Tirando as animações Zootopia e Moana (que disputaram o
Oscar de Melhor Animação), além de Doutor Estranho e Rogue One (ambos
concorrendo Melhores Efeitos Visuais), Esquadrão Suicida e Star Trek 3 (ambos
disputando o prêmio de Melhor Maquiagem), além de Jungle Book (o vencedor do
prêmio de Melhores Efeitos Visuais), eu não tive a oportunidade de ver muitos
dos filmes que disputaram o grande prêmio do cinema mundial esse ano. Dos três
que vou destacar nesse post, La La Land foi o único que assisti somente DEPOIS
da festa do Oscar, mas ainda está valendo falar sobre as minhas impressões.
Sigam-me os bons!
A CHEGADA
Dirigido por Denis Villeneuve (de Sicário) A Chegada é
baseada num conto chamado “Story Of Your Life” de Ted Chiang, e conta a
história de uma raça alienígena que chega à Terra se instalando misteriosamente
em alguns pontos estratégicos com espaçonaves que se assemelham a conchas
gigantescas. O foco da história é na cidade americana e na personagem de Amy
Adams, Louise Banks (que para muitos críticos, foi injustiçada em não ser
indicada ao Oscar de Melhor Atriz), uma linguista que é chamada pelo Coronel
Weber (Forest Whitaker) para decifrar a linguagem com que os tais alienígenas
de comunicam.
O enredo não-linear, nos faz acreditar por um bom tempo, que
a Dra. Louise, que leciona em uma universidade, esta se recuperando do trauma
da perda de sua filha, mas essa história só vai nos fazer algum sentido lá pela
metade do filme, que é quando percebemos que o contato direto com os
alienígenas causa uma alteração biológica na personagem, que a partir de então
começa a ter visões do futuro.
Aiiin, Rodman! Não seja burro! Ela já demonstra os tais dons
premonitórios ANTES do contato com os alienígenas!
Essa é outra explicação para os dons de Louise, mas confesso
que isso não fica claro apenas pelo próprio enredo, o que deixa em aberto se a
Dra. já possuía esse poder ou se eles só se tornaram latentes após o contato
com o mesmo ar respirado pelos alienígenas evanescentes dentro da concha.
Seja como for, os dons premonitórios de Louise nos fazem enxergar junto com ela, toda sua história de vida À PARTIR da invasão,
incluindo sua relação com o matemático Ian Donnelly (Jeremy Renner), que também é chamado para tentar decifrar
todas as probabilidades dos etês estarem preparando um possível ataque ao
mundo.
A Chegada é um dos primeiros filmes sobre invasão alienígena
em que não vemos os invasores como inimigos e em que os governos não estão
principalmente preocupados em EXPLODIR suas naves para mostrar-lhes quem é que
manda no universo. Claro, que o ápice do filme gira em torno da tentativa
desesperada de Louise e de Ian de IMPEDIREM que o governo da China inicie um
ataque em massa às conchas, mas em grande parte do filme, estamos mais
preocupados em aprender a LINGUAGEM dos aliens (os chamados heptapods) e entender suas reais intenções em nosso mundo, além de lhes informar
dados importantes para que eles também nos compreendam.
A Chegada concorreu a 8 Oscars e só levou um para casa, o de
Melhor Edição de Som, considerado sempre um prêmio “técnico” e, portanto, de
menor valor. A história é de difícil compreensão se você não prestar muita atenção
nas nuances entre as premonições de Louise e a história “real”, mas a mensagem
final que o filme passa é uma das mais inovadoras que o cinema de Hollywood já
produziu nos últimos anos. Arrival, nome original da película, teve um
orçamento de US$ 47 milhões e faturou quase US$ 100 milhões, o que o aponta
como um bom investimento, apesar de ter saído do Oscar quase de mãos abanando.
Nota: 8
ATÉ O ÚLTIMO HOMEM
Depois de praticamente jogar sua carreira no lixo entrando
em conflitos antissemitas, de se envolver em escândalos de agressão e de
bebedeira, Mel Gibson parece que conseguiu dar a volta por cima com seu Até o
Último Homem, filme que o levou de volta às premiações onde ele era figurinha
carimbada desde Coração Valente (1996), obra que lhe rendeu o prêmio de Melhor
Filme e de Melhor Diretor.
Dirigido por Gibson, o filme conta a história de Desmond
Doss (Andrew Garfield), o chamado Opositor Consciente que se alista no exército
durante a Segunda Guerra Mundial, mas que se recusa a pegar em uma arma para
tirar vidas. Devido uma crise de consciência grave na infância, após quase
assassinar o irmão com uma pedra e depois quase atirar contra o pai (vivido por
Hugo Weaving) que agredia sua mãe, Desmond se vê incapaz de ir contra suas
crenças religiosas, mesmo que isso signifique não poder salvar nem sua própria
vida.
Com a ideia fixa de servir sua Pátria, mas acima disso ajudar as pessoas
na Grande Guerra, Doss se alista, a exemplo do irmão, só que precisa encarar uma
barra muito forte que é colocar seu ideal de não agressão ACIMA dos ideais da
Guerra. Afinal, como um soldado pode se recusar a pegar numa arma e a tirar
outras vidas, mesmo que em sua própria defesa?
Até o Último Homem é baseado em uma história real e os
personagens do filme (alguns deles pelo menos) aparecem em uma filmagem de 2006
durante os créditos finais, mostrando que algumas cenas e situações do filme
aconteceram de verdade.
O elenco ainda traz Vince Vaughn como o Sargento Howell
do batalhão de Doss numa das interpretações MAIS FELIZES de sua carreira (quem
diria que ainda veríamos Vaughn num filme que disputa Oscar!), o sumido Sam
Worthington (de Avatar e Terminator 4) como o Capitão Glover, um dos que fica
ao lado de Doss até o final para fazê-lo mudar de ideia quanto a sua Oposição
Consciente, mas que o apoia quanto a sua crença de “não agressão”, e Teresa
Palmer, que interpreta a enfermeira Dorothy Schutte, a mulher que se torna a
esposa de Doss e que fica a seu lado mesmo quando ele é preso pelo Exército
acusado de não obedecer ordens diretas de seus superiores.
Desde O Resgate do Soldado Ryan e Falcão Negro em Perigo não
víamos um filme sobre guerra tão bem produzido, e as cenas de batalha (que não
são o foco da história) são primorosas e SANGRENTAS, bem ao estilo de
Mel Gibson. Algumas tomadas chegam a nos causar aquela dor psicológica, onde
sentimos pelos personagens. As explosões com efeitos práticos, desmembramentos
e os head shots sem aviso são feitos de uma maneira a temermos pela vida de
Doss o tempo todo (engraçado que em o Espetacular Homem Aranha a gente torcia
para os inimigos dele!), e enaltece bastante o perigo representado pelos
soldados japoneses no local chamado Hacksaw Ridge (titulo original do filme),
conhecidos até então como invencíveis.
Até o Último Homem concorreu a 6 Oscars e levou pra casa
dois, o de Melhor Mixagem e o de Melhor Edição, tendo arrecadado US$ 66 Milhões
dos US$ 40 Milhões que custou.
Nota: 8,5
LA LA LAND
Em 2014 o diretor Damien Chazelle encantou o mundo com seu
Whiplash – Em Busca da Perfeição, um filme tecnicamente perfeito (hein, hein!)
que falando de jazz e a obsessão de seu protagonista (Miles Teller) em ser o
MAIOR baterista do universo, rendeu o Oscar de Ator Coadjuvante a J.K. Simmons
merecidamente, já que o ator arrebentou em seu papel do professor de música perfeccionista.
La La Land ainda fala de jazz e a obsessão de seu personagem
Sebastian vivido por Ryan Gosling em NÃO PERMITIR que o gênero se torne
obsoleto, seguindo seu sonho de músico de abrir um Bar de Jazz que faça muito
sucesso. Em suas tentativas frustradas de seguir com sua carreira musical, Sebastian
cruza o caminho da aspirante a atriz Mia, vivida por Emma Stone, no trânsito, enquanto
ela decora sua fala para mais um de seus testes para ingressar no cinema. Mia que
trabalha como garçonete em uma lanchonete temática (estilo anos 50) de um estúdio
de cinema, vive diariamente com estrelas de Hollywood, mas ela não descansa de
seu sonho de se tornar uma atriz. Logo nas primeiras cenas do longa percebemos
o quanto sua vida é frustrante, enquanto ela vai de um teste de cena a outro, mas o quanto também, por outro lado, a sua persistência é grande.
A história do filme começa a se desenrolar quando as vidas
de Mia e Sebastian se cruzam, primeiro no trânsito, depois em um restaurante,
onde ela o vê tocando uma composição sua ao piano e sendo demitido logo em
seguida (por J.K. Simmons) pela ousadia de não seguir seu script musical de
canções de Natal. Após trata-la com total indiferença à saída do restaurante,
ele volta a encontrá-la em uma festa, onde ele toca com uma banda de repertório
dos anos 80, e onde ele é desafiado por ela a tocar uma música totalmente fora
de seu setlist. Após se estranharem muito, Mia e Sebastian descobrem que têm
muito em comum, e eles começam a se relacionar de uma forma encantadora para os
espectadores, que logo em seguida embarcam no amor entre eles sem questionar muito o começo meio forçado daquele namoro.
Eu não sou lá um grande entusiasta dos musicais. Passei muito
da minha vida pregressa curtindo bastante filmes como Grease, A Noviça Rebelde
(tá... não sou tão velho, mas esse passava muito na Sessão da Tarde) e até
Footloose com o Kevin Bacon, mas com o passar do tempo os musicais começaram a
me irritar, o que me tornou um grande defensor daquela máxima que diz que “a
vida real não é assim! Ninguém vai parar na rua e sair cantando e dançando!”. Embora
animações como O Rei Leão e até mesmo comédias como O Máskara sejam recheadas
de cenas musicais e tenham me agrado muito, me recusei a ver Moulin Rouge ou Chicago, e parei no meio de
Frozen de tanta cantoria desnecessária. O que me levou ao cinema para ver La La
Land (anunciadamente um MUSICAL) foi mesmo a confiança em Damien Chazelle pelo
trabalho que ele tinha realizado em Whiplash e nem tanto pelo resto. Eu sabia
que de alguma forma ele me daria uma boa história para assistir, e quanto a
isso não pude reclamar.
O hype em cima de La La Land (cujo termo podia ser traduzido
com algo parecido como “Mundo da Lua”) tem sua razão de ser, já que a produção
do filme é magnífica. A direção de Chazelle é pontual, e ele faz cenas que
pareceriam simples se tornarem impressionantes, como a cena inicial na ponte
onde ele coloca dezenas de figurantes em uma coreografia quase de um take só
para dançarem ao som de “Another Day Of Sun”, uma das músicas mais empolgantes do filme.
Aiin, Rodman! É só uma cena de abertura de filme! Nada
demais!
Porrããnn! Reveja a cena e me diga o grau de dificuldade que
deve ter sido exigido para se filmar aquilo em um plano sequência! Haja sincronismo!
Além das lindas tomadas por Los Angeles, dos cenários bem
construídos para nos remeter a um período mais inocente e mágico dos musicais
antigos (embora a história se passe nos dias atuais), Chazelle é um excelente
diretor de atores, já que deixou tanto Emma Stone quanto Ryan Gosling (que
desistiu de ser o Fera de A Bela e a Fera por causa de La La Land) muito à
vontade em cena, extraindo o melhor de cada um deles. As cenas dos dois juntos
são muito verdadeiras, já que o tempo todo eles nos convencem que são
apaixonados. Mesmo quando a crise começa a atingir o relacionamento deles, num
período em que ele começa a deslanchar na carreira, embora numa banda que não
toca exatamente sua especialidade, e em que ela continua frustrada em sua vida
de atriz, a decepção e a tristeza ficam estampadas nos rostos de Gosling e
Stone. A dedicação ao papel foi tão grande, que Gosling aprendeu a tocar piano
de verdade em seis meses para as cenas do filme, e Stone caprichou nas aulas de
sapateado e de canto, algo que ela utiliza bastante durante o longa, e que
acabou lhe rendendo o Oscar de Melhor Atriz.
La La Land é tipo um conto de fadas moderno que tenta revitalizar
a paixão pelo Jazz (algo que nós brasileiros nunca entendemos direito devido
nossa total ignorância no assunto), pelos musicais (gênero bastante decadente
nos cinemas hoje em dia) e por que não dizê-lo também ao próprio AMOR,
sentimento que é exaltado o filme todo, embora o casal de protagonistas NÃO
TERMINE junto na história. Se no começo a gente reclama que o filme não é
realista “porque as pessoas param para dançar no meio da rua”, ao final dele
estamos reclamando que o filme é realista demais porque o casal não ficou junto
para que cada um pudesse seguir o próprio sonho, algo que claramente não seria
possível devido a união deles. É bonito perceber que embora um apoiasse o outro
em busca de seus sonhos, ela jamais poderia se tornar uma atriz de sucesso ao
lado dele, já que teria que abrir mão de várias coisas para ficar com ele, e
inversamente isso também se aplicaria a ele, que jamais abriria seu Bar de Jazz
se não tivesse ido tocar na banda de sucesso de seu amigo Keith (John Legend).
Diga se isso não é muito “vida real”? Quem disse que você não vai precisar
abrir mão daquela pessoa que mais quer em busca de seu sonho? E se ela fizer o
mesmo por você, amigo, isso é amor verdadeiro.
La La Land custou US$ 30 milhões e faturou US$ 135 milhões,
só ficando atrás de Estrelas Além do Mar (US$ 144,5 milhões) em faturamento de
filmes indicados ao Oscar de 2017. O filme ainda fez a rapa nessa edição do
Oscar, levando o de Melhor Trilha Sonora (que é mesmo fantástica e quase toda
cantada por Gosling e Stone e regada do bom e velho Jazz) , Melhor Design de
Produção, Melhor Direção (para Damien Chazelle), Melhor Atriz (como já
mencionado a Emma Stone), Melhor Música Original (“City Of Star”, música que
NÃO VAI SAIR DA SUA CABEÇA) e Melhor Fotografia, que é simplesmente magnífica
mesmo, usando e abusando das cores que tornam LA uma cidade dos sonhos.
Se eu amasse musicais, La La Land seria um dos meus filmes
favoritos de todos os tempos, e embora ele seja apaixonante, eu não consegui me
conectar inteiramente a história, vendo um ou outro ponto negativo. Não vi
Moonlight e nem imagino o que ele possa ter de tão mais maravilhoso assim que
La La Land para levar a estatueta de Melhor Filme aos 45 minutos do segundo
tempo devido a lambança da entrega ERRADA, mas acredito que ele não tenha sido
mesmo o melhor filme. Nem eu achei. E isso, acredite, não desabona em nada o
filme, que deve ser excelente para ser visto juntinho com seu amor... Ou não,
né, já que no final eles também não ficam juntos.
Nota: 9
PS.: Pare o que está fazendo agora e vá ouvir a trilha sonora de La La Land no Youtube ou no Spotify. Tem algo de mágico nessas canções!
Leiam também a minha opinião sobre Whiplash, filme que concorreu ao Oscar em 2015.
Leiam também a minha opinião sobre Whiplash, filme que concorreu ao Oscar em 2015.
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