura de Wolverine ser reduzido
a zero também consegue tornar as suas situações heroicas bem interessantes, a
medida que ele começa a ser alvejado de todos os lados tentando salvar a vida da
herdeira do império Yashida e não se recupera com a mesma velocidade que antes.
Porra! No começo do filme ele sobrevive a queimaduras de uma bomba atômica, e
lá pela metade do mesmo ele sangra sem parar com um “tirinho” de doze bem na
caixa dos peitos!
Considerando que na época do lançamento de Eu, Wolverine o
personagem ainda não era o imortal mothafucka que é hoje, e que ele apanhava de
um tiozinho com uma espada de madeira e levava dias para se recuperar de um
shuriken envenenado, é interessante a maneira com que Mangold e seus
roteiristas encontraram para reduzir essa vantagem de Logan sobre seus
adversários. Tirando isso e algumas cenas isoladas (como o “flechamento” ninja),
não vemos muito mais da HQ no filme, e é aí que o roteiro peca.
Pra começar, o plano de Yashida para obter à força o fator
de cura de Logan é algo digno de Dr. Evil!
Como uma criança mimada ele subjuga o herói e absorve seus
dons (através das garras??), voltando a sua aparência juvenil da época da
Segunda Guerra, e isso depois de utilizar uma técnica de vilão do Scooby-Doo de
se fingir de morto e aparecer vivo ao final do episódio ao ser desmascarado!
O grande vilão de Eu, Wolverine, o velho que espanca Wolverine com uma espada de madeira é rebaixado no filme a um
pai invejoso que deseja a morte da filha para conseguir seu objetivo: A
conquista! A conquistaaaa!
Shingen (Hiroyuki Sanada) mais parece um homem “recalcado”
com a própria falta de talento para os negócios da família do que
necessariamente um vilão, e embora seu combate final com Wolverine seja
fotograficamente muito bem produzido, toda a linha narrativa do personagem é
desnecessária na trama, já que ele não passa de um invejosinho de merda cujo
pai (Yashida) preferiu deixar o controle dos negócios para sua neta (Mariko) em vez dele.
A personagem Víbora, que além do colante verde em mais nada
se parece com a Víbora (Madame Hidra) dos quadrinhos, é uma boa vilã, mas seus
nojentos poderes de serpente a descaracterizam completamente, deixando-a longe
da mulher que chegou a casar com Wolverine nas HQs. Tudo bem que ela era uma
mercenária, mas qual seria seu real ganho com a conquista de Yashida? Em nenhum momento seu verdadeiro objetivo fica claro para o espectador, e parece que ela é má, apenas por querer ser assim.
Outro desperdício completo é o personagem Kenuichio Harada
(Will Yun Lee) que no filme sofre de uma bipolaridade foda, mudando de lado na
batalha como um barco à vela conduzido pelo vento. Nas HQs, Harada é o homem
que veste a armadura do Samurai de Prata e que chefia uma facção da Yakuza. Por
lá, ele é meio-irmão de Mariko e no filme os dois tiveram um interesse
romântico na juventude, o que o torna obcecado em protegê-la. Apesar disso, ele
não pestaneja em se aliar a Víbora para raptar a moça sabendo que ela será
morta, e mais rápido ainda ele se volta contra a vilã enquanto o Samurai de
Prata (que não é ele!!) ameaça cortar Wolverine em dois, matando Mariko também
no processo. Por que colocar Harada no filme se ele não é o Samurai de Prata? E
pra que desperdiçar o personagem com essa bipolaridade e falta total de
caráter?
Toda essa confusão e suposta ganância familiar cria um quiproquó
generalizado no ato final do filme, manchando o que até então era uma história
bacana de um ronin que procura seu caminho enquanto reaprende a viver com sua
maldição.
Como um filme de samurais, The Wolverine é bem interessante,
tem ótimas referências à cultura japonesa, há nuances da disciplina oriental da
Terra do Sol Nascente em alguns personagens, tem ótimas tomadas de cenários
tipicamente japoneses e uma fotografia muito bonita devido esse cuidado em
representar o país. Infelizmente isso não segura sozinho o filme, e mais uma
vez a ânsia dos produtores de encher a história com personagens acaba tornando
vários deles vazios e desnecessários para o enredo. Mais uma vez uma pena. Quem
sabe eles não acertem no terceiro filme (se houver um), o que promete ser o
último de Hugh Jackman na pele do Wolverine, agora que o ator já anuncia sua
provável aposentadoria do herói. Apesar do físico invejável, Jackman que está
com 45 anos já apresenta algum desgaste nas cenas de ação e infelizmente ele
não possui o fator de cura de seu personagem.
Extras
Vale a pena dar uma conferida nos extras do DVD de Wolverine
Imortal. Enquanto rolam algumas cenas de bastidores (incluindo algumas delas
sem os efeitos especiais e Chroma-Key) os atores, diretores e produtores
dissertam sobre a ótica do filme sobre o personagem Wolverine. O próprio Chris
Claremont, escritor da HQ que inspirou o roteiro do filme, explica de onde
surgiu sua parceria com Frank Miller e sua visão peculiar sobre o Carcaju
canadense. Claremont acrescenta que, apesar de Hugh Jackman ter quase um metro
e noventa de altura, ele sempre representou a essência do Wolverine das HQs no
cinema, o que o tornou apto ao papel desde o início. Realmente carisma nunca
faltou a Jackman à frente do personagem, e apesar de ser um Wolverine muito
mais brando na telona daquele que estamos acostumados a ver nos quadrinhos, ele
merece sim nosso respeito pelo que fez até hoje na franquia X.
Basta saber, quem será o próximo a assumir as garras de
adamantium no cinema. Vocês têm alguma aposta?
NOTA: 7,5
NAMASTE!
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