O alto padrão de qualidade que a
DC/Warner atingiu em suas animações nos últimos anos me faz sempre assistir
seus filmes com a certeza de que, no mínimo, eu vou me divertir muito. Até hoje,
ainda não vi nenhuma das animações com os personagens da DC que eu achasse
ruim, e Superman X A Elite, filme que adapta a história homônima criada para os
quadrinhos por Joe Kelly, não foge a essa regra.
O enredo nos mostra o que
acontece ao Superman perante a opinião pública, quando um grupo autodenominado
A Elite surge diante do mundo e começa a aplicar métodos pouco ortodoxos de
combate ao crime, levando sua visão extremista às últimas consequências. Tudo tem
início quando o Superman detém o super-criminoso conhecido como Caveira Atômica
no centro de Metrópolis e resiste em acabar com sua vida, mesmo depois do vilão
ter “tocado o terror” em sua cidade, matando no processo muitas pessoas
inocentes. Movido por seu juramento de não aplicar a justiça com suas próprias
mãos (pelos menos não a levando às vias de fato), o Homem de Aço aprisiona o
assassino em uma prisão de segurança máxima e isso levanta questionamentos
sobre as atitudes um tanto quanto “escoteiras” do herói.
Diante de uma enorme audiência, o
Superman é questionado nas Nações Unidas a respeito de sua polidez com a
bandidagem (mesmo que ele tenha destruído meia Metrópolis para derrotar o
Caveira), por que ele não deteve o Caveira Atômica permanentemente e por que
ele não utiliza seus poderes para consertar o mundo. Vendo-se obrigado a
coibir mais manifestações de violência em um país chamado Bialya enquanto
discursava acerca de sua crença na bondade da humanidade, o Azulão acaba
encontrando pela primeira vez um grupo de “heróis” liderados pelo misterioso
Manchester Black, o que acirra as comparações entre a “escoteirisse” do Superman
e os métodos trogloditas da superequipe.
“Será que o Superman é o herói
que queremos para o século XXI?”
Embora à primeira vista
Manchester Black e seus colegas (Chapéu, Fusão a Frio e Zoologica) tentem
convencer o kryptoniano que estão do lado dos mocinhos, suas ações mostram que
eles atravessaram a linha vermelha que transforma um herói em um anti-herói há
muito tempo, e as coisas pioram para o Superman quando o Caveira Atômica foge de
sua prisão e acaba causando ainda mais mortes na cidade, o que faz com que a
opinião pública se volte contra seu herói e comece a apoiar os métodos da
Elite.
O tempo todo a história tenta nos
convencer de que o mundo está tão distorcido que não há mais espaço para luvas
de pelica, e de que o fogo tem que ser combatido com fogo. Não há mais espaço
para o escoteirismo enquanto o mundo mergulha no inferno, fazendo com que as
pessoas sofram durante a queda sem que aqueles que estão ali para protegê-las
tomem uma atitude mais severa quanto a isso, e o Superman se torna um alvo
fácil das críticas.
A proximidade do roteiro de
Superman X A Elite com a sensacional minissérie O Reino do Amanhã é bem grande,
e nos mostra o que acontece com a população da Terra quando chega a hora do
mundo se render a heróis mais violentos (e porque não dizê-los, mais
fascistas?) para que haja paz, fazendo assim com que eles virem as costas
àqueles que ainda acreditam nas leis e na justiça.
Não há como não fazer um paralelo
de Superman X A Elite, e o comportamento das pessoas quando elas veem o surgimento de
uma equipe que mata a cobra e mostra o pau com a reação de grande parte do
público brasileiro com o primeiro longa metragem Tropa de Elite.
Foi longe agora, hein, Rodman? O
que o forévis tem a ver com as calças?
Num passado não muito distante,
eu me recordo do alvoroço que o filme de José Padilha causou entre as plateias nacionais ao ser lançado no cinema. Mais do que as frases de impacto, a violência
descomedida, o filme trouxe a reflexão sobre a situação
da segurança no Brasil, além de expor o quanto estávamos carentes de heróis que se
arriscassem por nós e mais do que isso, o quanto precisávamos ter a alma lavada
enquanto víamos um policial incorruptível sentando o dedo nessa porra a mão na
cara de traficantes e bandidos.
A realidade está em nossas caras o tempo todo, vemos cidadãos sendo assaltados, assassinados diante de nossos olhos, e ninguém faz nada a respeito. Quando surge alguém como o Capitão Nascimento, por exemplo, mesmo que ele seja apenas um personagem ficcional, sentimos orgulho pela primeira vez de um representante da justiça (mesmo aquela feita com as próprias mãos) e nos sentimos vingados. É mais ou menos isso que acontece com as pessoas em Metrópolis, quando o Caveira Atômica mata geral, e o Superman não faz nada além de lhe dar alguns sopapos e aprisioná-lo, até que ele fuja de novo, de novo e de novo até a exaustão, empilhando corpos por onde passa a cada vez que faz isso. Quando o Manchester Black explode a cabeça do sacana, todos se sentem vingados, assim como quando o Mathias estraga o funeral do Baiano.
A realidade está em nossas caras o tempo todo, vemos cidadãos sendo assaltados, assassinados diante de nossos olhos, e ninguém faz nada a respeito. Quando surge alguém como o Capitão Nascimento, por exemplo, mesmo que ele seja apenas um personagem ficcional, sentimos orgulho pela primeira vez de um representante da justiça (mesmo aquela feita com as próprias mãos) e nos sentimos vingados. É mais ou menos isso que acontece com as pessoas em Metrópolis, quando o Caveira Atômica mata geral, e o Superman não faz nada além de lhe dar alguns sopapos e aprisioná-lo, até que ele fuja de novo, de novo e de novo até a exaustão, empilhando corpos por onde passa a cada vez que faz isso. Quando o Manchester Black explode a cabeça do sacana, todos se sentem vingados, assim como quando o Mathias estraga o funeral do Baiano.
Superman X A Elite não é uma
crítica ao filme nacional, óbvio, mas sim uma crítica muito bem construída por
Joe Kelly as equipes de super-heróis cada vez mais violentas que surgiam
naquela época (início dos anos 2000) nas HQs, como o Authority (WildStorm) e a
X-Force (Marvel). Até que ponto as pessoas toleram a justiça levada às últimas
consequências? Até que ponto essa justiça pode ser considerada um ato pela
liberdade e quando ela se torna homicídio à sangue frio?
O último ato da animação (e
também da HQ) mostra justamente a reação das pessoas quando o, até então,
incorruptível Superman resolve descer ao nível de seus antagonistas quando é
chamado para uma espécie de duelo na Lua, causando uma reviravolta
impressionante na história, quase ao estilo Batman de ser. Quem pode segurar um
Superman puto da vida?
A animação tem um ritmo muito
bom. Não é cansativa e nem pretensiosa, entrega tudo que promete e só tem uma
leve caída no ato final devido ao tal duelo já citado e a resolução meio babaca
dos “super-robôs” da Fortaleza da Solidão. A meu ver, a utilização dos robôs
para enganar o Manchester Black diminuiu um pouco da “atuação” do Superman, e
funcionou como se ele precisasse de ajuda para deter a Elite. Já no caso do
duelo, me pareceu meio imbecil a equipe do “herói” inglês chamar o Super para a
porrada, algo como um colegial “te pego lá fora”, em vez de apenas continuar
causando seus atos terroristas em nome da justiça, e deixar que o Superman se
danasse. Não seria melhor se o Superman os tentasse deter por sua própria conta?
Esses elementos meio que quebraram um pouco da coerência da história, mas de
qualquer forma é de arrepiar a transformação do Homem de Aço quando ele decide
aceitar o desafio e mostrar a seus adversários por que ele conhecido como o
maior herói de todos os tempos.
Toda vez que penso em Superman,
me vem a mente o conceito que forma o personagem e o quanto ele é importante
como o símbolo da justiça e da paz, mesmo que esses conceitos estejam tão
ultrapassados hoje em dia para algumas pessoas. Superman X A Elite nos mostra
que o mundo sempre vai precisar de heróis de bom coração, não importa o quão
fundo estejamos enterrados no inferno. Se agora é a vez dos cascas-grossas,
sempre é bom saber que existe o contraponto para a violência descomedida, e que
o Superman estará lá para nos manter no foco e nos fazer lembrar, que afinal, o
crime não compensa. Pelo menos não a longo prazo!
NOTA: 8
Dublagem
Desenhos animados e animações sempre
faço questão de assistir dublados em português, e quase nunca me arrependo
disso, até porque é incontestável a qualidade do trabalho feito por alguns
estúdios brasileiros de dublagem. Superman X A Elite traz muitas vozes
conhecidas, e é sempre interessante assimilar alguns personagens a algumas
dessas vozes.
Como tem se tornado uma
constante, Guilherme Briggs volta ao papel do Homem de Aço, assim como
aconteceu nos desenhos animados da Liga da Justiça e também em algumas
animações solo do Superman para DVD, como a Morte do Superman.
O tom sinistrão que o dublador aplica a sua voz quando o Azulão passa para o “Lado Sombrio da Força" é de impressionar, sem falar o quanto fica divertido vê-lo “disputar” verbalmente com outra fera da dublagem, o inoxidável Alexandre Moreno, que interpreta o Manchester Black. Moreno é um de meus dubladores preferidos, em especial pela forma como ele parece se entregar aos papéis. Na pele de vilões, ele parece surtar totalmente, e assim como fez com o Syndrome da animação da Pixar Os Incríveis, o cara arrebenta com sua atuação.
GUILHERME BRIGGS |
O tom sinistrão que o dublador aplica a sua voz quando o Azulão passa para o “Lado Sombrio da Força" é de impressionar, sem falar o quanto fica divertido vê-lo “disputar” verbalmente com outra fera da dublagem, o inoxidável Alexandre Moreno, que interpreta o Manchester Black. Moreno é um de meus dubladores preferidos, em especial pela forma como ele parece se entregar aos papéis. Na pele de vilões, ele parece surtar totalmente, e assim como fez com o Syndrome da animação da Pixar Os Incríveis, o cara arrebenta com sua atuação.
Quem não se lembra da voz da Lois
Lane do seriado live-action Lois&Clark: As aventuras do Superman?
Por muitos anos, conheci a
dubladora Mônica Rossi como “a voz da Lois”, e foi muito gratificante vê-la
retornar ao papel anos depois com o desenho Superman X A Elite. Como de
costume, Mônica faz um excelente trabalho a frente da namorada de super-herói
mais famosa do universo, e me fez recordar de outros papéis memoráveis de sua
carreira como a voz da Vick Vale (Kim Basinger) em Batman (1989), da Demi Moore
em Ghost (1990) e em Striptease (1996) e da deliciosa Jessica Rabbit, de Uma
Cilada para Roger Rabbit (1988). “Pirulito que bate-bate, pirulito que já
bateu...”.
Outros destaques no elenco de
dublagem são as vozes de Manolo Rey e Miriam Ficher, que interpretam Chapéu (o
mago pinguço) e Zoologica (Pam) respectivamente. Pra quem não lembra ou não
sabe, Manolo Rey já deu voz para o Homem-Aranha/Peter Parker na trilogia de Sam
Raimi, Will Smith em Um Maluco no Pedaço e Marty McFly na redublagem de De
Volta para o Futuro.
MANOLO REY |
Já Miriam Ficher, é bastante conhecida por ser a voz
brasileira de grandes atrizes como Meg “cheia de botóx” Ryan, Wynona “rouba
roupas em loja” Ryder e Drew “era a menininha do ET” Barrymore. Se você não se
liga muito em comédias românticas e nunca viu nenhum filme com as atrizes
citadas, você deve se lembrar da voz da Charlene da Família Dinossauro e da
Princesa Sara do desenho Cavalo de Fogo.
MIRIAM FICHER |
É sempre bom exaltar trabalhos
bem feitos por profissionais brasileiros, e como é de praxe aqui no Blog do
Rodman, a dublagem nunca passa em branco quando é parte importante em um filme
ou animação.
Pra quem ainda não viu minha homenagem aos dubladores brasileiros, leia o post Top 16 melhores dubladores, e para saber minha opinião sobre a violência brasileira e Tropa de Elite, esteja à vontade no post Tropa de Elite 2.
NAMASTE!
muito bom esse episodio
ResponderExcluirMuito boa a crítica. Adorei quando vi este filme e concordo totalmente na perspetiva dada ao Super e a tudo aquilo que ele representa. Creio que é a primeira vez que vim a este Blog, mas já agora adorava ver uma crítica ao Superman Allstar que apesar de ter tido algumas falhas (como a velocidade louca a que tudo acontece para tudo caber num único filme), para mim representa a verdadeira essência do Super e do derradeiro legado que ele poderia deixar à Humanidade.
ResponderExcluirCumps