Capitão América – Guerra Civil é o décimo terceiro filme
lançado pela Marvel Studios, e embora tenha vários elementos que nos fazem
lembrar das demais produções (que todo mundo já conhece como o “jeitinho
Marvel”), consegue surpreender com um roteiro muito bem alinhado e cenas
espetaculares de ação, dirigidas pelos irmãos Anthony e Joe Russo.
Os irmãos Russo que vinham de trabalhos pouco visados e em
sua grande maioria comédias, já haviam surpreendido na direção de CapitãoAmérica 2 –Soldado Invernal, considerado como o filme mais sóbrio da Marvel
desde o lançamento de Homem de Ferro 1 de 2008. O tom engraçaralho das
produções da Marvel precisaram de uma revisão depois de Soldado Invernal, cuja
história não só mergulhou o universo dos heróis num inferno, como também
redefiniu o conceito da SHIELD e do próprio Capitão América. Se Nick Fury
(Samuel L. Jackson) era a liga entre os principais personagens desse universo,
à partir de Soldado Invernal ele se tornou apenas uma sombra que daria suporte
apenas quando a coisa tivesse MUITO feia. Já em A Era de Ultron ele admite que
já não tem a mesma influência de antes, e que agora precisa agir realmente na
“encolha” enquanto vê o mundo ser cercado cada vez mais de ameaças que nem ele
e nem a defasada SHIELD podem mais lutar contra.
Em Guerra Civil vemos o mundo começar a temer os imensos
poderes dos super-humanos, que na tentativa de proteger as pessoas, acabam
causando destruições incalculáveis por onde passam. Tendo como porta-voz a
figura do agora Secretário de Defesa Thaddeus E. “Thunderbolt” Ross (William
Hurt) os governos de 117 países se unem para criar o Tratado de Sokovia, algo
que funciona como uma lei de registro para super-humanos e que permite que eles
utilizem seus poderes sob o controle da ONU. O nome do tratado se refere à
tragédia causada pelo robô Ultron na cidade que acabou sendo destruída pelos
Vingadores, e uma vez aprovado, torna automaticamente um fora-da-lei aquele que
não se sujeitar a aceitar ordens da ONU.
Após novo incidente em um hospital causado pelos poderes da
Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) em Lagos, uma cidade africana, o Tratado
é colocado em prática, e coloca em xeque os Vingadores, que começam a se sentir
responsáveis pelas destruições causadas por suas ações em Nova York
(Vingadores), em Washington (Capitão América – Soldado Invernal), em Sokovia
(Vingadores - Era de Ultron) e em Lagos. Reunidos na Mansão dos Vingadores, os
heróis começam a se posicionar com relação ao tratado, pressionados por Ross, e
o lados começam a se formar.
Após uma palestra em que anuncia fundos de sua empresa para
o financiamento de projetos de estudantes do MIT, Tony Stark (Robert Downey
Jr.) se vê confrontado pela mãe de uma das vítimas da passagem dos Vingadores
em Sokovia, e aquele encontro o deixa inclinado a aceitar o Tratado,
principalmente porque ele sabe lá no fundo que grande parte do ocorrido foi
tanto culpa sua quanto de seus parceiros de ofício. Quando se reúne com os
demais Vingadores e o Secretário Ross, Stark já tem sua opinião formada, e ele
tenta convencer os demais a aceitarem o acordo como uma forma de fazer com que
as pessoas voltem a confiar nos heróis e não mais os vejam como ameaças.
Enquanto James Rhodes (Don Cheadle), Visão (Paul Bettany) e a Viúva Negra
(Scarlett Johansson) se posicionam à favor da ONU segurar as rédeas de suas
ações e se responsabilizar por elas, Steve Rogers (Chris Evans) se mostra
contra o Tratado de Sokovia, acreditando que aquilo vá cercear sua liberdade de
combatente e impedi-lo de agir como e quando ele julgar melhor em pró da
segurança das pessoas. Se sentindo responsável pela explosão que matou várias
pessoas em Lagos, Wanda Maximoff fica de pensar a respeito de assinar ou não o
Tratado, mas Sam Wilson (Anthony Mackie) se mantém fiel ao amigo Steve, ficando
a seu lado não só contra o Tratado mas também quando este recebe a notícia de
que sua antiga amiga Peggy Carter (Hayley Atwell) faleceu.
Quando um novo atentado na Sede da ONU, aparentemente
causado pelo Soldado Invernal (Sebastian Stan), interrompe a assinatura do
Tratado de Sokovia e mata o Rei T’Chaka, pai do príncipe T’Challa (Chadwick
Boseman) de Wakanda, um novo capítulo é escrito, e coloca todas as autoridades
e os heróis que assinaram o tratado, numa caçada sangrenta ao antigo parceiro
de guerra do Capitão América, o que faz com que o herói junte forças com seus
amigos para tentar provar a inocência de Bucky.
A Viúva Negra, que demonstra uma lealdade muito grande ao
Capitão América durante todo o filme, apesar de concordar em assinar o tratado
para evitar que novas tragédias como a explosão do prédio da ONU voltem a
acontecer, ainda tenta dissuadir Steve de tentar encontrar Bucky, mas com a
ajuda da sobrinha de Peggy, Sharon Carter (Emily VanCamp) e seus contatos na
CIA, ele acha uma pista que o conduz até Bucky, que nega ter sido o autor da
explosão que matou o Rei de Wakanda. Quando a Polícia chega até o apartamento
de Bucky na Romênia, ele luta por sua sobrevivência, e acaba sendo confrontado
por um novo adversário que surge em meio ao combate: O Pantera Negra.
Após uma perseguição implacável pelas ruas romenas, o
Soldado Invernal, o Capitão América, o Falcão e o Pantera Negra acabam sendo
encurralados pela Polícia e pelo Máquina de Combate, que dão por encerrada a
busca de vingança do Príncipe T’Challa, que se mostra ser o rosto por trás da
máscara do Pantera Negra.
Detido e sem seu escudo, Steve Rogers tem nova conversa com
Tony Stark sobre o Tratado de Sokovia e as vantagens que ele pode trazer a
comunidade super-heróica. Enquanto os dois discutem, um novo elemento entra em
cena, e acaba ativando o comando mental soviético que ativa o Soldado Invernal
desde os tempos da Guerra Fria. Descontrolado e livre de sua prisão, Bucky
enfrenta todos os heróis presentes no prédio que serve como contenção
provisória, e se mostra um alvo difícil de deter.
Enquanto o Capitão quase se
sacrifica para capturar o amigo e levá-lo para longe do Secretário Ross e de
Tony Stark, Helmut Zemo (Daniel Brühl), o verdadeiro autor por trás do pulso
eletromagnético que desativa o prédio e controla o Soldado Invernal disfarçado
de psiquiatra, escapa, e parte para a Sibéria, onde ele vai finalizar seu plano
de destruir os responsáveis, segundo ele, pela morte de sua família em Sokovia.
Semelhanças com a Guerra Civil das HQs
Tirando o plot inicial em que Homem de Ferro e Capitão
América divergem sobre aceitarem ou não serem comandados por um governo cujos
interesses podem mudar a qualquer momento, o filme tem muito pouco a ver com a
HQ escrita por Mark Millar e desenhada por Steve McNiven. E ainda bem!
A Guerra Civil dos quadrinhos foi lançada entre 2006 e 2007,
e foi considerada a HQ da Marvel mais importante da década, já que rachou a
comunidade heroica no meio durante um período relativamente grande. Enquanto
Tony Stark procurava provar que os heróis precisavam ser controlados e
registrados como agentes governamentais para que as pessoas pudessem confiar
neles novamente após os diversos incidentes que as colocavam em perigo
constante, o Capitão América se opunha a essa decisão, alegando que eles não
podiam ser controlados e dirigidos por um governo cujos interesses podiam se
modificar do dia para a noite. De acordo com Steve Rogers, o segredo da
identidade dos super-heróis que se registrassem podia cair em mãos erradas,
colocando assim em risco a vida de seus familiares. Além disso, Rogers
acreditava que ninguém tinha o direito de dizer o que um herói deveria fazer ou
quando, e isso ia totalmente contra ao que ele acreditava ser liberdade.
Na HQ, todo o universo Marvel acaba sendo afetado pela
guerra, e quem não aceita se registrar é caçado impiedosamente pelas forças
especiais da SHIELD. O evento é grandioso, e mexe com a vida de praticamente
todos os personagens, excetuando o Hulk, que se encontrava no Planeta Hulk, na
época, o Thor, que estava morto após o Ragnarok, Os X-Men que decidem se abster
da escolha de lados e do Doutor Estranho, que assim como os mutantes, decide
não se envolver. No filme, a “Guerra” civil acaba envolvendo apenas os
Vingadores, e o conflito não se compara em grandiosidade ao dos quadrinhos,
embora seja tratada de forma mais realista no modo como a lei de registro (no
filme, Tratado de Sokovia) afeta cada personagem. Seja como for, em dado
momento, a HQ se concentra mais na pancadaria entre os dois lados do que na
discussão sobre o registro de heróis, e isso a torna um produto menos
politizado e mais atraente para o público consumidor de quadrinhos.
Problemas do filme
Guerra Civil trata de um assunto polêmico que tanto Alan
Moore quanto Frank Miller em Watchmen e Cavaleiro das Trevas (Dark Knight
Returns) já haviam tratado nos anos 80. O que aconteceria com o mundo se leis
governamentais botassem coleiras em super-heróis e os fizessem seguir suas
ordens, em vez de agirem por conta própria e causarem desastres por conta disso?
Tanto em Watchmen quanto em Cavaleiro das Trevas, os heróis decidem se
aposentar quando seus governos assumem o controle sobre suas responsabilidades,
e somente aqueles que aceitam ser subjugados continuam oficialmente na ativa, em Watchmen o
Doutor Manhattan e em DK o Superman (que age em segredo, apesar de ter licença do Presidente em exercício).
O universo Marvel, tanto dos cinemas quanto dos quadrinhos
se passa em sua grande maioria em cidades e países reais, e os efeitos disso
são mais fáceis de serem digeridos. Imagine se você morasse em Nova York e de
repente você visse uma chuva de alienígenas sobre sua cabeça. Você está em um
restaurante almoçando e de repente dois super-humanos surgem quebrando tudo,
atravessando paredes. Tudo isso faz com que uma Lei que obrigue esses seres
superpoderosos a se reportar a alguém seja mais fácil de ser aceita, e por isso
Guerra Civil é tão importante para o universo Marvel cinematográfico.
Embora a execução de um conflito tão imenso nas telas do
cinema tenha sido satisfatória, alguns problemas não deixam de incomodar, no
entanto. O primeiro deles é sobre a extensão dos poderes do Soldado Invernal.
Em O Primeiro Vingador, James Buchanan é um combatente
normal do exército americano até que ele é capturado pelo Caveira Vermelha, que
aparentemente faz algum experimento com ele. Isso não fica claro no decorrer do
filme. Em Soldado Invernal, o segundo filme do Sentinela da Liberdade, Bucky
reaparece vivo após ter despencado de uma altura inimaginável em missão, e o
antigo parceiro do Capitão acaba virando cobaia de um novo experimento
orquestrado agora por Arnin Zola, o maior aliado do Caveira Vermelha. O braço
perdido na queda é substituído por um biônico, que obviamente lhe concede mais
força. Mas o que aconteceu com o restante de seu corpo?
Em combate contra o Capitão ainda no segundo filme, ele
demonstra se equivaler em força com o ex-amigo, mesmo quando não usa o braço
mecânico, o que nos leva a crer que ele é mais do que um humano normal. No
terceiro filme da franquia, Bucky se mostra capaz de feitos surpreendentes como
correr tão rápido quanto um carro e de cair de alturas espetaculares pousando
tranquilamente no chão. Nem o Capitão consegue isso, precisando amortecer a
queda com seu escudo! E ele tem o supersoro do super-soldado nas veias!
A cena em que ele é libertado pelo Zemo e que sai na porrada
com TODOS os Vingadores presentes e ainda se safa, é espetacular, mas deixa
claro que deram uma “overpowerizada” em suas capacidades físicas.
Já na primeira grande cena de ação do filme, vemos os Novos
Vingadores em ação, e não dá pra dizer que vê-los trabalhando tão sincronizados
não é divertido. Nessa sequência, no entanto, acontece algo bem forçado e que
pouca gente percebeu, que é quando a Viúva Negra consegue sobreviver a uma
explosão de granada, presa dentro de uma van.
Aiiinn, Rodman! Ela abafou a explosão com o corpo do capanga
do Ossos Cruzados!
Sim, ela fez isso, mas ainda não justifica como ela
sobreviveu, exceto se aplicarmos a Lei da Suspensão de Descrença para filmes de
super-heróis.
Outro grande problema do filme é em seu vilão, mais uma vez.
Embora aja nos bastidores causando a “Guerra” que leva Tony Stark a querer
liquidar o Capitão América, o Helmut Zemo não parece uma ameaça forte o
suficiente para fazer frente aos Vingadores. Suas motivações são justas, sua
visão distorcida de “justiça” nos faz entender o porque de suas ações, mas num
universo onde existe Loki, Ultron e Thanos, a importância de um Zemo diminui
bastante. Quem sabe ele ganhe mais notoriedade nos próximos filmes em que
aparecer (se é que vai), mas por enquanto ele não fez jus ao que o vilão
representa nas HQs do Capitão América.
Pantera Negra
É complicado não comparar Guerra Civil com Batman V
Superman, principalmente se levarmos em consideração que o plot de ambos os
filmes é bem parecido. Enquanto na Warner/DC a história se torna confusa com a
inserção de vários personagens, mesmo que alguns sejam totalmente sem
importância, pelo lado da Marvel, a inserção de novos elementos só acrescenta
na história. Em pouco tempo de tela, nós já somos capazes de entender as
motivações do personagem T’Challa, e nos vemos envolvidos por suas ações.
Embora saibamos que o Bucky é inocente, nós achamos justa a busca do wakandano
por sua vingança, e até certo ponto torcemos por ele.
O visual do Pantera também é incrível em seu traje de
batalha, e sua máscara nos faz pensar porque diabos nunca fizeram o Batman com
olhos brancos no cinema?!
Ah, Rodman! Você é burro! O Nolan já o deixou com os olhos
brancos e a armadura do Ben Affleck também tem!
É, mas em grande parte vemos os olhos “humanos” do Batman
por trás da máscara e aquela maquiagem preta tosca por baixo. A criação do
personagem Batman por Bruce Wayne era baseada no terror que ele queria causar
nos corações dos bandidos, e o que mais funcionaria se ele os fitasse com olhos
completamente inumanos quando os capturasse?
Outro detalhe que nos faz pensar que o Pantera Negra é um
Batman MUITO melhor do que o do Ben Affleck é que ele só precisou espionar por
alguns minutos o Bucky para sacar que ele NÃO ERA o responsável pela morte de
seu pai. Enquanto isso, o Batman levou DOIS ANOS numa cruzada cega para MATAR o
Superman por ACHAR que ele era uma ameaça.
É preciso dar mérito ao ator Chadwick Boseman por sua
atuação como T’Challa. Suas expressões faciais nos momentos de raiva e seu
desempenho físico em ação contra o Bucky são bem impressionantes, e isso faz
com que o personagem seja um dos grandes nomes do filme, e que nos crie uma
expectativa boa com relação a seu filme solo, que será lançado já em Fevereiro de 2018.
Homem Aranha
A vinda do Homem Aranha para o universo cinematográfico da Marvel
causou um BOOM nas redes de notícias e nos fóruns nerds, e a presença dele em
Guerra Civil quase que ofuscou, para muitos, a história do filme em si. É
inegável que o Amigão da Vizinhança é o personagem MAIS POPULAR da Marvel,
nivelado ao que Batman, Mulher Maravilha e Superman representam para a DC, e
era esperado que o simples fato dele DAR AS CARAS no filme já causaria grande
agitação.
Para a história do filme, no entanto, a participação do
Homem Aranha é pontual. Ele é adicionado em um momento chave do enredo e traz o
COLORIDO pelo qual os filmes da Marvel são reconhecidos, e que devido o clima
tenso da Guerra, acaba ficando de lado. O ator Tom Holland aparentemente entrou
de cabeça no personagem, e sua interação com Robert Downey Jr. na cena em que
nos apresenta Peter Parker e sua tia May, vivida pela linda Marisa Tomei (a tia
May mais maravilhosa da história!!) é fantástica. O humor dos dois personagens
cria uma esfera muito agradável para o filme, e nos dá aquela sensação de que
poderíamos ver mais disso no cinema, fato que pode se concretizar no filme solo
do personagem.
Desde 2002 tivemos duas encarnações de Homem Aranha nos
cinemas, a de Tobey Maguire dirigido por Sam Raimi e a de Andrew Garfield,
comandado por Marc Webb, e embora cada um deles tivesse pontos parecidos com o
personagem dos quadrinhos, Tom Holland foi o único que trouxe a juventude pela
qual o Aranha foi principalmente reconhecido no começo de sua carreira. O seu
Aranha é basicamente um fanboy adolescente em meio a seus ídolos, e isso o
tornou muito real na história, fazendo com que nós pudéssemos nos identificar na tela.
Incomoda o fato de que o traje do personagem seja criado por
Tony Stark e que o próprio Aranha não tenha muitos méritos quanto a isso, mas
dentre os três mostrados até hoje na telona, esse é o melhor de todos, isso porque se
assemelha mais ao que vemos nas HQs. Algo feito aparentemente de tecido, soaria
mais plausível como o traje que um adolescente criaria (algo que nem Sam Raimi
e nem Marc Webb pensaram), mas as lentes da máscara que se abrem e se retraem
(sem utilidade aparente) justificam que há tecnologia ali envolvida, algo com a
assinatura de Stark.
A nerdice intrínseca do personagem fica clara quando ele faz
referências a Star Wars (amarrando o Homem Formiga Gigante!) e quando interage
com o Capitão América numa das melhores cenas de luta do filme, e pela primeira
vez depois do terrível Homem Aranha 3 e dos horríveis Espetacular Homem Aranha 1 e 2, eu me senti feliz em ver o
Aranha nos cinemas. Espero que Tom Holland persevere no personagem, e que ele
ajude a construir o MELHOR filme do herói aracnídeo que já vimos, agora sob o
selo Marvel.
Cenas de Ação
Os irmãos Russo já se tornaram meus diretores de filmes
Marvel preferidos, e isso em grande parte por sua incrível capacidade de criar
cenas inventivas de ação. Depois do que eles fizeram em Capitão América 2, eu
achava pouco provável que eles conseguissem surpreender, mas logo na abertura
do filme Guerra Civil eles nos deixam estupefatos com o sincronismo entre os
Vingadores e as acrobacias de luta com que o Capitão, a Viúva e o Falcão
enfrentam um time de terroristas liderados pelo Ossos Cruzados (Frank Grillo).
Sempre senti falta de lutas “pé no chão” em filmes de super-heróis, e com as
inserções do CGI nas cenas, os filmes estavam ficando cada vez mais artificiais
com o passar do tempo. Do primeiro Capitão América, dirigido por Joe Johnston,
até o segundo, o avanço nas cenas de luta é impressionante, e acho que isso
deveria se tornar um padrão. Embora saibamos que há arames empurrando, levantando
e jogando os atores de um lado para o outro, a plasticidade dos combates cria
um efeito espetacular para ser visto na tela, o que consegue ser justificado
pelo talento da direção por trás das câmeras.
Durante o combate no aeroporto, uma das sequências mais
importantes do filme, que coloca as forças de Tony Stark contra as de Steve
Rogers eu fiquei me perguntando de onde esses caras tiravam tanta inspiração
para inventar aquelas coreografias de luta.
Não, sério! De onde?
Você pode ser o cara mais nerd do mundo, mas nem você pode
dizer que já tinha visto algo semelhante as lutas do Homem Aranha contra Bucky
e o Falcão (AO MESMO TEMPO) ou do herói aracnídeo contra o Sentinela da
Liberdade. Eu estava ali sentado, diante da tela, vendo o Homem Aranha enfrentar
o Capitão América, e eu estava boquiaberto com a inventividade do quebra-pau
entre eles. Sério. Revejam essa cena. Onde vocês já viram algo parecido no
cinema?
Eu odeio com todo meu ódio personagens gigantes enfrentando
personagens em tamanho normal. Eu adorava os tokusatsus como Jaspion e
Changeman, e sempre achava ridículo quando os metal heroes ou os super-sentais
tentavam enfrentar os monstros gigantes sem seus robôs igualmente gigantes.
A cena em que Scott Lang (Paul Rudd), o Homem Formiga, usa
suas capacidades subatômicas para CRESCER e se tornar o GIGANTE (algo que Hank
Pym fazia toda hora nas HQs) não se enquadra nas minhas preferidas do filme, e
se não fosse o caráter engraçaralho dela, eu teria odiado com certeza. As capacidades
de crescimento de Lang são justificadas na história. O Capitão América precisa
distrair o time Stark para que ele consiga alcançar o jato dos Vingadores e
fugir atrás de Helmut Zemo, e Scott Lang acaba sendo essa distração. As reações
dos personagens quando percebem o que está acontecendo são condizentes a
situação. Não é todo dia que eles veem caras ficando gigantes diante dos olhos,
e pelo tempo necessário, Lang consegue manter o Homem de Ferro ocupado,
resistindo a tudo que sua equipe joga contra ele.
A cena do aeroporto coloca os heróis para saírem na porrada
LITERALMENTE, e todas as lutas são importantes, embora algumas delas não
consigam convencer, como a da Viúva Negra e do Gavião Arqueiro (Jeremy
Renner), que claramente se seguram para não ferirem um ao outro. Quando olhamos
para o pôster do filme, vemos que o time Stark é muito superior ao do Capitão
América, isso porque conta com pesos pesados como o Visão e o Máquina de
Combate. Durante a batalha, no entanto, os lados são muito bem equiparados, em
especial pela presença da Feiticeira Escarlate e seus dons que, na linguagem
dos videogames, nós diríamos que são “apelões”. Nos quadrinhos ela tem a
habilidade mutante de alterar as probabilidades (ou o incrível dom de fazer o
que lhe der na telha!), porém no filme, seus dons “aprimorados” são basicamente
os da telecinésia e os de telepatia (que em Guerra Civil ela não usa, mas que
teriam resolvido o filme em uns dois minutos!) que causa grandes problemas para
o #TeamStark.
Sempre vi os personagens com asas da Marvel e DC como
os grandes buchas dos quadrinhos, mas os irmãos Russo e os responsáveis pelas
coreografias de luta, resolveram dar uma “fodacidade” ao Falcão de Anthony
Mackie em Civil War. Além de voar em velocidades incríveis (no filme ele chega
a acompanhar os jatos plantares do Homem de Ferro) e de atirar com suas
pistolas, as asas do personagem dão a ele agora proteção (servindo como escudo)
e também ataque, lançando mísseis. O upgrade é bem vindo, já que em Soldado Invernal
ele se torna inútil tão logo o Bucky arranca suas asas. Além disso, o Falcão
finalmente ganhou o seu parceiro Asa Vermelha na versão cinematográfica, embora
ele não seja um falcão de verdade e sim um drone, que Sam Wilson utiliza para
espionar e atacar a longa distância.
Capitão América, Soldado Invernal, Falcão, Agente 13, Homem
Formiga, Feiticeira Escarlate e Gavião Arqueiro. Homem de Ferro, Máquina de
Combate, Viúva Negra, Pantera Negra, Visão e Homem Aranha. São treze
super-heróis em conflito, fora os personagens coadjuvantes (o Barão Zemo, o
agente interpretado por Martin Freeman e o Secretário Ross, por exemplo), e os
irmãos Russo conseguiram dar uma função importante para CADA UM DELES (embora
eu ache desnecessária a presença do personagem de Martin Freeman nesse filme),
de uma maneira coesa e satisfatória. Ainda temos que recorrer a famosa
suspensão de descrença em algumas cenas, como já comentei aqui, mas Guerra
Civil é um PUTA de um filme bom, que nos deixa apreensivos na poltrona do cinema
cena após cena.
É verdade que o final do filme podia ser mais corajoso e nos
apresentar um VENCEDOR de verdade, em vez de apenas insinuar que o Capitão tenha
se saído melhor. Nas HQs, o velho Rogers se entrega a justiça quando percebe
que suas ações contra Stark estão causando mais danos do que resolvendo as
coisas, mas no filme, sua lealdade a Bucky é levada mais a sério do que o
Tratado de Sokovia, motivo que leva Steve a brigar com Tony. Isso só é resolvido
quando o soldado leva o amigo para Wakanda, o tirando da mira do governo.
Também não dá para negar que a morte do Máquina de Combate teria sido um
momento bombástico para o filme, e que a Marvel não quis arriscar por pensar que
aquilo tornaria o filme demasiadamente sombrio. Embora a cena final em que
Stark descobre que quem matou seus pais foi o Soldado Invernal não tenha nenhum
sinal de humor (como a cena do aeroporto teve), e que a briga entre Tony e
Steve seja bem violenta para os padrões Marvel, é fácil perceber que o filme
ainda se pauta pelos momentos engraçadinhos, e é isso que faz com essas
produções façam mais sucesso que outras desde o primeiro Homem de Ferro.
Na segunda vez em que vi o filme fui acompanhado por duas
amigas de trabalho que se encaixam no perfil “civil”. Elas não são profundas
conhecedoras de quadrinhos e nem sequer viram todos os filmes Marvel, e durante
a exibição do filme, elas apresentavam dúvidas que devem ser recorrentes para o
público comum, que só vai ao cinema de vez em quando e que está pouco se
fodendo para acompanhar notícias ou matérias sobre os filmes. Uma delas não
sabia nem quem era o Soldado Invernal, e a outra tinha pouco conhecimento sobre
o Homem Formiga. Ambas chegaram a questionar o real motivo da briga entre
#TeamStark e #TeamCap e por alguns instantes me coloquei no papel do público
civil e o que os filmes Marvel representam para ele: Filmes pipocões que lhe
dão duas horas de diversão, que lhe entregam cenas massa véio de ação e muitas,
muitas piadas. Só Nerd que se preocupa com cronologia, coerência em roteiro e essas
merdas. Por pior que sejam, filmes de super-heróis SEMPRE entregarão o que o
público civil quer: Diversão.
Na primeira vez em que vi o filme, numa sala IMAX, imerso na
experiência (e sem poder ouvir comentários devido o volume AGRADAVELMENTE alto
da sala) não consegui prestar a atenção em outras coisas, mas da segunda vez
foi possível ver e ouvir as reações. Um cara na fileira de trás chegou a soltar
um “que decepcionante!” ao perceber que o adolescente ali parado na sala
falando com Tony Stark era o Homem Aranha, e não faltaram os famosos “PUTA QUE
MENTIRAAA!” quanto as cenas de perseguição entre Bucky e o Pantera Negra, em
especial quando o primeiro salta sobre uma moto em pleno ar. A parte mais
engraçada de observar os civis, foi quando lá no fundo da sala uma mãe
desavisada soltou um “Esse é o Homem-Gato?” ao qual foi rapidamente corrigida
por seu filhinho, que devia ter, sei lá, uns seis anos “é Pantera Negra,
mãe!”.
De vez em quando é bom sair do
nosso mundinho para perceber que os filmes também são feitos para pessoas
normais que não são devoradoras de cultura pop, e que são essas mesmas pessoas
quem pagam as bilheterias mundiais dessas produções. Aliás, os nerds fazem
parte de uma porcentagem ínfima nesse mundo que consome esse material, e os filmes
precisam agradar a todos. Não sei se o entendimento da história para essas
pessoas é completo ou não, até porque os filmes Marvel agora parecem uma imensa
série de 13 capítulos minimamente interligados, mas a bilheteria mundial já
está ultrapassando US$ 1 Bilhão de verdinhas, o que prova que a galera (nerd e
não nerd) está curtindo.
NOTA: 9,5
Agora meu ranking Marvel ficou assim:
NAMASTE!
meu ranking dos três melhores da marvel está igual ao seu. Parabéns pela postagem. Sobre o soldado invernal ser overpower, talvez a hidra tenha desenvolvido alguma fórmula para deixa-lo mais super, a partir daquele troço azul que foi roubado do Howard Stark; sobre a cena da viúva, sempre fico em pânico quando ela entra em algum apuro, nunca quero que nada aconteça com ela, aceito qualquer suspensão de descrença quando refere-se a ela. Duas dúvidas: Por que o sentido de aranha não funcionou quando o homem formiga tomou o escudo do capitão de volta? Percebeu que antes de entrar na base da hidra na sibéria Zemo ligou para o hotel em budapeste em que ele estava hospedado e pediu o café da manhã com a intenção que O CORPO DO PSIQUIATRA que ele matou fosse encontrado. Por que ele fez isto? Inclusive as proteses que ele usou para simular a aparencia do bucky barnes estavam lá, de bandeja..
ResponderExcluirObrigado, Aquiles! Que bom que gostou do post.
ExcluirEu acredito que o Zemo já tinha dado seu plano como completo, e ele queria ganhar crédito pela derrota moral dos Vingadores. Acho que foi isso que o motivou a entregar no final seu disfarce.